8/12/2011, Pepe Escobar,
Asia Times
Online
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Com minhas
homenagens, claro, a Monty Python [1]
Um grupo
de jornalistas, em conferência de imprensa na Agência Central de Inteligência
dos EUA, CIA, numa sala (endereço ignorado) na cidade de Langley,
Virginia.
Jornalista 1 [aproximando-se da bancada da
porta-voz da CIA]: Com licença. Quero registrar uma queixa.
[A porta-voz da CIA não
responde.]
Jornalista 1: Psiu, moça...
Espiã da CIA: Como assim, “Psiu, moça”?! ‘Tás
pensando que eu sou Victoria Nuland [2]?
Jornalista 1: Desculpe. Pensei que aqui fosse o
Departamento de Estado. Quero registrar uma queixa.
Espiã da CIA: Estamos fechados. Temos de
continuar nossa guerra de sombras no Irã.
Jornalista 1: Exatamente. Quero registrar uma
queixa sobre esse avião-robô aí de vocês, o tal drone que desapareceu
essa semana no leste do Irã.
Espiã da CIA: Oh, sim, claro, sei... o RQ-170 ...
Não, não. Sua informação está errada: foi no leste do Afeganistão. E, aliás...
Que queixa? Qual é o problema com o drone?
Jornalista 1: Já lhe explico o problema do
drone. O problema do drone é que ele morreu, desabou sobre o Irã.
Pode ter sido suicídio. O caso é que ‘tá morto. Sifu.
Espiã da CIA: Não, não, de modo algum. O
drone está... eh... está recolhido, em retiro. Está
repousando.
Jornalista 1: Naquela loucura de deserto
iraniano?! Repousando?! Calma lá, dona! A gente aqui sabe reconhecer um
drone falecido, quando vê. E estou vendo um
avião-robô, drone, mortinho, bem ali no Irã.
Nessinstantinho.
Espiã da CIA: Não, não, não está morto. Está em
repouso! Grande, magnífico drone, o RQ-170, né-não? Bela peça de
tecnologia à prova de radares! Infelizmente, não posso descer a detalhes. É
assunto secreto.
Jornalista 1: “Secreto” pode até ser. Repousando,
não. O drone está completamente é morto. Parece que se suicidou.
Atirou-se de ponta cabeça sobre o Irã.
Espiã da CIA: Nã-nã-nã-não, nã-não! Está só
descansando. Está em repouso.
Jornalista 1: OK, tá certo. Se está em repouso,
vamos acordar o bicho [Berrando para um aparelho de controle remoto: “Alôôô, Mr.
Drone-robô! Acoooooooooorde! Temos aqui um alvo novinho em folha prô
senhor! Um alvinho lindinho do Corpo de Guardas Revolucionários Iranianos...
Acoooooo...
Espiã da CIA [chuta o controle remoto]: Olhe só!
Deu sinal!
Jornalista 1: Não deu sinal nenhum. Você é que
chutou o controle remoto!
Espiã da CIA: Never!! Eu
nunca...
Jornalista 1: Foi você! Foi você! Chutou,
sim!
Espiã da CIA: Eu nunca, jamais, never,
chutei...
Jornalista 1: [Berrando e esmurrando o controle
remoto, sem parar] “Droooooooone! Alô! Alô! Responda. Testando! Testando!
Aqui é a CIIIIIIA, droga! Responda, ô carinha do drone! Acorde! Responda!
Isso é uma ordem!
[Bate o controle remoto na mesinha da
Espiã da CIA. Joga para cima e o vê espatifar-se no chão.]
Jornalista 1: Aí está. É o que eu chamo de
drone morto. Falecido. Sifu. Pode ter sido suicídio.
Espiã da CIA: Não, não... O drone... ele
está só um pouco... catatônico!
Jornalista 1: CATATÔNICO?!?
Espiã da CIA: Sim, senhora! Você berrou tanto,
que chapou o coitado, bem quando ele estava acordando! Os RQ-170s têm surtos de
catatonia, assim, sem mais nem menos. Ficam daquele jeito, de bico
aberto.
Jornalista 1: Eh... ok, dona. OK. Isso aqui já
deu, pra mim. Encheu. O drone faleceu, morreu, bateu com as dez. Foi-se.
