18/7/2014, [*] colonelcassad.eng (original em russo)
Traduzido do inglês pelo
pessoal da Vila Vudu
Mais um blog de
super-especialista russo, anônimo, que escreve na internet. Uma rede de
tradutores militantes, voluntários, que não se conhecem; a Internet apanhada
pelos chifres e usada até o osso, sem jornalismo-empresa e contra todos os
jornalismos-empresas... e aí está, análise preciosíssima, prontinha, biscoito
fino, em português do Brasil. “Chegaremos à fartura!” Quem precisa das análises toscas dos williamsvaacks, xabores, maitêsproenças e celsoslafers?! 8-))
Ucrânia e a região sublevada (em rosa) (clique na imagem para aumentar) |
A total derrota do grupo Sul da
Junta de Kiev e a retirada da Junta, de
Izvarino, Krasnodon e Lugansk tornam possível discutir mais substantivamente a
questão do futuro da República Popular de Donetsk (RPD) e da República Popular
de Lugansk (RPL).
Apesar do
fato de que já se passaram três meses desde o início da fase ativa da rebelião,
absolutamente não há clareza alguma sobre o que, exatamente, será criado no
território rebelde do Donbass. Todos os participantes do processo compreendem
perfeitamente que a RPD e a RPL são formações temporárias, que têm de ser
convertidas em algo. E a questão sobre em quê, exatamente, serão transformadas,
não é trivial (embora pareça).
1. A formação
atualmente existente, da União das Repúblicas Populares (URP) [ing. UPR,
Union of People’s Republics] é mais uma estrutura temporária de coordenação
para tempo de guerra, que a semente de um novo estado. Essa estrutura provê (ou
espera-se que proveja) a unidade geral política e militar dos vários centros de
poder que há na RPD e na RPL.
2. O projeto de Novorússia que o Kremlin
está atualmente patrocinando consiste só de duas repúblicas e uma coleção de “governoratos”
virtuais; não coincide com a concepção original de 7-8 repúblicas populares que
seriam convertidas em Novorússia, e que efetivamente deixou de existir em abril
de 2014. Mesmo assim, o conceito continua vivo, graças a Tsaryov e a um número
de outras pessoas, sobre as quais afluem os fluxos financeiros que vem da
Rússia e que os líderes da RPD e da RPL e outros grupos que não estão
interessados na existência da Novorússia têm de aceitar.
3. A variante
suplente da “Transnístria expandida”, que foi considerada depois da rejeição
parcial de uma “Big Novorússia”, é um estado não reconhecido, que consiste de
RPD e de RPL e é dependente da Federação Russa. Essa era a variante considerada
nas negociações com o Sr. Akhmetov, antes da retirada do Sr. Strelkov na
direção de Donetsk.
Recentemente,
a situação começou a mudar.
Igor Etrelkov Comandante Militar da RPL e RPD derrotou a Junta de Kiev em Izvarino, Krasnodon e Lugansk |
A conspiração sufocada em
Donetsk e a instalação de controle mais amplo, por
Moscou, sobre o processo político na RPD, garantiu gestão mais coerente da
situação e tornou irrealistas os planos da Junta de Kiev para sitiar e render
Donetsk e a conspiração política de coxias com os oligarcas ucranianos. A grave
derrota militar da Junta no território da RPL e as crescentes capacidades de
combate das milícias da RPL e da RPD questionam efetivamente até a
possibilidade de os militares conseguirem destruir as repúblicas populares.
Quantidade
significativa de veículos e o crescente número de combatentes nas milícias
transferem gradualmente a questão, do plano da sobrevivência das repúblicas,
para a questão de se se manterão dentro dos limites das regiões de Donetsk e
Lugansk de antes da vitória. A fala sobressaltada do representante de
Poroshenko, Sr. Chaly, segundo o qual, se a situação não se resolver em
conversações, ela respingará além das fronteiras da RPL e da RPD é bem
sintomática. Não se trata ainda de uma oferta concreta, mas já é bem velada
apreensão de que, depois da já muito provável derrota militar da Junta de Kiev no
Donbass, as milícias da RPD e da RPL não pararão por ali e avançarão na direção
do [rio] Dnieper. O aflito reforço dos pontos de controle nas regiões de
Carcóvia, Dnepropetrovsk e Zaporozhye; a retirada do comboio mecanizados
através de Krasnoarmeysk na direção de Dnepropetrovsk, e de Metallist para o
norte da RPL, refletem a crescente apreensão nos círculos militares. O cheiro
de uma derrota realmente monumental [da Junta de Kiev] está no ar.
