Sayyed Nasrallah,
dos subúrbios de Beirute, na solenidade da
Ashura
Hezbollah |
6/12, atualizado
7/12/2011, Al.Manar TV, Beirute, Líbano
Traduzido pelo
Coletivo da Vila Vudu
Antes do discurso
[adiante], feito de outro lugar e mostrado numa grande tela, Sayyed Nasrallah
esteve pessoalmente na praça – depois de muito tempo ausente de eventos públicos
– para uma rápida saudação-oração:
“Alegra-me muito
estar próximo de vocês por alguns minutos. Muito quereria estar sempre com
vocês. Mas aqui estamos afinal juntos, nesse 10º dia de Muharram, porque quis
vir até aqui para que juntos reafirmemos nosso voto, nosso juramento ao Imã
Hussein – que nesse dia enfrentou sozinho 30 mil inimigos, confirmando a lição
de seu pai, o Imã Ali bin Abi Taleb, que dizia: “Por Alá, ainda que tenha de
enfrentar sozinho inimigo que venha em grande número, nem me intimidarei nem me
esconderei”, quando Hussein viu-se ante um dilema, entre a luta e a humilhação.
Nunca nos humilharão. É impossível.
Para sempre, e não
importam os desafios e os perigos, nada nos assusta nem nos intimida, porque
somos companheiros de Abi Abdullah Al-Hussein, que diz: “É impossível: nunca nos
humilharão.”
Irmãos e irmãs,
nesse 10º dia do Muharram, renovamos nosso voto e dizemos a Hussein o que seus
companheiros e amigos lhe disseram à véspera do 10º dia do Muharram: “Não
poderíamos continuar sem ti. A vida seria vazia e desagradável sem ti, Hussein.
Se for morto por Alá, depois queimado, depois fossem minhas cinzas sopradas no
ar; e se depois voltasse à vida, eu outra vez lutaria, seria morto, queimado,
minhas cinzas sopradas no ar, e outra vez e outra vez, e mil vezes, e nem a
assim eu desertaria, oh Hussein!”
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Feita essa
saudação-oração, Sayyed Nasrallah deixou o palanque e reapareceu, alguns minutos
depois, numa grande tela – como é praxe em seus discursos públicos. Aqui, a
íntegra do que disse:
Em nome de
Alá, o mais pleno de Graças, o mais Generoso
Sayyed Nasrallah, chegada |
Louvado seja
Alá, Senhor dos Mundos, que a Paz esteja com nosso Mestre Profeta Maomé Bin
Abdullah, sua família virtuosa, seus bons amigos, e com todos os Profetas e
Mensageiros.
Que a paz
esteja contigo, meu Mestre Imã Hussein, filho do Profeta de Alá, e com todas as
almas dos mártires martirizados contigo, meu Mestre.
Antes de tudo,
agradeço a cada um dos que aqui vieram em multidão, pela lealdade, pela
fidelidade, pelo compromisso, pela paciência. E rogo que Alá aceite todos os
nossos esforços e nossa luta.
Reúno-me a
vocês nesse 10º dia do Muharram – o dia do martírio de Abi Abdullah Al-Hussein,
de sua família e amigos –, para consolar o Profeta e toda sua família (Que a Paz
esteja com Todos Eles), nossos imãs, o imã Mahdi, neto do imã Hussein (que Alá
apresse sua volta!) e seu representante delegado, o Imã Khamenei. Aqui estamos
também para consolar todos os nossos intelectuais e professores e todos os
muçulmanos que seguem o Profeta.
Todos os anos
repetimos essa cerimônia, para renovar nosso caminho, nosso compromisso, nossos
votos, nossa firmeza, nossa decisão, nossa insistência e nosso forte desejo de
perseverar nesse caminho, que é o caminho da resistência, caminho de todos os
profetas, de todos os mensageiros, de todos os guardiães, e que é o caminho dos
bons.
Nesse caminho,
houve milhões de mártires. Karabala é um marco desse caminho histórico, que será
para sempre lembrado até o dia do Julgamento Final.
