24/2/ 2014, [*] Eric Draitser − Counterpunch
Traduzido por João Aroldo
Manifestantes do "Pravy Sektor" (Setor Direita) enfrentam policiais com barricadas móveis (20/2/2014) |
A situação na Ucrânia está evoluindo a cada hora.
Ultranacionalistas de direita e seus colaboradores "liberais" tomaram
o controle da Rada (Parlamento ucraniano) e depuseram o presidente
democraticamente eleito, embora totalmente corrupto e incompetente, Yanukovich.
A ex-primeira-ministra e condenada criminalmente, Yulia
Timoshenko, foi libertada, e agora está a fazer causa comum com o Setor da
Direita, Svoboda, e os outros elementos fascistas, enquanto os líderes nominais
da oposição, como Arseny Yatsenyuk e Vitali Klitschko, começam a ir para o
segundo plano.
Em Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, sem dúvida,
observa com ansiedade. Em Washington, Victoria Nuland e a administração Obama
se alegram. No entanto, talvez o desenvolvimento mais importante esteja prestes a
surgir na Europa, enquanto as forças do capital financeiro ocidental se
preparam para receber a Ucrânia no rebanho. Eles virão com os presentes neoliberais
de sempre: austeridade e “liberalização econômica”.
Destroços da Praça Maidan em 20/2/2014 (clique na imagem para aumentar) |
Com a derrubada do governo Yanukovitch, os 15 bilhões de
dólares em assistência financeira que a Rússia prometeu à Ucrânia estão em
dúvida. De acordo com a agência de classificação Moody's:
A Ucrânia vai exigir 24 bilhões de dólares para cobrir um déficit
orçamental, o pagamento da dívida, contas de gás natural e apoio a pensões
apenas em 2014.
Sem continuidade da compra de títulos por Moscou e outras
formas de ajuda financeira, e com as forças pró-UE assumindo o controle da
política econômica e externa do país, o resultado não é difícil de prever: um pacote
de resgate da Europa com todas as condições de austeridade habituais.
Em troca de “ajuda” europeia, a Ucrânia será forçada a
aceitar a redução dos salários, cortes significativos no setor público e nos
serviços sociais, além de um aumento dos impostos sobre a classe trabalhadora e
corte de pensões. Além disso, o país será obrigado a aderir a um programa de
liberalização que permitirá à Europa despejar mercadorias no mercado ucraniano,
a desregulamentação e a maior abertura do setor financeiro do país à
especulação e à privatização predatória.
Não são necessários poderes psíquicos para prever esses
acontecimentos. Basta olhar para a onda de austeridade nos países europeus,
como Grécia e Chipre. Além disso, os países do Leste Europeu, com as condições
econômicas e históricas semelhantes à Ucrânia - a Letônia e a Eslovênia
especificamente - fornecem um roteiro para o que a Ucrânia deve esperar.
Yulia Timoshenko |
O modelo de
"sucesso”
Quando a “liderança” pró-UE da Ucrânia sob Timoshenko &
Cia. (e a direita fascista) começar a olhar para futuro, eles imediatamente vão
olhar para a Europa para resolver os problemas econômicos mais urgentes. O povo
ucraniano no entanto faria bem em examinar o precedente da Letônia para
entender o que os aguarda. Como os renomados economistas Michael Hudson e
Jeffrey Sommers escreveram em 2012:
O que permitiu à Letônia sobreviver à crise foram os resgates da UE e
do FMI... Elites à parte, muitos emigraram... Demógrafos estimam que 200.000
partiram na última década - cerca de 10% da população ... A Letônia
experimentou os efeitos da austeridade e do neoliberalismo. As taxas de
natalidade caíram durante a crise - como é o caso em quase toda parte, são
impostos programas de austeridade. Ela continua tendo uma das maiores taxas da
Europa de suicídio e de mortes nas estradas causadas por dirigir embriagado. O
crime violento é alto, sem dúvida, por causa do desemprego e cortes
orçamentários prolongados da polícia. Além disso, há a fuga de cérebros em
conjunto com a emigração de trabalhadores.
