9/2/2013,
Alexis Tsipras - Αλέξης Τσίπρας, da
Coalizão da Esquerda Radical Grega (Syriza), Atenas.
Traduzido
do grego ao espanhol por Ventureta Vinyavella para Tlaxcala
Traduzido
para o português pelo pessoal da Vila
Vudu
Fevereiro
de 1953.
A República
Federal de Alemanha (RFA) desaba sob o peso das dívidas e ameaça arrastar na
tormenta o conjunto dos países europeus. Preocupados com a própria saúde, os
credores – a Grécia entre eles – registram um fenômeno que só surpreendeu os
liberais: a política de “desvalorização interna”, quer dizer, de redução dos
salários, não garante o pagamento das dívidas. É precisamente o contrário.
Reunidos
em Londres e durante uma excepcional reunião de cúpula, 21 países decidem
revisar suas exigências para ajustá-las às capacidades reais de seu sócio
disposto a honrar suas obrigações. Decidem cortar 60% da dívida nominal
acumulada pela RFA e concedem-lhe uma moratória de cinco anos (1953-1958); e
fixam novo prazo de 30 anos para o reembolso. Instituem também uma “cláusula de
desenvolvimento”, que autoriza o país a não comprometer com o serviço da dívida
mais que um vigésimo das rendas que obtenha de exportações. A Europa fez
exatamente o contrário do que dispunha o Tratado de Versalhes (1919), e assentou
as bases do desenvolvimento da Alemanha Ocidental do pós-guerra (2ª Guerra
Mundial).
Chanceler alemã, Angela Merkel e seu Ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble |
Essa,
exatamente, é a proposta que a Coalizão da Esquerda Radical Grega (Syriza) faz
hoje: agir a contrapelo dos pequenos tratados de Versalhes que estão sendo
impostos pela Chanceler alemã, Angela Merkel e seu Ministro das Finanças,
Wolfgang Schäuble aos países europeus endividados. Inspiramo-nos em um dos
momentos de maior clarividência que a Europa conheceu no pós-guerra.
Os
programas de “resgate” dos países da Europa meridional fracassaram, gerando
poços sem fundo que, supostamente, caberia aos contribuintes encher. Nunca como
hoje foi tão necessário chegar a uma solução global, coletiva e definitiva para
o problema da dívida. Não se admite que se escamoteie objetivo dessa
importância, só para garantir a reeleição da chanceler alemã.
Alexis Tsipras |
Nessas
condições, a Coalizão Syriza propõe que se realize uma conferência europeia
sobre a dívida, conforme o modelo da Conferência de Londres sobre a dívida alemã
em 1953. Essa, no nosso entender, é a única solução realista, que beneficiará
todos: uma resposta global à crise de crédito e a constatação do fracasso das
políticas postas em
ação na Europa.
Eis
o que exigimos para a Grécia:
-
Redução significativa do valor nominal da dívida pública acumulada.
-
Moratória para o pagamento do serviço da dívida, a fim de que as somas assim conservadas fiquem vinculadas à recuperação da economia grega.
-
Instauração de uma “cláusula de desenvolvimento”, para que o pagamento da dívida não mate a semente da recuperação econômica.
-
A recapitalização dos bancos, sem que as somas em questão entrem na contabilidade da dívida pública do país.
Essas
medidas deverão ser conectadas a reformas orientadas para uma mais justa
distribuição das riquezas. Pôr fim à crise implica, de fato, romper com o
passado que lhe serviu de incubadora: fazer justiça social, com igualdade de
direitos, com transparência política e fiscal; em uma palavra, implica
democracia.
Projeto
desse tipo resultará impraticável sem o concurso de um partido independente da
oligarquia financeira, esse punhado de chefes de empresa que tomaram o Estado
como refém, de armadores construtores de navios solidários entre eles – e, ainda
em 2013, isentos de impostos – de proprietários de grupos midiáticos e de
banqueiros (todos falidos), responsáveis, todos eles, pela crise; e dedicados
cultivadores do status quo.
O
relatório anual para 2012 da ONG Transparência Internacional classifica a Grécia
como o país mais corrupto da Europa.
Merkel e Tsipras (Reiner Hachfeld, Neues Deutschland, 5 de mayo de 2012) |
A
proposta acima esboçada constitui, na opinião da Coalizão da Esquerda Radical
Grega (Syriza), a única solução, se não se quer que o crescimento exponencial da
dívida pública na Europa – que, em média, já se aproxima de 90% do PIB.
Motivos
para otimismo: não será possível rejeitar nosso projeto, porque a crise já
atinge o núcleo duro da zona do euro.
Qualquer
adiamento trará aumento do custo econômico e social da situação atual, não
apenas para a Grécia, mas também para a Alemanha e para os demais países que
adotaram a moeda única.
