quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Para o Irã, o ano termina com importante vitória de inteligência


Mahan Abedin

22/12/2011, Mahan Abedin, Asia Times Online 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

As imagens no domingo, pela TV estatal iraniana, de Amir Hekmati, suspeito de espionar para a CIA-EUA, são mais um episódio do que parece ser importante sequência de vitórias da contrainteligência do Irã, sobre os serviços de espionagem dos EUA. 

Hekmati, 28 anos, nascido no Arizona, EUA, de família iraniana, foi acusado pelo Ministério de Inteligência e Segurança do Irã (MISI) [ing. Ministry of Intelligence and Security (MOIS)] de ter-se aproximado do MISI, para conhecer fontes externas, e de ter fornecido informações falsas.

Ex-membro do Corpo dos Fuzileiros (Marines) dos EUA, Hekmati parece ter sido preso em setembro, mas só há poucos dias apareceram as primeiras notícias sobre a prisão. 

Esse, que parece ser significativo sucesso da contrainteligência do Irã, acontece imediatamente depois da captura, em território iraniano, no início de dezembro, do ultrassecreto avião-robô comandado à distância, o drone US RQ-170 Sentinel. O Irã noticiou que unidades de especialistas em cyberguerra do exército iraniano conseguiram localizar e rastrear o drone [de tecnologia stealth, que o torna invisível aos radares, e considerado o mais moderno drone em ação no mundo] e pousaram o aparelho, também por comando à distância. Vídeos mostrados pela televisão iraniana – nos quais se vê o drone imaculadamente intacto – parecem comprovar o feito dos especialistas iranianos. 

Esses feitos indiscutivelmente impressionantes dos iranianos, nos campos da guerra de inteligência, da eletrônica e das tecnologias de ponta, ocorrem em momento de deterioração muito rápida nas relações entre o Irã e EUA, e outros países do ocidente. 

No final de novembro, manifestantes atacaram a sede da embaixada da Grã-Bretanha em Teerã, o que levou ao fechamento de embaixadas nos dois países. O ataque à embaixada também foi considerado uma extensão da guerra de inteligência entre o Irã e países ocidentais, dado que a embaixada britânica em Teerã era conhecido local onde a espionagem ocidental coletava e distribuía enorme quantidade de informação secreta. 

Tudo faz crer que o governo do Irã decidiu minimizar o alcance da interferência ocidental nas eleições parlamentares marcadas para março 2012. Em termos mais amplos, a República Islâmica parece estar mobilizando seus principais ativos de inteligência, para enfrentar o cerco econômico que está implantado, já previsível há muito tempo. 

A CIA bate em retirada 

Informação colhida de várias fontes na mídia iraniana e do jornal Asia Times Online em Teerã sugerem que a CIA teria construído uma complexa operação, para introduzir Amir Hekmati no MISI, como informante confiável do Ministério. 

Com experiência de combate no Afeganistão, Hekmati, depois de deixar o Corpo de Marines, trabalhou para várias empresas privadas “de segurança” que operam na região, todas suspeitas de conexão com a CIA. 

Acredita-se que tenha feito contacto com o MISI antes de viajar para o Irã, no verão passado, ostensivamente para visitar a família dos pais (sua família ampliada). Hekmati abordou o MISI iraniano de forma “normal”, mas levava informação suficientemente interessante, que atraiu o interesse da inteligência iraniana; mesmo assim, muitas fontes acreditam que o MISI sempre suspeitou de que ele trabalhasse para a CIA. 

Parece que a informação que Hekmati entregou ao MISI foi uma espécie de “mistura” de verdades, meias verdades e pura ficção criada pela CIA; praticamente em todos os casos, informações sobre operações militares, de inteligência e políticas dos EUA no Afeganistão. 

Embora a mídia iraniana, repetindo notícias distribuídas pelos serviços de inteligência do Irã, repita que a principal missão de Hekmati seria ganhar a confiança do MISI, para construir operação de penetração no ministério, a verdade parece ser muito mais complexa. 

Para começar, “penetrar” no Ministério de Informação e Segurança do Irã, mesmo nos setores mais periféricos, é tarefa praticamente impossível, se se consideram as muitas camadas de poderosas defesas construídas para desviar (e, eventualmente, prender em suas malhas) até os espiões mais eficientes. Evidentemente, um cidadão norte-americano e ex-Marine, com experiência de combate no Afeganistão e ex-empregado e empresas que contratam mercenários para trabalhar no Oriente Médio, jamais ultrapassaria nem a primeira trincheira de defesa da contrainteligência iraniana. 

