14/2/2013, Paul R. Pillar, Consortium News
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Paul R.Pillar |
De
tempos em tempos ouvem-se notícias vindas de Israel, que mostram que a
intolerância cresce. História exemplar, nesse sentido, de pouco mais de um ano,
falava de israelenses, homens ultra-ortodoxos da comunidade de Beit Shemesh, que cuspiram numa menina
de oito anos e a chamaram de prostituta, porque o discreto vestido da menina não
era discreto o suficiente que os satisfizesse.
O
primeiro pensamento que ocorre nesses casos é o quanto essa atitude é
notavelmente semelhante à atitude de intolerância equivalente que se vê em
outros religiosos fundamentalistas, inclusive nos países árabes vizinhos de
Israel. O que se vê é um idêntico esforço para impor preferências sectárias em
sociedade mais ampla. E a mesma discriminação de gênero, que se vê em outras
práticas para subjugar e constranger mulheres.
A
alta taxa de natalidade entre os ultra ortodoxos – e o consequente aumento no
peso demográfico e político desses grupos – subjaz ao crescimento da
intolerância em Israel. Mas há mais do que isso; num Estado que define a própria
existência em termos de religião única ou etnia ou raça pressuposta superior às
demais. Essa definição implica que haja em Israel cidadãos de segunda classe,
conforme a religião que professem, mas implica também que o poder do Estado está
empenhado em alcançar objetivos sectários, que se aplicam contra qualquer um que
tente expor a natureza dessa dominação religiosa e da religião dominante.
O Muro Ocidental (também conhecido como o Muro das Lamentações); o remanescente do muro que cercava o pátio do templo judaico da Cidade Velha de Jerusalém. (Crédito da foto: Golasso) |
Esse
mesmo poder do Estado israelense, que não se via muito evidente no incidente da
agressão a uma menina pequena, vê-se muito mais claramente em incidente dessa
semana, junto ao Muro Ocidental. Dez mulheres, entre as quais duas rabinas
nascidas nos EUA, foram presas pela polícia de Israel por estarem rezando
naquele local usando véus de oração tradicionalmente usados por homens.
Não
se tratava de manifestação de mulheres, nem havia qualquer ameaça à paz. Haverá
quem se sinta indignado por alguém não poder rezar onde bem entenda, nem mesmo
uma rabina, num local sagrado dos judeus. Mas muito mais indignação causa que a
polícia, mantida por dinheiro público, aja de modo tão fortemente intolerante.
Esse
incidente e outros levam a duas outras observações. Primeiro, para chamar a
atenção para a ironia da semelhança no comportamento de religiosos
fundamentalistas em Israel e em países de maioria muçulmana. Israel hoje se
cercou dentro de muros para manter-se separada dos países vizinhos, mas age com
a mesma horrível intolerância contra seus próprios cidadãos.
Os
israelenses dizem que todos deveríamos nos preocupar com o protagonismo político
que religiosos fundamentalistas vão ganhando em países vizinhos, por exemplo, no
Egito. E, enquanto falam, o que se vê é os próprios israelenses apanhados também
em comportamento de intolerância e segregação, apoiados pelo poder do Estado ou
acobertados pelo poder do Estado, em tudo idêntico ao comportamento de outros
fundamentalistas.
A
segunda observação é que essa identidade de Israel com um dos aspectos mais
ignóbeis da vida no Oriente Médio é aspecto importante de uma divergência
crucial entre Israel e os valores da superpotência patrocinadora de Israel, os
EUA. A noção de valores partilhados sempre foi a base de qualquer argumento para
justificar o extraordinário patrocínio que os EUA garantem a Israel.
Essa
noção jamais foi consistente, e tem, a cada dia, menos credibilidade. Uma das
discrepâncias básicas está em um Estado dessa “parceria” definir-se em termos de
uma religião; e o outro definir-se a partir da separação entre Igreja e Estado.
