Publicado
em 15/12/2011por Mair Pena Neto
A
última coluna do ano é hora de fazer votos. Às vésperas de 2012, estamos
mergulhados num mundo de incertezas políticas, econômicas, sociais e ecológicas.
A crise causada pela falta de regras e irresponsabilidade do capital financeiro
deixa o planeta à deriva. A Europa ruma para a recessão, os Estados Unidos se
seguram nos títulos comprados pelos chineses, e as novas potências têm pela
frente o desafio de chegar a níveis de desenvolvimento e de bem estar social que
jamais proporcionaram a suas populações.
Este
é o aspecto mais interessante, construtivo e animador. Se tomarmos o Brasil como
referência, o país ganhou importância inegável no cenário mundial e tende a ser
voz ativa em todos os fóruns internacionais. Tal protagonismo precisa ser
aproveitado para a construção de uma nova agenda, desenvolvimentista e
preocupada com o homem. Se o Brasil, ao lado de China, Índia e Rússia, passará a
dar as cartas em algum momento, que seja com outro discurso, e não com a velha
cantilena que levou os ditos países desenvolvidos ao
corner.
A
experiência brasileira dos últimos anos prova que o melhor caminho para
enfrentar a crise é o crescimento. O Brasil atravessou os períodos mais críticos
do abalo que sacudiu Estados Unidos e Europa apostando no seu mercado interno e
renegando as prescrições de rigidez fiscal, causadora de retração e desemprego.
O Brasil seria voz de Keynes em meio à selva monetarista que continua a não
enxergar nada além de Chicago.
A
Europa insiste nessa via e toma rumos perigosos. O futuro do continente é
incerto. O desemprego é alarmante em países como Espanha e Portugal e as
válvulas de escape da panela de pressão explodem em xenofobia e violência. Nos
Estados Unidos, um Obama fragilizado e sem poder cumprir o que prometeu na
campanha sofre em meio à artilharia republicana, que só não o atinge mais pelo
péssimo calibre de seus quadros. Mesmo com os limites de Obama, antes os EUA com
ele do que com os republicanos. Depois de tantos anos Bush, esperava-se que o
país trilhasse novos rumos por muito tempo, mas a ameaça retrógrada dos
republicanos continua pairando.
O
Brasil não está envolto em tais ameaças. Nem de recessão, nem de retrocesso
político. O modelo político-econômico adotado desde Lula segue firme. Dilma
ainda tem três anos de governo pela frente e precisa aprimorar os instrumentos
para assegurar o desenvolvimento e a continuidade da distribuição de renda. É
isso que é percebido pela população. A agenda de exploração permanente de casos
de corrupção não cola se o país, de fato, se torna mais justo e continua a
crescer. As manifestações anticorrupção não atraem mais do que meia dúzia de
gatos pingados, geralmente das classes mais abastadas, mesmo com todo o apoio
midiático.
Nos
próximos três anos, Dilma precisa ficar de olho nas irregularidades que pipocam
no governo, mas, sobretudo, fazer avançar as políticas econômicas e sociais que
levaram o país ao patamar que ocupa. O Programa de Aceleração do Crescimento,
que ela gerenciou no governo Lula, precisa voltar ao noticiário. As obras que
vão garantir infraestrutura e mais desenvolvimento ao país necessitam de
visibilidade. Os programas sociais devem ser expandidos com a preocupação de um
país melhor e mais justo.
As
condições estão postas. Não somos uma ilha em meio a um oceano turbulento, mas
criamos as fundações para um grande edifício de país. Que sigamos em frente. Feliz Natal e bom 2012 para todos!
Mair
Pena Neto é
jornalista
carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência
Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia. Enviado por Direto da Redação
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirO autor esqueceu-se da África do Sul, que deve ele saber, participa também do BRICS (este esse é dela, do seu South). Mas há outros países que esplendem no mundo, como Indonésia e Malásia, além da Argentina, nesta tão logo cicatrizadas suas feridas sócioeconômicas. Não vejo destino de grandeza para o Brasil, se desprezarmos a grande nação do nosso Sur continental ou o desenvolvimento cooperativo e harmônico de nosso continente. Há que haver um meio de instilarmos em nossas cabeças mestiças (luso-afro-índias) nosso determinismo sul-americano. Chega, basta de ridículos e desbalançados isolamentos continentais do Brasil, eivados de ocidentalismos que os próprios ocidentais repelem com sarcasmos (no que são, aliás, coerentes)!
Um dos grande problemas que Glauber Rocha teve de enfrentar junto à intelectualidade de literatos cubanos (só Titón, Alfredo Guevara e otras figuras do cinema entenderam as posições assumidas pelo diretor de Terra em Transe, Der León has sept cabeças, Cabezas cortadas e A Idade da Terra) foi seu empenho anti-ocidentalista (cubanos e brasileiros se julgam "ocidentais"), em favor da América Mestiça. Aos que se interessam pelo assunto, de magna importância para nós, conviria compulsar o texto da conferência, pronunciado em Los Ângeles que José Guilherme Merquior - injustamente salgado em sua sepultura pelos fascistas de esquerda e pelo mais horripilante ideário da nossa burguesia comprador-classe média - nos deixou sobre Um outro Ocidente.
O Ocidente, minha gente, tal como as sucessivas reuniões da UE, dos EUA, da Austrália e Nova Zelândia o demonstram, encontra-se em outra galáxia, para onde levou apenas 1/10 do planeta.
Abraços do
ArnaC