15/10/2014, [*] Pepe Escobar, RT− Russia Today, Moscou
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pescador lança sua rede no porto de Dubai |
A Arábia
Saudita iniciou uma guerra econômica contra alguns produtores selecionados de
petróleo. A estratégia mascara a verdadeira agenda da Casa de Saud. Mas
funcionará?
Para o
vice-presidente da russa Rosneft, Mikhail Leontyev,
(...) os preços podem ser manipulativos (...)
a Arábia Saudita começou por
oferecer grandes descontos no petróleo. É manipulação política, e a Arábia
Saudita está sendo manipulada, o que pode acabar mal.
É
indispensável uma correção: os sauditas não estão sendo manipulados. O que a
Casa de Saud está fazendo é disparar “Tomahawks de boatos”, insistindo
que estariam ótimos com o petróleo a US$ 90 o barris; até a US$ 80 pelos
próximos dois anos; e até a US$ 50-US$
60 para clientes da Ásia e norte-americanos.
A verdade é
que o Brent cru já caiu a menos de US$ 90 por barril, porque a China – e a Ásia
como um todo – já estão reduzindo o crescimento econômico, embora em grau
menor, comparado ao ocidente. A produção porém permanece alta – especialmente
na Arábia Saudita e Kuwait – mesmo com bem pouco petróleo líbio e sírio no
mercado e com o Irã forçado a cortar milhões de barris/dia na produção por
causa da guerra econômica dos EUA, também chamada sanções.
A Casa de
Saud está aplicando estratégia altamente predatória, que se resume a reduzir a
fatia de mercado de seus concorrentes, no médio para longo prazo. Pelo menos em
teoria, pode tornar miserável a vida de vários atores – dos EUA
(desenvolvimento de energia, fracking e perfuração em água profunda que se tornam
não lucrativos), aos produtores de cru pesado, azedo [orig. sour] como o Irã
e a Venezuela. Mas o alvo principal, que ninguém se engane, é a Rússia.
Nada mais
fácil que uma estratégia que fira simultaneamente Irã, Iraque, Venezuela,
Equador e Rússia ser vista como jogo de poder a favor do “Império do Caos”, com
Washington acertando negócios com Riad. Negócios que implicariam que bombardear
o Califa Ibrahim, líder do ISIS/ISIL/Daesh,
seria só um prelúdio para bombardear as forças de Bashar al-Assad; em troca, os
sauditas baixariam os preços para ferir os inimigos do “Império do Caos”.
Mas é muito
mais complicado que isso.
Jogue a culpa em Washington
O orçamento
russo para 2015 exige que o petróleo permaneça, no mínimo, a US$ 100 o barril.
Mesmo assim, o Kremlin está obtendo empréstimos de nada menos que US$ 7 bilhões
em 2015, dos “investidores externos” usuais, mais US$ 27,2 bilhões
internamente. Não se vê nem sinal de terremoto econômico.
Além do
mais, o rublo já caiu mais de 14% desde julho, frente ao dólar norte-americano.
Por falar nisso, as moedas dos principais países BRICS também caíram: 7,8% o
real do Brasil; 1,6% a rúpia indiana. E a Rússia, diferente do que se via na
era Ieltsin, não está quebrada: ainda tem reservas de, pelo menos, US$ 455
bilhões.
O objetivo
da Casa de Saud, de tentar atropelar a Rússia como principal fornecedor de
petróleo para a União Europeia não passa de delírio-sonho: todas as refinarias
da União Europeia teriam de ser praticamente refeitas de alto a baixo, para
processar o cru saudita, que é leve; e isso custa uma fortuna.
Geopoliticamente,
a coisa fica ainda mais saborosa, quando se vê que a estratégia central da Casa
de Saud é jogar a culpa de tudo em Washington, por não ter cumprido a promessa
de “Assad tem de sair”, nem realizado a obsessão dos neoconservadores de
bombardear o Irã. É ainda pior (para os sauditas), porque Washington – pelo
menos por hora – parece mais concentrada em derrubar o Califa Ibrahim do que em
derrubar Bashar al-Assad e pode, talvez, estar a um passo de assinar um acordo
nuclear com Teerã, como parte das conversas com o P5+1, dia 24 de novembro de
2014.
No front da energia, o pior dos pesadelos
da Casa de Saud seria ambos, Irã e Iraque,
tornarem-se rapidamente capazes de tomar o lugar dos sauditas como produtores swing chave de petróleo no mundo. Daí vem o ímpeto dos sauditas
para privar os dois países da muito necessária renda do petróleo. Pode
funcionar – com as sanções mordendo Teerã ainda mais fundo. Mas Teerã sempre
pode compensar, vendendo mais gás para a Ásia.
Aqui,
afinal, está o xis da questão. Uma depauperada Casa de Saud acredita que possa
forçar Moscou a abandonar o apoio que dá a Damasco; e Washington a não assinar
acordo algum com Teerã. Tudo isso, só vendendo petróleo abaixo do preço médio.
É sinal de desespero. E, além disso, pode ser interpretado como a Casa de Saud
sem saber o que faz – se não a estiver ostensivamente sabotando – da tal
coalizão dos covardes/sem noção, em sua campanha contra os bandidos do Califa
Ibrahim.
Para
completar essa pintura sinistra, a Europa talvez seja esquecida, para
arrastar-se como puder durante o inverno – mesmo sabendo-se dos problemas de
suprimento de gás com a Rússia − por causa da Ucrânia. Ainda assim, os preços
baixos do petróleo dos sauditas não impedirão uma quarta recessão em seis anos,
que já está na esquina, à espera da União Europeia.