Claro,
há fundamentalistas também nos EUA que trabalham para esvaziar essa separação,
por exemplo, controlando o conteúdo de livros escolares; e empregadores cujas
crenças religiosas determinam a relação com os empregados e que tentam modelar
as leis nacionais, por exemplo, de atendimento público e saúde, também segundo
suas crenças religiosas; houve até um candidato, católico fervoroso (Rick
Santorum) que misturou tudo, até, em campanha eleitoral à presidência, ano
passado. Mas, seja como for, a separação entre Igreja e Estado ainda é vigente
nos EUA.
Mês
passado, uma corte federal em Minnesota reafirmou a vigência da Primeira Emenda,
ao rejeitar ação para decidir se os cachorros-quentes marca Hebrew National seriam kosher ou
não. Não é assunto a ser decidido por corte federal – decidiu a corte, muito
corretamente. Decidir se cachorros-quentes são kosher ou não é serviço
dos rabinos nas entidades do setor privado que certificam essas coisas. Nos EUA,
a kosheridade de cachorros quentes – como o chale de oração que alguém
decida usar ou não usar – não é assunto para juízes, polícia ou qualquer
funcionário pago com dinheiro público.
A
liberdade de imprensa é outra das liberdades asseguradas pela Primeira Emenda,
em relação à qual não há qualquer convergência significativa entre Israel e os
EUA. Nesse quesito há também uma ironia: há discussão mais livre em Israel,
inclusive na imprensa israelense, que nos EUA, sobre questões básicas do governo
de Israel e suas relações com os EUA.
Mas
em muitos outros temas, o censor militar em Israel restringe pesadamente o que
pode ser noticiado – como se comprovou essa semana, em matéria sobre um
“Prisioneiro X” que morreu misteriosamente numa prisão de segurança máxima em
Israel. Segundo o índice de liberdade de imprensa calculado pela ONG Repórteres
sem Fronteiras, Israel aparece em 112º lugar, entre 179 países em todo o mundo.
Os EUA aparecem em 32º.
Há
também a questão da igualdade de gêneros. No EUA, o status das mulheres
melhorou, pelo menos desde a aprovação da 19ª Emenda. Sob vários aspectos, as
mulheres israelenses vivem em relações de mais igualdade com os homens que em
muitos outros países, mas, sob o impacto crescente do fundamentalismo judeu em
questões de gênero, difícil garantir que as tendências atuais nesse campo, em
Israel, tomem rumo semelhante ao que vão tomando nos EUA.
Por
fim, a questão na qual se observa a maior divergência, e que concerne a direitos
políticos iguais para todos, sem qualquer consideração de religião ou etnia.
Sim, também há, nos EUA, os que tentam confundir tudo, trabalhando para
dificultar, para segmentos da população, o exercício do voto. Mas nos EUA não há
coisa alguma que se compare, nem remotamente, à absoluta negação de direitos
políticos a grupos étnicos inteiros, a populações inteiras, como se vê acontecer
hoje, no território controlado por Israel.
Leia mais alguns artigos sobre
“Israel”:
- 19/11/2012, redecastorphoto, Lawrence Davidson em: “Uma visão sionista do mundo e o massacre em Gaza”
- 25/4/2011, redecastorphoto, Renen Belerovich (documentário) em: “A Historia Sionista”
- 7/12/2012, redecastorphoto, Philip Weiss em: “É hora de a imprensa informar sobre o sionismo”
- 3/6/2010, redecastorphoto, Laerte Braga em: “O Sionismo é um cancro”
- 3/6/2010, redecastorphoto, Passa Palavra, João Bernardo em: : “De perseguidos a perseguidores: a lição do sionismo”
- 1/1/2013, redecastorphoto, Paul R. Pillar em: EUA: Hagel e os sionistas “neo-McCarthyistas”
- 7/4/2012, redecastorphoto, Baby Abrão/Günter Grass em: “O poema que desmascarou Israel”
- 14/7/2011, redecastorphoto, Laerte Braga em: “OS FORNOS CREMATÓRIOS DE TEL AVIV”
- 11/6/2010, redecastorphoto, Manuel Freytas em: “O poder oculto: De onde nasce a impunidade de Israel”
- 26/7/2011, redecastorphoto, Vila Vudu em: “Israel
é a “estrela” do livro do terrorista norueguês!”
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