Salma Shukrallah |
6/4/2011, Salma Shukrallah, Al-Ahram, Cairo
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
A reunião de 23 novos grupos políticos egípcios pode ser não apenas o início de outra coalizão revolucionária, mas também a resposta desses grupos à cena política muito marcadamente unidimensional no Egito: com o peso político ainda nas mãos dos mesmos grupos de poder de antes da revolução de 25 de janeiro no Egito, uma assembleia de muitos dos atuais movimentos que esperam chegar ao poder pode ser o que faltava às forças da mudança, para começar a desenhar o futuro mapa político do Egito.
Aqueles 23 grupos formaram-se ao calor do levante popular e reuniram-se agora no Development Support Centre, na sede de uma empresa de consultoria de desenvolvimento, no distrito de Dokki, no Cairo.
O auditório estava lotado, com centenas de pessoas, todas representantes das novas organizações políticas que se estão formando para “continuar a revolução” ou “deter a contrarrevolução”.
A assembleia teve o objetivo de construir uma coalizão para coordenar a ação dos diferentes grupos com vistas às próximas eleições e à campanha a favor de novas leis que promovam participação política mais ampla, mais livre e mais justa dos cidadãos.
A reunião foi convocada por quatro grupos: El-Lotus; Associação da Juventude Revolucionária Progressista [ing. Association of the Progressive Revolution Youth]; Egípcio Livre [ar. Masry Hor]; e Frente Nacional pela Justiça e Democracia [ing. National Front for Justice and Democracy].
A maioria dos grupos decidiram fazer campanha por representação proporcional no Parlamento e, como parece mais provável, criarão uma lista de candidatos a serem apoiados; de modo geral, promoverão as demandas comuns já apresentadas durante os dias das manifestações de rua.
Ahmed Imam, membro da Frente Nacional pela Justiça e Democracia, diz que “Temos de estar presentes na rua, para garantir que o próximo parlamento represente a revolução. Movimentos de base, comitês populares, todos podem escolher candidatos aceitáveis e terão o papel de apoiar os seus candidatos. Juntos, nos completaremos uns os outros, unindo forças diferentes”.
A reunião começou com cada partido, representado por um membro, apresentando resumidamente os seus projetos e ideias.
Todos afirmaram a necessidade de uma coalizão e expuseram suas ideias de como a coalizão poderá operar. Os participantes sugeriram que a coalizão mantenha um escritório central, no qual se criará uma base de dados de todos os recursos disponíveis, que facilitará o trabalho de coordenação das campanhas comuns.
Hanin Hanafi, membro da Associação da Juventude Revolucionária Progressista, resumiu: “A reunião foi muito proveitosa e pôs todos os grupos juntos. Pode ser um bom começo para uma melhor coordenação de esforços. A Coalizão da Revolução da Juventude não representa todos; os independentes também têm de ter representação. Para as próximas eleições, se formará um comitê de coordenação, com os vários representantes dos vários grupos.”
A coalizão deverá ser oficialmente constituída no próximo domingo, depois de outra reunião de representantes, da qual se tirará uma plataforma comum de pontos de vista, exigências e papel da coalizão.
Da primeira reunião participaram:
Associação da Juventude Revolucionária Progressista – representada por Yara Shahin; é iniciativa que se organizou dia 15 de fevereiro; quer constituir um corpo organizado que trabalhará por um estado egípcio civil [no sentido de “não a governo mlitar”] e de direito, pela liberdade social, justiça social e respeito à dignidade humana. Quer trabalhar alinhada com outros grupos políticos, para esclarecer as pessoas e “despertar a consciência da sociedade egípcia”.
El-Lotus – representado por Ahmed Bahgat, é grupo de ativistas que se organiza para resistir à contrarrevolução. É grupo de pressão, de estrutura aberta, que muda conforme a questão a ser enfrentada.
Egípcio Livre – representado por Ramy Shaath, é movimento político de pessoas que se conheceram na Praça Tahrir Square nos 18 dias de manifestações. Os membros desejam criar um novo sistema civil livre, para promover a informação, na sociedade, sobre sistemas e instituições políticas. Aspira a um estado civil e democrático, no qual nem militares nem grupos religiosos tenham qualquer participação no governo. Reúne vários jornalistas e visa contribuir com um “um componente midiático”.
Frente Nacional pela Justiça e Democracia – coalizão de indivíduos que visam a representar os que contribuíram para a revolução egípcia; mas ainda não está organizada e não está representada por qualquer grupo ou corpo político. Visa a promover e defender a democracia e a justiça social e prega uma política externa independente para o Egito. Trabalhará na campanha eleitoral, apoiando candidatos que proponham melhores leis, sobretudo leis que garantam mais liberdade para a participação política e facilitem a formação de partidos. Interessa a esse grupo, sobretudo, a estrutura do processo eleitoral.
El-Sahwa (O Despertar) – é grupo de pressão, que aspira a influenciar o resultado das eleições. Defende representação proporcional. Já está organizado em diferentes comitês, cada um deles responsável por tarefa específica.
