Mahan Abedin |
22/12/2011, Mahan
Abedin, Asia Times Online
Traduzido pelo
pessoal da Vila
Vudu
As imagens no
domingo, pela TV estatal iraniana, de Amir Hekmati, suspeito de espionar para a
CIA-EUA, são mais um episódio do que parece ser importante sequência de vitórias
da contrainteligência do Irã, sobre os serviços de espionagem dos EUA.
Hekmati, 28 anos,
nascido no Arizona, EUA, de família iraniana, foi acusado pelo Ministério de
Inteligência e Segurança do Irã (MISI) [ing.
Ministry of Intelligence and Security (MOIS)] de ter-se aproximado
do MISI, para conhecer fontes externas, e de ter fornecido informações
falsas.
Ex-membro do Corpo
dos Fuzileiros (Marines) dos EUA, Hekmati parece ter sido preso em
setembro, mas só há poucos dias apareceram as primeiras notícias sobre a
prisão.
Esse, que parece
ser significativo sucesso da contrainteligência do Irã, acontece imediatamente
depois da captura, em território iraniano, no início de dezembro, do
ultrassecreto avião-robô comandado à distância, o drone US RQ-170 Sentinel. O Irã noticiou que
unidades de especialistas em
cyberguerra do exército iraniano conseguiram localizar e rastrear
o drone [de tecnologia stealth, que o torna invisível aos
radares, e considerado o mais moderno
drone em ação no mundo] e
pousaram o aparelho, também por comando à distância. Vídeos mostrados pela
televisão iraniana – nos quais se vê o
drone imaculadamente
intacto – parecem comprovar o feito dos especialistas iranianos.
Esses feitos
indiscutivelmente impressionantes dos iranianos, nos campos da guerra de
inteligência, da eletrônica e das tecnologias de ponta, ocorrem em momento de
deterioração muito rápida nas relações entre o Irã e EUA, e outros países do
ocidente.
No final de
novembro, manifestantes atacaram a sede da embaixada da Grã-Bretanha em Teerã, o
que levou ao fechamento de embaixadas nos dois países. O ataque à embaixada
também foi considerado uma extensão da guerra de inteligência entre o Irã e
países ocidentais, dado que a embaixada britânica em Teerã era conhecido local
onde a espionagem ocidental coletava e distribuía enorme quantidade de
informação secreta.
Tudo faz crer que
o governo do Irã decidiu minimizar o alcance da interferência ocidental nas
eleições parlamentares marcadas para março 2012. Em termos mais amplos, a
República Islâmica parece estar mobilizando seus principais ativos de
inteligência, para enfrentar o cerco econômico que está implantado, já
previsível há muito tempo.
A
CIA bate em retirada
Informação colhida
de várias fontes na mídia iraniana e do jornal
Asia Times Online em Teerã sugerem que a CIA teria construído uma
complexa operação, para introduzir Amir Hekmati no MISI, como informante
confiável do Ministério.
Com experiência de
combate no Afeganistão, Hekmati, depois de deixar o Corpo de Marines, trabalhou para várias
empresas privadas “de segurança” que operam na região, todas suspeitas de
conexão com a CIA.
Acredita-se que
tenha feito contacto com o MISI antes de viajar para o Irã, no verão passado,
ostensivamente para visitar a família dos pais (sua família ampliada). Hekmati
abordou o MISI iraniano de forma “normal”, mas levava informação suficientemente
interessante, que atraiu o interesse da inteligência iraniana; mesmo assim,
muitas fontes acreditam que o MISI sempre suspeitou de que ele trabalhasse para
a CIA.
Parece que a
informação que Hekmati entregou ao MISI foi uma espécie de “mistura” de
verdades, meias verdades e pura ficção criada pela CIA; praticamente em todos os
casos, informações sobre operações militares, de inteligência e políticas dos
EUA no Afeganistão.
Embora a mídia
iraniana, repetindo notícias distribuídas pelos serviços de inteligência do Irã,
repita que a principal missão de Hekmati seria ganhar a confiança do MISI, para
construir operação de penetração no ministério, a verdade parece ser muito mais
complexa.
Para começar,
“penetrar” no Ministério de Informação e Segurança do Irã, mesmo nos setores
mais periféricos, é tarefa praticamente impossível, se se consideram as muitas
camadas de poderosas defesas construídas para desviar (e, eventualmente, prender
em suas malhas) até os espiões mais eficientes. Evidentemente, um cidadão
norte-americano e ex-Marine, com experiência de combate no Afeganistão e
ex-empregado e empresas que contratam mercenários para trabalhar no Oriente
Médio, jamais ultrapassaria nem a primeira trincheira de defesa da
contrainteligência iraniana.
