O teste é a Síria!
5/1/2014, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Restos do atentado à Embaixada do Irã em Beirute. Em destaque o suspeito assassinado, Majed al-Majed |
Com o assassinato “altamente previsível” do temido líder da
Al-Qaeda, Majed al-Majed, de nacionalidade saudita, que comandava as Brigadas
Abdullah Azzaam [ing. Abdullah Azzaam Brigades (AAB)], num hospital do
exército em Beirute, o Líbano aproxima-se mais um passo da guerra civil.
Correntes subterrâneas anunciam tempos difíceis para o Levante.
Circunstâncias indicam fortemente que Majed al-Majed, que estava ligado a
recentes ataques terroristas no Líbano, tenha sido morto, como qualquer um
mataria cão hidrófobo, pela inteligência saudita e/ou seus colaboradores em
Beirute. A morte ocorre pouco depois que testes de DNA comprovaram sua
identidade saudita. Mais importante: ocorre pouco depois que Teerã
solicitou acesso ao prisioneiro, para interrogá-lo sobre sua possível participação no
recente ataque, por suicida-bomba, contra a embaixada iraniana em Beirute.
Interessante: Teerã propôs que Majed e-Majed fosse submetido a
interrogatório conjunto, por iranianos e sauditas; mas Riad
descartou a ideia.
Alaeddin Borujerdi |
Parece que Teerã tem motivos para acreditar que a Arábia Saudita decidiu
silenciar Majed al-Majed. Mortos não falam. O fato de um deputado influente do
Parlamento Iraniano, membro da Comissão de Assuntos Externos e Segurança,
Alaeddin Borujerdi, ter sugerido que houve mão saudita no
assassinato, torna esse momento potencialmente muito
próximo de um avanço da guerra “a distância”, dos sauditas contra o Irã, em
cenário libanês. A última guerra civil no Líbano, que começou em 1975, durou 15
longos anos de violência, sangue e anarquia.
A inteligência saudita certamente temia que Majed e-Majed falasse demais
sobre os elos que ligam as Brigadas AAB e a Al-Qaeda. A questão é que as Brigadas AAB, apesar de classificadas pelos
EUA como organização terrorista, são financiadas pela inteligência saudita. O
duplifalar saudita é típico: Majed el-Majed aparece na lista dos terroristas
procurados em Riad, mas as Brigadas AAB recebem apoio clandestino.
Em resumo: se continuasse vivo, permanecia a perigosa probabilidade de os
EUA virem a ser forçados a examinar os laços que unem a Arábia Saudita e a
al-Qaeda. Recentemente, a Corte de Apelações dos EUA recomendou investigação
sobre o papel dos sauditas nos ataques de 11/9.
Tudo isso, mais uma vez, demonstra que os laços que unem EUA e Arábia
Saudita têm de ser cuidadosamente examinados pelo governo de Barack Obama. A
tese segundo a qual, se os EUA antagonizarem os sauditas, eles tenderão a
procurar novas alianças, é argumento
simplório.
Em visita de 29/12/2013 ao Rei Abdullah da Arábia Saudita, o Presidente francês, François Hollande ouviu reiteradas queixas da mudança de política dos EUA em relação à guerra na Síria |
O teste é a Síria
A questão crucial é se interessa aos EUA (ou se atende aos seus interesses
no Oriente Médio) aceitar que a Arábia Saudita mantenha laços com grupos da
Al-Qaeda. A Síria está convertida em teste. A continuada ambivalência dos EUA
nessa questão só reforça a suspeita de que Washington pode também ter usos a
dar a grupos da Al-Qaeda, como instrumentos de suas políticas regionais, como
no Afeganistão e no Iraque.
[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço
Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri
Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista
em questões do Irã, Afeganistão
e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para
várias publicações, dentre as quais
The Hindu,Asia
Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran
(1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
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