Durante
12 anos, a zona do euro – inspirada nos dogmas liberais – funcionou como mera
união monetária, sem equivalente político e social.
Os
déficits comerciais dos países do Sul constituíram imagem especular dos
excedentes registrados no Norte.
A
moeda única, além do mais, serviu para que a Alemanha “esfriasse” sua economia,
depois da custosa reunificação de 1990.
Mas
a crise da dívida transtornou esse equilíbrio. Berlim reagiu, exportando sua
receita de austeridade, o que trouxe consigo o agravamento da polarização social
no seio dos estados meridionais e as tensões econômicas no coração da zona do
euro.
Aparece
agora um eixo norte-credor/sul-devedor, nova divisão do trabalho orquestrada
pelos países mais ricos.
O
Sul se especializará nos produtos e serviços com forte demanda de mão de obra
com baixos salários; o Norte, numa via rumo à qualidade e à inovação, com
salários mais elevados (para alguns).
Hans-Peter Keitel |
A proposta do Sr. Hans-Peter
Keitel, presidente da Federação Alemã da Indústria (al. BDI), em entrevista
concedida a Der Spiegel, de transformar a Grécia em “zona econômica
especial”
[1]
revela
claramente o verdadeiro objetivo do Memorandum. [2]
As
medidas propostas naquele documento e que se estendem, pelo menos, até 2020, já
se revelaram sonoro fracasso, reconhecido até pelo FMI.
Contudo,
para os que as conceberam, o acordo teria a vantagem de pôr a Grécia sob tutela
econômica, com o país convertido em colônia financeira da zona do euro.
A
anulação dessas medidas constitui, portanto, o prólogo necessário a qualquer
saída da crise: o que mata é a droga, não a dose, como alguns se atrevem a
sugerir.
Mas
também é preciso perguntar quais as demais causas da crise financeira na Grécia.
As causas que se veem no desperdício de dinheiro público não mudaram: o custo de
construção por quilômetro de estradas é o mais alto da Europa, por exemplo.
Outro exemplo: a privatização das rodovias pelo modelo “pré-pagamento” de novos
eixos, cuja construção foi interrompida.
A
extensão das desigualdades não pode ser reduzida a efeito colateral da crise
financeira na Grécia. O sistema fiscal grego é reflexo da relação clientelista
que une todas as elites do país. Como uma peneira, está furado de muitas
exceções e de alvarás de passagem recortados pelo molde do cartel oligárquico. O
pacto informal que, depois da ditadura, atua como solda que une o patronato e a
hidra bicéfala do bipartidarismo – Nova Democracia e PASOK – garante sua
perpetuação.
Uma
das razões pelas quais o Estado renuncia hoje aos recursos necessários que teria
de obter dos impostos: optaram pela contínua redução dos salários e das
aposentadorias.
Mas o establishment, que só
por um triz sobreviveu às eleições de 17 de junho passado, [3] porque
semeou o medo de uma possível saída da Grécia da zona do euro, só sobrevive com
a ajuda de um pulmão artificial: a corrupção.
Sísifo (Tela de Ticiano) |
A
difícil tarefa que consiste em quebrar a colusão entre os meios políticos e
econômicos – assunto que só diz respeito aos próprios gregos – será uma das
prioridades de governo popular comandado pela Coalizão da Esquerda Radical Grega
(Syriza).
Exigimos,
portanto, uma moratória para o pagamento do serviço da dívida, para mudar a
Grécia.
Sem isso, qualquer nova tentativa
de saneamento financeiro nos converterá em Sísifos
antecipadamente condenados ao fracasso. E, dessa vez, o drama não afetará
só a antiga cidade de Corinto: afetará toda a
Europa.
Notas de rodapé
[1] 10/9/2012, Spiegel Online, Von Roland Nelles e
Severin Weiland em: “BDI-Chef
will Griechenland zur Sonderwirtschaftszone
machen”.
[2] Acordo assinado em maio de 2010,
que impunha austeridade a Atenas, em troca de seu “resgate” financeiro [Nota de Le Monde
Diplomatique].
[3]
Com
29,66 % dos votos, o “partido Nova Democracia” (de direita) foi forçado a formar
uma coalizão com o PASOK (12,28% dos votos) e “Esquerda Democrática”
(6,26 %). Em segundo lugar no número de votos, “Syriza” obteve 26,89 % (dez
pontos percentuais a mais dos resultados eleitorais de maio de 2012), e o
partido neonazista “Aurora Dourada” obteve 6,92% (sem alteração em relação a
maio de 2012) [Nota
de Le Monde
Diplomatique].
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirÉ bom guardarmos bem arquivadas as advertências e fórmulas do Tsipras. Só por acaso...É bem verdade que nosso País é bem mais fornido de riquezas naturais que a Grécia e suas ilhas. Mas nem sempre essas riquezas garantem...(cf. anos-80/90, até 2003).
Abraços do
ArnaC