quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Aumenta o custo da intervenção na Síria


1/12/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Em declaração, hoje, o primeiro vice-primeiro-ministro russo Sergei Ivanov reafirmou a rejeição, por Moscou, do embargo de armas contra a Síria. A declaração surge no dia da reunião dos Ministros de Relações Exteriores da União Europeia em Bruxelas, da qual resultou aperto ainda maior nas sanções contra aquele país. 

Sistema de mísseis S-300
Mas o que torna particularmente interessante a situação síria é que Moscou também declarou hoje que já está armando a Síria, para que o país se autodefenda. Houve relatos, semana passada, de que a Rússia está fornecendo seus mísseis S-300 à Síria.

Sistema de mísseis de defesa Bastion adquirido pela Síria
(clique na imagem para aumentar)
Interfax noticiou hoje que a Rússia também forneceu à Síria sistemas de mísseis móveis costeiros “Bastion, com mísseis cruzadores antinavios “Yakhont” - como parte de uma venda de armas – a respeito do qual EUA e Israel muito objetaram.

Um comboio de navios de combate russos também logo estará chegando à Síria, levando conselheiros militares.

Interessante, também, que a matéria de Interfax apareça no mesmo dia em que o vice-primeiro-ministro russo Sergey Ryabkov encontrou-se com o ministro de Relações Exteriores de Israel Avigdor Lieberman e com o chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel Yaakov Amidror, em Telavive. 

Míssil Yakhont ao lado de um FLANKER Naval Su-33 
Os mísseis cruzadores “Yakhont” fazem subir significativamente o custo de uma intervenção na Síria, para a Turquia e seus aliados ocidentais. Moscou faz muito bem, portanto, ao antecipar a provável repetição do plano ocidental de, primeiro, fazer avançar muito a “desestabilização” e a degradação de um regime internacionalmente reconhecido, para só então “deslegitimá-lo” e, assim, abrir caminho para a intervenção armada e a “mudança de regime”. Foi exatamente o que já foi feito, primeiro no Iraque e, mais recentemente, na Líbia. 

Assim, se turcos e franceses realmente querem a cabeça da Síria, eles que levem esquifes extras na invasão, para trazerem de volta os cadáveres dos bravos soldados turcos e franceses que a aventura lhes custará. 

Lançador de mísseis S-300
Se o movimento dos russos funcionará como “desincentivo” para os cães da guerra, só o tempo dirá. Mas não há dúvidas de que, sim, fará os invasores pensarem duas vezes, no mínimo.

E é possível que, afinal, alguma coisa boa resulte disso tudo, se os turcos e as potências ocidentais desistirem de sua obstinação perversa e permitirem que a oposição síria envolva-se num diálogo nacional com o governo em Damasco. 

Na Turquia, pelo menos, já há profunda divisão de opiniões sobre a Síria.

A principal força de oposição, o partido CHP, questiona fortemente a política intervencionista do governo. O partido CHP é força solidamente secularista e já percebeu que o atual governo islâmico está-se distanciando da “regra de ouro” de Kemal Ataturk, segundo a qual a Turquia em nenhum caso deve imiscuir-se em questões do Oriente Médio muçulmano. O partido CHP tem raízes nos princípios Kemalistas do nacionalismo turco. O que significa que suas lideranças também não têm “envolvimento” com o “dinheiro verde”, jamais declarado, que flui para a Turquia, vindo dos xeiques do Golfo Persa. 

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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