Enviado
pelo pessoal da Vila Vudu
Publicado
inicialmente no sítio Página
PT13
Agosto de 2012 será um mês tenso. Em primeiro lugar no terreno internacional, onde se destacam quatro conflitos.
Independentemente
da avaliação que façamos sobre Assad, o partido Baath e o regime existente
naquele país, o que está em curso não é propriamente uma rebelião pela
democracia, mas sim uma batalha geopolítica impulsionada pelos Estados Unidos e
aliados.
Uma
eventual deposição de Assad não resultará em democracia, nem bem-estar na Síria.
Quem duvida disto, deve olhar o que se passou no Afeganistão, Iraque e Líbia. O
que teremos será mais instabilidade regional e a estrada aberta para um ataque
direto contra o Irã.
O
que parece estar muito claro para a presidenta Dilma, mas não parece estar tão
claro para setores do Itamaraty, que têm dado declarações, subscrito notas e
aprovado resoluções aparentemente imparciais, mas que na melhor das hipóteses
demonstram falta de percepção acerca do que efetivamente está em jogo.
É
preciso que o Brasil adote uma postura mais forte, não apenas contra a
intervenção militar estrangeira na Síria, mas também denunciando a intervenção
militar que já está em curso.
O
segundo conflito é a crise na Europa
Como
era previsível, a vitória dos Socialistas franceses não alterou o curso geral da
política da União Européia. Isto significa que principalmente Espanha, Itália e
Portugal –além de Grécia—continuam submetidos ao estrangulamento de suas
políticas sociais e a perda da soberania nacional. Embora a esquerda consequente
esteja presente, mobilizada e crescendo, a ultra-direita está se fortalecendo
(vide os resultados obtidos na Grécia e na França pelo nacionalismo fascista e
racista) e na prática imediata tem ajudado a dar maior liberdade para a política
externa dos Estados Unidos.
É
preciso que o PT e a esquerda latinoamericana tirem os ensinamentos da crise
européia, não apenas no que diz respeito à natureza periodicamente catastrófica
do capitalismo, mas também quanto ao caminho para superar o neoliberalismo, que
passa por derrotar o capital financeiro e as transnacionais. Sem ter isso claro,
o destino da esquerda social-democrata será o pântano
social-liberal.
O
terceiro conflito que marca a conjuntura internacional é a campanha eleitoral na
Venezuela
Hugo
Chávez segue liderando as pesquisas e, por isto mesmo, a direita latinoamericana
e seus patrões gringos buscam pintar um quadro eleitoral diferente do real,
preparando o ambiente para um questionamento pós-7 de outubro.
Deste
ponto de vista, a integração da Venezuela ao MERCOSUL, além de vantajosa para
todos os países e para o processo regional, constitui também um instrumento de
proteção para a chamada Revolução Bolivariana, contra eventuais tentativas de
intervenção estrangeira.
É
preciso acelerar a integração, ampliar o mais rapidamente que for possível o
MERCOSUL –através da adesão de Equador e Bolívia, fortalecer os mecanismos da
UNASUL e, também, apoiar a esquerda paraguaia, para que derrote nas ruas e nas
urnas o golpismo.
Para
tudo isto, é importante ampliar os recursos humanos e materiais dedicados à
atuação internacional do PT.
O
quarto conflito é a eleição presidencial, em novembro, nos Estados Unidos
Embora
o mais provável ainda seja a vitória de Obama, não devemos subestimar a força da
direita cavernícola expressa pela candidatura republicana. Nem devemos esquecer
que Obama –no terreno da política externa—assumiu a pauta da direita do Partido
Democrata, capitaneada pela senhora Hillary Clinton. Ou seja, se a vitória de
Romney projeta uma hecatombe, a de Obama não significa um desanuviamento. Neste
sentido, uma alternativa positiva só pode surgir da organização político-social
independente da classe trabalhadora estadunidense, a começar pelos migrantes
latinos.
No
cenário nacional, o mês de agosto de 2012 também será muito
tenso
De
cara, temos o julgamento, no Supremo Tribunal Federal, do chamado
mensalão.
Dizemos
do chamado, porque o próprio autor do termo –o então deputado
Roberto Jefferson, ainda hoje dirigente do Partido Trabalhista Brasileiro—
reconheceu em seu depoimento à Justiça que ele inventou este
termo, admitindo não ter existido pagamento mensal para que parlamentares
votassem de acordo com as posições do governo federal.
Dizemos
julgamento no STF, mas deveríamos acrescentar: &
linchamento na mídia. Os grandes meios de comunicação estão alinhados em
torno de uma posição única, que lembra a rainha de Alice no País das Maravilhas:
cortar cabeças (no caso, condenar e
prender).
Como
não existe mobilização social –nem a favor, nem contra os réus—os meios de
comunicação estão fazendo um esforço imenso para provocar tal mobilização, seja
nas ruas, seja nas urnas, direcionando-a contra o PT.