Entrementes,
o principal porta-voz do “partido pró-guerra [até Kiev, para derrubar a
Junta]”, coronel Strelkov, diz
claramente [orig. em russo, traduzível pelo tradutor
Google], que sua meta é alcançar Kiev e varrer de lá os fascistas.
Petro Poroshenko, Comandante da Junta de Kiev |
Considerando-se
que é voz da principal figura militar da RPD, a quem todas as forças armadas
locais reportam-se, o que se tem aí é efetivamente uma declaração política, o
que significa que, depois de perder o Donbass, nem por isso a Junta terá
sossego, porque as milícias comandadas pelo coronel Strelkov e seus comandantes
em campo não pararão por ali e avançarão na direção da Carcóvia, Zaporozhye e
Dnepropetrovsk.
Nessa linha
de análise, a retirada que Strelkov comandou, de Slavyansk, não criou problemas
só para os russos “derrotistas”, que se preparavam para a rendição de Donetsk à
Junta de Kiev; nem só para o Sr. Akmetov, cujos planos para preservar sua
influência no Donbass viraram fumaça; a retirada de Slavyansk, sob comando
de Strelkov, também criou um difícil problema estratégico para a Junta de Kiev:
O QUE FAZER DESSA GUERRA, cuja vitória militar já parece no mínimo duvidosa
(dizendo pouco). Os assassinos impotentes de população civil e as agressões
temerárias e ensandecidas que geram caldeirões de violência e sangue não são,
bem visivelmente, nem os agentes, nem os processos pelos quais o problema será
resolvido.
O caso de
fundo, mesmo, é que o “partido da guerra”, publicamente representado por
Strelkov, Mozgovoi, Bolotov e Bezler (e, não publicamente, pelos círculos
militares em Moscou), com sua ideia de erradicar a Junta de Kiev no Donbass, e
dali seguir em direção a Kiev, encontra reforço e apoio nos grupos que apoiam a
ideia de constituir-se a Novorrússia, e investem dinheiro em Tsaryov & Co.
Vale dizer
que se está formando certa aliança militar e política, na qual o grupo de
Tsaryov começa a desempenhar real papel político, e os militares comandados por
Strelkov plantam os fundamentos em solo para a volta à ideia da “grande
Novorrússia”, formada não de duas, mas de 7-8 regiões (oblasts).
Foi o que se
tornou possível depois de uma retirada de Slavyansk que quebrou o joguinho da
Junta de Kiev aliada aos “derrotistas” russos, e que, dentre outras coisas,
levou a algumas mudanças na política russa para o Donbass. O controle direto
pela linha da segurança do estado e o surgimento em grande escala de tanques,
SPHs, SAMs, artilharia, MLRSs e outras armas em mãos das milícias, indicam
claramente que a decisão política já foi tomada; e que a linha na qual Moscou
trabalhou entre 24 de abril e 5 de julho/2014 foi abandonada. O apoio às
milícias locais tornou-se mais substantivo, o que imediatamente transpareceu na
estrutura interna da RPD e na prontidão para combate dos combatentes
milicianos.
Por essa
linha, a situação em torno da RPD está começando a mudar. O fracasso do “partido
derrotista”, com a rendição de Donetsk (nesse momento, todos os envolvidos
estão sendo removidos de todos os postos políticos importantes na RPD –
Lukyanchenko, Khodakovsky, Pozhidayev – e também já há informação confirmada
sobre a possível renúncia do Sr. Pushilin) não levou à sua extinção. Apenas a
uma modificação na sua linha de conduta.