Meus irmãos e minhas
irmãs
Início do pronunciamento |
Tratarei hoje
de algumas questões políticas, porque é preciso lembrá-los, alertá-los sempre,
de que a maior e mais real ameaça que pesa contra nossa nação – e seus vários
países, vários povos e vários governos – é o projeto de EUA-Israel. É sempre o
governo dos EUA, não importa quem seja o presidente. Esse é o inimigo que ocupa
a Palestina, viola locais sagrados, violenta o povo palestino e toda a nação
muçulmana. O grande ladrão que ataca a riqueza de nosso povo é ladrão israelense
e ladrão norte-americano.
Nossos povos
têm de saber dessa verdade, para que não se deixem ludibriar por mais uma
fraude. Ao longo de todo o ano corrente, os norte-americanos tentaram
apresentar-se como defensores de direitos humanos e democráticos no mundo árabe.
Hipócritas! Mentirosos! Farsantes! Todos sabemos que jamais negaram apoio e
solidariedade, não aos povos muçulmanos, mas a todos os tipos de ditadores e
ditaduras! Os ditadores e as ditaduras que hoje vão sendo derrubadas uma a uma
no mundo árabe existem e persistiram até hoje graças ao apoio que sempre
receberam dos EUA – apoio político, apoio das empresas de imprensa, apoio das
redes de inteligência, apoio militar, apoio em todos os planos e
níveis.
E então,
quando o povo levantou-se e derrubou ditadores, e os EUA viram que os seus
ditadores ‘amigos’ começavam a ser derrubados, um depois do outro, os EUA os
abandonaram. Vocês sabem, irmãos e irmãs, que assim, precisamente, age Satã,
como se lê no Santo Corão. É o que Satã faz, no dia do Julgamento, quando todos
os caminhos se fecham para quem siga Satã: Satã dá-lhes as costas, abandona
todos os seus mais aplicados seguidores; age como se nada tivesse a ver com a
desgraça deles.
Sayyed Nasrallah deixa o palanque |
Como Satã, os
governos dos EUA também desertam, também abandonam os seus mais aplicados
seguidores, aliados, todos aqueles dos quais os EUA se servem quando precisam e
quando lhes interessa, pensando só em minimizar prejuízos, reduzir perdas... dos
EUA, sempre, das empresas dos EUA e de seus aliados.
Todos os povos
árabes e muçulmanos do mundo devem saber, com plena clareza, que os governos dos
EUA são nosso pior inimigo, são a mais grave ameaça que pesa sobre nós. Não há,
disso, dúvida alguma.
Há apenas
alguns dias, todos ouvimos o presidente Obama, falando diretamente ao lobby de
judeus pró-Israel e outras organizações de judeus racistas nos EUA, dizer que “a
ajuda que meu governo prestou à segurança de Israel foi maior que qualquer ajuda
que Israel tenha recebido de qualquer outro governo norte-americano”. Nisso, o
presidente dos EUA não mente. E fez mais. Durante o governo Obama, a CIA deixou
de ser organização de espiões que opera dentro dos EUA, e passou a ser
organização de espiões que operam em território libanês, diretamente sob ordens
do Mossad e do aparelho de segurança de Israel. A orgulhosa CIA existe hoje para
tentar descobrir onde os mujahedeen escondem armamentos, onde vivem, o que fazem
seus comandantes. Os aparelhos de segurança dos EUA estão hoje entregues a
agentes de segunda linha, que obedecem ordens de Israel, para defender
Israel.
Sayyed Nasrallah discursa |
Povo
muçulmano, libaneses, forças políticas da resistência, não se deixem enganar
pelo governo dos EUA. É ele que lá está, ocupando a Palestina de vocês, violando
a Al-Quds [“O Local Nobre e Sagrado”, Jerusalém] de vocês, ameaçando a mesquita
Sagrada de vocês. E é o governo dos EUA o responsável, até mais que a entidade
sionista inimiga, pelas centenas de palestinos que permanecem nas prisões de
Israel, pelos refugiados, pelos torturados, pelos que sobrevivem sitiados em
Gaza e na Cisjordânia. Isso é os EUA. Isso é a América. Nesse 10º dia do
Muharram, que ninguém se engane sobre quem é o amigo e quem é o
inimigo.
