(digo: d’O Estado de S.Paulo, p.
ex.)
23/3/2013, Robert Parry, Consortium News
Traduzido e comentado pelo pessoal
da Vila Vudu
Robert Parry |
Talvez
mais que qualquer outra empresa jornalística, o Washington Post empurrou
os EUA para a invasão ilegal do Iraque. Mas um editorial do Post, que
registrou, antecipado, o décimo aniversário da guerra, não admite qualquer erro,
nem lição a aprender . Escreve Robert Parry
Nota
dos tradutores: No
Brasil, nem se pode(ria) dizer que só o Estadão viva de tentar arrastar o
Brasil para trás, de volta às velhas neocatástrofes neoliberais tucanas (no
plano interno) e reacionárias norte-americanófilas (no plano internacional):
aqui, todas as empresas da imprensa-empresa (o chamado “jornalismo” [só rindo])
vivem de papagaiar agências noticiosas norte-americanas comerciais, nenhuma das
quais jamais fez outra coisa além de propaganda pró-EUA (o que equivale a dizer
“propaganda pró Israel e pró guerras e mais guerras). No Brasil, o problema é,
mesmo, todo o Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão).
Mas
deve-se registrar que, nos EUA, já se leem críticas de críticos consistentes,
que já não se satisfazem – como ainda se vê no Brasil – com vagos comentários
acadêmicos autoproclamados “críticos” sobre um vago conceito de “jornalismo”, do
qual se servem tanto “jornalistas” como “críticos” academizados e professores do
mesmo vago “jornalismo” e profissionais da mesma vaga “crítica”, sempre
conservadora.
(O
lixo crítico produzido pelo Observatório da Imprensa – especialistas
em observar o
NADA – é exemplo típico [Nota da
redecastorphoto])
Nos
EUA já se leem comentários legitimamente críticos – críticos para transformar –
que começam a declarar que é mais que hora de demitir uma dúzia e meia de
propagandistas fascistizantes autodeclarados jornalistas. É excelente ideia! Só
assim se pode pensar em começar a implantar alguma ordem democrática, no
galinheiro das empresas comerciais do jornalismo [só rindo] brasileiro, as
quais, afinal, vivem de VENDER notícias
podres a consumidores, os quais, no Brasil, são necessariamente ELEITORES.
De
fato, se se considera a crescente importância do Brasil no cenário
internacional, é mais que hora de as
empresas jornalísticas brasileiras entenderem que não conseguirão continuar a
ser, para sempre, o que sempre foram, por aqui: organizações comerciais
reacionárias, paroquiais, sempre burramente conservadoras, veículo, só, de
“saberes arrogantes”, que escrevem e falam só para uma meia dúzia de eleitores
udenistas já sem votos e sem partido e sem candidato (chega a ser CÔMICO!) – um
erro de concepção empresarial que, bem feitas as contas, pode explicar os
números DESPENCANTES de leitores consumidores de jornais e de revistas
vejas, no Brasil.
A
quem, diabos, interessaria a opinião de algum williamwaack, de alguma
cantanhede, de alguma loprete, de algum augustonunes?! Por que alguém se
interessaria por esse tipo de opinião, que, afinal, é sempre a mesma, igualzinha
em diferentes caras e bocas?! Por que algum consumidor se interessaria por pagar
por ISSO?!
O
Brasil está rico e maduro para ver surgir uma (UMA – e seria dona do mercado!)
empresa de jornalismo de boa qualidade. Não é preciso ser chinês, nem leninista,
para ver.
Qualquer
marketeiro, qualquer mercadólogo,
qualquer crítico, qualquer professor de jornalismo, qualquer jornalista que não
tivesse alma reacionária e conservadora, já teria percebido
isso.
Quatro
dias antes do décimo aniversário da Guerra do Iraque, o Washington Post
publicou editorial sobre a desastrada opção pela guerra, conflito que os
editores neoconservadores do Post promoveram com mentiras e distorções,
tanto antes da invasão quanto por anos a fio, dali em diante.
