14-16/6/2013, Franklin Lamb, Counterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Franklin Lamb |
Beirute
– Por
que Obama declarou guerra à Síria? A resposta curta é: Irã e Hezbollah, segundo
fontes do Congresso dos EUA:
A vitória do
exército sírio em al-Qusayr foi mais do que o governo Obama
pode aceitar, dada a posição estratégica da cidade na região. A vitória das
forças de Assad nessa cidade acrescenta a Síria à lista de vitórias do Irã,
começando com o Afeganistão, Líbano, Iraque. Além da crescente influência do Irã
no Golfo.
A perda de al-Qusayr perto da fronteira Síria-Líbano foi estrategicamente fatal para a derrota dos "rebeldes" da OTAN. A rota Damasco-Homs-Aleppo ficou aberta para as tropas de Assad |
Outras
fontes dizem que Obama não queria invocar ajuda militar direta aos rebeldes que
lutam para derrubar o governo de Assad, nem queria ver militares
norte-americanos na Síria, e por várias razões. Dentre elas, a falta de apoio,
dentro dos EUA, para mais uma guerra norte-americana no Oriente Médio; a
evidência de que não há alternativa viável para o governo de Assad; a posição da
comunidade de inteligência dos EUA, do Departamento de Estado e do Pentágono,
para quem uma intervenção na Síria teria consequências potencialmente
desastrosas para os EUA e arrasaria qualquer influência positiva que os EUA
ainda tenham conseguido preservar na Região.
O pacote de "democracy made in USA" de Obama... O mesmo da Líbia... |
Em
resumo, é a opinião de todos que entendem que qualquer envolvimento dos EUA na
Síria levará a resultado ainda pior que o que se viu no Iraque; que
intensificará uma guerra regional sectária, sem qualquer resultado positivo à
vista.
Obama
chegou a dar sinais de que estaria atuando com alguma seriedade, buscando um
acordo diplomático negociado (antes de Qusayr) e viam-se até sinais positivos
vindos de Damasco, Moscou, e até de Teerã – como disse John Kerry.
Mas
tudo isso mudou, em parte porque os dois lados, Rússia e EUA, endureceram no
quesito reivindicações. Consequência disso, o governo Obama acaba de abandonar
completamente a via diplomática.
Em
vários contatos com pessoal do Congresso dos EUA, ouvi que a equipe de Obama
concluiu que o governo Assad não estaria aceitando a mensagem dos EUA ou não a
estaria levando a sério. E que os avanços militares recentes do exército sírio,
com o crescente apoio popular, significariam que nenhuma Conferência Genebra 2
seria jamais bem-sucedida em direção que interessasse aos EUA.
McCain e Lindsay Graham |
Além
disso, Obama estaria cada vez mais fraco no plano doméstico, além de vários
escândalos – com destaque para as revelações que afinal vêm a público, sobre
invasão massiva de privacidade dentro dos EUA, pela Agência de Segurança
Nacional. E há também o “lobby pró-guerra”, comandado pelos senadores
McCain e Lindsay Graham, que já disseram, até, que Obama teria traído o
juramento que fez ao assumir a presidência e estaria pondo em risco “interesses
da segurança nacional dos EUA”, porque estaria “entregando a Síria ao Irã – logo
que Assad consiga conter o levante da oposição”. Esses dois senadores festejaram
a conclusão sobre “armas químicas”. Durante meses, repetiram incessantemente que
Obama não estava ajudando devidamente os “rebeldes”. “A credibilidade dos EUA
está ameaçada” – disseram em declaração conjunta, essa semana. “Já não é hora
para nos limitarmos só a pequenos passos. A hora exige ação para decidir” (e
citaram os mísseis de longo alcance para destruir o poder aéreo e os mísseis de
Assad).
Robert P. Casey |
Outro
senador neoconservador, Robert P. Casey Jr. (D-Pa.), disse que:
(...)
as forças da oposição serão derrotadas se
não receberem armamento mais pesado, mas acrescentou, só as armas talvez não
bastem. Os EUA devem mover-se imediatamente para alterar o equilíbrio
em solo na
Síria , destruindo a aviação síria e implantando uma zona aérea
de exclusão no norte da Síria, usando para isso os mísseis Patriot que temos na
Turquia.
Segundo
alguns analistas, Obama poderia, como alternativa, autorizar a entrega de armas
e treinamento para a oposição síria na Jordânia, sem zona aérea de exclusão. Não
foi considerada via possível, segundo esses meus interlocutores em Washington,
porque o Pentágono quer pôr fim à crise síria até o fim desse verão [aqui, do
inverno], como ouvi, em vez de:
(...)
ter de trabalhar no longo prazo com
bandos de jihadistas nos quais
não se pode jamais confiar ou dos quais não se pode depender. O governo Obama,
ao que parece, concluiu que entre entrar lá por pouco ou por tudo, melhor entrar
de vez. Isso significa impedir o Irã de controlar a Síria, e o Hezbollah, de
tomar conta do Líbano.
John Kerry |
O
secretário de Estado Kerry reuniu-se com mais de duas dúzias de especialistas
militares dia 13/5/2013. O Washington Post está noticiando que Kerry
entende que:
(...)
fornecer armas aos rebeldes pode ser
pouco e vir tarde demais, para realmente alterar a correlação de forças
em campo na
Síria ; que a situação exige ataque militar para paralisar as
capacidades militares de Al-Assad.