O inimigo é o
governo dos EUA, e seu “instrumento” (porque é instrumento, não aliado) na
Região: Israel. O governo dos EUA usa Israel, como uma espécie de cabeça de
praia, para humilhar e oprimir os árabes e os muçulmanos, e para impor aos
árabes e muçulmanos a vontade dos norte-americanos, com vistas a manter
garantido rico mercado para compra das armas que vendem e para roubar nosso
petróleo. Isso, precisamente isso, não podemos esquecer
nunca.
Em segundo
lugar, mas sempre nesse mesmo contexto, temos de ter presente o fracasso do
plano inicial do governo dos EUA – o projeto de “novo Oriente Médio” – que foi
derrotado pela resistência no Líbano, na Palestina, no Iraque; pela força e
clarividência dos homens e mulheres daqui; e pelos países à testa da resistência
– o Irã e a Síria. Esse fracasso começou quando os povos e os revolucionários
árabes despertaram. Então o governo dos EUA tentou fazer reviver o velho projeto
do Oriente Médio, mas, dessa vez, tentaram outras armas: tentaram incendiar
conflitos locais e semear novos conflitos; e incitaram os confrontos sectários.
Essa é a escolha do desespero, porque EUA e Israel já não têm alternativas, no
esforço sempre repetido para controlarem toda a
Região.
Nesse
contexto, já dissemos e aqui repetimos e garantimos, não aceitaremos nenhum
embuste mascarado em discursos sectários – porque todas as divisões sectárias
entre nós favorecem Israel e os EUA; favorecem os inimigos da nossa nação
muçulmana. Todos os muçulmanos devem respeitar o que seja sagrado para todos.
Repito aqui, para relembrá-la, a Fatwa ordenada pelo Imã Khamenei, que nos
ensina e ordena que respeitemos tudo que seja sagrado para outros, todos os
símbolos sagrados de todos os grupos e seitas.
Em terceiro
lugar, sempre no mesmo contexto, quero falar de Al-Quds [“O Local Nobre e
Sagrado”, Jerusalém], que é causa central do conflito nessa região. Alerto-os
para a evidência de que lá, em Al-Quds [“O Local Nobre e Sagrado”, Jerusalém],
já está em curso uma tentativa de judaicizar o local. Estão em curso vários
passos para judaicizar Al-Quds [“O Local Nobre e Sagrado”,
Jerusalém].
Sayyed Nasrallah sai da praça |
Ontem, várias
casas foram demolidas em Al-Quds Leste. Todos os dias são aprovados novos
milhares de novas construções nos territórios palestinos ocupado, e agora já
várias partes da mesquita de Al-Aqsa estão sob risco, por efeito das demolições
que se fazem ali. O que mais tememos é que, enquanto os povos árabes lutam,
ocupados cada um com seus problemas locais, Israel se aproveite para atacar em
Jerusalém, tentando algum golpe irremediável.
Seja como for,
ataque israelense conta a mesquita Al-Aqsa será a mais absoluta estupidez,
dentre as muitas que Israel tem cometido desde que se estabeleceu na Região.
Mesmo assim, é preciso que todos saibam o que está acontecendo, para que se
manifestem contra mais essa violência cometida pela entidade sionista, contra
santuários religiosos.
A causa da
Palestina é e deve continuar a ser a causa central de toda nossa luta, não
importa o quanto as coisas se compliquem ou se agravem os conflitos. Todos
acreditamos nisso e por isso lutamos.
Quanto às
opções dos povos árabes, apostamos na clarividência desses
povos.
Hoje na
Tunísia, o povo derrotou o tirano, fez eleições, e esperemos que as forças
políticas atendam e satisfaçam as expectativas do honrado amado povo
tunisiano.
O povo da
Líbia triunfou sobre o tirano, e as forças políticas lá também têm o dever de
satisfazer as expectativas do povo que ofereceu milhares de
mártires.
No Iêmen, o
desafio prossegue, e há quem queira dividir o Iêmen e restaurar a atmosfera de
sectarismo, para matar a revolução e suas aspirações.
No Bahrain, o
povo ainda luta, em manifestações pacíficas, apesar da opressão e de todas as
mentiras e hipocrisia. O povo insiste na luta por seus objetivos nacionais
legítimos.
