29/1/2013, MK
Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Jay Carney |
A extraordinária declaração que se
ouviu de Jay Carney, porta-voz da Casa Branca, na 2ª-feira, (U.S.
condemns violence in Egypt) sobre
os dramáticos eventos no Egito, não pode passar sem comentário. O governo de
Barack Obama está sendo pressionado fortemente de vários lados – pressões que
lhe vêm dos lobbies pró-Israel e dos lobbies pró-sauditas – para
que abandone o discurso de solidariedade ao presidente Mohamed Mursi e condene a
Fraternidade Muçulmana.
Mas
Obama parece estar resistindo. Claro. Seria erro grave, se os EUA se mostrassem
tão intelectualmente incapazes ou tão politicamente viciosos, a ponto de não
verem as diferentes tonalidades do Islamismo. Nada, absolutamente, permite que
se confundam a Fraternidade Muçulmana e a al-Qaeda.
Além do quê, os Irmãos têm um
mandato legal e legítimo no Egito. O melhor a fazer seria testar as águas da
opinião pública nas eleições parlamentares marcadas para o próximo mês; mas um
dos principais objetivos das várias forças que fomentam a agitação no
Egito
(Egypt
still suffering from Mubarak-era legacy: Shaker Rizk) é,
precisamente, impedir que aconteçam aquelas eleições parlamentares. As forças
que promovem e fomentam as agitações no Egito temem que as eleições mostrem,
mais uma vez, o extraordinário poder eleitoral do profundo enraizamento da
Fraternidade Muçulmana (e os vários serviços que presta, há muito tempo) na
sociedade do Egito.
Enquanto isso, permanece o
mistério do “Black Bloc” [Bloco Negro]. Verdade é que não há mistério algum.
Vê-se a um quilômetro de distância que os bandidos da era Mubarak estão por toda
parte
(Masked
“Black Bloc” a mystery in Egypt unrest),
provocando anarquia para desacreditar a Fraternidade Muçulmana. Pode-se – talvez
deva-se – incluir na mesma lista potências estrangeiras e potências regionais,
que também já começam a intervir.
O participante do Black Bloc usa máscara negra e camiseta com a sigla “FBI”, perto de Praça Tahrir segunda-feira (28/1/2013) |
Os interesses de longo prazo dos
EUA estarão mais bem atendidos se o país mantiver a “linha Obama” de que o
processo democrático tem de seguir seu curso no Egito – e não importa quantas
vezes a Fraternidade seja eleita. O pior cenário, em todos os casos, será
repetir o tipo de erro (Egypt’s
army chief warns of “collapse of the state” if crisis continues) que os
EUA já cometeram no Irã, em 1952, quando insuflaram o golpe contra Mohammad
Mosaddeq.
As notícias que saem do Egito são
extremamente confusas, seguidamente contraditórias. Pessoalmente, prefiro
investir minhas esperanças em matéria que acaba de ser publicada no jornal
Al-Ahram, (US
still backing Morsi as army remains quiescent) segundo a
qual Obama mantém-se em contato direto com Mursi. E o comunicado da Casa Branca,
distribuído ontem à noite, visa, provavelmente, a indicar que Washington
continua a apoiar o governo da Fraternidade.
Hillary Clinton e Mohamed Mursi |
Em
última análise, o Oriente Médio é região que só alcançará a estabilidade, se as
forças do Islã moderado encontrarem espaço político para funcionar e operar; se
encontrarem campo de jogo aplainado, no qual possam trabalhar para construir
governo democrático, como qualquer outra força política
legítima.
______________________________
Embaixador MK
Bhadrakumar*
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e
segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu
e
Asia
Online.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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