quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Irã: Obama carece de um salto de fé

31/7/2013, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Trabalhador iraniano dá toques finais num mural do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, do Irã na praça Enghelab, em Teerã. Fotógrafo: Majid Said 
Mesmo para quem observa compulsivamente há anos a “questão iraniana”, é uma festa para a inteligência: nunca antes, em três décadas, a luta dentro do establishment norte-americano foi tão feroz. “Engajar” ou não “engajar” o Irã: eis a questão. Em matéria fascinante, o New York Times toma a pulso dos EUA. 
Hassan Rouhani
Claro, uma mão invisível impulsiona os políticos do Capitólio a pôr freios no presidente Barack Obama, apesar de já estar em clara ascensão, na opinião pública nos EUA, a ideia de que não resta saída além de engajar o Irã; sobretudo agora que a eleição de Hassan Rouhani abre janela sem precedentes de novas oportunidades, depois de trinta anos de impasse.

Não se trata de pôr algemas na prerrogativa presidencial, de Obama, de comandar a política exterior: é situação de vida-ou-morte para o lobby israelense.

O pesadelo israelense é que, se o engajamento EUA-Irã ganhar tração, haverá mudança tectônica na geopolítica do Oriente Médio; e a posição pivô das estratégicas dos EUA na região pode sofrer erosão.

Israel está em pânico, de que projetos divulgados, como a estrada de ferro financiada pelos EUA, conectando o Afeganistão a portos iranianos no Mar da Arábia, venham a mudar dramaticamente o jogo.

O último relatório de 175 páginas, divulgado na 3ª-feira (30/7/2013) ao Congresso dos EUA, pelo Inspetor Geral norte-americano para a Reconstrução Afegã, diz que “o Irã é a destinação preferencial de exportações de minérios [do Afeganistão] porque a estrada é mais eficiente e a infraestrutura ferroviária do Irã está em melhores condições que a do Paquistão”.

Inacreditável, não é mesmo?! Os militares norte-americanos querem retomar e implementar o mesmo projeto sobre o qual burocratas indianos letárgicos, vãos, covardes, e seus senhores políticos, nada fizeram, além de muito discursar e falar em vão, durante vinte anos? Vide páginas 164-166 do Relatório
 
Como se não bastasse, Obama fez das tripas coração para aumentar o nível de conforto dos israelenses: o mais recente movimento foi nomear Martin Indyk para comandar as conversações para o Oriente Médio que se reiniciam. Indyk não é apenas “velho servidor de Israel”: ele é a própria “mão israelense” encarnada.   

Barack Obama
Obama fez o que fez com o único objetivo de inspirar confiança a Telavive, de que é e sempre será um anjo guardião dos melhores interesses de Israel. Pois nem assim Israel deixou-se convencer.

Israel absolutamente não quer, de modo algum, a integração do Irã como potência regional; não quer normalização de laços entre Irã e o ocidente; não quer ver o Irã aberto como a mais recente fronteira de energia – Israel absolutamente não quer nada disso.

E não quer porque essas medidas implicarão que Israel será forçado a contentar-se com ser estado normal de 6 milhões de habitantes. Se desaparecer o fantasma iraniano, Israel será fatalmente empurrada a ter de resolver o problema palestino.

Até hoje, a questão nuclear iraniana serviu como útil distração, ao longo de décadas, tempo durante o qual Telavive desencaminhou a chamada “comunidade internacional”.

E então, de repente, começa essa nova campanha a favor do programa nuclear iraniano. O mais recente relatório de “think-tank” dos EUA  diz que o Irã

(...) em meados de 2014 terá capacidade crítica para processar material de urânio baixo-enriquecido e fabricar material a ser usado numa arma atômica, sem que os inspetores internacionais tomem conhecimento.

Eureka! Descobriram a pólvora!

A mensagem ocultada é:  

Não é hora de o presidente dos EUA inventar de “engajar” em negociações o Irã, país de traidores.

Para os velhos observadores do Irã, a coisa volta, como uma sensação de déjà vu.

A grande pergunta é se Obama terá a coragem política necessária para desafiar o lobby israelense e dar o salto de fé  necessário para engajar o Irã.
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[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Irã, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The HinduAsia Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

2 comentários:

  1. Fica difícil dizer qual dos dois manda mais: EUA ou Israel.Mas a partir de pequenas análises é fácil perceber quem está ganhando por uma cabeça. Quem comanda Wall Street? Quem comanda a mídia? Quem recebe uma grana violenta de um determinado orçamento público? A quem Obama serve?

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    1. Prezada Regina,
      Quem manda nos EUA é Israel. Obama é serviçal da AIPAC (The American Israel Public Affairs Committee). Foi eleito com a grana dos sionistas prometendo fazer TUDO o que o estado genocida continuasse a assassinar palestinos e roubar suas terras. Hoje, os EUA são completamente subservientes à Israel. Tem o link de um artigo do Robert Parry na postagem seguinte (mais recente) que mostra bem essa subserviência da Câmara de Representantes.
      Abraço

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