3/8/2012, Pepe Escobar, Asia Times Online - The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
A
Agência Reuters demorou a receber autorização para noticiar que o presidente
Barack Obama dos EUA aprovou documento de inteligência [1] liberando a CIA para soltar a mão
no apoio que dá aos “rebeldes” armados que lutam pela mudança de regime na
Síria.
Agora,
qualquer pescador em Fiji já sabe sobre esse “segredo” (para nem falar que todos
e mais os vizinhos, na América Latina, também descobriram umas coisinhas sobre
as aventuras de mudança de regime da CIA). A Reuters, cautelosamente, apresenta
o apoio como “circunscrito”. É palavra-código para “comando por trás dos
panos”.
Sempre
que a CIA quer vazar alguma coisa, usa escriba de confiança, como David Ignatius
do Washington Post. Já desde 18/7 Ignatius reproduzia seu
briefing, [2] segundo o qual
“a CIA está trabalhando com a oposição síria há várias semanas, sob orientação
não letal (...) Legiões de agentes da inteligência de Israel também operam ao
longo da fronteira da Síria, embora guardando máxima discrição”.
Que
lindo. Quanto de “máxima discrição” alguém consegue manter ao longo das
fronteiras da Síria? Instagram de um bando de caminhoneiros sorridentes?
E
sobre “máxima discrição” em matéria de Mossad , dizem os
especialistas em
Telavive que Israel consegue “controlar” o enxame de
jihadistas wahhabistas e salafistas linha duríssima que infestam a Síria.
Apesar da evidente total piração, um
ponto altamente sumarento aparece aí bem claro: Israel já se amancebou e anda
metida nos panos com islamistas de estilo al-Qaeda.
Isso
significa que o Exército-Nada-Livre-Sírio, infestado de Irmãos da Fraternidade
“Duro de Matar” Muçulmana e infiltrado por jihadistas salafistas, segue
agora não apenas a agenda de seus financiadores e vendedores/doadores de armas –
a Casa de Saud e o Qatar – mas, também, a agenda de Telavive, mancomunada com
Washington e seus poodles marca-registrada Londres & Paris. Quer
dizer: já não se trata de guerra por procuração: agora se trata de guerra por
procuração múltipla e concêntrica.
Conheçam o triângulo da
morte
A
agenda de Telavive é clara: governo sírio enfraquecido; exército desorganizado
tipo entra-quem-quer; ódio sectário distribuído a mancheias; e incontido
deslizamento rumo à balcanização. A meta geral final: além de libanização, também a somalização da Síria e arredores.
Centro de Controle em Iskenderun |
A
agenda da Turquia permanece inacreditavelmente obscura – exceto pelo delírio
desejante de ver a Síria pós-Assad converter-se em versão civilizada edulcorada
(o que nunca acontecerá) do reinado do partido AKP em Ankara.
Como
esse Asia Times Online tem noticiado há meses, a Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) até há pouco tempo dirigia um centro de controle e
comando em Iskenderun, na província de Hathay. Recentemente, vazou afinal para a
Reuters a notícia de que há uma base “secreta” conjunta turco-qatari-saudita em
Adana, a 100
quilômetros da fronteira síria. Adana é onde vive o
monstro Incirlik – imensa base da OTAN. Fonte local de nosso Asia Times
Online tem informado sobre frenético movimento de cargas em Incirlik.
Base de Incirlik na Turquia |
Foi
o próprio Vice-Ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita Abdulaziz bin
Abdullah al-Saud quem exigiu, pessoalmente, que a base fosse instalada ali, para
delícia de Ankara.
Ankara-Riad-Doha
– aí está o triângulo da morte. Mas vem do Qatar, mais uma vez, a conversa que
mais decisivamente está “comandando por baixo dos panos”. A Turquia carrega o
piano militar: a CIA mantém-se em posição de “não estamos aqui”; e o Qatar só
faz tirar fotos de paisagens, como turista inocente (ao mesmo tempo em que
comanda operações usando os próprios serviços militares de inteligência). Quem
sua a camisa, mesmo, são “intermediários” não identificados.
