1/8/2014, [*] Masha Loyak, Newropeans Magazine
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A Agência Standard & Poor’s
apenas rebaixou a avaliação da Argentina para SD [orig. Selective
Default, expressão que significa que o devedor continua a dever uma ou mais
parcelas de dívida maior, mas o credor crê que a dívida será saldada. Sobre
isso, ver Standard & Poor’s
Definitions].
Comentário do Zeca Tinga, Analista de Economia
na Vila Vudu: Ao contrário do que a imprensa-empresa tem noticiado na Argentina [e do
Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) no Brasil, então, nem se fala!] foi a
Argentina, não os fundos-abutres, quem recusou o acordo para refinanciar a
dívida total dos argentinos.
Standard &
Poor’s só rebaixou a avaliação do crédito argentino para SD (Selective
Default) para sinalizar que as negociações de ontem não chegaram a qualquer
acordo entre o país e os fundos-abutres. O valor é pequeno: apenas 400 milhões
de euros.
Na verdade,
em 2010, 93% dos credores da Argentina aceitaram uma perda de 65% nos bônus
emitidos pelo país no curso do primeiro evento de inadimplência em 2001, bônus
que foram comprados a preço baixíssimo por investidores especuladores de
riscos. Desde então, a Argentina tem honrado regularmente as prestações
devidas.
O que está
acontecendo é que 7% dos credores – os chamados, com muita justeza, “fundos-abutres”
– recusaram qualquer perda (compraram o risco e, na sequência, não querem pagar
por ele) e inventaram outra “negociação” com a Argentina, apoiados pela “justiça”
norte-americana, para conseguir o reembolso do que perderam.
A Argentina recusou
a nova “negociação”, preferindo ser declarada ainda inadimplente [na categoria Seletive
Default, SD].
Uma das
consequências da decisão da Argentina é que os 93% dos credores que aceitaram a
negociação inicial não verão tão cedo a cor do dinheiro deles; nem a verá o
fundo Elliott Management, principal
fundo envolvido na ação processual. Como se pode obrigar um país a pagar o que
ele entende que não deve a você? Guerra?
Em teoria, a
declaração de inadimplente seria como bomba nuclear para qualquer país, que
perde instantaneamente todo o poder para atrair investimentos; assim sendo, em
todos os casos, todos têm de fugir dessa declaração. Foi o que pensou o fundo
Elliott. Mas os tempos mudam.
Em maio, a
Rússia convidou a Argentina para participar da cúpula dos países BRICS. Com o
convite, aconteceu uma Cúpula conjunta UNASUR-BRICS, realizada na sequência da
Cúpula dos BRICS.
Há duas
semanas, China
e Argentina assinaram acordo multibilionário de investimentos,
mostrando a quem queira ver que, para a China, a Argentina não implica nem
significa risco algum.
Hoje, a
Agência de Avaliação de Risco Global Dagong, chinesa, decidiu rebaixar a
avaliação do crédito soberano em moeda estrangeira [orig. foreign currency
sovereign credit rating] da Argentina, de CC para D, mas manter a
avaliação do crédito soberano de moeda local do país em CCC:
Uma vez que a inadimplência em moeda
estrangeira foi causada por fatores de terceiros, que fundamentalmente não
afetam a solvência argentina em moeda local, Dagong mantém a avaliação do
crédito soberano em moeda local da Argentina em CCC”.
Vista do
ocidente, a Argentina tornou-se país perigoso e pouco confiável para
investimentos. Vista dos BRICS, a Argentina é agora país livre, sem dívida, a
3ª maior potência econômica na América do Sul, uma terra de oportunidades.
São dois
mundos: um sanciona e multa; o outro coopera e investe em conjunto.
[*] Masha Lovak é repórter de Economia
do Newropeans Magazine.
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