Miguel Mellino, UniNômade 2.0 em
13/2/2013
Tradução ao
português, de Bruno Cava, “Quadrado dos
Loucos”
Enviado pelo
pessoal da Vila Vudu
1.
Ni olvido ni perdón. Nem esquecimento nem perdão. Era um slogan político
na Argentina dos anos 1970, dirigido contra os militares responsáveis pelo golpe
de 1955, que depôs o governo democrático de Perón. O slogan pode ser útil pra
compreender o sentido difundido por Django livre a respeito da escravidão e seu
papel na história dos Estados Unidos: é impossível esquecer, é impossível
perdoar. Este talvez seja o sentido trazido pela cena final do filme: Django, um
escravo liberto das correntes, consuma seu ódio-vendeta atacando não só os
patrões brancos, mas todo o sistema escravocrata das fazendas. Candyland deve ir
pelos ares como um todo: ali não há nada para ser salvo, não bastaria apenas
fugir ou salvar a mulher amada. Daí um filme ferozmente anti “politicamente
correto”, — o que não poderia surpreender verdadeiramente quem conhece o estilo
pop e corrosivo de Tarantino.
No
filme, Django e Brunhilda — armados de um ódio na verve do escritor Frantz
Fanon, ou seja, jamais movido por “grandes ideais” ou “retóricas progressistas”,
como outros escravos célebres da história do cinema — estão inflamados de uma
raiva em estado bruto, a raiva que sentem os “danados da terra”, dessa vontade
em nada conciliadora ou misericordiosa. Por isso, eles se configuram como o lado
avesso do casal Obama-Michele. E por isso, não admiram as críticas ao filme nos
Estados Unidos; nada mais distante do clima “politicamente correto” pós-racial
dos tempos de Obama, do que o ânimo rancoroso, vindicativo e punitivo de Django.
A cena final também é emblemática desta estrutura particular do sentir: quando
Django exerce seu ato reparatório pessoal vestido com as roupas do patrão.
Consiste
nisso uma fração importante da política representacional promovida no filme:
nomear a raça — inclusive com o controverso significante nigger — de maneira
que... Continue
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