Pepe Escobar |
30/8/2001, Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Alerta do pessoal da Vila Vudu
O jornal Asia Times Online recupera hoje essa coluna espertíssima – e atualíssima – sobre Osama bin Laden, escrita há quase dez anos e menos de duas semanas antes dos ataques de 11/9/2001 ao WTC e ao Pentágono. Essa coluna prova, absolutamente, que Obama é Bush, mas vai tentar reeleger-se sob bandeira ainda mais anacrônica, até, que as bandeiras de Bush.
O jornal Asia Times Online recupera hoje essa coluna espertíssima – e atualíssima – sobre Osama bin Laden, escrita há quase dez anos e menos de duas semanas antes dos ataques de 11/9/2001 ao WTC e ao Pentágono. Essa coluna prova, absolutamente, que Obama é Bush, mas vai tentar reeleger-se sob bandeira ainda mais anacrônica, até, que as bandeiras de Bush.
O Asia Times Online anuncia que “amanhã, 3ª-feira, Pepe Escobar voltará a comentar os últimos desdobramentos da grande revolta árabe de 2011” .
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PESHAWAR, Paquistão – Comandos dos EUA que desçam nas áreas tribais do Paquistão dificilmente se interessarão por comprar as camisetas em que se veem o rosto de Osama Bin Laden e inscrições do tipo “Herói do Mundo” e “O Maior Mujahid de toda a Jihad”. As camisetas vendem como pão quente em todas as lojas do bazaar Saddar em Peshawar, por menos de 2 dólares americanos.
Os rapazes das Forças Especiais podem também comprar para levar para casa cópias, para videocassetes, do RAP de Osama, cantado por vários diferentes rapeiros de todo o mundo árabe. E há canecas com desenhos psicodélicos do rosto de Obama, e até um vídeo em que fala o próprio Osama. Nesse vídeo, o n.1 na lista dos mais procurados pelo FBI, terrorista internacional campeão, prega numa mesquita e fala aos seus fiéis jihadistas de todo o mundo. Naquele vídeo, Osama diz: “Saiam de suas casas, deixem o lugar onde vivem governados por aliados de judeus e cristãos e abracem a Jihad.” Exige “sangue por sangue, destruição por destruição” – referindo-se a muitas vítimas muçulmanas em todo o mundo, da Palestina à Chechenia, do Líbano à Caxemira.
Osama bin Laden – que é também alvo n.1 do centro de contraterrorismo da CIA – é hoje um superastro que faz o papel de vilão em alguma espécie de ficção hollywoodiana planetária. Mas dentro do Afeganistão onde vive em exílio, Osama, que é saudita, é personagem secundário. É homem de saúde precária, obrigado a viver escondido – quase sempre “em algum lugar perto de Kabul”. Vez ou outra viaja disfarçado até Peshawar. Sua organização, a Al-Qaeda, está dividida, em cacos. Os Talibã lhe devem muito, pelos muitos serviços que a Al-Qaeda prestou para levá-los ao poder no Afeganistão – desde a doação de grande quantidades de dinheiro, da imensa fortuna pessoal de Osama. Agora, quando seus serviços são dispensáveis, Osama é descartável.
O presidente general (ou vice-versa) Pervez Musharraf do Paquistão tem perdido noites de sono ultimamente, preocupado, porque o governo de George W, com todo seu poder, exigiu sua colaboração direta para uma operação “Caçada a Osama”, a ser iniciada a qualquer momento. Peshawar ferve de rumores sobre um comando dos EUA que se estaria infiltrando no Afeganistão, vindo do Paquistão, apoiado por força aérea jamais vista.
Chamem Jerry Bruckheimer! Hollywood é recheada desse mesmo material! E o recheio é o mesmo, também, da fracassada tentativa, por Jimmy Carter, de resgatar os reféns norte-americanos no Irã. Todos os Mujahideen que mereçam uma Kalashnikov no Afeganistão nesses dias – até o próprio comandante Ahmadshah Masoud em pessoa – já disseram que ataques com mísseis cruzadores não farão nem cócegas no país, já reduzido a ruínas.