O mais provável, embora não passe de conjectura, é que a CIA estivesse tentando identificar – para depois manipular – as questões que a inteligência iraniana estivesse considerando como prioritárias, em sua ação no Afeganistão. A “mistura” de informações de inteligência genuínas e ficcionais que Hekmati tinha para oferecer, e a muito provável promessa de continuar a fornecer o mesmo tipo de material por período prolongado, apontam imediatamente na direção dessa conjectura. 

A prisão de Hekmati acontece como mais uma, numa sequência de vitórias da contrainteligência do MISI, contra a CIA e praticamente toda a comunidade norte-americana de inteligência. A evidência de que o MISI iraniano é capaz de infligir repetidas derrotas à CIA e aos seus métodos e equipamentos mostrados (e vendidos) ao mundo com “tecnologias inexpugnáveis”, de altíssima inovação tecnológica, reforça a reputação de que os iranianos já gozam, de terem construído uma das, senão a maior, organização de inteligência e contrainteligência ativa hoje no planeta. 

O rastreamento e a captura do drone RQ-170 Sentinel, operado pela Força Aérea dos EUA a serviço da CIA, sem dúvida devem fazer aumentar as aflições dos EUA, acrescentando credibilidade a informações já circulantes, de que o Irã já é centro sofisticado de contraespionagem, guerra tecnológica e cyberguerra. 

O duro golpe assestado contra o prestígio dos EUA pareceu ainda maior, depois que o presidente Barack Obama dos EUA “solicitou” que o Irã devolvesse o drone capturado, depois de já circularem em todo o mundo notícias sobre as extraordinárias circunstâncias que cercaram o rastreamento e o pouso do aparelho[1]. Os iranianos sequer consideraram a “solicitação” dos EUA. 

Guerra econômica 

O aumento dramático da atividade da CIA dentro do Irã em 2011 reforçou a certeza, entre as lideranças políticas iranianas, de que potências ocidentais estão decididas a forçar o confronto, com alta probabilidade de agressão militar contra a República Islâmica. 

Nessa linha, os analistas e estrategistas iranianos provavelmente usarão as recentes vitórias no campo da contrainteligência para alcançar três objetivos de curto e médio prazos. Em primeiro lugar e sobretudo, a liderança política em Teerã induzirá o MISI a entrar em disputa direta contra a CIA e outras agências ocidentais de espionagem, campo no qual é possível encontrar meios que ajudem o Irã a sobreviver ao feroz bloqueio econômico hoje imposto pelos EUA e para, eventualmente, neutralizar o bloqueio. 

A ideia dominante em Teerã é que o regime de sanções tornar-se-á ainda mais feroz em 2012, podendo chegar ao estado de total sítio econômico até o final do próximo ano; cenário sempre mais provável, no caso de o Ocidente decidir boicotar o gás e o petróleo que o Irã exporta. 

Em segundo lugar, é objetivo importante da liderança iraniana impedir que os serviços de espionagem ocidentais infiltrem-se no processo eleitoral e interfiram nas eleições parlamentares marcadas para março. Teerã suspeita que as agências de espionagem ocidentais, operando direta e indiretamente com elementos dos partidos de oposição, trabalharão para incitar tumultos e sequestrar manifestações populares que ocorram no país, em ação semelhante à que já se viu na capital iraniana em junho de 2009, depois das eleições presidenciais. 

O ataque à embaixada britânica foi, em parte, motivado por essa preocupação. O fechamento da embaixada britânica em Teerã privou os governos da Grã-Bretanha e dos EUA de fonte importantíssima de informações; e cortou, sobretudo, os vasos comunicantes que ligavam os espiões dos EUA e Grã-Bretanha e seus contatos no “nível da rua”. 

Em terceiro lugar, a República Islâmica muito provavelmente usará os importantes sucessos de inteligência e contrainteligência do MISI para ampliar e reforçar as estruturas de segurança que começaram a ser implantadas no país depois das eleições presidenciais de junho de 2009 e dos tumultos que se seguiram, muito maiores do que se poderia esperar que fossem, considerado o real prestígio político e popular dos líderes locais da “contestação”. 

Embora sempre apresentada como solução apenas temporária, todos os níveis da República Islâmica trabalham para reforçar a segurança, preparando o país para resistir a uma agressão militar que Teerã já considera inevitável.


Nota dos tradutores
[1]  Ver, sobre isso, “O caso do drone-espião: Obama entra em cena pisando leve”, 15/12/2011, MK BhadrakumarIndian Punchline (em português).

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