O Vice –
Presidente Joe Biden dos EUA é tão ignorante que realocou Baku – capital do
Azerbaijão – no Iraque!
Joe Biden |
12/12/2011, Patrick
Cockburn,
Counterpunch
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Patrick Cockburn |
Os
últimos soldados dos EUA estarão fora do Iraque dentro de três semanas. O
presidente Obama e o primeiro-ministro do Iraque Nouri al-Maliki encontram-se em
Washington[1], para declarar ao mundo que os EUA saem do Iraque tão
fortes quanto lá chegaram e deixam, ao sair de lá, um país cada vez mais
estável, mais democrático e mais próspero. Só mentiras, nada além de
mentiras.
A operação de
desinformação foi atentamente cronometrada, para que o presidente Obama entre no
ano das eleições “declarando” aos quatro ventos que pôs fim a uma guerra muito
impopular, sem ter sofrido qualquer derrota. Já vimos a pré-estréia desse
discurso há algumas semanas, quando o vice-presidente Joe Biden visitou Bagdá,
para louvar as magníficas realizações dos EUA.
Ao longo dos anos,
os iraquianos habituaram-se a ver políticos estrangeiros que chegam em segredo a
Bagdá, sempre cercados por monumentais arranjos de segurança e que, mal põem o
pé no país, imediatamente se põem a emitir frases sobre os fantásticos
progressos do país e altas realizações dos EUA em todos os campos.
Imediatamente depois
das tais frases, todos embarcam nos aviões que os trouxeram e escafedem-se do
Iraque. Mas mesmo para esses padrões muito baixos, o desempenho do
vice-presidente Biden, dessa vez, ultrapassou tudo que os iraquianos já viram;
foi, de fato, cômico. Reidar Visser, especialista em Iraque, escreveu:
“Biden serviu-nos o
cardápio de sempre, de gafes, piadinhas e empáfia temperadas com autoconfiança
arrogante e ignorância completa sobre o que se passa no mundo. Dentre outras,
Biden tentou conquistar corações e mentes dos iraquianos elogiando os hospitais
que os EUA teriam construído em Baku... capital do Azerbaijão, no Mar Cáspio,
cidade que, para o vice-presidente, teria sido “transferida”, talvez, para o
Iraque”.
Os candidatos
Republicanos à eleição presidencial têm sido desacreditados (e ridicularizados)
por gafes desse tipo. Pode-se avaliar o prestígio de Biden pela evidência de
que, apesar dos longos e tediosos discursos, nenhum jornal dos EUA jamais, até
hoje, percebeu que o vice-presidente dos EUA é praticamente analfabeto, no que
tenha a ver com geografia do Oriente Médio. Visser destaca que Biden “disse que
“conseguimos converter o limão em limonada”; falou do Iraque de hoje como “uma
cultura política baseada em eleições livres e sob o império da lei”; e disse que
“a cultura política do Iraque, emergente e inclusiva (...) é garantia absoluta
de estabilidade”. Não disse coisa com coisa”.
Infelizmente, os EUA
deixam atrás de si, na retirada, um Iraque em ruínas, dividido e
destroçado.
A verdade é que o
fracasso dos EUA, que nada conseguiram de positivo nem no Iraque nem no
Afeganistão ao longo de uma década, apesar de seus gigantescos exércitos e
muitas armas, e apesar de ter consumido vários trilhões de dólares naquelas
guerras, comprometeu muito profundamente o seu
status de única
superpotência. Fossem quais fossem os planos quando invadiu o Iraque em 2003,
Washington jamais supôs que, ao sair de Bagdá, veria no poder partidos
religiosos xiitas, com laços estreitos com o Irã. E, no Afeganistão, nem o
aumento do número de soldados nem os $100 bilhões/ano conseguiram derrotar 25
mil combatentes Talibã mal treinados.
As grandes potências
dependem muito da imagem de invencibilidade; e a boa estratégia manda não
arriscar-se demais. O Império Britânico jamais se recuperou, aos olhos do mundo,
do esforço gigantesco que teve de fazer para derrotar umas poucas dezenas de
milhares de fazendeiros Boer.
A evidente
incapacidade dos EUA para vencer no Iraque e no Afeganistão fez muito mal ao
país, sobretudo, porque, na medida em que a vitória não aparecia, a política e
as políticas dos EUA foram sendo progressivamente militarizadas. O Congresso
aprovou vastíssimos orçamentos para o Pentágono, e apenas alguns bilhões para o
Departamento de Estado.
“O Departamento de
Defesa é um gigante, comparado às demais agências federais” – observava já o
Relatório da Comissão 11/9. – “Com orçamento anual maior que o PIB da Rússia, o
Departamento de Defesa é um império”.