Oficialmente, Musharraf já negou apoio a esse mais recente golpe hollywoodiano dos EUA, e tenta freneticamente convencer os EUA de que qualquer ação brutal contra Osama ou contra os seus chamados “santuários terroristas” detonará uma onda incontrolável de radicalismo islâmico no Paquistão, no Afeganistão e na Ásia Central, de proporções jamais vistas. Não importa que o ataque tenha total apoio da ONU e dos países do G-8 – esse apoio pesa como uma causa a mais para o contra-ataque de grupos islâmicos contra o mundo industrializado.
Com seu exército de jornais e jornalistas, essa cena ridícula de “George W é Rambo” será apresentada para a arquibancada, como mais uma das recentes “iniciativas” da política externa dos EUA para o Afeganistão. Não é segredo que os EUA querem mais e mais sanções contra os Talibã – e provavelmente também contra o Paquistão. Mas, como muita gente, tanto no cinturão pashtum da fronteira Paquistão-Afeganistão como nas áreas que falam tadjique, anda dizendo a plenos pulmões e há meses, não há qualquer política ocidental para o Afeganistão – exceto as sanções da ONU que, dentre outras coisas, exigem que os Talibã entreguem bin Laden.
A ONU já distribuiu mais de 20 monitores em países que têm fronteira com o Afeganistão – como equipe de suporte para a implantação das sanções –, para garantir que sejam implantadas. Isso significa, na prática, muita vigilância eletrônica ao longo dos 1.200 quilômetros da fronteira Paquistão-Afeganistão, que é uma peneira, de tantos furos, além de muitas “táticas de contraterrorismo”. Vasto grupo de partidos islâmicos linha-dura no Paquistão já anunciou que tornarão a vida da “Equipe” da ONU a mais infernal possível.
Mas Musharraf perde o sono, sobretudo, porque se há coisa de que ele absolutamente não precisa no Paquistão nesse momento é mais confusão com os islâmicos linha-dura. Precisa, isso sim, de muito dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, para manter à tona a economia do país. Se concordar com o que os EUA exigem, será obrigado a enfrentar o inferno que os radicais promoverão, mas conseguirá pôr as mãos nos cruciais US$3,5 bilhões do Fundo para Redução da Pobreza e Crescimento do FMI, além de outros empréstimos de outros países ocidentais. Há alguns sinais de que o governo de Musharraf tem tomado algumas atitudes para, pelo menos, tentar conter os grupos linha-dura. Congelou as contas do Emirado do Afeganistão no Banco Estatal do Paquistão, e todas as contas com figurino jihadista em território paquistanês.
Funcionários do governo paquistanês, contudo, ainda vacilam. Sabem que qualquer gesto que tenha qualquer aparência de qualquer mínima cooperação com os EUA e sua operação “Caçada a Osama” terá efeito devastador para o Paquistão. Sabem que, desde 1996, os Talibã tornaram-se mestres na arte de usar, a favor deles mesmos, qualquer conflito interno que surja no establishment paquistanês; e que sempre obtêm o máximo de vantagens, sem fazer nenhuma concessão política.
Os Talibã são muito intimamente conectados com a própria sociedade paquistanesa. O islamismo deles – demente, do ponto de vista ocidental – é muito admirado e cultuado por uma geração jovem de alunos das madrassas (escolas religiosas fundamentalistas) paquistanesas. Para entender tudo isso, basta visitar uma das milhares de madrassas que há nas áreas tribais nas quais Osama é o “Herói Mundial da Jihad”.
O que se vê bem claramente é que, de um modo ou de outro, os vendedores de camisetas jihadistas de Osama nos bazaars de Peshawar seguirão adiante –, apareçam ou não por ali fregueses conterrâneos de George W.
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