11/9/2013, [*] Pepe
Escobar, Asia Times Online -The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
11 de setembro de 2001, New York, EUA |
Foi há
exatos doze anos. Os historiadores registrarão que, segundo a narrativa oficial,
19 árabes armados com abridores de latas, facas de cozinha e com mínima
capacidade para pilotar aviões, a serviço de uma corporação Terror Inc.,
converteram grandes aviões em mísseis e atacaram a pátria norte-americana,
derrotando assim o mais elaborado sistema de defesa sobre a Terra.
Rodem a fita
adiante, até 2013. Eis versão em 15 segundos do discurso do Presidente dos EUA
(PEUA) sobre a Síria, exatamente um dia antes do 12º aniversário do 11/9:
Nossos ideais e princípios, além
de nossa segurança nacional estão em jogo. Os EUA são “a âncora da segurança
global”. Os militares dos EUA “não dão cutucadinhas”, mas carregamos o peso do
dever de punir regimes que desrespeitem convenções vigentes há muito tempo e que
banem o uso de armas biológicas, químicas e nucleares.
Eis a razão
pela qual decidir providenciar ataque militar limitado, de alvo definido, contra
Washington DC.
Para
incontáveis cidadãos globais, essa versão alternativa já soa como perfeita
narrativa da versão oficial do que aconteceu há 12 anos. A neblina da guerra
obscurece tudo, pelos meios mais misteriosos. Mas permanece o fato de que o
atual Imperador (farsante), [1] “relutante”, insiste em apostar a
própria “credibilidade” – e a de seu país – numa operação “limitada”, “cinética”
para reforçar uma linha vermelha que ele mesmo inventou contra armas químicas.
Obama quebrou a cara.
Viajemos
Na teoria, o
plano russo para que Damasco entregue seu arsenal de armas químicas funciona bem
por causa da sabedoria chinesa que carrega embutida: ninguém quebra a cara – nem
Obama e o Congresso dos EUA, nem a União Europeia, nem a ONU nem a ainda mais
farsesca Liga Árabe que não passa, essencialmente, de colônia da Arábia Saudita.
Alaeddin Boroujerdi |
Apesar de
Obama estar em plena guerra midiática total para roubar para ele o crédito pela
iniciativa, Asia Times Online já
confirmou que o plano foi construído por Damasco, Teerã e Moscou, semana passada
– durante visita do presidente da Comissão de Segurança Nacional do Parlamento
do Irã, Alaeddin Boroujerdi, a Damasco. A já famosa gafe do Secretário de
Estado, John Kerry, criou a abertura.
Em resumo,
eis o “eixo” – Damasco, Teerã, Moscou – que está ajudando Obama a safar-se do
fundo do poço no qual mergulhou por iniciativa sua. Desnecessário dizer, é
assunto absolutamente inadmissível e intolerável para os plutocratas
encarregados de despejar sobre a Síria a sua nova produção (letal). Campanha
novinha em folha de propaganda-mídia para gerar uma nova histeria deve ser
ativada para justificar a guerra. Nisso, precisamente, o eixo
anglo-francês-norte-americano trabalha nesse momento.
Não
surpreende a proposta francesa para uma nova deliberação no Conselho de
Segurança da ONU, já tenha citado o Capítulo 7 – que explicitamente permite
ataque militar a Damasco no caso de não cumprir o acordo. No pé em que está,
essa resolução será inevitavelmente vetada por Rússia e China. E aí estará o
novo pretexto para guerra. O imperador (farsante) pode facilmente invocar dúvida
razoável, destacar que envidou “todos os esforços” para evitar conflito militar
e, afinal, convencer os céticos no Congresso dos EUA de que só resta o caminho
da guerra.
E pensar que
há desenvolvimento perfeitamente sólido e lógico para que prossiga o plano
Damasco-Teerã-Moscou. As armas químicas da Síria podem ser postas sob supervisão
russa – ou europeia. A Síria integra-se à Organização para a Proibição de Armas
Químicas e ratifica a Convenção das Armas Químicas. Inspetores da OPAQ começam a
trabalhar em coordenação com a ONU. Todos os especialistas sabem que esse
processo exigirá anos.
Damasco já
declarou que está pronta a integrar-se à OPAQ e a assinar a Convenção. Não há
nenhuma necessidade de resolução do Conselho de Segurança da ONU para forçar
Damasco a fazer o que já disse que quer fazer. E qualquer resolução da ONU sobre
armas químicas no Oriente Médio terá necessariamente de incluir Israel.
