Adriano Benayon |
30/11/2011, *Adriano Benayon
(artigo enviado por
e-mail pela Vila Vudu)
1. Ninguém que tenha
apreço pelo bem-comum suporta o capitalismo, sistema cuja característica é não
estabelecer limite algum à concentração da economia por grupos
privados.
2. Eliminá-lo não
implica, porém, excluir a propriedade privada dos meios de produção. Esta pode
existir em sistema não-capitalista, se não estiver cartelizando os mercados e
não ocupar setores de grande porte, como a infra-estrutura e as indústrias de
base, nem atividades estratégicas, como bancos, inteligência e
defesa.
3. O que não é
realista é falar em acabar com o domínio capitalista, que envolve seu corolário
imperialista, sem desmontar as bases de seu poder. Para afastar ressurgimento
daquele domínio, a sociedade, através do Estado, tem que manter a vontade de
impedir a concentração do capital e dispor dos meios para
isso.
4. Do contrário, não
se extingue a opressão concentradora e saqueadora, nem o controle total do
processo político pela oligarquia, como ocorre nas principais sedes imperais
(anglo-americanas), nos satélites europeus e asiáticos, e em áreas de dominação
colonial, entre as quais o Brasil.
6. O capitalismo tem
menos virtudes do que lhe atribuem, inclusive Marx e seguidores. Como exponho em
“Globalização versus Desenvolvimento”, o desenvolvimento econômico e tecnológico
dos países que o alcançaram, se deveu à direção do Estado, a investimentos deste
e à proteção a empresas privadas nacionais, formadoras da economia de
mercado.
7. Esta não deve ser
confundida com a superestrutura concentradora, i.e., o capitalismo. Este a
explora e suga, até destruí-la, ao longo do processo de concentração, que acaba
com o desenvolvimento, viável quando e onde a economia de mercado é combinada
com a direção do Estado e empresas estatais nos setores em que a concorrência
dificilmente pode estar presente.
8. Em suma, os que
têm vontade e descortino para trabalhar pelo bem-comum, devem ter consciência
que o problema reside na concentração econômica, e que esta tem de ser evitada.
Se todos os meios de produção são estatizados também há concentração.
9. Esta, nas mãos do
Estado, teve, entretanto, papel positivo, ao habilitar países grandes, populosos
e dotados de recursos naturais, como a Rússia e a China, a liberar-se da
espoliação pelo capital estrangeiro e a defender-se de agressões imperiais.
Depois, desenvolveu indispensáveis capacidades nucelares e balísticas, e o
equilíbrio no poder mundial estabelecido pela União Soviética viabilizou a
independência de muitos países, entre os quais a Índia, a Argélia, e a própria
China.
10. Que a União
Soviética tenha sido desmembrada e que a China tenha mudado de curso, não altera
o fato crucial de esta e a Rússia serem, hoje, as únicas potências em condições
de dissuadir a oligarquia anglo-americana de novas guerras imperiais e
genocidas.
13. Vários analistas
estão escrevendo sobre a crise “do capitalismo”. Sobre esse ponto, as coisas
precisam ficar claras. Muitos crêem que a crise possa, por si só, implicar o fim
do capitalismo, com a ideia subjacente de que, quando a acumulação capitalista
se torna extrema, abrem-se as portas para a revolução que o suprimirá.
14. Não se trata de
consequência inexorável, mas só de oportunidade, não tão fácil de ser
aproveitada, tanto mais que a oligarquia tirânica vale-se, de modo crescente, há
mais de um século, de técnicas da psicologia aplicada e de fantásticos meios da
tecnologia da (des)informação e da comunicação social, para perverter,
desmoralizar e anular a maior parte da humanidade, arrasando, inclusive,
culturas nacionais, através desses meios.
15. Assim, por mais
desastrosos que sejam os efeitos da concentração econômica e do aviltamento das
condições de vida dos povos, estes encontram hoje grandes dificuldades para
liberar-se, não só devido à incorporação de tecnologia às armas da repressão e
das agressões imperiais, mas também devido ao desgaste psicológico e
cultural.
16. Os colapsos
financeiros e econômicos criados pelo capitalismo têm sido terríveis para a
humanidade, mas não para ele, já que a oligarquia se serve deles para aumentar
ainda mais seu poder relativo.
17. Mais: a História,
desde o Século XX, mostra que os casos em que o comando político escapou das
mãos da oligarquia imperial, se deram em países onde não havia grande
concentração capitalista, mas, sim, contextos de guerra e invasões sofridas por
esses países. Parece também demonstrado não haver casos em que a estrutura
econômica tenha sido substituída na vigência do regime político
pré-existente.
18. Voltando à
definição do capitalismo, o afastamento dele não implica que o Estado controle
todos os meios de produção. Lênin, com a Nova Política Econômica, em 1921,
procurou favorecer a economia de mercado, com empresas privadas, sem que o
Estado perdesse seu poder político nem o comando da produção
(economia).
19. Alguns julgam que
a China encetou, após 1977, o caminho do capitalismo, de Estado, ou controlado
por grupos privados, formados por quadros políticos. Como quer que seja, obteve
notáveis progressos econômicos e tecnológicos, e surgiu como
superpotência.
20. Conseguiu-o por
não ter chegado à extrema concentração que caracteriza o capitalismo, inclusive
mantendo os bancos sob controle estatal, e por ter assegurado que, apesar da
abertura a investimentos diretos estrangeiros (IDEs), a economia não passasse ao
comando das transnacionais.
21. Estabeleceu e fez
cumprir regras estritas para absorver capital e tecnologia. Esse feito, sem
precedentes, deveu-se ao sistema político com direção centralizada, a salvo de
eleições manipuladas pelo dinheiro.
22. Os outros únicos
países que haviam logrado incorporar significativamente tecnologia estrangeira
em suas empresas foram Japão, Coréia do Sul e Taiwan, para o que desestimularam
os IDEs e assim evitaram entrada expressiva deles em seus mercados, impondo, ao
contrário, contratos de transferência de tecnologia.
24
Após esses golpes,
foram instituídos subsídios e retirados óbices ao capital estrangeiro. JK
ampliou esses favores. Sob o primeiro governo militar, Roberto Campos fez
destroçar o grosso das empresas de capital nacional. Depois, novos subsídios à
exportação em benefício das transnacionais (Delfim Netto).
25.Por
meio de fraude em seu texto, a Constituição de 1988 favorece pagamentos da
dívida pública inflada por juros e taxas. A seguir, mais crimes contra o País,
com os desastrosos Collor (leis de desestatização e Lei Kandir) e FHC. Este fez
a União gastar centenas de bilhões de reais para entregar, de graça, fabulosos
patrimônios do Estado e das estatais ao capital estrangeiro. Nenhum desses
fatores de destruição da economia foi removido por Lula nem pelo atual
governo.
*Adriano
Benayon é Doutor em
Economia.
É autor de
“Globalização versus Desenvolvimento”
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