Manifestantes eslovenos contra "austeridade" em Liubliana (20/8/2013) |
O mito da prosperidade a acompanhar a integração e resgates
da UE é apenas isso, um mito. A realidade é a dor e o sofrimento em uma escala
muito maior do que a pobreza e o desemprego que a Ucrânia já experimentou,
especialmente na parte ocidental do país. O mais educados, os mais preparados
para assumir a liderança, vão fugir em massa. Os líderes que permanecerem vão
fazê-lo enchendo seus bolsos e insinuando-se aos financistas europeus e
norte-americanos que migram para a Ucrânia como abutres em cima de carniça. Em
suma, a corrupção e a má administração do governo Yanukovitch vão parecer uma
memória agradável.
A “liberalização” que a Europa demanda criará enormes lucros
para os especuladores, mas muito poucos empregos para as pessoas que trabalham.
A melhor terra será vendida às empresas estrangeiras e grileiros, enquanto os
recursos, incluindo o setor agrícola altamente cobiçado, serão tomados e
vendidos no mercado mundial deixando, tanto os agricultores como os moradores
das cidades, em pobreza extrema, os seus filhos irão para a cama com fome. Este
será o “sucesso” da Ucrânia. É assustador pensar que como seria o fracasso
Na Eslovênia, outro país do Leste Europeu que tem
experimentado o “sucesso” que a Europa deseja, os ditames econômicos de
Bruxelas têm devastado as pessoas que trabalham no país e suas instituições. A
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou um
relatório de 2013, em que se recomenda que, como primeiro passo, a Eslovênia
aja para “ajudar o setor bancário a ficar de pé outra vez”, acrescentando que “são
necessárias medidas adicionais e radicais o mais rápido possível”.
Protestos em Liublana (Eslovênia) contra a privatização dos bancos públicos (20/6/2013) |
Além disso, a OCDE recomendou a privatização total dos
bancos da Eslovênia e outras empresas importantes, apesar de prever uma
contração maior que 2% da economia. Em termos leigos, a Europa recomenda que a
Eslovênia e seu povo se sacrifiquem para as forças do capital financeiro
internacional, nada menos. Esse é o custo da “integração” europeia.
A Ucrânia está passando por uma transformação da pior
espécie. Suas instituições políticas foram pisoteadas por uma coleção
heterogênea de liberais delirantes, políticos espertos em ternos extravagantes
e extremistas nazistas. O tecido social está se rasgando, com cada região em
busca de uma solução local para os problemas do que costumava ser sua nação. E,
no meio de tudo isso, o espectro de financistas em busca de lucros com cifrões
nos olhos é tudo o que o povo ucraniano pode esperar."
[*] Eric Draitser
é analista independente de Geopolítica com sede em Nova Yorque e fundador do
sítio Stop Imperialism. É
colaborador regular de Russia Today, Counterpunch, Research on Globalization, Press TV,New Eastern Outlook e muitos outros meios de
comunicação. Produz também podcasts; disponíveis no iTunes e Stop
Imperialism, bem comoThe Reality Principle, disponível
exclusivamente no sítio BoilingFrogsPost.com.
Visite StopImperialism.com e acesse todas as suas postagens.
Recebe e-mail em: ericdraitser@gmail.com.
NOTA MUITO ÚTIL, de Tlaxcala, Rede Internacional de Tradutores:
ResponderExcluirA Organização dos Nacionalistas Ucranianos [orig.Organization of Ukrainian Nationalists (OUN)], organização fascista criada em 1929 na Ucrânia do Oeste (então sob governo polonês), dividiu-se em duas em 1940: a OUN-M mais moderada, com Andriy Melnik; e a OUN-B mais radical, com Stepan Bandera. A OUN-B declarou uma Ucrânia independente, em junho de 1941, como estado-satélite da Alemanha Nazista. Todos os grupos direitistas na Ucrânia de hoje apresentam-se como herdeiros das tradições políticas da OUN, inclusive o Partido Svoboda, a Assembleia Nacional Ucraniana, o Congresso dos Nacionalistas Ucranianos e o Setor Direita (Pravyi Sector).