11/2/2012, Brian M Downing, Asia Times Online
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Resenha
de:
PARSI,
Trita, “A Single Roll of the Dice: Obama's
Diplomacy with Iran” [Um único
lance de dados: a diplomacia de Obama para o Irã], Yale University Press, 2012,
ISBN-10: 0300169361. US$27.50, 304 p.
Ver
também:
13/7 2011 –
The Cairo Global Affairs – Trita Parsi: “A
Primavera Árabe vista de Teerã (parte 1/2)”
14/7 /2011 –
The Cairo Global Affairs – Trita Parsi: “A
Primavera Árabe vista de Teerã (parte 2/2)”
8/1/2012, *M
K Bhadrakumar, Indian Punchline – “Mais
jogos de sombra no Golfo Persa”
7/1/2012, Trita Parsi, The
Independent, UK – “Discursos
levianos sobre guerras fazem da guerra ao Irã risco real”
17/1/2012,
Tom Dispatch - Pepe Escobar: “O mito do Irã
isolado”
Trita Parsi |
O
primeiro livro de Trita Parsi,
Treacherous Alliance
[Aliança Traiçoeira] (2008), trouxe compreensão extremamente clara das
negociações públicas e secretas entre Irã, EUA e Israel, ao longo dos últimos 35
anos. Chega agora, em momento excepcionalmente oportuno, essa impressionante
continuação daquele trabalho, em que Parsi estuda os eventos desde a posse do
presidente Barack Obama em 2009.
O
novo governo começou com esperanças de abertura na direção do Irã, mas, apesar
do início promissor, não houve qualquer avanço diplomático. Parsi atribui esse
resultado à inflexibilidade em Teerã, Washington, Jerusalém e Riad. Políticos e
gabinetes interpretaram mal praticamente todos os sinais que chegavam do outro
lado, resistiram a demonstrações de flexibilidade, por medo de parecerem fracos,
e ignoraram os muitos esforços de países mediadores. O conflito acabou por
incorporar-se ao pensamento e às instituições de todos os países
envolvidos.
Teerã
não acreditou nos primeiros passos do governo Obama. O Irã ajudara os EUA a
expulsar os Talibã do Afeganistão em 2001 e a instalar lá um novo governo, no
ano seguinte; mas o governo George W Bush manteve a atitude de hostilidade.
Depois da derrubada de Saddam Hussein, pelos EUA, em 2003, o Irã movimentou-se
na direção de ampla abertura e diálogo com os EUA. Mas o movimento foi
rejeitado: os EUA não se interessaram por dialogar com o mal.
O
Irã, então, via pouca probabilidade de Obama conseguir livrar-se dos
impedimentos políticos que o bloqueavam. A escolha de Dennis Ross e Rahm Emanuel
como principais conselheiros não contribuiu para abalar o ceticismo dos
iranianos, para quem os dois sempre foram ativos militantes pró-Israel.
A
inimizade com os EUA já penetrou toda a máquina da administração e a identidade
nacional iranianas. Já é parte do que os iranianos são. E garante narrativa
poderosa de legitimação e justificação para o governo que, em outras
circunstâncias, estaria enfrentando crescente descontentamento popular em função
da economia estagnada.
Além
do mais, qualquer acordo com os EUA reduziria a capacidade do Irã para atrair
apoio da rua árabe, elemento importante de uma política já de vários anos para
enfraquecer os ditadores árabes e reduzir a influência dos EUA na região.
No
início do governo Obama discutiram-se vias para uma aproximação com o Irã –
promessa de campanha eleitoral do presidente e também do discurso de posse. O
Departamento de Estado e o Pentágono cogitaram de negociar questões do
Afeganistão, com a criação de um estado estável sem os Talibã, o que
interessaria aos EUA e ao Irã.
Mas
decidiu-se que qualquer colaboração com o Irã no Afeganistão poria os EUA em
posição de devedor, no início das negociações, muito mais críticas, sobre a
pesquisa nuclear. O governo Obama optou pela política híbrida de Dennis Ross, de
abrir negociações e, simultaneamente, aprofundar as sanções – cenoura e
porrete.
O
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e forças pró-Israel nos EUA não gostaram da
aproximação; e pressionaram forte na direção de prazos mais apertados e sanções
mais duras – cenoura menos atraente e porrete maior.
A
Arábia Saudita e outros estados sunitas também pressionaram o governo Obama na
direção de posição mais firme depois de tantas tolices e inação durante o
governo Bush. As ações do governo Bush no Afeganistão e o Iraque fortaleceram
tanto a influência do Irã, que os sauditas
et alii chegaram a considerar o risco de o Irã estar modelando as
políticas dos EUA – uma lição de que a obsessão pela segurança nacional e o
pensamento paranóico andam muito frequentemente de mãos dadas em muitas capitais
do mundo.
Os
estados sunitas também temeram que o interesse de Obama por alcançar algum
acordo pudesse levá-lo a ceder demais ao Irã. Isso poderia converter o Irã em
potência hegemônica no comando de potente movimento xiita na região, e levar à
expansão do Islã, em oposição e à custa dos governos
árabes.