Observe-se que ninguém, absolutamente ninguém, fala sobre os vastos arsenais
químicos de Israel, para nem falar das armas nucleares. [1]
Mas não se
seguirá o bom caminho – porque Washington e seus poodles ladrantes, afogados em
sonhos molhados com Sykes-Picot, Londres e Paris, já o estão bloqueando.
Fly me to the (guerra)
moon
Não há sinal
algum de que o governo Obama esteja preparado, sequer, para reconsiderar a
“doutrina Obama” ioiô para o Oriente Médio. Implicaria fritar o eixo
sauditas-Israel e empenhar-se em esforço concentrado pelo sucesso da Conferência
Genebra 2, a única saída diplomática possível para a tragédia síria.
Já
argumentei noutro artigo que o imperador (farsante) não passa de um amanuense –
empregado subalterno e obediente. Os que estão pagando a próxima produção letal,
como a Casa de Saud, ou festejando nas coxias, como o lobby israelense, simplesmente não
desistirão.
A Casa de
Saud quer mudança de regime já. O lobby
de Israel/AIPAC e seus patrões em Telavive querem que a guerra síria
respingue massivamente e inunde o Líbano, para envolver o Hezbollah. E os
Patrões Financeiros do Mundo, setores significativos do complexo
industrial-militar de segurança orwelliano/Panóptico, além do ocidente governado
pelas petromonarquias, querem república árabe secular integrada subalternamente
ao monopólio deles, gerando lucros.
O problema é
que a tal de coisa “cinética” pode ser “limitada” demais e não satisfazer o eixo
saudita-Israel nem, e sobretudo, os Patrões do Universo. Ao mesmo tempo que pode
ser suficientemente ilegal para caracterizar crime de guerra.
Mas, afinal,
já há um contrapoder. Asia Times Online
já confirmou que acontecerá reunião sumamente importante, ainda nessa
semana, no Quirguistão, durante a reunião anual da Organização de Cooperação de
Xangai. Imaginem: o presidente Xi Jinping da China, o presidente Vladimir Putin
da Rússia e o recém eleito novo presidente do Irã Hassan Rouhani, juntos, na
mesma sala, construindo a posição comum dos três sobre a Síria. O Irã ainda é
observador na Organização de Cooperação de Xangai – e em breve pode ser admitido
como membro pleno. É o que o eixo anglo-franco-norte-americano dedica-se a
tentar impedir que aconteça.
E isso nos
leva de volta a 12 anos atrás – e ao mito de que jatos de alumínio conseguiriam
penetrar as paredes das Torres Gêmeas, e de que bastaria querosene para derreter
instantaneamente paredes de aço e revestimento de aço e converter tudo em poeira
fofa. Assistam o vídeo a seguir e extraiam as necessárias conclusões.
Quanto
àquele “mal”, a transnacional Terror
Inc., nem tinha nome ainda, quando a empresa Jihad International tentava começar a
recrutar, no início dos anos 1980s, através de várias instituições islamistas de
caridade; em seguida os recrutados foram treinados e pagos pela CIA e pela
Arábia Saudita. Até que, um dia, a coisa foi batizada – pelos EUA -- passou a
chamar “al-Qaeda”. Ou, mais corretamente, “al-CIAeda”. E foram elevados à
categoria de Mal Absoluto. Essa gente fez o 11/9. E reproduziram-se como
coelhos, do Mali à Indonésia.
Hoje a CIA trabalha com eles, lado a lado – como
fizeram na Líbia. E ansiosamente esperam que a Força Aérea dos EUA abra o
caminho para eles até Damasco.
Ora, é só business (da guerra). Allahu Akbar
[Deus é maior].
Nota dos
tradutores
[1] O presidente Bashar al-Assad, sim, falou sobre armas químicas de Israel, na entrevista a
Charlie Rose (em português).
_____________________
[*]
Pepe Escobar
(1954)
é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica
exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times
Online; é também analista e correspondente das redes
Russia
Today,
The
Real News Network
Televison
e
Al-Jazeera.
Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de
Tradutores da Vila Vudu, no
blog
redecastorphoto.
Livros
- Globalistan:
How the Globalized World is Dissolving into Liquid
War, Nimble Books, 2007
- Red
Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007
- Obama
Does Globalistan, Nimble Books, 2009
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