Para
isto, fazem uma cobertura totalmente parcial do julgamento. Exemplo desta
cobertura parcial é o silêncio acerca dos dois pesos e duas medidas adotados
pelo Supremo Tribunal Federal, no tratamento do chamado mensalão (que certa
imprensa adjetiva como petista) versus o tratamento dado ao caso
envolvendo tucanos (que a mesma imprensa prefere chamar de mensalinho
mineiro).
O
caso tucano ocorreu antes, mas ainda não foi a julgamento; e neste caso, o STF
decidiu desmembrar o processo. No caso que envolve réus petistas, manteve tudo
no Supremo e antecipou o julgamento. E não por acaso as sessões foram marcadas
para iniciar em agosto, coincidindo com as eleições
municipais.
A
verdade é que a mídia monopolista está fazendo um brutal esforço para que os
réus sejam condenados, especialmente aqueles cuja condenação possa causar danos
ao Partido dos Trabalhadores.
Como
não podia deixar de ser, a desfaçatez e a hipocrisia da direita geram um
movimento de solidariedade aos réus vinculados ao Partido. É natural que isto
ocorra: embora o Partido não esteja sob julgamento, esta é a pretensão da
direita e da mídia. Neste contexto, é importante deixar clara nossa posição, até
para que não se confunda a defesa irrestrita que fazemos do Partido frente a
direita, com a defesa, esquecimento ou anistia dos erros
cometidos.
Em primeiro
lugar, reiteramos as posições que defendemos
acerca das causas da crise de 2005, acerca dos erros políticos cometidos por
importantes dirigentes do Partido, acerca do pano de fundo estratégico destes
erros, bem como reiteramos a defesa que o PT faz sobre a necessidade de adotar o
financiamento público de campanhas eleitorais. Esta posição pode ser assim
resumida: o financiamento privado empresarial gera uma democracia corrompida,
como a que existe nos Estados Unidos, onde como disse um famoso escritor,
pode-se ter o melhor governo que o dinheiro pode
comprar.
Por
isto mesmo, reiteramos nosso posicionamento e nosso voto, nos debates travados
no interior do Partido dos Trabalhadores. Seja na eleição das direções
partidárias, seja no Diretório Nacional, seja nos temas éticos, votamos contra
os que colocaram em risco a sobrevivência do PT.
Em segundo
lugar, entendemos que o
julgamento político cabível num Partido, não cabe na Justiça. Os critérios do
Partido, não são os critérios da Justiça. O que é legal para a Justiça, não
necessariamente é legítimo para o Partido. E o que é legítimo para o Partido,
não necessariamente é legal perante a Justiça. É o caso, por exemplo, das
ocupações de terra.
Também
por isto, sempre criticamos submeter à Justiça Eleitoral as decisões adotadas
pelo Partido (como fizeram, para citar dois exemplos politicamente opostos,
tanto Wladimir Palmeira em 1998 quanto João da Costa em
2012).
A
ausência de controle democrático, a falta de transparência, os critério de
seleção e promoção, o modus operandi,
aliado a legislação voltada no fundamental para defender o status quo e o
direito dos grandes proprietários privados, fazem da Justiça o terreno
privilegiado da burguesia, não da classe trabalhadora.
Mesmo
assim, no Supremo Tribunal Federal e em qualquer outra instância judicial,
exigimos que eventuais condenações estejam baseadas na lei, sustentadas em
provas, com pleno direito à defesa, cabendo ao acusador o ônus de provar,
garantida a inocência do acusado até prova em contrário. Estas são as premissas
básicas para que, mesmo quando questionamos o mérito das decisões, elas possam
ser formalmente legítimas.
A
oposição de direita e a mídia monopolista não estão preocupadas com isto.
Pretendem que o Supremo Tribunal Federal atue como seu Partido, ou seja: que no
comando esteja a política que defendem, não a Lei. Por isso, se a aplicação da
Lei indicar que os réus devem ser absolvidos, eles buscarão corrigir a conhecida
máxima da seguinte forma: aos amigos tudo, aos inimigos nem mesmo a
Lei.
Sabendo
disto, mesmo levando em consideração que há réus contra os quais não há provas
que permitam uma condenação; mesmo lembrando as surpresas positivas que podem
derivar da composição e do funcionamento do Supremo Tribunal Federal; mesmo
considerando que a pressão excessiva por parte da mídia pode provocar, sobre
alguns ministros do Supremo, um efeito oposto ao pretendido pela direita;
devemos preparar politicamente o Partido para a condenação de diversos réus
ligados ao PT, o que terá algum impacto sobre o transcorrer das eleições e sobre
seu resultado final, especialmente se as penas forem
duras.
Devemos
nos preparar, não exatamente para um impacto direto sobre as intenções de voto
do grande eleitorado, que em 2006 e 2010 já se manifestou, reelegendo Lula e
Dilma; sendo que a preferência popular pelo PT é hoje superior a dos demais
partidos somados. Mas uma eventual condenação pode impactar tanto em situações
municipais específicas, quanto na capacidade de mobilização militante do
petismo, extremamente necessária em algumas cidades, especialmente nas semanas
que antecedem o horário eleitoral gratuito.
