27/8/2012, MK
Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A reunião de cúpula MNA
começou em Teerã em 26 de agosto de 2012 e está programada para terminar em 31
de agosto. |
Tudo indica que a volta do Egito à
frente do Movimento dos Não Alinhados [1] será a grande notícia da semana que
sairá da Conferência que acontecerá em Teerã. O foco da conferência estará, como
se espera, apontado para três principais questões da Ásia Ocidental: a crise na
Síria, a questão nuclear iraniana e o florescimento das relações diplomáticas
entre Irã e Egito.
Teerã,
é claro, dá sinais de entusiasmo pela presença do presidente Mohamed Mursi do
Egito na Conferência.
Mursi
aceitou o convite para visitar as instalações da usina nuclear iraniana em
Bushehr. Que ninguém subestime o significado simbólico desse gesto.
Dito
em forma simplificada, o Egito torna público seu apoio ao direito de os
iranianos darem andamento a um programa nuclear para fins pacíficos. A falange
árabe de oposição ao Irã – que os EUA construíram tenazmente durante anos – está
em ruínas.
O estado de espírito no Irã pode
ser avaliado pelas declarações de um importante deputado, para o qual o Irã
aproxima-se de trabalhar em cooperação com o Egito no plano nuclear.
[2]
O
Cairo também fará o que puder para estimular a boa vontade dos iranianos. Mursi
dissera já há uma semana, na reunião da Organização de Cooperação Islâmica, que
o Egito gostaria de trabalhar com Arábia Saudita, Irã e Turquia, para buscar uma
solução para a crise síria. Agora, dá novos músculos à mesma ideia e parece
disposto a apresentá-la na Conferência dos Não Alinhados. Teerã já recebeu bem a
ideia, enquanto Arábia Saudita e Turquia estão fortemente pressionadas.
Sobretudo a Turquia, que já fala de impor zona aérea de exclusão na Síria, mesmo
sem autorização da ONU, como foi feito no início dos anos 1990s contra o Iraque
de Saddam Hussein.
Vê-se claramente que a Turquia
tenderá a favorecer a intervenção ocidental [3] e não se interessará pela proposta
dos egípcios, se não para alguns objetivos táticos. A (re)entrada do Egito na
linha de frente da política árabe/no Oriente Médio, não é evento que a Turquia
aprecie, Turquia que alimenta sonhos neo-otomanos de ascender à liderança do
Oriente Médio muçulmano (ao mesmo tempo em que quer aparecer como parceira
confiável do ocidente).
Já
se vê bem claramente que Mursi está atrapalhando as esperanças de Recep Erdogan,
Primeiro-Ministro turco, de converter-se em rock star da rua árabe.
O
melhor resultado da Conferência do Movimento dos Não Alinhados será frustrar
qualquer plano dos EUA de iniciar guerra contra o Irã.
De
fato, o Irã usará a conferência para conquistar o maior apoio possível para sua
posição relativa à questão nuclear. Feitas as contas, vai-se tornando cada dia
mais problemático para os EUA construir algum ataque militar ao Irã durante os
próximos três anos, quando o país estará na presidência do Movimento dos Não
Alinhados. E há quem creia que, sem alarde, o presidente Barack Obama está bem
satisfeito com esse desdobramento.
No
balanço geral, vê-se que a Conferência do Movimento dos Não Alinhados augura um
capítulo novo na política do Oriente Médio.
As relações entre Irã e Egito
desandaram depois que o Cairo deu asilo diplomático ao Xá e assinou a paz com
Israel em 1978. Hoje, Egito e Irã estão restaurando relações, movimento que se
pode converter em ponto de virada na geopolítica da região. As políticas
sauditas foram empurradas para uma encruzilhada. E isso explica o incansável
ataque, pela imprensa do establishment saudita [4] contra a Primavera Árabe e a
Fraternidade Muçulmana egípcia.
Minha
opinião é que movimentos laterais, aos quais se está dando pouca atenção,
implicam que Teerã planeja ser presidente “responsável” dos Não Alinhados, que
buscará conduzir o navio sem controvérsias ou movimentos teatrais.
Paradoxalmente, ocupar a presidência do MNA impõe restrições ao Irã, goste ou
não goste.
O Irã também está agudamente
consciente de que tem agora, à mão, grande oportunidade para aparecer num dos
postos de liderança da política mundial, e de que não a pode desperdiçar. Por
isso, Teerã convidou o Presidente palestino Mahmoud Abbas à Conferência do MNA,
mas não convidou o Hamás. Mais do que isso: Teerã optou por desmentir a
impressão [5] dada por membros do governo
palestino em Gaza, de que a decisão de não comparecer à conferência do MNA teria
sido tomada por Mohammed Haniyeh.
Notas de
rodapé
[1] 27/8/2012, PressTV, em: “NAM
must play more active international, regional role: Egypt”.
[2] 26/8/2012, Fars News
Agency em: “MP Hopes for Start
of Iran-Egypt N. Cooperation after Mursi’s Visit to Bushehr Plant”.
[3] 25/8/2012, Hurriyet Daily News, Murat Yetkin em: “No-fly
zone over Syria is on the table”.
[4] 26/8/2012, Asharq
Alawsat, Tariq Alhomayed em: “The fair and the
Brotherhood!”.
[5] 26/8/2012, The Jordan Times (AFP), em: “Gaza
PM Haniyeh will not attend Tehran summit”.
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MK Bhadrakumar*
foi
diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União
Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão,
Uzbequistão e Turquia. É especialista em
questões do
Afeganistão e Paquistão
e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais The
Hindu, Asia
Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994),
famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de
Kerala.
Interessante... Teerã convida Mursi, que é do partido da Irmandade Muçulmana, e não convida representantes do Hamás, partido palestino umbilicalmente ligado à Fraternidade Muçulmana. Vá entender...
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