quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Agência de Segurança Nacional dos EUA grampeia a Google. OK. Mas... E a espionagem econômica?

31/10/2013, Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Certa vez, eu disse a uma empresa para a qual presto serviços:

É importantíssimo que vocês não usem NENHUM serviço baseado em nuvem. Vocês estariam entregando o controle dos dados de vocês a muitas mãos desconhecidas.



Usar serviços em nuvem é modismo estúpido. Como o New York Times pode esperar alguma privacidade na coleta de informes e notícias, se seus sistemas de e-mail são “terceirizados” para a [empresa] Google? Não. Não pode contar com nenhuma privacidade.

Barton Gellman, em matéria para o Washington Post (“Agência de Segurança Nacional dos EUA invadiu links para os centros de dados de Yahoo e Google, em todo o planeta – dizem documentos de Snowden”), diz que:

Barton Gellman
A Agência de Segurança Nacional dos EUA entrou secretamente nos principais elos [links] de comunicações que conectam os centros de dados das empresas Yahoo e Google por todo o planeta, segundo documentos obtidos pelo ex-empregado terceirizado da Agência de Segurança Nacional dos EUA, Edward Snowden, e entrevistas com funcionários bem informados.

Tendo “grampeado” esses links, a agência posicionou-se para recolher o que bem entendesse do material de centenas de milhões de contas de usuários, muitas das quais são contas de cidadãos dos EUA. A Agência de Segurança Nacional dos EUA não armazena tudo que coleta, mas armazena muita coisa.

Duvido que esse esquema restrinja-se ao tráfego entre centros de dados de Google e Yahoo. O mais provável é que o tráfego de outros grandes serviços em nuvem – Apple, Microsoft, Amazon, etc. – também seja “grampeado” por algum sistema da Agência de Segurança Nacional dos EUA.

Imediatamente depois de o artigo de Gellman ter aparecido no jornal de hoje (30/10/2013), o diretor da Agência de Segurança Nacional dos EUA, general Alexander, foi interrogado sobre a matéria, durante depoimento ao Congresso:

Keith Alexander
O diretor da Agência de Segurança Nacional general Keith Alexander já foi obrigado a responder, hoje mesmo, ao mais recente escândalo publicado sobre as atividades de vigilância da Agência; primeiro, disse que não sabia da publicação; em seguida, negou a substância da matéria publicada.
...
“Não sei de que matéria estão falando” – disse Alexander. Perguntado sobre se a Agência de Segurança Nacional grampeara os centros de dados, Alexander respondeu “Não, que eu saiba. Que eu saiba, isso nunca aconteceu”.

As transcrições dos depoimentos ainda não foram divulgadas, e é bem possível que Alexander tenha dito a verdade, em termos literais – é possível que a Agência de Segurança Nacional dos EUA não tenha grampeado centros individuais de dados – e, ao mesmo tempo, é possível que, factualmente, ele esteja mentindo. Num serviço hospedado em nuvem, vários centros de dados são vistos como um só, do ponto de vista de sistema. É o que mostra o desenho a seguir.

Grampear o tráfego entre eles não é diferente de grampear um deles. Alexander sabe disso e disse o que disse como uma espécie de negativa que nada nega e que também atende pelo nome de “mentira”.

Trata-se sempre, sempre e sempre dos pontos para conversação do 11/9 preparados por funcionários da Agência de Segurança Nacional [1] e que a rede Al-Jazeera obteve por força da Lei da Liberdade de Informação [orig. Freedom of Information Act (FOIA)]. Os pontos para conversação são também um amontoado de mentiras sobre a regulação que rege (ria) a Agência de Segurança Nacional dos EUA. Na verdade, não há regulação alguma. Nada. Nenhuma regulação. A Agência de Segurança Nacional é o estado profundo dos EUA.

É claro que a arapongagem-espionagem pela Agência de Segurança Nacional dos EUA nada tem a ver com 11/9. Ali se trata sempre, sempre, de controlar indivíduos e empresas comerciais, sociedades e economias.

Esse detalhe continua ausente de todas as matérias e reportagens sobre “a espionagem” pela Agência de Segurança Nacional dos EUA, por mais que todos saibam que a espionagem econômica é uma das principais tarefas da Agência de Segurança Nacional dos EUA.

No passado, em 1995, artigo do NewYork Times já explicava:

Bill Clinton
Espionar aliados para obter vantagens econômicas é a nova e crucial tarefa atribuída à CIA, agora que a política exterior dos EUA está focada em interesses comerciais no exterior. O presidente Clinton deu alta prioridade em seu governo à inteligência econômica, informação especificamente para proteger e defender a competitividade, a tecnologia e a segurança financeira dos EUA, em mundo no qual uma crise econômica pode alastrar-se, em minutos, pelos mercados globais.
...
No Departamento do Tesouro, no gabinete comercial e na Divisão de Comércio, os funcionários dizem que, agora, recebem uma torrente de informações vindas da CIA.

A espionagem econômica é, muito provavelmente, a principal razão pela qual a Agência de Segurança Nacional dos EUA mantém grampeados os chefes de estados militarmente aliados, como a chanceler Merkel. Conhecer suas decisões mais prováveis em questões econômicas permite que os EUA e os bancos conectados à Agência de Segurança Nacional dos EUA extraiam a máxima vantagem possível, antes de as decisões serem divulgadas para o grande público. 

E fica-se a pensar... Quantos bilhões/dia as empresas norte-americanas roubam mediante esses ardis!

Fica-se a pensar também quanto tempo demorará, para que outros países e gente como meu cliente acordem para esse fato e tratem de implantar regime muito mais estrito de segurança de dados, para proteger sua própria informação? O que mais terão ainda de compreender sobre a atitude “acessar tudo” da Agência de Segurança Nacional dos EUA?




Nota dos tradutores

[1] Ver em: 17/10/2013: FOIA Case: 71184B (aqui traduzido)
(...) Esse documento complementa a resposta ao seu pedido, nos termos da Lei da Liberdade de Informação [orig. Freedom of Information Act (FOIA)] de 13/6/2013, recebido nesse escritório dia 14/6/2013, de “cópias dos pontos para conversação [orig. talking points] e de todos os documentos, o que inclui, mas não se limita a e-mails, relatórios, memorandos, transcrições, usados para preparar os supracitados pontos para conversação para os membros do Congresso, a imprensa e todos e quaisquer dentro do governo Obama, sobre o vazamento de informação relativa às atividades de vigilância da Agência de Segurança Nacional. Para que fique bem claro: o vazamento noticiado pela primeira vez pelos jornais The Guardian e Washington Post em 27/6/2013, o senhor concordou com limitar o escopo do pedido a: “versão final dos pontos para conversação; documentos dos quais foi extraída informação para compor os pontos para conversação; e o “de acordo” final dos que usassem os pontos para conversação como conteúdo” (...). E o documento continua...

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