Tá morto. Super morto. Pareceu suicídio. E vocês, da CIA, distribuíram um
comunicado à imprensa, há pouquinho, e afirmaram que o drone não se movia
porque estaria fatigado, depois de longa e demorada missão secreta. É demais! É
de-ma-is, pr’á mim!
Espiã da CIA: Confirmo que não há qualquer
indício de que o Irã tenha derrubado o equipamento.
Jornalista 1: Mas falta um drone. Um
drone não voltou para casa. Estava em missão secreta. Parece que o
drone atirou-se de nariz no chão, no Irã. E o Irã diz que derrubou o
amaldiçoado.
Espiã da CIA: É que... quem sabe, o drone
pensou que o Irã fosse o deserto de Nevada?
Jornalista 1: DESERTO DE NEVADA?!?!?!? Mas que
merda de conversa é essa?! Seguinte: por que o maldito atirou-se ao chão, de
ponta cabeça e logo no Irã?! Agora, os Guardas Revolucionários já devem estar
convocando russos, chineses, paquistaneses, até a Coreia do Norte (que Deus nos
proteja!), para dissecarem juntos a tal alta tecnologia de vocês. Por preço
módico, claro...
Espiã da CIA: O RQ-170? Não! O drone não!
Grande drone, maravilha de aviãozinho-robô! Tecnologia de ponta, à prova
de radares, portátil...
Jornalista 1: Escute aqui. A Agência de notícias
iraniana IRNA tomou a liberdade de examinar o tal drone de vocês, antes
de o drone atirar-se de ponta cabeça direto para o chão, no leste do Irã.
[Pausa]
Espiã da CIA: Eh, uhmmm... Sim, sim! É claro que
o metemos lá! Se o drone não tivesse caído onde caiu... teria voado para
longe, sabe-se lá para onde, longe, longe, e vrummmmmm! Uaau!
Jornalista 1: “Vrummmmmm”?! Cara! Esse
drone nunca faria “vrummm”, se vocês mandassem a Equipe Seis, dos SEALS
da Marinha, acertá-lo com um choque elétrico. Morto no cumprimento do
dever!
Espiã da CIA: Não, nada disso! Foi um truque!
Operação super secreta de contraguerrilha, para confundir o inimigo!
Jornalista 1: Não é truque! O drone já era! O
drone “is no more”
– como disse o presidente Obama, de Muammar Gaddafi! Expirou o prazo de
validade! Foi-se dessa para melhor! Reuniu-se ao seu criador, o complexo
industrial-militar. Vestiu o colete de madeira! Livre do peso da vida, descansa
em paz num paraíso xiita! Seus processos metabólicos já são história! Pulou o
muro! Está livre das vestes mortais! Sifu! Foi-se! Morreu! Morreu! Mor-re-eu!!
Aquele é um EX-AVIÃO EX-ROBÔ!! [Pausa]
Espiã da CIA: Ora... Nesse caso, melhor fazer a
reposição (conversa com alguém atrás da bancada). Desculpe senhor, acabo de
falar com o patrão, general David Petraeus, e eh, uh... Estão faltando drones, no almoxarifado. Estamos com
falta de drones secretos.
Jornalista 1: Tá, tá, tá. Já entendi.
Espiã da CIA: Mas temos pilhas e pilhas de bombas
estoura-bunkers. [Pausa]
Jornalista
1: E elas espionam?
Espiã da CIA: Eh... De fato... não.
Jornalista 1: QUER DIZER: NÃO TEMOS DRONES DE SUBSTITUIÇÃO, CEEERTO?!?!?!
Espiã da CIA: N-n-não, acho que não. [Parece
confusa; olha para os próprios pés]
Jornalista 1: Certo. [Pausa]
Espiã da CIA: [Baixinho] Será que você...
gostaria de visitar o Pentágono e dar uma espiada nos... planos B?
Jornalista 1: [Olha em volta] É... Sim, certo.
Claro, sim.
(Quem queira ler coisa muito
diferente... NÃO! Leiam! Leiam IMEDIATAMENTE o que escreveu Terry Jones, sobre
os tambores de guerra que batem a favor de um ataque ao Irã (8/12/2011, Terry
Jones, “Quem
bate os tambores de guerra contra o Irã?” no Guardian, UK e em
português).
Notas
dos tradutores
[2] De 2005-2008,
embaixadora dos EUA à Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN. Em meados
de 2011 foi nomeada porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA.
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