No Egito,
houve mudanças enormes, que sacudiram Israel e obrigaram Barak a preocupar-se
muito. Todos investimos nossas esperanças no Egito, porque qualquer
transformação real no Egito, que vise a defender a nação e a Palestina, alterará
profundamente toda a atmosfera estratégica de Israel na região e imporá à
entidade sionista inimiga a maior ameaça existencial que jamais conheceu. Esse é
o grande desafio que aguarda as forças políticas egípcias que vencerem as
eleições e formarem nova autoridade naquela nação: o desafio da Palestina, de
Al-Quds, de Gaza, de Camp David e a posição que o Egito assumirá em relação à
entidade sionista.
Esperamos que
os povos árabes não se deixem enganar ou iludir pela hipocrisia dos
norte-americanos. E que, tão logo resolvam seus problemas internos locais,
voltem a assumir a posição que todos os árabes esperam deles, e enfrentem, com a
resistência, essa questão central.
Os EUA
fracassaram e continuam a fracassar.
Falarei agora
sobre Iraque, depois Síria e, para concluir, falarei sobre o
Líbano.
No Iraque,
hoje e nos próximos dias, espera-se que se complete a retirada dos EUA. No
Iraque os EUA foram realmente derrotados. Todos sabem que os EUA não invadiram o
Iraque para retirarem-se como estão obrigados a retirar-se. Tinham projeto para
permanecer no Iraque, controlar o Iraque e ali estabelecer bases seguras para
permanecer décadas no Iraque. Mas a valente resistência iraquiana, a firmeza do
povo do Iraque e os poderes políticos, e o altíssimo custo de uma ocupação
norte-americana no Iraque forçaram outra solução: a retirada que hoje se
vê.
Multidão ocupando a praça |
Quero destacar
também que a resistência iraquiana não receber qualquer cobertura da imprensa
árabe ou internacional. Vários grupos da resistência iraquiana distribuíram
vídeos e DVDs de suas importantes operações a satélites árabes e internacionais,
quase completamente ignorados. A maior parte das operações da resistência
iraquiana foram ocultadas para favorecer o discurso do exército e do governo dos
EUA, cuja moral ficaria ainda mais abalada internamente. Esse movimento expõe
com clareza a natureza das redes de distribuição de notícias e das empresas que
gerenciam os satélites de comunicação que controlam a imprensa no mundo árabe e
islâmico.
Seja como for,
noticiada com precisão ou não, o que aconteceu e está acontecendo no Iraque é
derrota real das forças dos EUA, que as forças da resistência e o espírito de
sacrifício do povo iraquiano aplicaram aos poderes arrogantes dos EUA. A
retirada dos EUA, do Iraque, é motivo de júbilo e uma grande vitória histórica,
de que se devem orgulhar a resistência e o povo do Iraque. Isso é nosso dever
apresentar, nesses termos, a todos os povos da
Região.
Cada vez que
Israel é derrotada, no Líbano, em Gaza, o que se evidencia é que Israel é
derrotável. Cada vez que os EUA são derrotados no Iraque, o que se evidencia é
que os EUA são derrotáveis. Assim como os EUA foram derrotados no Iraque, assim
podem ser derrotados em outros pontos, em todos os pontos nos quais os EUA
tentam impor-se como força de agressão, de invasão e de ocupação. Que os EUA
tentem esconder a própria derrota é mais uma derrota a somar-se às
demais.
Nesse quadro,
o que está acontecendo em toda nossa região – os eventos na Síria, as ameaças ao
Irã, a história inventada sobre o embaixador saudita em Washington e outras
histórias – são tentativas para manter ocupados os povos da região, distraídos
da realidade, para que não vejam que os EUA, que arrogantemente se apresentaram
como única potência mundial, estão hoje sendo derrotados pelos jovens e pelos
Mujahedeen no Iraque.
Infelizmente, tenho de reconhecer que, nesse ardil, os EUA foram bem-sucedidos. Se se abrem os jornais ou se se assiste às redes de notícias árabes e internacional, não se encontra nenhuma foto da retirada dos EUA do Iraque. Não se veem soldados em retirada, tanques correndo para fora do Iraque, nem exércitos em retirada, derrotados. Ontem, afinal, li que restam poucos soldados dos EUA ainda no Iraque. Como é possível?