Obama
não autorizou – ainda – a guerra de drones; e a CIA talvez não esteja
armando os “rebeldes”; é o negócio do “triângulo da morte”. Inflação de granadas
lançadas de foguetes russos compradas no mercado negro é a causa de recentes
mega ataques dos “rebeldes” em Damasco e Aleppo.
Agora , já se espera inflação de mísseis portáteis antitanque (o
atirador apoia a arma no ombro e dispara o míssil). A NBC News já noticiou um “presente” que
chegou ao Exército Sírio (Nada) Livre, de quase duas dúzias de mísseis terra-ar,
entregues lá por especial obséquio da – e de quem mais seria? – Turquia.
O
Qatar e a Arábia Saudita não estão interessados em fazer prisioneiros.
Ninguém em Washington parece dar qualquer atenção às lições do
Afeganistão pós-Jihad, antes de tomar decisões. Por falar nisso, sim, aí
está a Jihad afegã dos anos 1980s, tudo outra vez – com Arábia Saudita e
Qatar fazendo o papel do Paquistão; o Exército Sírio Livre, no papel dos
gloriosos mujahideen (“combatentes da liberdade”); e Obama no papel de
Ronald Reagan. Só falta Obama aprovar “memorando de notificação” que autorize
Washington a armar os combatentes da liberdade e, em seguida, mandar para lá um
enxame de drones.
Aí
está receita perfeita para Hollywood criar mais um filme arrasa-quarteirão, para
2013.
Riad, por sua vez, está forçando o
rei-de-Playstation da Jordânia a implantar uma zona neutra em seu território
para abrigar as mais de 100 gangues de que é composto o ESL – como revelou o
jornal al-Quds al-Arabi mantido pelos sauditas. E adivinhem quem era o
lacaio que obrava para forçar o negócio? Ninguém menos que o evanescido chefe da
inteligência saudita príncipe Bandar – que não se sabe se morreu ou não morreu
em atentado à bomba há duas semanas (“Where is Prince
Bandar?”, Asia Times Online, 2/8/2012).
A Ceifadora Sinistra**
vence
Vale
a pena repetir até que a Ceifadora Sinistra apareça para recolher os restos:
vê-se ao largo, chegando, um espetacular tiro gigante pela culatra.
O
prolongado sítio de Aleppo, aí, chegando. A “base secreta” do CCGOTAN (Conselho
de Cooperação do Golfo/Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Turquia,
armamento pesado, a mancheias para jovens sunitas sírios desempregados,
semianalfabetos, nascidos e criados sectários do tipo que vive de matar
desertores do exército, criminosos de várias cepas e jihadistas
salafistas multinacionais. O vídeo que se vê em [3] mostra tudo que é preciso saber
sobre o que é e faz o Exército Sírio Livre. E outro vídeo, que se vê em [4] mostra o tipo de “democracia” que
querem ter por lá.
Os
wahhabistas sauditas querem uma Síria islamista sunita linha duríssima –
preenchida com cristãos, alawitas, drusos e curdos na figuração, como cidadãos
de terceira classe (ou candidatos privilegiados à degola). Os qataris querem ali
um protetorado da Fraternidade Muçulmana.
Os políticos
e “especialistas” que constroem as políticas externas do governo Obama devem
estar cheirados ou fumados, cheios de crack barato. Só porque se meteram
em guerra sem fim nem limites contra, não só o Irã, mas todos os xiitas que
vivem por lá... O quê?! O que mais?! Resolveram também apostar tudo numa somalização da Síria, que inflará a
intolerância wahhabista? A Ceifadora Sinistra espera, dentes à mostra, nas
coxias.
Notas de
rodapé
1. 1/8/2012, Reuters em: “Exclusive:
Obama authorizes secret US support for Syrian rebels”.
2. 19/7/2012, Washington Post em: “Looking
for a Syrian endgame”.
3. Assista a
seguir:
4. 30/7/2012,
“Free
Syrian Army issues military-led transition plan”,
AFP.
Notas dos
tradutores
*Sobre Syriana, filme de 2005.
**Orig. “Grim Reaper”: é também
nome de uma banda de heavy rock, inglesa, criada em 1979. Pode-se
vê-los/ouvi-los em “See you in hell”
a seguir:
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