Foto: Hamad I. Mohammed |
Para o leste, jovens russos!
A Rússia,
entrementes, olha lenta, mas firmemente, para o leste. O vice-premiê da China, Wang Yang, resumiu com clareza:
A China quer
exportar para a Rússia produtos competitivos como produtos agrícolas,
equipamento de petróleo e gás; e está pronta para importar produtos de
engenharia da Rússia.
Acrescentem-se
aí os alimentos importados em quantidades maiores da América Latina, e nada
sugere que Moscou esteja encurralada nas cordas.
Uma
delegação chinesa de peso considerável, chefiada pelo premiê Li Keqiang acaba
de assinar um pacote de negócios em Moscou, que vão da energia às finanças, e
de navegação por satélite a cooperação nas ferrovias para trens de alta
velocidade. Para a China, que já superou a Alemanha como principal parceira
comercial da Rússia em 2011, esse é puro jogo de ganha-ganha.
Os bancos
centrais de China e Rússia acabam de assinar acordo crucial, de três anos, para
troca bilateral da moeda, de 150 bilhões de Yuan. E o negócio é prorrogável e
expansível. A City de Londres reclamou muito, mas reclamar é o que mais fazem.
Esse novo
acordo, deixa de lado o US dólar. Não surpreende que seja, hoje, item chave da
guerra econômica por procuração, de salve-se quem puder, entre EUA e Ásia.
Moscou saúda o acordo, é claro, porque consegue neutralizar muitos dos efeitos
colaterais da estratégia saudita.
A parceria
estratégica Rússia-China está em ascensão desce o “negócio
de gás do século”,
“epocal” (pela definição de Putin), de US$
400 bilhões e para 30 anos, assinado em maio. E as reverberações
econômicas não vão parar.
Haverá com
certeza um alinhamento das Novas Rotas da Seda comandadas
pelos chineses, com uma ferrovia Trans-Siberiana modernizada. Na reunião de
cúpula da Organização de Cooperação de Xangai [orig. Shanghai Cooperation Organization (SCO)]
em Dushanbe, o presidente Putin elogiou o “grande potencial” do desenvolvimento
de um “sistema comum de transporte SCO”
que ligue “a ferrovia Trans-Siberiana russa e a linha principal Baikal-Amur” com as Rotas da Seda chinesas, “beneficiando
assim todos os países na Eurasia”.
Moscou está
progressivamente levantando as restrições e agora está oferecendo a Pequim
quantidade imensa de investimentos potenciais. Pequim está ganhando
progressivamente acesso não só às matérias primas russas muito necessárias, mas
também ganhando acesso a tecnologia de ponta e armamento avançado.
Pequim
receberá sistemas de mísseis S-400 e jatos de combate Su-35, logo no primeiro
trimestre de 2015. Depois, na sequência, virão o novíssimo submarino russo,
Amur 1650, além de componentes para satélites alimentados por energia nuclear.
Foto: Hamad I. Mohammed |
A estrada é pavimentada com Yuan
Os
presidentes Putin e Xi, que já se encontraram nada menos que nove vezes desde a
posse de Xi, ano passado, estão metendo muito medo ao “Império do Caos”. Não é de
estranhar; a prioridade número 1, dos dois e compartilhada, é morder a
hegemonia do dólar norte-americano – e especialmente do petrodólar – no sistema
financeiro global.
O Yuan está
sendo negociado na Bolsa de Valores de Moscou – a primeira Bolsa fora da China
a oferecer negócios regulados com o Yuan. Ainda está em apenas US$ 1,1 bilhão
(em setembro). Importadores russos pagam com Yuan, em vez de dólares, por 8% de
todos os bens chineses, mas a coisa está crescendo depressa. E crescerá
exponencialmente, quando Moscou finalmente decidir aceitar Yuan no “negócio
de gás do século” com a Gazprom, de US$ 400 bilhões.
Assim
caminha o mundo multipolar. A Casa de Saud usa a arma-petrodólar? O contragolpe
é aumentar o comércio numa cesta de moedas. Adicionalmente, Moscou manda um
recado à União Europeia, que está perdendo grande parte do comércio russo, por
causa das tais sanções contraproducentes, o que acelera a próxima recessão na
União Europeia. Guerra econômica também é via de duas mãos.
A Casa de
Saud pensa que pode jogar um tsunami
de petróleo no mercado, apoiado por um tsunami de “noticiário” e “opiniões de
especialistas” – criando a ilusão de que os sauditas controlariam os preços do
petróleo. Não controlam. Na exata medida em que essa estratégia saudita está
condenada ao fracasso, Pequim vai apontando o caminho a seguir para fora do
pântano: negociar em outras moedas estabiliza os preços. No frigir dos ovos, os
únicos perdedores serão os que insistirem em comerciar em dólares
norte-americanos.
[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
Seu novo livro, Empire of Chaos, será publicado em novembro/2014 pela Nimble Books.
Imperio do caos(EUA-UE)seu rei foi posto em xeq,sua torre(casa de saud)faz movimentos suicidas em desespero seu cavalo(Grã bretanha)está com a pata quebrada"manco"e seus peões(Turkia,Japão,Austrália, Canadá, Azerbaijão, Paquiistão e estados menores da uni.europeia ou que a almeja como a falida Ucrania por exemplo) já cairam a muito tempo.
ResponderExcluirEntão suponho que seja xeq-mate.