Contudo,
se alguém pensou que leria ali alguma confissão de culpa, pela longa litania de
erros e vícios que o jornal difundiu, ou alguma espécie de pedido de desculpas
aos que se opunham àquela guerra e foram diariamente demonizados nos editoriais
e colunas do Post, só encontrou desapontamento. Nem qualquer mínima
referência aos cerca de 4.500 soldados norte-americanos mortos, nem às centenas
de milhares de iraquianos massacrados.
Além
de dispensável reconhecimento de que o 10º aniversário daquela guerra “gerou
muitos comentários sobre lições”, os editores do Post nada disseram sobre
o quê, no mínimo, eles mesmos talvez tivessem aprendido. Em vez disso,
mantiveram o tom de jornalismo de propaganda e promoção do próprio jornalismo
fracassante, “noticiando” um pressuposto sucesso da invasão.
Pela
primeira vez em décadas, o Iraque contemporâneo não representa qualquer ameaça
aos seus vizinhos –
“noticia” o Post.
Pois
também isso é só mentira, em dois fronts.
Primeiro, que o
Iraque de Saddam Hussein já não representava qualquer ameaça aos seus vizinhos
desde a Guerra do Golfo de 1990-91, a menos que os editores do
Post estivessem tendo um surto de lembranças dos dias de glória de
2002-03, quando o jornal vivia de disseminar as mentiras do ex-presidente George
W. Bush sobre armas de destruição em massa. Será que o Post ainda
acredita nesses delírios?
Segundo, que o
Iraque de hoje, em governo do
Primeiro-Ministro Nouri al-Maliki, tornou-se, sim, ameaça aos
países vizinhos, porque extremistas sunitas aliados à al-Qaeda, do oeste do
Iraque, já atravessaram a fronteira para a Síria, onde assumiram posição
destacada na violenta oposição ao governo do presidente Bashar al-Assad.
Mas
os editores do Post, querem que os leitores acreditem que a expedição dos
tresloucados neoconservadores à Bush ao Iraque teria sido imensíssimo sucesso...
até que o presidente Obama apareceu e estragou tudo... porque não insistiu em
manter a ocupação militar norte-americana no Iraque.
“A
influência do Irã sobre o governo de Maliki aumenta dia a dia, graças, em parte,
ao fracasso do governo Obama que não conseguiu qualquer acordo com Bagdá, para
que uma força norte-americana lá permanecesse” – escreveu o Post,
tentando fazer crer que alguma petulância, no governo Obama, teria impedido a
continuada presença militar dos EUA no Iraque, e tentando fazer não ver que o
governo de Maliki impôs aos EUA um “Acordo do Estado das Forças” inaceitável.
Influência
perdida
Na
fantasia que o Post divulga como se fosse notícia, contudo, esse
fracasso, que teria impedido que se mantivessem dezenas de milhares de soldados
dos EUA no Iraque, teria levado a terríveis consequências:
Segundo
funcionários do governo dos EUA, o Iraque está permitindo que o Irã envie armas
para o regime sírio de Bashar al-Assad. Repetidos apelos de Washington, para
conter esse contrabando, não são ouvidos.
A
verdade, como qualquer observador realista já teria notado, é que a fúria
sanguinária dos neoconservadores de Bush, que mal podiam esperar para entrar em
guerra e depor o regime de Hussein e dos sunitas, é que fez aumentar, como faria
sempre, inevitavelmente, a influência do Irã sobre o regime xiita que os EUA
impuseram no Iraque. Responsáveis por isso são os neoconservadores à Bush. Pois
o Post não faz outra coisa além de “noticiar” que a culpa seria de Obama
e só de Obama.
