7/8/2012, Michael Wolff, Commondreams
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A
realidade da arrecadação de fundos para campanhas eleitorais é que os “doadores”
sempre recebem menos do que esperavam. A quem interessa, afinal, esse mar de
dinheiro? A resposta é simples: às empresas de comunicações e à
empresa-imprensa, com seus muitos tentáculos.
O
que, afinal, esse mar de dinheiro – 2012 é a mais cara campanha eleitoral de
todos os tempos – compra?
São 750
milhões de dólares para a presidência, números da campanha de Obama; Mitt Romney
disse que sua campanha custará 800 milhões de dólares; e há mais algumas
centenas de milhões, em dinheiro dos Super PAC. [1]
E
o que obtêm as pessoas e empresas que apostam essa montanha de dinheiro em troca
de influência política? Ou, pergunta mais direta: o que esse pessoal pensa? Por
que ainda acreditam nessa “ferramenta”?
Pelo
sim, pelo não, aqui vai o relatório de minhas doações de dinheiro para
candidatos em eleições:
Tenho
um amigo Democrata de fundo de investimentos em Massachusetts, que resolveu
fazer carreira política. Já era umas 100 vezes mais rico que eu, mas, certo como
o inverno, ele sempre aparecia pedindo mais dinheiro e mais dinheiro. (Eu ouvira
dizer que o governador de Massachusetts põe qualquer um em Harvard. Então,
pensava comigo, essa grana é pelas crianças.) Mas ele jamais venceu eleição
alguma, mas infelizmente para mim, nunca desistiu de concorrer. E eu lá,
assinando cheque depois de cheque, para que ele conseguisse disputar, perder e
voltar, pedindo mais grana.
Também
ajudei com cheques a campanha de Bill Clinton em 1992. Eu queria, então, uma
coisa específica: ajuda para editar um livro que acabava de escrever. Acreditei
num super arrecadador de dinheiro de campanha eleitoral (é profissão!), que
disse que se eu ajudasse com a contribuição máxima, ele levaria o meu pedido de
ajuda diretamente ao candidato – “não há erro”, disse ele. A última vez que o
vi, ele metia o meu cheque, dobrado, na própria carteira.
Dia
seguinte, o homem morreu tragicamente num acidente de avião. Mas não sem, antes,
ter depositado o meu cheque. Assim sendo, fiquei sem a ajuda – mas, como
milhares de outros, recebi meu convite unitário, pessoal e intransferível para a
cerimônia de posse.
...
a mídia-empresa vive de por fogo nos desentendimentos entre políticos e seus
eleitores, ao mesmo tempo em que lucra diretamente com os incêndios que provoca.
Sheldon Adelson |
Sheldon
Adelson é um dos maiores doadores da atual campanha (segundo alguns suas doações
já alcançam 100 milhões de dólares), primeiro para Newt Gingrich, agora para
Romney, e acompanhou o candidato Republicano e sua entourage na visita
que fizeram a Israel. Deve ser exatamente o que Adelson procura: algumas viagens
divulgadas, ver o próprio nome nos jornais, um pouco de intervenção nas relações
EUA-Israel, um pouco de orgulho baseado na fé. Sim, mas... Terá conseguido algum
tipo de real influência no mundo político?
Não
vejo como os dois teriam qualquer tipo de afinidade: o judeu pobre que faz
fortuna no mundo dos cassinos e jogatina, e o mórmon de classe alta, para quem
jogar e beber são tabu. Sejamos práticos: com tal investimento político, Adelson
se torna, isso sim, uma pulga monstro na camisola do pessoal de Romney.
Esse
pessoal consome tanto tempo arrecadando dinheiro quanto, depois, tentando passar
a perna nos mesmos dos quais arrancaram dinheiro. Precisamente porque Adelson
suporá que lhe devem muito, mais ele será rejeitado, ridicularizado, manobrado
pela Casa Branca de Romney (se chegar a existir). Migalhas e desprezo: eis o que
tocará a Adelson.
É
possível que, naquela idade e com fortuna de 25 bilhões, ainda lhe interesse uma
última subida ao palco público (todos os grandes doadores de campanha são homens
idosos). Mas acho que isso também virará cinza: passadas as eleições, a imprensa
apaga do mundo o nome dos doadores. (O que não significa que os doadores deixem
de ser procurados para doar mais dinheiro.)
Os
apoiadores da corretora Bain, de Romney, terão melhor senso de equilíbrio? Será
que todos só põem dinheiro no cavalo Romney?
A
estratégia de todos os caras de fundos privados que conheço – exceto os que,
como aquele meu amigo e Mitt Romney, queiram virar políticos – é voar abaixo dos
radares. Como agora aposta o presidente Obama, não há possibilidade de muita
gente entender o negócio dos fundos privados – e menor ainda é a chance de
aprovarem, caso venham a entender alguma coisa. Portanto, mesmo que Romney seja
eleito, e os fundos privados consigam uma Casa Branca amigável, a única coisa
que terão comprado com seus milhões de dólares investidos em campanhas
eleitorais é um vastíssimo problema de desprestígio das respectivas marcas
comerciais.
