domingo, 24 de fevereiro de 2013

Eles e nós VII – Os menores de todos


21/2/2013, Enlace Zapatista,
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Leia também: 24/2/2013, redecastorphoto, EZLN – Exército Zapatista de Libertação Nacional: ELES E NÓS: As (des) razões de cima. (1)


Subcomandante Marcos

Introdução

Agora já há vários anos, enquanto na política de cima eles disputavam o butim de uma nação esfacelada, enquanto a imprensa-empresa ou calava ou mentia sobre o que estava acontecendo, enquanto os povos originais dessa terra saíam de moda e voltavam a um canto do esquecimento, suas terras saqueadas, e seus habitantes explorados, reprimidos, expulsos, deslocados, desrespeitados...

Os povos indígenas Zapatistas,

Cercados pelo exército federal, perseguidos pela polícia do estado e municipal, atacados por grupos paramilitares formados e equipados por governos de todos os partidos do espectro político mexicano (PRI, PAN, PRD, PT, PVEM, MC e outros nomes que a classe política parasita mexicana assume), caçados por agentes de diferentes agências de espiões mexicanas e estrangeiras, vendo suas bases de apoio, homens e mulheres, espancados, expulsos, deslocados, encarcerados...

Os povos indígenas Zapatistas,

sem espetáculo,
sem qualquer imperativo, além do dever,
sem manual de instrução,
sem líderes, além de nós mesmos,
sem qualquer referente, além do sonho dos nossos mortos,
só com as armas de nossa história e de nossa memória,
olhando perto e longe nos calendários e nas geografias,

com nosso mote-guia: Servir aos outros, não a si mesmo Representar, não suplantar
Construir, não destruir
Obedecer, não Comandar
Propor, não impor
Convencer, não derrotar
Andar para baixo, não para cima.

Os povos Zapatistas, os índios zapatistas, as bases Zapatistas locais de apoio ao EZLN, com um novo modo de fazer política,

Nós fizemos
 Nós fazemos
Nós faremos
Liberdade.
LIBERDADE
NOSSA LIBERDADE!
-*-
Nota de esclarecimento:

Os textos que aparecerão nessa parte sétima e final de “Eles e nós” são excertos do “Livro de anotações do primeiro grau do curso: Liberdade segundo os Zapatistas. Governo Autônomo I” e do “Livro de anotações do primeiro grau do curso: Liberdade segundo os Zapatistas. Governo Autônomo II”.

A versão em espanhol é SÓ para compás que formam a Sexta (esperamos que haja traduções para as línguas originais, como determinou o Congresso Nacional Indígena, e para inglês, italiano, francês, português, grego, alemão, euskera, catalão, árabe, hebraico, curdo, aragonês, holandês, sueco, finlandês, japonês e outros idiomas, confore o apoio dos compás à Sexta por todo o mundo e que entendem da tarefa de traduzir).

Essas anotações são parte do material de apoio do curso que as bases de apoio Zapatistas darão aos compás da Sexta no México e em todo o mundo.

Todos os textos são de autoria das bases Zapatistas de apoio, homens e mulheres, e incluem não só o processo de luta por liberdade, mas também suas reflexões críticas e autocríticas sobre nosso caminho. Ou seja: mostram como nós Zapatistas vemos a liberdade, a nossa luta para alcançá-la e a defendemos.

Como nosso compañero Subcomandante Insurgente Moisés já explicou, nossos compás das bases Zapatistas de apoio partilharão o pouco que aprendemos sobre as lutas por liberdade; e os compás da Sexta podem ver o que lhes é útil ou não lhes serve, para suas lutas.


Essa aula, na escolinha Zapatista, como vocês sabem, chama-se “Liberdade segundo os Zapatistas” e será dada diretamente pelos compañeros e compañeras das bases de apoio ao EZLN, que desempenharam as várias funções de governo, vigilância e outras diversas responsabilidades, na construção da autonomia Zapatista.

