[*] Laerte
Braga
O futebol
é mágico, tem deuses próprios. Mortais. Morreu, por exemplo, Djalma Santos, o
maior lateral direito da história de nosso futebol e um dos maiores da história
do futebol e o Atlético Mineiro conquistou a Taça Libertadores da América nas
mãos do técnico Cuca.
É preciso
chamar Celso Barros, o homem da UNIMED no Fluminense e apresentá-lo a realidade,
maior que a pretensão. Dispensou Cuca que havia salvo o clube do rebaixamento e
chamou outro pretencioso, Muricy, para conquistar a Libertadores. Muricy saiu
falando de ratos no vestiário do tricolor.
Heleno de
Freitas, numa partida do Botafogo,irritou-se quando o companheiro não aproveitou
um dos seus passes geniais. Mostrou a camisa, a sua era de seda, e disse –
“jogamos no mesmo time”. Terminou no campo de concentração de Barbacena, durante
algum tempo chamado de hospício.
Foi um
deus irado.
“Deem-me
Zizinho e serei campeão”. Frase de Bela Gutman aos diretores do São Paulo quando
chamado a trabalhar no clube. Zizinho foi para o tricolor paulista e Bela Gutman
cumpriu a palavra, 1957. Em anos antes Gentill Cardoso havia dito aos diretores
do Fluminense a mesma coisa só que em relação a Ademir Menezes, outro deus do
futebol.
O São
Paulo repetiu o fato anos mais tarde com Gérson e depois com Pedro
Rocha.
Os dois
últimos jogadores capazes de integrarem esse Olimpo foram Romário e Ronaldo o
Fenômeno. Zico era um craque, mas a mídia o transformou num deus sem condições
para isso, no máximo semi-deus.
Pelé
perdeu a condição de Zeus depois que abriu a boca. Segundo Romário, Pelé foi o
maior jogador de futebol do mundo, mas que "calado, era um poeta". Tem o
defeito de falar bobagens o tempo inteiro e servir aos seus
senhores.
Didi um
dos que se assentam no trono de Zeus foi explicar a Feola e Carlos Nascimento em
1958 que não ganharíamos a Copa sem Garrincha, Pelé e Zito. Não estava
criticando a Joel, ou a Dida ou a Dino Sani. Foi o contrário, perguntou a Feola
e Nascimento se já haviam vistos os globe trotters jogarem basquete. E explicou
que Dino era globe trotter, mas se esquecia que o gol era o
objetivo.
Em 1958
deixamos aqui Maurinho, superior a Joel. Canhoteiro, superior a Pepe e Zagalo.
Julinho e Evaristo Macedo porque jogavam-no futebol estrangeiro. Ou Gino,
centro-avante do São Paulo e bem melhor que Mazzola.
Vem cá
Celso de Barros, lembra-se desse rapaz? É o Cuca, campeão da Libertadores da
América.
Lembra-se
dessa arrogância? É o Muricy, invenção de Rogério Ceni para derrubar Paulo
Autuori no seu mau caratismo já denunciado pela mulher de um jogador.
Mané
Garrincha, talvez o deus dos deuses. Comprou um rádio de pilhas na Suécia e deu
de presente a Newton Santos, o maior lateral esquerdo do mundo em todos os
tempos. “Quero isso não, só fala em sueco”
Na Copa
de 70 Jairzinho inventou essa mania de entrar no meio da barreira adversária e
Rivelino fez a bola passar por ali, Jair caiu propositadamente na hora do chute.
Rivelino assenta-se no trono de Zeus. Era um fenômeno quase no nível de Pelé e
Maradona ou Messi, hoje.
Nem falo
de Di Stéfano ou Puskas, para ficar só nos brasileiros. Ou Néstor Rossi quando
lhe perguntaram como fazia para jogar daquele jeito – “toco e me
voy”.
Quero
saber onde está Amarildo, o da Rocinha.
Nunca joguem com o time da PM, nem a guisa de treino. É a velha cavalaria de Átila, “por onde passa não medra grama”. Só coquetel Molotov.
E cuidado
com Brilhante Ulstra. Joga com pau de arara, choque elétrico, bastões de basebol
e tem mania de ser “patriota”, o “último refugio dos canalhas” na opinião de
Samuel Johnson.
Zizinho
assenta-se no trono de Zeus como um dos maiores. Gérson também. O drible
formidável de Clodoaldo em quatro adversários lhe vale um trono. Pena que Pagão
tenha morrido cedo, mas foi para o Olimpo.
A vitória
do Atlético, mesmo nos pênaltis, como diria Nélson Rodrigues estava escrita há
mil anos. O gol aos 41 minutos explica isso.
E há um
trono especial para Leônidas da Silva, o Diamante Negro.
Há muito
mais tronos, mas gastaríamos um dia inteiro para relacioná-los.
O drible
de corpo de Tostão nos ingleses. A jogada de Pelé, no gol que não entrou, sobre
o goleiro do Uruguai e o fantástico gol contra o País de Gales em
1958.
Tim, mais
tarde técnico, segundo os especialistas da época, passava meses sem errar um
passe
E
Castilho. Reserva de Veludo no Fluminense e titular da seleção brasileira com
Veludo na reserva. Mais tarde passaram a fazer revezamento. Era
assombroso como goleiro.
E hoje a
mídia rotula de craque qualquer perna de pau que faz um gol diferente,
É lógico,
o futebol evoluiu, a questão do condicionamento físico, mas duvido que esses
supermen segurassem Garrincha ou um passe de Didi, de Zizinho, de
Gérson ou de Rivelino.
Nem
vou falar de Dirceu Lopes. Deixa para lá, quero saber onde está o Amarildo e
fora Cabral, o homem do novo AI-5.
Cabral
não tem trono, tem cela.
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[*] Laerte Braga é jornalista, trabalhou no Diário
Mercantil e no Diário da Tarde de Juiz de Fora, para os Diários Associados e
pela agência Meridional (primeira grande agência de notícias do Brasil) e também
dos Diários e Emissoras Associadas, tendo sido correspondente do Estado de Minas
de Juiz de Fora e Zona da Mata, e também trabalhou como freelancer para revistas e jornais do
Brasil e de outros países. Laerte escreve sazonalmente para a redecastorphoto.
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