Mas é império que
fracassou, nos últimos anos, apesar do pesado peso político que pagou.
Experiente diplomata dos EUA perguntou-me em tom de lástima, há alguns anos:
“Que fim levou a
desconfiança que os generais nos inspiravam depois do Vietnã? Hoje, todos
parecem acreditar nos generais... Mas general dizer a verdade é evento
raríssimo!”
Vale também para o
Exército Britânico. As façanhas militares dos britânicos em Basra e Helmand
foram ainda menos gloriosas que as dos norte-americanos, mas a tática de
“incorporar” jornalistas entre os soldados deu bons resultados, e os militares
britânicos foram poupados das críticas que muito fizeram para
merecer.
Apesar do longo
período, agônico, antes de decidir-se a mandar mais soldados para o Afeganistão
em 2009, Obama, de fato, nunca teve escolha. Leon Panetta, então diretor da CIA
e hoje Secretário da Defesa, enfurecia-se com a demora, enquanto a Casa Branca
discutia se enviaria ou não mais soldados. Para Panetta, a realidade política
era clara: “Nenhum presidente Democrata pode deixar de fazer o que os militares
resolvam fazer, sobretudo se pediu a opinião dos militares. Agora, é mandar os
soldados e pronto!” Para Panetta, a decisão de mandar mais 30 mil soldados para
o Afeganistão teria de ter ser tomada em uma semana.
O assassinato de
Osama bin Laden e o fracasso dos militares, que não derrotaram os Talibã,
aumentaram o espaço de manobra do governo Obama e apressaram a retirada do
Afeganistão. É muito pouco provável que, em ano de eleição presidencial, depois
de ter-se retirado do Iraque e sonhando com conseguir sair a tempo também do
Afeganistão, Obama inicie mais uma guerra, dessa vez contra o Irã. Nos EUA e em
Israel quem insista em falar grosso com o Irã perde só alguns votos. Mas os
votos fugirão em maior quantidade, se Obama arrastar os EUA a nova guerra, dessa
vez contra oponente muito mais forte do que os EUA enfrentaram no Iraque; ou
Israel, no Líbano.
Em meio à pior crise
econômica desde os anos 1930s, o resto do mundo não agradecerá aos EUA e a
Israel, se iniciarem um conflito que fechará o Estreito de Ormuz e mandará à
estratosfera o preço do petróleo. Simultaneamente, a “desescalada” no conflito
retórico parece também pouco provável, porque a ameaça do conflito interessa
eleitoralmente a vários grupos, tanto em Washington e Telavive, quanto em Teerã.
Norte-americanos, israelenses e iranianos, todos, identificam-se como salvadores
messiânicos, em luta contra inimigos satânicos. Qualquer acordo que ponha fim à
ameaça de conflito será sabotado, no plano político interno, nos EUA, em Israel
e no Irã, como “pacto com o diabo”.
Acima de tudo isso,
paira o fato de que os EUA perderam a influência que já tiveram no Oriente
Médio, mas já não têm. Diga Biden o que disser, o Iraque foi completo desastre
para os EUA. E, no Afeganistão, forças militares gigantescas produziram
resultados políticos muito magros. Washington talvez festeje o fim de Muammar
Gaddafi ou de Bashar al-Assad. Mas não há dúvidas de que os EUA perderam e
continuam a perder a posição de liderança que tiveram na Turquia e no Egito,
enquanto lá existiram ditadores e ditaduras militares.
A crise política
provocada pelo Despertar Árabe em todo o Oriente Médio, não dá sinais de
arrefecer. De fato, só dá sinais de intensificar-se, nas lutas pelo poder no
Egito e na Síria. O resultado da guerra civil líbia poderia talvez estimular
novas ações de intervenção estrangeira, mas a crise econômica torna cada dia
mais arriscado, para os governos dos EUA e da Europa, qualquer tipo de
envolvimento em guerras para as quais ninguém vê final à
vista.
O grande sucesso do
general David Petraeus como comandante dos EUA no Iraque foi ter persuadido
muitos norte-americanos de que os EUA venceram as guerras nas quais foram
derrotados. Também convenceu muita gente de que a guerra do Iraque havia
acabado, porque diminuía o número de norte-americanos mortos, quando, na
verdade, a guerra continuava.
O
veredicto do Iraque pairará como um fantasma sobre a política externa dos EUA
ainda por muito tempo. A guerra do Iraque tem derrotados, mas o Iraque não é,
tampouco, vencedor. Mesmo assim, a guerra do Iraque provou que força militar
superior já não se traduz facilmente em vitória política.
Nota de
tradução
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