Para ser admitido na escolinha, além do convite, os compás da Sexta e convidados especiais terão de assistir a uns poucos cursos preparatórios, prévios ou propedêuticos (ou seja qual for o nome que você dê aos cursos anteriores ao jardim de infância), antes de serem admitidos no “1º grau”. Esses cursos serão dados por compás das equipes de apoio à Sexta Comissão do Exército Zapatista de Libertação Nacional, EZLN e têm, como único objetico, oferecer-lhes os elementos da história neozapatista e de nossa luta por democracia, liberdade e justiça.

Nas geografias onde não haja compás de equipes de apoio, distribuiremos textos, de modo a que todos os convidados possam preparar-se.

Datas e horários, quer dizer, os calendários e cronologias dos cursos dados pelas bases de apoio Zapatistas, serão anunciados oportunamente, sempre levando em conta atentamente a situação de cada indivíduo, grupo ou coletivo convidado.

Todos os convidados ao curso receberão esses materiais, possam ou não possam viajar até o território Zapatista. Estamos estudando meios possíveis para alcançar seus corações, sejam quais forem seus calendários e geografias. Portanto, não se preocupem.

Assim sendo, OK. Viva! Agora, cuidem só de preparar o coração e, claro, os lápis e cadernos de anotação e notebooks.

Das montanhas do Sudeste do México.

Subcomandante Marcos.
Mexico, fevereiro de 2013.

P.S.  Vai aqui, também, uma lição de boas maneiras. Essa parte sétima e final da série “Eles e nós” consiste de várias partes e é SÓ para os compás da Sexta. Com a parte V (a qual, como essa numeração indica, é chamada “a Sexta”) e o final da parte VI. O olhar 6: Nós somos Ele”, é parte da correspondência privada que o EZLN, mediante seus porta-vozes, dirige aos compás da Sexta. Em cada parte, como fazemos aqui, indicamos claramente a quem os textos se dirigem.

Alertamos os que não são compás, e tentem zombar, criar polêmicas, discutir ou responder a esses textos, de que ler ou comentar correspondência alheia é coisa de fofoqueiros e/ou policiais. Observem bem, pois, o grupo em que se inscrevem. Além disso, esse tipo de comentário só reflete um racismo vulgar (vocês criticam tanto a televisão e, de fato, só sabem repetir clichês de televisão) e reitera a falta de imaginação de vocês (que é consequência da falta de inteligência e da preguiça de ler). Claro que terão de ampliar os limites da cantoriazinha de vocês, de “marcos não, EZLN sim”, para “marcos e moisés não, EZLN sim” e, em seguida, para “CCRI-CG não, EZLN sim”. Adiante, se ouvirem a palavra direta das bases de apoio Zapatistas (o que duvido que aconteça), terão de dizer “EZLN não, EZLN tampouco”), mas já será tarde demais.

Ora, mas não fiquem tristes. Rodaremos vídeos de Ricardo Arjona, Luis Miguel, Yustin Bibier ou Ricky Martin, e vocês se sentirão incluídos e interpelados. Até lá, fiquem sentados, olhos no calendário de cima (esses 3 ou seis anos passam depressa), andem um pouco para a direita (como estão acostumados a fazer), deem licença aí, que não queremos atropelar ninguém...

Dáááá-le, pessoal! Que venha o baile! Mexam-se!

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Assistam aos vídeos que acompanham esse texto:

“La Estrella del Desello” com Eulalio González El Piporro.
A trilha aparece também em versão reduzida, no filme La Nave de los Monstruos (1959, by Rogelio A. González). Nada têm a ver com o EZLN, mas meto-o aqui só prá chatear e saudar os compás do norte: não desistam! Vocês estão distantes, mas, mesmo assim, os alcançaremos com nosso olhar. Viva! ¡Ajúa!


“La Despedida”, com Manu Chao e Radio Bemba, numa comunidade indígena Zapatista:


“Brigadistak” com Fermín Muguruza


Na luta contra o Poder, não há fronteiras.

¡Marichiweu!
(“Venceremos! Cem vezes venceremos!” [em mapuche])



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