24/11/2013, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Há agora um
acordo temporário entre os EUA (e coadjuvantes) e o Irã, sobre redução parcial
nas sanções ilegais que os EUA mantêm contra o Irã, em troca de redução
parcial nas atividades legais da indústria nuclear legal do Irã.
Desde
março estão em curso negociações
secretas entre o governo de Obama e o Irã, para
chegar ao que chegaram. Mas há dúvidas sobre se o acordo conseguirá realmente
mudar alguma coisa. O “relato
de fatos” que a Casa Branca distribuiu sobre o acordo é, como é típico,
tendencioso.
Barack Obama |
Algumas
ideias preliminares, para manter na cabeça:
– O acordo
é válido por seis meses e é perfeitamente possível que, depois, não haja acordo
permanente. O mais provável é que recomecem as animosidades de praxe, com novas
ameaças de guerra, daqui a seis meses. Há muita gente que não quer acordo
permanente, e farão de tudo para impedir que haja. Daqui a seis meses, quando
os EUA pararem de cumprir o que se comprometeram a cumprir, culparão o Irã por “quebra
de acordo”. Essa parte, no “relato de fatos” da Casa Branca, é a parte
decisiva:
O grupo P5+1 compromete-se, especificamente
a:
· Não impor novas sanções relacionadas à
questão nuclear nos próximos seis meses, se o Irã cumprir os compromissos desse
acordo, nos limites autorizados pelos
sistemas políticos dos países.
Traduzindo:
o Congresso dos EUA tem meios para aumentar as sanções e quebrar qualquer
acordo e isso, provavelmente, é o que fará.
– Acordo
muito melhor, do ponto de vista dos EUA, poderia já ter sido assinado em 2003,
2005 e 2007.
– Por mais
que a Casa Branca
diga [e os “especialistas” e “jornalistas” da rede Globo (NTs)] que o
acordo não reconhece “o direito do Irã a enriquecer [urânio]”, a verdade é que
sim, o acordo reconhece esse direito. Vale lembrar também o que Kerry pensava e
dizia sobre o assunto, há
quatro anos:
John Kerry |
John Kerry, presidente da Comissão de
Relações Exteriores do Senado e indicado pelos Democratas à presidência em
2004, disse ao Financial Times em
entrevista, que o Irã tem direito de enriquecer urânio – processo que pode
produzir combustível nuclear e material para armas. Os EUA e as outras
potências mundiais tem repetidamente exigido que Teerã suspenda o
enriquecimento (...) “O argumento do governo Bush [contra o enriquecimento] foi
ridículo (...), porque parecia irracional às pessoas”, disse o senador Kerry,
citando o fato de que “o Irã é signatário do Tratado de Não Proliferação”.
“[Bush fez] Diplomacia bombástica. Desperdiçou energias. E, pode-se dizer,
endureceu a negociação” – acrescentou. “O Irã sempre teve direito à energia
nuclear para finalidades pacíficas, e a enriquecer urânio para essa finalidade”.
– O acordo
aconteceu agora e alguma coisa que aconteça depois do acordo de hoje só
acontecerá, se acontecer, porque os EUA precisam mudar o foco de sua política
externa, do Oriente Médio, para a Ásia. Por falta de recursos e de capacidades,
os EUA só conseguirão fazer isso, depois de conseguirem, seja como for,
estabelecer algum equilíbrio e alguma estabilidade no Oriente Médio.
Todas as
questões em que os EUA estão metidos no Oriente Médio são, de uma ou de outra
forma, influenciadas pelo Irã. Essa é uma evidência que já ninguém pode
ignorar. O movimento de “pivô na direção da Ásia”, de que os EUA precisam muito
para fazer frente à China, exige, antes, um movimento de “pivô na direção do
Irã”.
– Deduz-se
daí, diretamente, que há uma chance de que esse acordo leve a algum outro
acordo que resolva a situação na Síria.
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama
Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”)
dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de
Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois
autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny.
Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no
primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre
aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os
quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão
SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”,
que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa
de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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