Para
os doadores, mesmo assim, há o sentimento de que se engajam nas grandes disputas
nacionais. Contribuir com uns poucos dólares, ou com uns poucos milhares de
dólares – ou, se você tem bilhões, com a fatia equivalente em milhões de dólares
– é uma espécie de interatividade. Você é parte do todo. Você significa. Você
conseguiu. Você faz diferença.
É
como postar um comentário na internet. Contudo... quantos comentaristas de
internet dão a impressão de ser gente satisfeita, realizada, ativa? Não.
Engajamentos desse tipo parecem ser, majoritariamente, atividade dos irados,
furiosos, hostis, mal-humorados, azedos, biliosos. Meu palpite é que o que anima
um comentarista de internet é muito semelhante ao que leva contribuidores de
campanha a assinar cheques: contribuo porque estou furioso, ou doido.
Como
se vê facilmente, as estratégias de campanha político-publicitária são
orientadas pela premissa de que falar mal é emoção mais forte do que falar bem:
convocar para destruir é mais eficaz do que convocar para construir.
A
política é hoje a província dos infelizes, azedos e choramingas; talvez, porque,
tendo pago, as pessoas sintam-se tungadas. (Ou, talvez, porque, tendo pago, as
pessoas suponham que passariam a ter direito de se automanifestar, elas mesmas).
O
visível desapontamento de muitos que apoiaram Obama em 2008 é, com certeza,
amplificado pelo fato de que, naquela espantosa avançada de pequenas
contribuições, tantos tenham percebido que estavam sendo obrigados a pagar pelo
privilégio de serem “representados”.
Mas
alguém tem o direito a extrair algum proveito dessa eleição de 2 bilhões de
dólares, além do eleito.
Esse
é o ponto no qual, parece, todas as análises dos financiamentos de campanha
eleitoral perdem gravemente o rumo: quando apontam, como objetivo oculto dos 2
bilhões, a mera compra de influência escusa e indireta. Melhor fariam todos se
observassem mais direta e exatamente quem embolsa a grana e, portanto, quem tem
interesse em promover o jogo e mantê-lo exatamente como é.
Em
primeiro lugar nessa
lista, aparece a mídia-empresa. A política eleitoral presidencial é, hoje, a
diferença entre o lucro e o prejuízo para muitas redes de televisão nos estados
“oscilantes” (e em todos eles há sempre uma ou duas grandes empresas de
televisão e comunicações que reinam, dominantes).
Se
se presta atenção a quem tem o maior interesse financeiro em manter as divisões
partidárias e a hostilidade entre elas, na política contemporânea, só se vê, com
destaque, um agente: o negócio da imprensa-empresa, as gigantes da comunicação.
É conflito estranhíssimo: a mídia-empresa vive de por fogo nos desentendimentos
entre políticos e seus eleitores, ao mesmo tempo em que lucra diretamente dos
incêndios que provoca.
Em
segundo lugar,
aparecem as agências de publicidade, que compram espaço na mídia. Plantados
entre o doador de campanha e o destinatário do dinheiro, está o pessoal que, de
fato, gasta a dinheirama arrecada. Em muitos casos, recebem uma fatia do
dinheiro: uma percentagem da venda de anúncios (em geral entre 8% e 15%), vai
diretamente para eles. É o negócio dos intermediários e operadores políticos:
consultores contratados em todas as campanhas (em todos os níveis e planos em
que haja eleições) e, atualmente, nos EUA, também os Super Pacs que, todos, se
converteram em grandes compradores de tempo na grande mídia-empresa em todo o
país. (O que é o mesmo que dizer que os Super Pacs são hoje negócio altamente
lucrativo.)
Karl Rove |
Karl
Rove não assessora o American Crossroads
Super PAC, de graça.
Na
essência, esse pessoal que define os termos da disputa – quanto mais dinheiro
gasto, mais acirrada a disputa – que determina o tom da campanha, que define o
custo das campanhas e que administra o caixa da campanha, é quem mais ganha,
diretamente, do dinheiro arrecadado e gasto.
Todos
os demais envolvidos ganham sempre muito menos do que esperavam.
Nota dos
tradutores
[1] O Super
PAC é a mais nova besta que emergiu de unirem-se duas regras criadas
pela Suprema Corte, uma delas de 2010. Oficialmente chamado “comitê independente
para administrar gastos de campanhas eleitorais”, o Super PAC logo se converteu em meio pelo
qual grupos de influência passaram a operar diretamente nas eleições. O Super
PAC é muito semelhante aos tradicionais PACs (Political Action Committee/Comitê de
Ação Política), mas livre de muitas das limitações que pesavam sobre os PACs. Por exemplo, um Super PAC pode arrecadar e gastar
quantias ilimitadas de dinheiro com o exclusivo propósito de apoiar ou fazer
oposição a candidatos ou a políticos eleitos. Um Super PAC pode viver exclusivamente para
atacar um ou mais candidatos. O único impedimento é que não pode haver ligação
de coordenação direta entre um Super
PAC e algum candidato ou partido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.