sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Os Irmãos merecem o direito de ser votados!


29/1/2013, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Jay Carney
A extraordinária declaração que se ouviu de Jay Carney, porta-voz da Casa Branca, na 2ª-feira, (U.S. condemns violence in Egypt) sobre os dramáticos eventos no Egito, não pode passar sem comentário. O governo de Barack Obama está sendo pressionado fortemente de vários lados – pressões que lhe vêm dos lobbies pró-Israel e dos lobbies pró-sauditas – para que abandone o discurso de solidariedade ao presidente Mohamed Mursi e condene a Fraternidade Muçulmana.

Mas Obama parece estar resistindo. Claro. Seria erro grave, se os EUA se mostrassem tão intelectualmente incapazes ou tão politicamente viciosos, a ponto de não verem as diferentes tonalidades do Islamismo. Nada, absolutamente, permite que se confundam a Fraternidade Muçulmana e a al-Qaeda.

Além do quê, os Irmãos têm um mandato legal e legítimo no Egito. O melhor a fazer seria testar as águas da opinião pública nas eleições parlamentares marcadas para o próximo mês; mas um dos principais objetivos das várias forças que fomentam a agitação no Egito (Egypt still suffering from Mubarak-era legacy: Shaker Rizk) é, precisamente, impedir que aconteçam aquelas eleições parlamentares. As forças que promovem e fomentam as agitações no Egito temem que as eleições mostrem, mais uma vez, o extraordinário poder eleitoral do profundo enraizamento da Fraternidade Muçulmana (e os vários serviços que presta, há muito tempo) na sociedade do Egito.

Enquanto isso, permanece o mistério do “Black Bloc” [Bloco Negro]. Verdade é que não há mistério algum. Vê-se a um quilômetro de distância que os bandidos da era Mubarak estão por toda parte (Masked “Black Bloc” a mystery in Egypt unrest), provocando anarquia para desacreditar a Fraternidade Muçulmana. Pode-se – talvez deva-se – incluir na mesma lista potências estrangeiras e potências regionais, que também já começam a intervir.

O participante do Black Bloc usa máscara negra e camiseta com a sigla “FBI”, perto de Praça Tahrir segunda-feira (28/1/2013)
Os interesses de longo prazo dos EUA estarão mais bem atendidos se o país mantiver a “linha Obama” de que o processo democrático tem de seguir seu curso no Egito – e não importa quantas vezes a Fraternidade seja eleita. O pior cenário, em todos os casos, será repetir o tipo de erro (Egypt’s army chief warns of “collapse of the state” if crisis continues) que os EUA já cometeram no Irã, em 1952, quando insuflaram o golpe contra Mohammad Mosaddeq.

As notícias que saem do Egito são extremamente confusas, seguidamente contraditórias. Pessoalmente, prefiro investir minhas esperanças em matéria que acaba de ser publicada no jornal Al-Ahram, (US still backing Morsi as army remains quiescent) segundo a qual Obama mantém-se em contato direto com Mursi. E o comunicado da Casa Branca, distribuído ontem à noite, visa, provavelmente, a indicar que Washington continua a apoiar o governo da Fraternidade.

Hillary Clinton e Mohamed Mursi
Em última análise, o Oriente Médio é região que só alcançará a estabilidade, se as forças do Islã moderado encontrarem espaço político para funcionar e operar; se encontrarem campo de jogo aplainado, no qual possam trabalhar para construir governo democrático, como qualquer outra força política legítima.
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Embaixador MK Bhadrakumar* foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu e Asia Online. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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