Fonte
do Pentágono disse que EUA, França e Grã-Bretanha consideram uma ação decisiva
para reverter o momentum de Assad e rapidamente construir ímpeto a favor
dos “rebeldes”, com prazo que não exceda o fim desse verão [inverno aqui].
rei Abdullah |
Pouco
depois de iniciada aquela reunião, o rei Abdullah da Arábia Saudita voltou para
a Arábia Saudita, de seu palácio em Casa Blanca, Marrocos, depois de receber
telefonema de seu chefe de inteligência, príncipe Bandar Bin Sultan. Bandar,
segundo o noticiário, tinha um representante na Casa Branca, presente às
reuniões com a equipe de Obama. Os mesmos noticiários dizem que o rei Abdullah
teria sido aconselhado por Kerry a preparar-se para rápida expansão no crescente
conflito regional.
O
que acontecer entre hoje e o fim do verão [inverno aqui] será provavelmente
catastrófico para os sírios e talvez também para o Líbano.
Ninguém
no Capitólio dá qualquer importância à “linha vermelha” das armas químicas,
porque não há qualquer prova que já não fosse conhecida há meses, as mesmas que
agora voltam a ser citadas para justificar o que pode tornar-se, essencialmente,
guerra total contra o governo sírio e quem mais se interponha. Frases feitas
sobre as 125 mortes que teriam sido causadas por armas químicas, não importa
quem as tenha usado, somem, à vista das mais de 50 mil novas mortes nos próximos
meses: esse é o número que os planejadores do Pentágono e a Casa Branca
“orçaram”, como preço a pagar para derrubar o governo de Assad.
Em
e-mail para mim, um funcionário da Comissão de Relações Externas do
Senado escreveu:
(...)
o presidente tomou a decisão de garantir
toda a ajuda humanitária além de apoio político e diplomático à oposição que
sejam necessários. Além disso, dará apoio direto ao Conselho Militar Supremo,
inclusive apoio militar.
Ben Rhodes |
Minha fonte citou palavras
do vice-conselheiro de Segurança Nacional, Ben Rhodes, para a mídia, na
mesma direção, dia 13/6/2013.
Como
parte dessa “ajuda humanitária”, os EUA estabelecerão nas próximas semanas uma
(...)
zona aérea de exclusão limitada,
humanitária, que começará a algumas milhas das fronteiras jordaniana e turca em
algumas áreas militares em território sírio, e será implantada e apresentada
como movimento limitado para treinar e equipar forças rebeldes e proteger
refugiados.
Mas,
na realidade, como todos vimos acontecer na Líbia, é praticamente certo que
qualquer zona aérea de exclusão incluirá todo o território sírio.
As
zonas aéreas de exclusão na Líbia já mostraram bem claramente que não existe
“zona limitada”. Em resumo: uma “zona aérea de exclusão” significa declaração de
guerra total. A partir do momento em que os EUA e seus aliados comecem
qualquer “zona aérea de exclusão”, eles a expandirão sempre, cada dia com mais
intensidade, e empreenderão incontáveis ataques militares para proteger suas
“zonas” até derrubarem o governo sírio. “É angustiante esperar para ver como
isso tudo acabará e como Irã e Rússia responderão” – concluiu uma das minhas
fontes.
A
Casa Branca está tentando convencer alguns poucos recalcitrantes no Congresso e
a maioria da opinião pública norte-americana de que o envolvimento dos EUA será
limitado e que a zona aérea de exclusão não implica a destruição total das
baterias antiaéreas sírias. Mais e mais nonsense.
Na
zona aérea de exclusão que testemunhei na Líbia, no verão de 2011, os EUA a
apoiaram de todos os modos, com reabastecimento, guerra eletrônica, agentes
especiais em terra e, em meados de julho, nem uma criança pedalando numa
bicicleta foi poupada. Durante os 192 dias em que patrulharam as zonas aéreas de
exclusão na Líbia, os países da OTAN fizeram 24.682 voos-ataques, incluindo
9.204 ataques a bombas.
A OTAN anunciou que nunca errou alvo, mas isso também é
mentira.
Centenas de civis foram mortos na Líbia em ataques para implantar e
manter a zona aérea de exclusão, que erravam o alvo, ou eram aviões que,
simplesmente, descarregavam a munição transportada, antes de retornarem à base;
foram aproximadamente 48 bombardeios por dia, usando vários tipos de bombas e
mísseis, inclusive mais de 350 mísseis Tomahawks.
Robert Gates |
(...)
uma zona aérea de exclusão começa com um
ataque para destruir todas as defesas aéreas (...). Depois se pode voar por todo o país, sem se
preocupar com nossos rapazes serem derrubados. Mas começa assim.
Em
resposta a pergunta que lhe fiz, sobre como supõe que os eventos desenrolem-se
nessa região nos próximos meses, um assessor muito experiente e atento, de um
senador, respondeu:
Bem,
Franklin... Talvez alguém tire um coelho da cartola e consiga sustar o ímpeto em
direção à guerra. Mas, francamente, duvido. De onde estou, o que vejo é que a
Síria que conhecemos em breve já não existirá. E talvez, com ela, sumam também
outros países da região.
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