Infelizmente, tenho de reconhecer que, nesse ardil, os EUA foram bem-sucedidos. Se se abrem os jornais ou se se assiste às redes de notícias árabes e internacional, não se encontra nenhuma foto da retirada dos EUA do Iraque. Não se veem soldados em retirada, tanques correndo para fora do Iraque, nem exércitos em retirada, derrotados. Ontem, afinal, li que restam poucos soldados dos EUA ainda no Iraque. Como é possível?
Como é
possível que 150 mil soldados tenham sido retirados do Iraque e chegado aos EUA
como exército derrotado, sem que ninguém tenha visto uma foto, uma imagem, uma
notícia?! Nessa operação de ocultar a retirada, sem imagens de soldados
derrotados, sem notícias nem análises da derrota, sim, nisso, os EUA tiveram
pleno sucesso.
Hoje, todos os
jornais e redes de televisão falam primeiro da Síria, depois do Egito, depois da
Líbia, depois da Tunísia, depois do Iêmen... mas só muito raramente, e sempre
notícias rápidas, ouve-se alguma referência à retirada dos EUA, do Iraque. Não
acontece por acaso. É movimento deliberado de
ocultação.
Por isso, é
tarefa e responsabilidade das forças de resistência no mundo árabe e islâmico
hoje, assim como é tarefa e responsabilidade do próprio povo iraquiano, e dos
jornalistas no Iraque e no mundo árabe, noticiar a verdade da derrota dos EUA no
Iraque.
Nesse 10º dia
do Muharram, pedimos que Deus abençoe essa vitória histórica dos iraquianos,
quando o sangue mais uma vez derrotou a espada e a violência. O povo iraquiano,
com rifles e velhas Katyusha da II Guerra Mundial, derrotou o mais moderno e
poderoso exército do mundo. Se o exército israelense é o mais poderoso da
região, como o exército dos EUA é o mais poderoso do mundo, está visto que são
derrotáveis e já foram derrotados, pela luta, pela Jihad, pela resistência, pela
perseverança.
Hoje o que
mais importa é que nos mantenhamos atentos à fase que se inicia, depois da
retirada dos EUA do Iraque, atentos aos ardis da mente satânica dos EUA, cujo
projeto é nos dividir pelo sectarismo. Os EUA já trabalham para nos dividir em
lutas sectárias. Resistir contra esse projeto é dever nosso. Tudo depende de nos
mantermos atentos, em diálogo com nossos irmãos iraquianos – aos quais a paz
local também interessa.
Chegamos à
Síria. Nossa posição sobre a Síria foi bem clara desde o início. Apoiamos
reformas na Síria e apoiamos um regime que sempre apoiou a resistência na
região. Somos a favor de combater todas as causas de corrupção, e dizemos sim às
reformas aprovadas pelo governo sírio e demandadas pelo povo. De modo algum, nem
agora nem jamais nos aproximaremos, como jamais nos aproximamos, dos que não
querem nem reformas, nem segurança, nem estabilidade, nem paz nem diálogo na
Síria: esses são os que querem destruir a Síria.
Os EUA tentam
substituir pela questão síria, a derrota que sofreram no Iraque, porque sabem
que a Síria teve papel importante naquela derrota, como também teve papel
importante na derrota estratégica que, ao que tudo indica hoje, os EUA também
sofrerão no Egito. Por tudo isso, os EUA tentam, por todos os meios intervir na
Síria.
O chamado
Conselho Nacional Sírio, formado em Istanbul, e que alguns países ocidentais
consideram legítimo, é chefiado por Burhan Ghalyoun. Há dois dias, Ghalyoun
declarou que “se ‘mudarmos o regime’ e conquistarmos poder na Síria, cortaremos
os laços com o Irã e com os movimentos de resistência no Líbano e na Palestina”
– e citou diretamente o Hezbollah e o Hamás. Nada disso é viável ou exequível.
Ghalyoun fala, exclusivamente, para angariar prestígio aos olhos de EUA e
Israel.
