16/12/2011,* MK
Bhadrakumar, Indian
Punchline
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Putin |
Semana passada ofereci humilde conselho no sentido de
que todos “apertem os cintos”, agora que Vladimir Putin pôs o pé na estrada, em
campanha eleitoral[1].
Talvez pela primeira vez na história da Rússia haverá eleições que respeitarão
todos os trâmites e circunvoluções da democracia. Inclusive as circunvoluções
que todo o planeta associa às eleições nos EUA.
Acho
que Putin se dedicará a mostrar que não é direito reservado aos políticos dos
EUA dizerem o que lhes dê na telha (ou na telha dos ‘marketeiros’ e
‘estrategistas’ de campanha), na caça aos votos dos eleitores, desinibindo-se de
qualquer limitação do ofício público.
Ora,
ora... Parece que Putin já começou a disparar faíscas, se algo se pode deduzir
do que já disse (espero que não sobrem faíscas para o nosso primeiro-ministro
indiano, Manmohan Singh).
McCain |
Putin já despachou o senador John McCain de volta para
os tempos primevos da guerra do Vietnã, quando, como piloto, ganhava a vida
bombardeando aldeias vietnamitas – comparando-o a, digamos, Lady
MacBeth, que não conseguia lavar as
manchas de sangue das próprias mãos, nem com todas as águas dos oceanos do
mundo.
Mas,
mais importante que isso, Putin já repôs em circulação no mundo a notícia de que
o governo de Barack Obama planejou e executou o crime de assassinato de Muammar
Gaddafi, governante líbio. O potencial explosivo dessa acusação em todo o mundo
árabe e muçulmano é de tal ordem, que o Pentágono reagiu em poucas horas.
A
Casa Branca deve ter concluído, no instante em que ouviu o que Putin disse, que
a Rússia tem evidências de inteligência muito confiáveis nas quais Putin está
amparado para aquela acusação – e que poriam Obama na pouco digna posição de
mandante de assassinato.
O
Pentágono respondeu resposta pífia: que os EUA não têm soldados em campo naquela
área. Nem Putin disse que tinham, ora essa! Putin disse que Gaddafi foi
assassinado num ataque de um avião-robô, um
drone. Quem falou de “soldados em campo”?!
Claro,
nada que leve Obama às barras do Tribunal Internacional de Haia como criminoso
de guerra, como se fosse um Slobodan Milosovich. Nem Putin se interessa por
isso.
Gennady Zyuganov |
O
que já se pode ver bem claramente, é que Putin não permitirá que os EUA encenem
a farsa que encenaram na eleição presidencial de 1996, quando o líder comunista
Gennady Zyuganov teria derrotado Boris Yeltsin, não fosse o vastíssimo apoio que
os EUA deram a Yeltsin e valeu-lhe a reeleição, apesar de Yeltsin já ser, então,
muito impopular na Rússia.
Por
falar nisso, há um interessante capítulo sobre esse episódio no livro The Russia Hand: A Memoir of Presidential
Diplomacy [2]
[A Mão
Russa: uma memória de diplomacia presidencial] de Strobe Talbott [3],
no
qual está narrada toda a ação do governo Clinton para, literalmente, salvar
Yeltsin das garras da derrota eleitoral, o que foi feito com a participação de
especialistas, que reformataram a estratégia de sua campanha eleitoral. Imaginem
só! Que rumo teria tido a política mundial, se um comunista tivesse sido eleito
presidente russo em 1996, em eleições “livres e limpas”?
Hoje,
como em 1996, as apostas estão altíssimas, para os EUA. Putin presidente da
Rússia é pensamento extremamente desconcertante para Washington, no momento em
que os EUA jogam cartada derradeira, em ritmo de defender sua última fronteira,
para restabelecer a hegemonia ocidental sobre o Oriente Médio, e quando ninguém
pode ter qualquer certeza quanto ao futuro da “operação” Pacífico
Asiático.
Washington
fará tudo que puder para derrotar ou, no mínimo, para enfraquecer muito, a
candidatura de Putin. Nas barricadas, Obama precisa até da ajuda do
abençoadamente feliz e risonho veterano piloto McCain.
Notas
dos tradutores
[1]
11/12/2011, “Acabou
a ‘revolução colorida’ na Rússia”, MK Bhadrakumar
[2] TALBOTT, Strobe, The Russia Hand: A Memoir of Presidential Diplomacy, New York: Random House, 2002, sem tradução para o português [NTs]. Lê-se resenha interessante do livro (em inglês).
[3] Vice-Secretário de Estado no governo Clinton.
[2] TALBOTT, Strobe, The Russia Hand: A Memoir of Presidential Diplomacy, New York: Random House, 2002, sem tradução para o português [NTs]. Lê-se resenha interessante do livro (em inglês).
[3] Vice-Secretário de Estado no governo Clinton.
*MK
Bhadrakumar
foi
diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União
Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão,
Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e
escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu, Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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