O mais provável,
embora não passe de conjectura, é que a CIA estivesse tentando identificar –
para depois manipular – as questões que a inteligência iraniana estivesse
considerando como prioritárias, em sua ação no Afeganistão. A “mistura” de
informações de inteligência genuínas e ficcionais que Hekmati tinha para
oferecer, e a muito provável promessa de continuar a fornecer o mesmo tipo de
material por período prolongado, apontam imediatamente na direção dessa
conjectura.
A prisão de
Hekmati acontece como mais uma, numa sequência de vitórias da contrainteligência
do MISI, contra a CIA e praticamente toda a comunidade norte-americana de
inteligência. A evidência de que o MISI iraniano é capaz de infligir repetidas
derrotas à CIA e aos seus métodos e equipamentos mostrados (e vendidos) ao mundo
com “tecnologias inexpugnáveis”, de altíssima inovação tecnológica, reforça a
reputação de que os iranianos já gozam, de terem construído uma das, senão a
maior, organização de inteligência e contrainteligência ativa hoje no
planeta.
O rastreamento e a
captura do drone RQ-170 Sentinel, operado pela Força Aérea
dos EUA a serviço da CIA, sem dúvida devem fazer aumentar as aflições dos EUA,
acrescentando credibilidade a informações já circulantes, de que o Irã já é
centro sofisticado de contraespionagem, guerra tecnológica e cyberguerra.
O
duro golpe assestado contra o prestígio dos EUA pareceu ainda maior, depois que
o presidente Barack Obama dos EUA “solicitou” que o Irã devolvesse o drone capturado, depois de já circularem em todo o
mundo notícias sobre as extraordinárias circunstâncias que cercaram o
rastreamento e o pouso do aparelho[1]. Os iranianos sequer consideraram a
“solicitação” dos EUA.
Guerra econômica
O aumento
dramático da atividade da CIA dentro do Irã em 2011 reforçou a certeza, entre as
lideranças políticas iranianas, de que potências ocidentais estão decididas a
forçar o confronto, com alta probabilidade de agressão militar contra a
República Islâmica.
Nessa linha, os
analistas e estrategistas iranianos provavelmente usarão as recentes vitórias no
campo da contrainteligência para alcançar três objetivos de curto e médio
prazos. Em primeiro lugar e sobretudo, a liderança política em Teerã induzirá
o MISI a entrar em disputa direta
contra a CIA e outras agências ocidentais de espionagem, campo no qual é
possível encontrar meios que ajudem o Irã a sobreviver ao feroz bloqueio
econômico hoje imposto pelos EUA e para, eventualmente, neutralizar o
bloqueio.
A ideia dominante
em Teerã é que o regime de sanções tornar-se-á ainda mais feroz em 2012, podendo
chegar ao estado de total sítio econômico até o final do próximo ano; cenário
sempre mais provável, no caso de o Ocidente decidir boicotar o gás e o petróleo
que o Irã exporta.
Em segundo lugar,
é objetivo importante da liderança iraniana impedir que os serviços de
espionagem ocidentais infiltrem-se no processo eleitoral e interfiram nas
eleições parlamentares marcadas para março. Teerã suspeita que as agências de
espionagem ocidentais, operando direta e indiretamente com elementos dos
partidos de oposição, trabalharão para incitar tumultos e sequestrar
manifestações populares que ocorram no país, em ação semelhante à que já se viu
na capital iraniana em junho de 2009, depois das eleições presidenciais.
O ataque à
embaixada britânica foi, em parte, motivado por essa preocupação. O fechamento
da embaixada britânica em Teerã privou os governos da Grã-Bretanha e dos EUA de
fonte importantíssima de informações; e cortou, sobretudo, os vasos comunicantes
que ligavam os espiões dos EUA e Grã-Bretanha e seus contatos no “nível da
rua”.
Em terceiro lugar,
a República Islâmica muito provavelmente usará os importantes sucessos de
inteligência e contrainteligência do MISI para ampliar e reforçar as estruturas
de segurança que começaram a ser implantadas no país depois das eleições
presidenciais de junho de 2009 e dos tumultos que se seguiram, muito maiores do
que se poderia esperar que fossem, considerado o real prestígio político e
popular dos líderes locais da “contestação”.
Embora sempre apresentada como
solução apenas temporária, todos os níveis da República Islâmica trabalham para
reforçar a segurança, preparando o país para resistir a uma agressão militar que
Teerã já considera inevitável.
Nota dos
tradutores
[1] Ver, sobre isso, “O
caso do drone-espião: Obama
entra em cena pisando leve”, 15/12/2011, MK Bhadrakumar, Indian
Punchline (em
português).
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