Em seguida,
perguntado sobre as Colinas de Golã, disse que recorrerá à comunidade
internacional. Quer dizer... depois de 20, 30 anos de fracassos da ONU, aparecem
agora esses personagens interessados, exclusivamente em quebrar os laços que
ligam a Síria e a resistência, e de olhos postos nos negócios com a ‘comunidade
internacional’. Para completar, um dos sírios do Conselho recém inventado, que
mantém relações com uma organização islâmica na Síria, disse que, quando
‘mudarem o regime’ na Síria, eles atravessarão a fronteira e chegarão ao Líbano
para castigar o Hezbollah. Dizem sandices. Tudo isso é inviável e irrealizável,
mas dizem, exclusivamente, para ganhar créditos aos olhos dos EUA e de Israel,
porque somos nós, o Hezbollah, o seu maior inimigo. Até hoje, só o Hezbollah
derrotou Israel.
Digo e repito
essa verdade, ao povo da síria e ao povo libanês, sobretudo aos que têm dito que
nós temos interpretado mal a situação na Síria. Os eventos dos dois últimos dias
comprovam que, sim, estamos interpretando corretamente a situação na Síria; e
que, sim, o principal alvo de todos aqueles movimentos somos nós, a Resistência
na região. Não há ninguém, nem nos EUA nem no Ocidente, realmente preocupado com
promover reformas na Síria. Querem, exclusivamente, arrancar de lá um regime que
apoia a resistência contra Israel e os EUA, para lá implantarem qualquer regime,
desde que seja submisso aos EUA e a Israel.
Aqui
declaramos: queremos paz, estabilidade e diálogo na Síria – e condenamos todas
as sanções impostas à Síria e todos os movimentos para incitar as divisões
sectárias e empurrar o país para uma guerra civil. Aqui relembro, a todos que
nos ameaçam com armas, que os navios de vocês já foram destruídos e expulsos,
antes, das praias de Beirute.
Sobre o
Líbano, no quadro dos eventos regionais, sempre insistimos que o Hezbollah não
analisa a situação no Líbano como se fosse separada da situação na região. Esse
ponto é crucial e é indispensável não separar o Líbano, porque o que ocorre no
Líbano tem conexões profundas com tudo que acontece na
região.
Defendemos a
paz na sociedade libanesa, rejeitamos todos os tipos de incitação ao sectarismo,
nos temos mantidos pacientes e ordeiros, apesar da inúmeras acusações que se
assacam contra o Hezbollah. Entendemos que os que atacam o Hezbollah porque
temem o Hezbollah têm boas razões para nos temer.
Sayyed Nasrallah no telão |
Há, também no
Líbano, quem trabalhe hoje para promover divisões e sectarismos. Rejeitamos
todas essas ações, que venceremos com inteligência, lucidez e
paciência.
Queremos que a
ação do governo seja reativada, e reafirmamos a importância de atenderem-se as
justas demandas do Movimento Patriotas Livres.
A questão dos
falsos testemunhos será enfrentada pelas vias judiciais e não duvidamos que se
fará justiça. Afinal, aquelas falsas acusações não causaram dano apenas a alguns
indivíduos, injustamente acusados. Aquelas falsificações causaram danos graves a
toda a situação política interna no Líbano e às relações entre Líbano e Síria.
Mais importante, também causaram a morte de dezenas de sírios
inocentes.
Mais grave que
aquelas acusações é a ameaça permanente de Israel contra o Líbano. Já se sabe,
depois de longo trabalho de contraespionagem muito bem-sucedido, que Israel e
CIA infiltraram agentes no Líbano, e, aos poucos, as investigações conduzidas
pelo Hezbollah e pelo exército libanês vão mostrando os vários crimes que
aqueles espiões cometeram em território libanês. Nesse contexto, vale destacar a
eficácia do trabalho e o sucesso das investigações conduzidas no Líbano pelo
exército, pelo povo e pelo Hezbollah.
Nesse 10º dia
de Muharram, quero enviar nova mensagem bem clara contra os que conspiram.
A Resistência
no Líbano, com suas armas, sua formação, os mujahedeen, nossa inteligência,
nossa cultura, nosso trabalho, aqui está e aqui permanecerá. Não seremos
afetados por conspirações, manobras, golpismos, nem por guerras inventadas pela
mídia, nem por guerras psicológicas, políticas, de
espiões.
Manteremos
nossa resistência e as armas da resistência. Hoje lhes digo que dia a dia nossos
números aumentam, nossa capacidade aumenta, nosso treinamento melhora e aumentam
nossa confiança na nossa organização, nas nossas armas e no nosso
futuro.
