terça-feira, 28 de agosto de 2012

Movimento dos Não Alinhados (MNA): Oportunidade que o Irã não desperdiçará


27/8/2012, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The NAM summit kicked off in Tehran on August 26, 2012 and is scheduled to end on August 31.
A reunião de cúpula MNA começou em Teerã em 26 de agosto de 2012 e está programada para terminar em 31 de agosto.
Tudo indica que a volta do Egito à frente do Movimento dos Não Alinhados [1] será a grande notícia da semana que sairá da Conferência que acontecerá em Teerã. O foco da conferência estará, como se espera, apontado para três principais questões da Ásia Ocidental: a crise na Síria, a questão nuclear iraniana e o florescimento das relações diplomáticas entre Irã e Egito.

Teerã, é claro, dá sinais de entusiasmo pela presença do presidente Mohamed Mursi do Egito na Conferência.

Mursi aceitou o convite para visitar as instalações da usina nuclear iraniana em Bushehr. Que ninguém subestime o significado simbólico desse gesto.

Dito em forma simplificada, o Egito torna público seu apoio ao direito de os iranianos darem andamento a um programa nuclear para fins pacíficos. A falange árabe de oposição ao Irã – que os EUA construíram tenazmente durante anos – está em ruínas.

O estado de espírito no Irã pode ser avaliado pelas declarações de um importante deputado, para o qual o Irã aproxima-se de trabalhar em cooperação com o Egito no plano nuclear. [2]

O Cairo também fará o que puder para estimular a boa vontade dos iranianos. Mursi dissera já há uma semana, na reunião da Organização de Cooperação Islâmica, que o Egito gostaria de trabalhar com Arábia Saudita, Irã e Turquia, para buscar uma solução para a crise síria. Agora, dá novos músculos à mesma ideia e parece disposto a apresentá-la na Conferência dos Não Alinhados. Teerã já recebeu bem a ideia, enquanto Arábia Saudita e Turquia estão fortemente pressionadas. Sobretudo a Turquia, que já fala de impor zona aérea de exclusão na Síria, mesmo sem autorização da ONU, como foi feito no início dos anos 1990s contra o Iraque de Saddam Hussein.

Vê-se claramente que a Turquia tenderá a favorecer a intervenção ocidental [3] e não se interessará pela proposta dos egípcios, se não para alguns objetivos táticos. A (re)entrada do Egito na linha de frente da política árabe/no Oriente Médio, não é evento que a Turquia aprecie, Turquia que alimenta sonhos neo-otomanos de ascender à liderança do Oriente Médio muçulmano (ao mesmo tempo em que quer aparecer como parceira confiável do ocidente).

Já se vê bem claramente que Mursi está atrapalhando as esperanças de Recep Erdogan, Primeiro-Ministro turco, de converter-se em rock star da rua árabe.

O melhor resultado da Conferência do Movimento dos Não Alinhados será frustrar qualquer plano dos EUA de iniciar guerra contra o Irã.

De fato, o Irã usará a conferência para conquistar o maior apoio possível para sua posição relativa à questão nuclear. Feitas as contas, vai-se tornando cada dia mais problemático para os EUA construir algum ataque militar ao Irã durante os próximos três anos, quando o país estará na presidência do Movimento dos Não Alinhados. E há quem creia que, sem alarde, o presidente Barack Obama está bem satisfeito com esse desdobramento.

No balanço geral, vê-se que a Conferência do Movimento dos Não Alinhados augura um capítulo novo na política do Oriente Médio.

As relações entre Irã e Egito desandaram depois que o Cairo deu asilo diplomático ao Xá e assinou a paz com Israel em 1978. Hoje, Egito e Irã estão restaurando relações, movimento que se pode converter em ponto de virada na geopolítica da região. As políticas sauditas foram empurradas para uma encruzilhada. E isso explica o incansável ataque, pela imprensa do establishment saudita [4] contra a Primavera Árabe e a Fraternidade Muçulmana egípcia.

Minha opinião é que movimentos laterais, aos quais se está dando pouca atenção, implicam que Teerã planeja ser presidente “responsável” dos Não Alinhados, que buscará conduzir o navio sem controvérsias ou movimentos teatrais. Paradoxalmente, ocupar a presidência do MNA impõe restrições ao Irã, goste ou não goste.

O Irã também está agudamente consciente de que tem agora, à mão, grande oportunidade para aparecer num dos postos de liderança da política mundial, e de que não a pode desperdiçar. Por isso, Teerã convidou o Presidente palestino Mahmoud Abbas à Conferência do MNA, mas não convidou o Hamás. Mais do que isso: Teerã optou por desmentir a impressão [5] dada por membros do governo palestino em Gaza, de que a decisão de não comparecer à conferência do MNA teria sido tomada por Mohammed Haniyeh.



Notas de rodapé
[3] 25/8/2012, Hurriyet Daily News, Murat Yetkin em: No-fly zone over Syria is on the table”.
[4] 26/8/2012, Asharq Alawsat, Tariq Alhomayed em: “The fair and the Brotherhood!.
[5] 26/8/2012, The Jordan Times (AFP), em: Gaza PM Haniyeh will not attend Tehran summit.

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MK Bhadrakumar* foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The HinduAsia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

Um comentário:

  1. Interessante... Teerã convida Mursi, que é do partido da Irmandade Muçulmana, e não convida representantes do Hamás, partido palestino umbilicalmente ligado à Fraternidade Muçulmana. Vá entender...

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