Comitês Populares para a Defesa da Revolução – representado por Ahmed Ezzat, é um conjunto de comitês que se organizaram durante as manifestações, para responder à campanha da mídia que atacava os revolucionáros. Visa a interagir diretamente com a população, para influenciar as ideias circulantes sobre política e convencer as pessoas a defender a revolução. Os comitês já trabalham em cinco distritos da cidade do Cairo e nos governoratos de Ismaília e Alexandria. Criaram uma publicação mensal chamada Masr El-Thawreia [Egito Revolucionário], com milhares de cópias já distribuídas de mão em mão em vários bairros e distritos. Nesse mês de abril, os Comitês Populares realizarão uma conferência, depois da qual divulgarão sua plataforma. Até aqui, os Comitês trabalham regidos por princípios gerais, de defesa da laiberdade, da justiça social e de uma política externa independente, para o Egito. Não aceitam dinheiro de grupos ou de organizações, mas aceitam doações individuais. Não querem qualquer ligação com partidos políticos ou grupos religiosos. Mantêm um blog e um grupo Facebook (em árabe).
Monitorando o Parlamento [ar. Rasd el-Barlaman] – é grupo que se autoatribui uma função de supervisão. Quer organizar-se para supervisionar o governo e luta por Parlamento sem corrupção, que possa de fato fiscalizar os feitos do governo. O grupo se organiza ainda para fiscalizar as eleições e, depois, os eleitos, dos quais o grupo espera fidelidade às promessas de campanha. O grupo já existe e trabalha no Cairo Cairo, Alexandria, Qena, Aswan e Suez. Mantém página no Facebook.
Conselho para a Libertação do Egito (ar. Magles Tahrir Masr) – visa estimular os jovens a candidatar-se, eles mesmos, às próximas eleições e oferece-se para apoiar campanhas eleitorais de candidatos jovens. Já trabalham em Assiout e Qena.
Confederação dos Revolucionários de 25 de janeiro – mais um grupo de pessoas que se conheceram nas manifestações da Praça Tahrir. Trabalham para constituir movimento de religiosos moderados, para resistir ao extremismo; oferecem serviços de assistência social e estímulo ao desenvolvimento. Também se organiza para criar condições para que mais jovens cheguem às universidades, com campanhas a favor de bolsas-universidade.
Movimento Popular “O sonho realizado” [ar. Haraket El-Shaab Helm Yatahaqaq] – representado por Mohamed Sabry, trabalhará para eleger representantes não corruptos.
Partido Fundador [ar. Hezb El-Ta’sees] – representado por Tamer Yousif, é grupo cujo objetivo é o desenvolvimento da classe média, com mais consciência política; o grupo rejeita qualquer participação dos militares no governo.
Frente Popular em Defesa das Demandas da Revolução em Helwan – é grupo que reúne várias afiliações políticas, grupos de esquerda, grupos nacionalistas e membros da Fraternidade Muçulmana. Visa a informar e conscientizar os egípcios e a monitorar as ações do Conselho Supremo das Forças Armadas, do Gabinete e dos conselhos locais.
Partido Socialista Aliança Popular – representada por Amina Abd El-Rahman, nasceu dentro do Partido Tagammu, de esquerda, para reformar o partido e trocar as lideranças. Não conseguiram esse objetivo e optaram foi criar novo partido, que visa a congregar todas as esquerdas do Egito.
Nosso Egito [ar. Masrena] – grupo que se formou depois do referendo, a partir da ideia de que sem consciência política não haverá liberdade política no Egito. O grupo se organiza para fazer propaganda política para as próximas eleições. Já estão em atividade em vários bairros do Cairo.
Um Começo [ar. Bedaya] tem quatro objetivos: maior conscientização, combate à corrupção, desenvolvimento e serviços sociais. Mantém página no Facebook.
Associação Consciência [ar. Rabtet Waey) visa a ampliar a consciência política entre os egípcios, para alcançar estado civil, sem militares no governo.
Participações [ar. Mosharka] – representado por Ezzat, o grupo visa a ampliar a consciência política e conclamar as pessoas para que se mantenham mobilizadas na defesa das demandas da revolução.
Nossa Juventude [ar. Shababna] é grupo de jovens egípcios que querem trabalhar nas eleições e na prestação de serviços sociais em comitês de movimentos de base.
Não nos Calaremos [ar. La Mesh Sakteen] – nasceu como grupo no Facebook, no qual os jovens trocavam ideias. Mais tarde o grupo promoveu reuniões presenciais e uma campanha pelo “Não” no referendo constitucional; em seguida, decidiram continuar a trabalhar juntos em campanhas comuns. Querem constituir grupo de pressão, para influenciar as decisões no Parlamento.
Vozes da Liberdade [ar. Al Sawt Al Hor] – representado por Ahmed Salah, o grupo visa a promover a conscientização política dos egípcios e oferecer “treinamento político”.
Apoio dos Artistas à Revolução – reúne artistas que trabalham para promover, pela arte, as demandas da revolução. Trabalham com cinema, fotografia e várias modalidades de performances e instalações artísticas.
Partido da Aliança Nacional – visa a estimular o engajamento político, separados da Fraternidade Muçulmana e contra o monopólio do antigo regime em todos os campos da vida política no Egito.
Juventude da Revolução [ar. Shabab El-Thawra] quer promover a conscientização política.
Juventude da Revolução [ar. Shabab El-Thawra] quer promover a conscientização política.
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