A questão das
armas do Hezbollah está hoje completamente distorcida. Há quem diga que as armas
da Resistência seriam causa de perturbações e de instabilidade no Líbano. É
mentira. As armas que se veem nos conflitos internos, são armas que circulam
entre a população libanesa. Nada têm a ver com as armas da resistência. Nosso
armamento é mais pesado e absolutamente jamais foi visto nos confrontos de rua.
O fato de que todos, no Líbano, famílias, partidos, indivíduos, tenham acesso
fácil a armas leves é problema da segurança interna do Líbano e também nos
preocupa. As armas da Resistência nada têm a ver com
isso.
Quem queira
dar melhor segurança à população libanesa, deve resolver o problema do excesso
de armas em mãos da população civil. Quem pense em negar à Resistência o direito
de armar-se para defender o Líbano contra os ataques sempre iminentes que nos
vêm de Israel presta, isso sim, favor a Israel. O que Israel não conseguiu
depois de 33 dias de guerra contra o Líbano, ajudado por exércitos de todo o
mundo – porque havia o Hezbollah e a Resistência –, há hoje quem tente conseguir
com a ajuda da imprensa ou de intrigas. Nunca derrotarão o Hezbollah e a
Resistência.
Nesse 10º dia
de Muharram, dia de escolhas históricas e decisivas, quero dizer ao mundo que
nós, no Líbano, já tomamos a iniciativa, desde 1980. Não esperamos pela
‘comunidade internacional’, nem pela Liga Árabe, nem pela Organização da
Conferência Islâmica, nem por nada nem ninguém.
O Hezbollah,
nossa vontade firme, nosso desejo, os jovens, os homens, as mulheres, nossas
potências maiores e menores, nós resistimos, lutamos, morremos, temos nossos
mártires, defendemos nossa terra com a nossa resistência. Assim sempre foi e
assim será, com dignidade e honra.
Nem perigos,
nem ameaças nem ‘mudanças de regimes’ nos afastarão do que é nosso dever e nossa
responsabilidade. Pertencemos ao Imã que, sozinho, enfrentou exército de 30 mil.
E nós, da Resistência, nunca estamos sozinhos. O Hezbollah são dezenas de
milhares de combatentes e mujahedeen treinados, prontos para lutar e morrer,
todos nós, filhos de Abi Abdullah Al-Hussein (Que a Paz Esteja com
Ele).
O Hezbollah
somos um poder que o inimigo ainda não conhece e jamais conhecerá antes da hora.
O Hezbollah sempre surpreenderá o inimigo, porque é forte e criativo em todas as
suas lutas.
Por isso,
nesse 10º dia de Muharram, dizemos que é passado o tempo em que ainda podíamos
fraquejar no compromisso com nossa própria dignidade, com nosso orgulho, com
nossa presença, com nossa terra e nossa fé. A situação mudou. É hora agora de
renovar nossa promessa ao Imã Hussein e dizer: “Meu mestre e imã, assim como tu
te sacrificaste pelas mais altas metas, e preferiste morrer com tua família e
amigos, para não trair as mais altas metas, assim nós seguimos teus passos nesse
caminho, e nele também triunfaremos, pelo sangue, contra a
espada.
Quando todos
já haviam sido martirizados e só restava vivo o Imã Hussein, ele não se dirigiu
ao exército que se opunha a ele. Em vez disso, o Imã Hussein falou a todos os
resistentes de todos os tempos, os que já vieram e se foram e os que ainda
virão, nas lutas de resistência: “Vocês todos estão
comigo?”
A resposta
está sempre conosco, no sangue, nas lágrimas, na alma, na mente, na Jihad, na
Resistência: “Aqui estou e sempre estarei contigo, oh Imã Hussein!”
Sua excelecina, Sheik Nasrallah.
ResponderExcluirSempre direto em sua fala e cumpre o que diz. Quanta diferenca dos discursos hipocritas a que estamos acostumados, tanto do Ocidente em geral e, notadamente USA, quanto de mediocres a servico dos USA, fascistas em geral e ditadores arabes.
Infelizmente nao conheco conheco nenhuma livro sobre Nasrallah em portugues mas, para aqueles que se interessam por geopolitica e politica em gera, vale a pena pesquisar. Existem alguns - poucos - em ingles.