O
editorial do Post, então retoma sua ininterrupta campanha para pressionar
o governo Obama na direção de mais uma guerra, dessa vez contra a Síria – a
acusa o presidente de ser “mole”, pouco viril:
A
guerra civil na Síria, e a passividade da resposta do governo Obama a ela,
reforçaram essas tendências negativas. Maliki teme que a queda do governo de
Assad leve a um governo de sunitas, que apoiaria a insurreição sunita
em parte do
Iraque. (...) Como outros líderes em todo o Oriente Médio ,
Maliki percebe que os EUA não dão sinais de interesse em defender os próprios
interesses na região, seja atacando para conter o banho de sangue na Síria, seja
atacando para conter as intervenções do Irã. O risco de tumulto ainda maior, ou,
mesmo, de nova guerra civil no Iraque, é um dos fatores que obrigam os EUA a
empreender ação mais agressiva para pôr fim à guerra na
Síria.
O
Post então resume a causa a favor da qual trabalha, e sugere que Obama
teria traído a grande vitória que os neoconservadores, como o Post
delira, teriam obtido no Iraque:
O
presidente Obama várias vezes deu a impressão de ter virado as costas ao Iraque,
e muitos norte-americanos, compreensivelmente, simpatizam com ele. Mas um
fracasso no envolvimento com a frágil situação que os soldados dos EUA deixaram
para trás põe sob grave risco interesses dos EUA e traem os muitos
norte-americanos que morreram para defendê-los.
Chama
particularmente a atenção, no editorial do Post – o qual, curiosamente
apareceu quatro dias antes do 10º aniversário da Guerra do Iraque – é que o
principal jornal da capital dos EUA ainda vive sob num delirante mundo de
fantasias neoconservadoras ou, no mínimo, recusa-se a ver realidades chaves do
Oriente Médio.
Na Neoliberalândia, o grande erro
dos EUA não foi ter suposto que obrigariam os iraquianos a aceitar ocupação
militar norte-americana eterna. O grande erro teria sido Obama não aceitar o
“convite” de Israel para bombardear o Irã e enfiar-se, até o pescoço, em outro
sorvedouro de sangue, na Síria. Os EUA, para os jornais da Neoliberalândia,
teriam de dar prosseguimento ao grande projeto dos neoliberais neoconservadores
para “mudanças de regime”, várias, em todo o Oriente Médio.
O editorial do Post, intitulado “Iraq, 10
years later, is less threatening but riven by turmoil”, não faz qualquer autorreflexão
sobre os inúmeros erros factuais que o jornal difundiu sobre as inexistentes
armas de destruição em massa; não se veem pedido de desculpas por ter enganado
os leitores e por ter induzido a erro tanta gente; nem qualquer reconhecimento
do fato de que o jornal foi cúmplice de uma invasão criminosa. Os editores do
jornal não dão qualquer sinal de ter aprendido coisa alguma, da tragédia para a
qual tanto contribuíram para empurrar os EUA, há dez anos.
A
incompetência e a incapacidade para escrever, pelo menos, que fosse, um
necessário mea culpa são incômodas e perturbadoras, por elas mesmas. De
fato, se o Post ainda fosse organização jornalística séria, comprometida
com os princípios do jornalismo comercial sério, já teria, pelo menos, promovido
um remodelação na equipe de editores. E não conservaria lá aqueles mesmos
profissionais que tanta vergonha atraíram sobre a empresa, ao errar tão
completamente no caso da Guerra do Iraque.
Fred Hiatt |
De
fato, é pior que isso: os editores do Post insistem em pontificar com a
mesma arrogância, contra fatos sobejamente conhecidos, não conseguem ver sequer
os próprios erros, bem conhecidos, já, de tantos leitores, são impermeáveis –
mais que muitos leitores – à própria incompetência e à própria imoralidade.
Nesse
sentido é que se pode dizer que o Washington Post já se converteu em
ameaça muito real aos EUA e ao mundo. [Para mais detalhes, ver “Why WPost’s Hiatt Should be Fired” [Porque Hiatt, editor do Post, deve ser demitido].
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