Além
disso, uma condenação terá impacto de médio prazo sobre a imagem do PT, em
alguns setores da população. Não podemos subestimar os efeitos da campanha
corrosiva, insidiosa e cotidiana que se faz contra nosso Partido; ao invés de
subestimar, nos cabe defender o PT, reconhecer e corrigir os erros, enfrentar e
derrotar a direita.
************
Um
segundo elemento do cenário nacional é, exatamente, a eleição municipal. Na
maior parte do país, ainda estamos numa fase de aquecimento das campanhas: só
nos últimos dez dias deste mês de agosto, com o início da campanha na televisão,
é que a campanha vai tomar conta do cotidiano nacional.
Será
neste momento que veremos quais candidaturas petistas souberam apropriar-se da
força do voto potencial no PT; e quais candidaturas aparecerão, aos olhos do
eleitor médio, como sendo as sintonizadas com a obra dos governos Lula e Dilma.
Sintonia que é fortemente disputada, contra o PT, por partidos que fazem parte
da base do governo, conduzindo a uma situação perigosa, que alguns querem
resolver de maneira tão perigosa quanto: ampliando o espaço do
PMDB.
Ainda
é cedo para avaliações definitivas, mas é preciso entretanto acender o sinal
amarelo: se dependesse da situação atual, o quadro nacional estaria mais para
negativo do que para positivo. Motivo pelo qual não basta esperar que as coisas
melhorem, após o início do horário eleitoral gratuito. É preciso fazer um
esforço imenso para mobilizar a militância e politizar as campanhas, inclusive
para neutralizar a tentativa que a mídia faz para desgastar o
PT.
*
É
preciso levar em conta, também –este é o terceiro elemento do cenário nacional—
que o resultado eleitoral está fortemente vinculado ao maior ou menor êxito do
governo, nas medidas que visam manter a atividade econômica em níveis
compatíveis com a geração de empregos e salários de qualidade. Deste ponto de
vista, a batalha contra o setor financeiro e contra as transnacionais segue na
ordem do dia.
Motivo
pelo qual apoiamos os trabalhadores da General Motors. As demissões, apesar dos
subsídios e incentivos recebidos do governo por todo o setor automobilístico,
constituem nada menos que um acinte. Frente a isto, esperamos do ministério da
Fazenda uma atitude pelo menos tão firme quanto a da presidenta Dilma, que já
deixou claro que subsídio deve estar vinculado a manutenção de
empregos.
Neste
sentido, nos congratulamos com as posições firmes adotadas pela Central Única
dos Trabalhadores e reiteramos a necessidade do movimento social se manter
mobilizado em torno de suas demandas. Pelos mesmos motivos, reafirmamos o
conteúdo da nota Valorização do funcionalismo, encaminhada por nós à
direção nacional do Partido dos Trabalhadores.
Tal
nota encerra dizendo que:
A valorização do
funcionalismo público não pode ser interditada em nome de suposta necessidade de
contingenciamento orçamentário. A experiência dos anos recentes já demonstrou
que a melhor maneira de enfrentarmos os efeitos (e as raízes) da crise econômica
internacional é aumentar o gasto público com equivalente aumento da capacidade
geral do Estado em prover serviços e infraestrura de qualidade para o conjunto
da população. Cabe ao PT cumprir um papel ativo na tentativa de fortalecer os
canais de diálogo e negociação efetiva entre o governo e o movimento sindical do
funcionalismo.
A
atitude do governo em relação às reivindicações do funcionalismo está
estruturalmente relacionada com o esgotamento da estratégia de crescimento
via ampliação do consumo de massas, sem mudanças na estrutura de investimentos,
produção e propriedade.
É
óbvio que o acréscimo no poder de compra do funcionalismo, com os justos
aumentos pedidos, vai pressionar a demanda. Mas este problema não pode ser
resolvido como deseja o setor conservador da equipe econômica, que parece
acreditar que este problema pode ser resolvido voltando ao velho método do
arrocho que tanto combatemos.
A
solução virtuosa passa pela ampliação combinada dos investimentos, da produção e
do consumo. Temas que precisam entrar urgentemente na pauta de discussão do
Partido, antes que o debate sobre a estratégia de crescimento se torne a questão
política central da oposição contra nós.
As
dificuldades do mês de agosto confirmam, portanto, algo que temos destacado
desde 2005: nosso Partido precisa retomar o debate estratégico.
A
defesa do socialismo e das reformas estruturais, como a agrária e a urbana; a
reconstrução do campo democrático-popular, envolvendo os partidos de esquerda e
os movimentos sociais em torno de um programa de transformações; a reforma
política, a democratização da comunicação, as medidas de proteção da economia e
da soberania nacionais; assim como a ampliação da nossa organicidade militante
precisam receber atenção permanente, de uma direção partidária que pretenda ser
algo mais do que administradora de campanhas eleitorais
bianuais.
Brasília,
13 de agosto
A Direção Nacional da Articulação de Esquerda
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