O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov |
Porque a
sobrevivência das duas repúblicas populares, RPD e RPL vai-se tornando
possibilidade cada dia mais realista, a possibilidade de que haja negociações
mais substantivas com a Junta de Kiev também emerge (os contatos preliminares
com o assistente de Kolomoisky, Sr. Korban já estão arranjados, com a colaboração
do pessoal de Kurginyan). Nessas negociações, os oligarcas russos (Fridman e
outro, XXX, cujo nome não darei agora), que fizeram contato com o Sr. Akhmetov,
tentarão reduzir tudo à terceira variante, da “Transnístria expandida”, como um
“compromisso sensível”, que permitirá que não se desaponte o “povo patriota” (o
qual, no caso de a RPD parecer “esquecida” e “desprestigiada” poderá converter-se
em terreno fértil para o “patriotismo à moda Maidan”). Ao mesmo tempo, por
outro lado, não levará a sanções ocidentais muito pesadas. Foram de fato forçados
a abandonar a linha de “esquecer & desprestigiar” as repúblicas populares,
a RPD e a RPL; os planos da rendição de Donetsk vieram a público; e os órgãos
de segurança do estado entraram ativamente na dança. Assim sendo, sob a
bandeira do “salvem o Donbass”, tentarão reduzir tudo a Novorússia, como o
toco da árvore serrada, que consistirá de RPD e RPL. Deve-se ter bem claro que
personagens como Kurginyan não passam de elementos de transferência, a serviço dos
interesses de grandes grupos financeiros russos e ucranianos.
O Sr.
Strelkov e o “partido da guerra”, que ele representa, com seus planos de levar
adiante a guerra para vencê-la, afinal, em Kiev, permanecem como sólidos
obstáculos a esses planos, porque a variante de “Transnístria Expandida”
implica efetivamente colusão com a Junta fascista, à qual interessa dividir a
Ucrânia, dando à Rússia só duas regiões, além da Crimeia; todo o resto iria
para a Junta de Kiev e para os EUA.
Disso decorre
a perseguição constante, contra Strelkov, movida pelo lado de Kurginyan e seus
sectários, e o recém convertido em destacado “surkoviano”, Maxim Shevchenko.
Todo esse pessoal, ligado ao Sr. Surkov, que participa ativamente das conversas
com os oligarcas sobre o futuro do Donbass, gera imensas dúvidas sobre a linha
a qual, verdadeiramente, interessa ao Sr. Surkov, para a Ucrânia.
Com a milícia
avançando para libertar o território da RPD e da RPL, a propaganda “pacifista”,
no espírito de “parem a guerra”, “protegemos o Donbass e basta”, “ninguém
precisa avançar para o [rio] Dnieper”, “Strelkov, o sanguinário, quer mais
vítimas” etc., aumentará. O objetivo será que, no caso de vitória militar, que
ela não ultrapasse os limites da RPD e da RPL, e que o espaço de guerra não se estenda
para incluir as três regiões vizinhas. Isso, precisamente, é o que a Junta de
Kiev mais teme.
O Sberbank é um dos bancos russos que tem interrompido o fluxo de doações para a RPD e RPL |
Bloqueios dos
canais de ajuda para a Novorússia dos bancos russos [em
russo] e tentativas para interromper campanhas de doações pelas redes sociais
refletem no plano informacional uma das faces da linha de conduta do “partido
pró-derrota” – que tem pregado a redução de suprimentos para a RPD e a RPL, de
modo que o crescimento do poder militar das repúblicas populares jamais alcance
níveis que ameacem criticamente a Junta de Kiev. O fato de que as conexões
entre os bancos russos e o agente norte-americano Sr. Nalivaychenko tenham sido
reveladas, precisamente sobre esse tópico, mostra que nenhum dos lados tem
interesse na “campanha contra Kiev”, a qual, vista de hoje, é, mais, uma ameaça
de longo prazo.
O conflito de
baixa intensidade satisfará os EUA, a Junta de Kiev e os “derrotistas” russos.
Mas – o que é crucial – a vitória militar das milícias pode atrapalhar
completamente, tudo.
Desse ponto
de vista, a linha correta de conduta será apoiar as milícias no seu esforço de
guerra no Donbass e apoiar aquelas forças que defendem a “grande Novorússia” e
a campanha contra Kiev, porque essa é a única variante que pode levar a
derrubar a Junta fascista e a destruir o fascismo na Ucrânia, pelo menos na
margem esquerda do rio Dnieper.