Mas,
apesar das muitas pressões diplomáticas e domésticas, o novo presidente
manteve-se firme. Prosseguiriam os esforços para aproximação mais flexível na
direção de Teerã.
Até
que essa abordagem mudou, mas não pelas razões previstas. A fraude nas eleições
de 2009 e, em seguida, a repressão brutal da oposição, assustaram o governo
Obama e deram novas energias aos que o criticavam. Senadores e deputados
denunciaram o Irã no Congresso dos EUA e exigiram sanções mais agressivas. A
equação política havia mudado decisivamente.
Dividido
na questão de como responder, o governo cedeu à pressão do Congresso que exigia
sanções mais duras. As negociações levaram a nada e os dois países chegaram à
atual situação de crise. O que Israel e a Arábia Saudita não fizeram, para
conseguir mudar a política de Obama, o próprio Irã fez – e com grande
eficácia.
As
partes mais intrigantes do livro de Parsi são os perfis de políticos
israelenses, construídos a partir de entrevistas pessoais e declarações
públicas. Para Parsi, algumas figuras da política israelense são mais complexas
do que os pintam os porta-vozes e políticos dos dois lados do Atlântico.
Importante
para registrar, Parsi duvida que o Irã algum dia ataque Israel com arma nuclear.
Os aiatolás, segundo o ministro da Defesa e soldado altamente condecorado Ehud
Barak, são atores políticos pragmáticos que sabem que operam no cenário mundial,
e nada têm de “mulás doidos”.
É
discurso que não coincide com o que se lê e ouve, com israelenses sempre
clamando por ação, apresentando os clérigos iranianos como fanáticos
interessados em apressar o fim do mundo e a volta do Imã. Para Barak, os
aiatolás sabem que ataque nuclear a Israel não beneficiaria o Irã e, em qualquer
circunstância, levaria ao contra-ataque, imediato e devastador.
O
que mais preocupa os estrategistas israelenses é a certeza de que um Irã nuclear
provocaria grave dano à imagem de Israel como estado já plenamente implantado e
invencível; fortaleceria a posição dos políticos e militantes palestinos e, na
conclusão, obrigaria Israel a conceder um acordo de convivência que exigiria a
devolução de territórios. Parsi – o que é lamentável – não comenta nem avalia
esse raciocínio.
Parsi
cita o famoso comentário do ex-chefe do Mossad, Meir Dagan, ano passado, para o
qual a ideia de Israel atacar instalações nucleares iranianas seria “a ideia
mais estúpida que já ouvi”. Dagan crê que ataque desse tipo levaria a
conflagração regional de tal ordem que geraria “desafio de segurança que não
haveria como enfrentar”. Opiniões de Dagan – suspeito de estar no comando da
campanha de assassinatos de cientistas e atentados à bomba que têm ocorrido em
território iraniano – não podem ser tomadas como palpite de ativistas da
paz.
As
ameaças dos israelenses de atacar “unilateralmente” o Irã visam a forçar os EUA
a aprofundar as sanções, por mais que a ideia de atacar o Irã agrade a alguns
dos israelenses entrevistados: para esses, as sanções podem, no máximo, tornar
um pouco mais lento o ritmo dos avanços iranianos no programa atômico; ataques
aéreos podem forçar retrocesso bem mais significativo.
Mas
os estrategistas israelenses consideram a possibilidade de fracasso. No caso de
nem sanções nem ataques funcionarem, o Irã deve servir como caso exemplar para
outros países que venham a considerar a possibilidade de construir armas
nucleares. Construir ou mesmo tentar construir armas nucleares é movimento que
sempre custará sanções terríveis, que engessarão a nação por tempo
indefinido.
Mas
– fontes israelenses lembram, cautelosamente – usar o Irã como exemplo para
intimidar outros países que tentem arriscar-se na via do armamento nuclear pode
custar preço muito alto: debilitaria muito qualquer iniciativa de reforma
democrática; geraria um estado falido entre o Golfo Persa e o AfPak; e, afinal,
geraria um país armado com armas nucleares, ferido e em busca de
vingança.
O
que fazer? Na opinião de Trita Parsi, haverá longo período de contenção – que é
alternativa à guerra – gravemente minado por riscos de as tensões aumentarem e
de acontecerem atos acidentais de hostilidade. O autor propõe que se inicie nova
rodada de iniciativas diplomáticas; sanções menos drásticas; projeto de longo
prazo para a relação entre EUA e Irã; objetivos mais claros e mais bem
definidos, para as negociações; e que se busquem mediadores influentes, como a
Turquia.
Mas
muitos leitores não verão claramente que tipo de acordo seria possível, para a
questão nuclear, agora ou algum dia, que não implique os EUA e Israel aceitarem
os objetivos nucleares do Irã. Muitos temerão que a pesquisa iraniana e a
impaciência israelense não nos deixem tempo para um segundo lance de dados.
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