13/12/2011,
*MK Bhadrakumar, Indian
Punchline
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Comentário
dos tradutores:
Este artigo aparece aqui, meio deslocado na sequência narrativa da novela
“O drone que se suicidou”, que estreou na Vila Vudu,
dia 8/12/2011,
com “O
caso do drone que se suicidou”, Pepe Escobar
(Asia Times Online, em português).
O
artigo comenta o que disse o presidente Obama – que, isso, sim, claro, a
imprensa-empresa noticiou no Brasil. Decidimos traduzir, porque neste artigo é
introduzida uma nova hipótese analítica: que o Departamento de Estado dos EUA
pode estar tentando (ou aceitando a necessidade de) uma abordagem menos
arrogante-belicista contra o Irã.
Se
for isso, será importante vitória da resistência.
É
hipótese extremamente interessante que, evidentemente, não será sequer aventada,
nesses termos, nos veículos do Grupo GAFE (Globo/Abril/Folha/Estadão), sempre
alinhados na mesma campanha – seja qual for – sempre ficcional e dirigida ao
“público externo”, construída pelo Departamento de Estado dos EUA.
Aí
vai. Esperamos que seja ideia útil e oportuna, para os muitos que têm dado uso
produtivo ao nosso trabalho.
Escrevi ontem que as ramificações do caso do “robô
espião” – “A Besta de Kandahar”
[1], que
os iranianos rastrearam e pousaram – iriam longe. Agora, afinal, o presidente
Barack Obama quebrou o silêncio; disse que “Solicitamos que nos devolvam o
aparelho – veremos o que nos iranianos respondem.” É diplomacia pública da
melhor qualidade. Essa dúzia de palavras serão detidamente analisadas, não só em
Teerã, mas também em muitas capitais mundiais, especialmente em Pequim e
Moscou.
Leon
Panetta, secretário da Defesa acorreu imediatamente para dar cobertura a Obama,
dizendo que não esperava que Teerã desse atenção à solicitação. Interessante:
Panetta disse “solicitação”, não “ordem” ou “exigência”, o que deixa aberta uma
porta de saída. A secretária de Estado Hillary Clinton, também cuidadosamente
usou a palavra “solicitação” – e, isso, na presença do secretário de Relações
Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, que visitava
Washington.
O
movimento ainda é muito inicial, mas pode haver algo “cozinhando” aí, talvez os
primeiros passos de um pretexto diplomático para que os EUA comecem a trabalhar
na direção de “engajar construtivamente” a liderança iraniana. Meu palpite foi
consideravelmente reforçado pelo editorial do
Washington Post [2]
reclamando
muito, que Obama teria sido “suave” em relação ao Irã. O impasse EUA-Irã tem
longa histórica histriônica. É preciso analisar cada movimento no contexto
geral, com o lobby israelense movimentando-se nas trevas,
sempre que o holofote se move na direção do Irã.
Claro, é perfeitamente possível que esse aparelho,
o drone em si, já não seja o centro do problema –
por mais que o caso implique perda gigantesca, em termos de tecnologia militar
secreta e informes de inteligência que os EUA perderam para os
iranianos[3]. Claro
que os EUA já sabem que, hoje, os cientistas e especialistas iranianos já
dissecaram o avião-robô e o que ainda não descobriram, logo descobrirão.
Washington tampouco pode ter deixado de considerar que Rússia e China adorarão
dar uma boa espiada na “Besta de Kandahar”. A Agência Xinhua está acompanhando a
história bem de perto [4].
O
chefe do Conselho Nacional de Segurança do Irã, Saeed Jalili, esteve em Moscou,
muito discretamente. O vice-ministro russo da Defesa Sergey Ryabkov recebeu
ontem telefonema do embaixador da China e, segundo relato dos russos, os dois
diplomatas “discutiram longamente várias questões internacionais e regionais,
com ênfase nos desenvolvimentos no campo da não proliferação nuclear, inclusive
o programa nuclear iraniano, além do problema de preservar a estabilidade
estratégica.” Hmm. Telefonema carregado, entre russo e chinês, não? E aconteceu
logo depois da visita de Jalili a Moscou.
Agora, então, examinemos o discurso do general Martin
Dempsey [5],
comandante do corpo do estado-maior dos EUA, 6ª-feira passada, em reunião do
Conselho Atlântico em Washington. Não há dúvida: a Besta de Kandahar assombrava
todos os parágrafos da fala de Dempsey.
Tudo isso considerado, não posso ser acusado de inventar
coisas, se disser que o caso do
drone US RQ-170 pode vir
a converter-se em algo bem semelhante ao caso do U-2, em 1960 [6]
– que
foi um divisor de águas na confrontação da Guerra Fria entre EUA e URSS, quando
os dois lados não tiveram outra saída senão reconhecer a absoluta necessidade de
construir algum entendimento que demarcasse, para ambos, a “linha vermelha” que
em nenhum caso poderia ser transgredida, fossem quais fossem as circunstâncias
do cenário da guerra fria. Afinal de contas, o Irã também tem queixas muito
legítimas [7]
contra
os EUA.
Notas
dos tradutores
[1] Esse é o nome pelo qual a
revista
Wired
designou o
então ainda projeto secreto da empresa Lockheed, o mais novo
drone
de vigilância
Sentinel RQ-170, em matéria de 20/1/2011, o que confirma que, sim, o
drone
que os
iranianos capturaram é o mais moderno dos robôs espiões que os EUA estão
operando (mais em
Return of “The Beast of Kandahar” Stealth Drone, em inglês).
[5] 9/12/2011, New
Atlanticist, em “Military
Option Recedes Amid Tug-of-War Over Iran Policy”, em ingles.
[7] 12/12/2011, Teheran
Times, Teerã, em “Iran
asks Interpol to prosecute two U.S. officials”, em ingles.
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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