Correspondentemente,
com alto grau de confiança, os proponentes da “grande Transnístria”, da turma
de Kurginyan & Co., representam o “partido derrotista” dos que têm
interesse em limitar as consequências da derrota militar da Junta de Kiev no
Donbass e em impedir que haja guerra contra Kiev. Esses dois efeitos são
mortais para oligarcas como Akhmetov e Kolomoisky, e também tornam problemática
a situação para os oligarcas russos, que são dependentes do ocidente e estarão
entre os primeiros a ser afetados pelo regime ocidental de sanções.
É preciso
compreender que os “derrotistas” não temem a “campanha contra Rostov” pela qual
tentam culpar Strelkov; o que eles temem é a guerra contra Kiev, porque, essa,
sim, implicará confronto direto com os EUA e seus satélites, e cujo prêmio ao
vencedor não será duas regiões, mas toda a Ucrânia da margem esquerda. Isso
implicará uma redistribuição da propriedade de oligarcas do sudeste – Akhmetov,
Kolomoisky e Firtash, e enfraquecimento crítico das posições de oligarcas
russos afiliados deles.
Por isso o
coronel Strelkov, porque é a principal face pública do “partido da guerra até
Kiev” passará a ser atacado pela imprensa-empresa, para cevar uma opinião
pública pronta a aceitar, se não o abandono de toda a Novorússia, pelo menos
da “grande Transdnistria”.
Valery Chaly, membro da Junta de Kiev |
A Junta de
Kiev, na pessoa do Sr. Chaly, já está anunciando que gostaria de negociar com
as milícias, mas as milícias
é que não querem negociar, [em
russo] porque Moscou não as deixa negociar. Contudo, ainda no dia 9 de
julho/2014 a Junta
de Kiev recusou-se a iniciar qualquer tipo de conversa [em russo]. A
retirada de Strelkov para dentro de Donetsk, e a derrota da Junta de Kiev em
Lugansk mudou tudo.
O objetivo do
partido “pró derrota já” será construir conversações diretas entre a Junta de
Kiev e as milícias, nas quais se discutirá o futuro só das duas ex-regiões da
Ucrânia; a questão de manter a guerra e levá-la até derrubar a Junta em Kiev
não aparecerá sobre a mesa.
Eventualmente,
apesar da difícil situação nas linhas do front
na RPD e na RPL, o objetivo final da guerra para as milícias não é um análogo
depressivo da Transnistria, mas a vitória em Kiev e a tomada da cidade com o
objetivo de formar a Grande Novorússia no território da Ucrânia da margem
esquerda.
Pode até
parecer distante e improvável, mas só se considerado de longe. Na realidade,
trata-se da categoria de confiança que os soldados soviéticos conhecem de
quando, durante combate pesadíssimo em 1941-1942, tinham certeza de que
chegariam a Berlim.
À luz dos
sucessos recentes, essa meta distante só ganhou, por hora, contornos políticos.
Mas já se pode dizer que em nenhum caso a Novorússia será completamente
esquecida, ou desprezada. De um modo ou de outro, ela sobreviverá.
Em minha
opinião, não há dúvida possível, é coisa já feita, assunto resolvido. A questão
é, apenas, como será apresentada no mapa político. Dependerá, primariamente,
dos combatentes das milícias e dos que os apoiam, porque agora, nesse momento,
são eles que estão fazendo girar a roda da história.
[*] Este
blog é uma tradução fiel para Inglês colonelcassad − blog russo incrível sobre a guerra na
Ucrânia. A guerra na Ucrânia é o resultado de uma insurreição armada contra o
regime fascista em Kiev e as tentativas posteriores do regime para suprimi-lo. Se
você não entender por que o regime atual na Ucrânia é fascista, então por favor
leia este
artigo primeiro. O conteúdo das traduções publicadas neste site pode
ser repassado. Seria ótimo se você pudesse adicionar um link para o artigo fonte de onde você pegou o texto se você
repassar este artigo.
uma análise ótima e penso que será o melhor a acontecer - fascismo é terrível; eles não conseguem conviver com os diferentes; aqui no Brasil se convive bem com todas as raças. Estou feliz pelos pro-russos vencerem ali naquela terra.
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