9/11/2013, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Vladimir Putin - por Maurício Porto |
Netanyahu |
Quem mais
recentemente recorreu a Moscou foi o primeiro-ministro de Israel, Benjamin
Netanyahu. Na 6ª-feira, teve conversa tumultuadíssima sobre o Irã com o
secretário de Estado dos EUA, John Kerry na pista do aeroporto Ben Gurion.
Kerry pousou ali, vindo de Amã, para tentar, em poucas palavras, sensibilizar
Netanyahu sobre o desejado acordo provisório que os EUA esperam conseguir
firmar logo com Irã. Netanyhau,
claro, enfureceu-se e deixou o aeroporto sem nem esperar pela
fotografia oficial; e Kerry partiu para Genebra, para seu compromisso seguinte
– com o ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif.
Mais tarde,
no mesmo dia, o presidente Barack Obama telefonou a Netanyahu, para acalmar os
ânimos. O release distribuído pela Casa Branca diz que:
(...) o presidente Obama atualizou o
primeiro-ministro sobre os recentes avanços nas negociações em Genebra e
destacou seu total compromisso com impedir que o Irã consiga sua bomba atômica,
que é o objetivo das negociações em curso entre o P5+1 e o Irã. O presidente e
o primeiro-ministro permanecerão em contato, nessa questão.
John Kerry e Sergey Lavrov |
Mas Netanyahu
não se deixou consolar. Telefonou, ele mesmo, para o
Kremlin. Dia 20/11 próximo estará visitando Moscou, a convite do
presidente Vladimir Putin. Antes, só se encontraram em Sochi, em maio.
Via de regra,
Netanyahu só se reúne com Putin para suplicar que os russos não deem mísseis
sofisticados ao Irã ou à Síria. Mas dessa vez a agenda será provavelmente mais
ampla e construtiva. Claro que Netanyahu quer encontrar um meio de usar sua
conexão-Moscou, que o reponha no jogo, já em andamento, do engajamento EUA-Irã.
A já iminente
volta de Avigdor Lieberman ao gabinete de Netanyahu como ministro de Relações
Exteriores dá nova verve à diplomacia de Netanyahu para a Rússia. Lieberman é
“judeu russo” (da Moldávia) e tem, sim, laços com o establishment político
em Moscou, que podem ajudar Netanyahu.
Avigdor Lieberman |
Lieberman
sempre se opôs à ideia de um ataque militar de Israel ao Irã. Mas agora, com o
engajamento EUA-Irã, a opção de Israel atacar o Irã deixou de existir, o que
por outro lado, remove a principal diferença que havia na aliança política
entre Netanyahu e Lieberman. Matéria de DebkaFile
discute a possibilidade de que Lieberman acompanhe Netanyahu na visita a
Moscou.
Verdade é que
há sinais no vento – Israel pode estar começando a delinear uma política mais
realista vis-à-vis o Irã. Os israelenses são realistas experientes e
saberão ver a inevitabilidade de corrigir a rota, no que tenha a ver com o Irã.
Sabem que estão gravemente isolados.
A visita de
Netanyahu a Moscou pode enviar alguns sinais interessantes. A Rússia, é claro,
só tem a ganhar, se Netanyahu der sinais de receptividade ao interesse da
Gazprom, que quer participar das reservas gigantes do campo de Leviatã, no
leste do Mediterrêneo, reputadas como as mais fabulosas no cenário da energia
mundial. E a Gazprom já tem um pé no campo de gás
israelense de Tamar.
Para a
Rússia, é mamão com açúcar, também em outro importante sentido. Há notícias de
que os ministros
de Relações Exteriores e da Defesa da Rússia estarão no Cairo na
próxima semana. Tudo indica que Moscou esteja apostando no declínio da
influência dos EUA no Egito, para voltar aos bancos egípcios, dos quais os
russos foram expulsos por Anwar Sadat há mais de 30 anos.
Fala-se
também de negócio
gigante, de armas, entre Rússia e Egito. E já há obscuros rumores de
que a Rússia pode conseguir uma base naval no Egito. Fato é que Israel pode ser
muito receptiva à presença russa como fator de estabilidade, dado que a
situação no Egito ainda é perigosa, e a capacidade de os EUA influenciarem o
Cairo está hoje muito próxima do fundo histórico do poço.
Tanque russo T55 sucateado no Egito a ser substituído por equipamento mais moderno |
A grande
questão é como a Arábia Saudita encaixa-se nisso tudo. As relações EUA-sauditas
também se deterioraram nos últimos tempos. Mas na Síria, pelo menos em
tese, sauditas e russos ainda estão em campos opostos. Contudo, e isso posto,
sabe-se que esses dois países são famosos pelo pragmatismo.
Ainda
considerada a reaproximação EUA-Irã, alguma convergência entre sauditas e
russos pode vir a ser muito provável, em algum ponto futuro. Seja como for, é
inconcebível que a junta militar no Cairo, teúda e manteúda dos árabes do Golfo
ao som de $12 bilhões de dólares, por-se-ia a valsar com Moscou sem sequer
avisar Riad.
Se houver
alguma verdade nas notícias que estão
circulando sobre uma possível
base russa no Mar Vermelho, é razoável assumir que a Arábia Saudita
aprove o desenvolvimento de laços estratégicos entre Egito e Rússia. Com
certeza os sauditas sentir-se-ão em casa com esse total e inequívoco repúdio da
Primavera Árabe, pelos russos.
[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira
do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do
Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É
especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia
e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Times Online,
Strategic Culture, Global Research e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso
escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
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