domingo, 9 de junho de 2013

A história real no escândalo NSA é o colapso do jornalismo

8/6/2013, Ed Bott, The Ed Bott Report
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido no quiosque do Frege na Vila Vudu:
1.      O jornalismo de esgoto – o único que se faz no Brasil – não está sozinho!
2.     Evidentemente, a Comissão Pulitzer também NUNCA cogitou de dar prêmio algum à FSP ou à Renata Loprete, pela “operação” jornalística que INVENTOU o Mentirão, depois de ouvir, como única fonte, exclusivamente o doido do Roberto Jefferson (já condenado) e publicar aquela loucurada, sem investigar absolutamente coisa alguma.
3.      Esse jornalismo LIXO da Folha de SP é caro, até se for distribuído grátis, pelas esquinas.
4.     Pago, esse jornalismo LIXO é crime contra a economia popular. É assalto.

Ed Bott
Na 5ª-feira, 6/6/, o jornal Washington Post publicou notícia bomba, segundo a qual nove gigantes da indústria de tecnologia estariam participando “deliberadamente” num vasto programa da Agência de Segurança Nacional dos EUA [orig. NSA].

No dia seguinte, sem nada noticiar e sem qualquer alerta aos leitores, o mesmo Washington Post publicou versão diferente da mesma matéria, purgada de todas as frases bombásticas e sensacionalistas que se liam no original. Mas o dano estava feito.

O jornalista que assina a primeira matéria, Barton Gellman, é “Prêmio Pulitzer”.

O Washington Post tem história no jornalismo investigativo que começa antes, até, de Watergate e All the President’s Men. Mas na lista dos mais escandalosos fracassos do jornalismo, o que agora se viu passa, de pleno direito, a encabeçar a lista.

Selo da NSA, Agência Nacional de Segurança  dos EUA

O que o Post noticiou era de estarrecer:

A Agência de Segurança Nacional e o FBI estão gravando diretamente dos servidores centrais de nove das principais empresas de Internet dos EUA, extraindo áudio, vídeo, imagens, e-mails, documentos e conexões que permitem que analistas tracem movimentos e contatos de qualquer pessoa, todo o tempo.

Barton Gellman
A matéria diz que a Agência Nacional de Segurança:

(...) entrou profundamente nas máquinas das empresas norte-americanas que hospedam centenas de milhões de contas de norte-americanos em solo dos EUA.

Cita especificamente nove empresas: Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL, Skype, YouTube, Apple. E a matéria prossegue:

(...) operando dentro do fluxo de dados de qualquer dessas empresas, a NSA consegue extrair qualquer dado que deseje.

Em apenas algumas horas, a matéria já fora amplificada e repercutida por outras agências de notícias e tech websites, o que gerou manifestações de indignação e fúria pela invasão de privacidade. E sete das nove empresas publicaram declarações em que negam categoricamente que algum dia tenham participado de qualquer programa desse tipo.

E então, na manhã seguinte, aconteceu algo estranhíssimo. Se se segue o link para a matéria do Washington Post, encontra-se ali um texto completamente diferente, com quase o dobro da extensão e manchete ligeiramente modificada. A nova matéria não foi apenas aumentada: extraíram-se de lá detalhes chaves, sem qualquer notícia ou alerta sobre as alterações. A versão “atualizada”, datada das 8h51 de 7 de junho, apagou e “desdiz” vários detalhes chaves da matéria original.

Detalhe crucialmente importante: o Washington Post apagou a expressão adverbial “deliberadamente”, ao falar da participação das empresas. Também apagou a expressão “altamente secreto” que usara, antes, para falar do programa. E, além disso, o jornal mudou um detalhe no nariz da matéria: onde se lia, na versão original, que a NSA pode “rastrear os movimentos e contatos de qualquer pessoa todo o tempo”, apareceu informação completamente diferente: a NSA pode “rastrear alvos estrangeiros”.

Aqui está (imagem; texto traduzido, abaixo) um parágrafo chave da matéria publicada originalmente, em print-screen da janela do browser:

[Tradução: As empresas de tecnologia, que participam deliberadamente [eq. a “sabendo que participam”] nas operações PRISM, incluem os atores globais dominantes do Vale do Silício. Estão listadas num rol com os respectivos logos, na ordem em que aderiram ao programa: “Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL, Skype, YouTube, Apple”. PalTalk, embora muito menor, hospedou tráfego significativo durante a Primavera Árabe e na atual guerra civil na Síria.]

E aqui, o mesmo parágrafo, como apareceu na matéria pesadamente editada, publicada no dia seguinte. Observe-se que os editores do Post acrescentaram tanta coisa na matéria, que esse parágrafo acabou empurrado para a segunda página das quatro da versão online:

[Tradução: As empresas de tecnologia, cuja cooperação é essencial para as operações PRISM, incluem muitos dos atores globais dominantes do Vale do Silício, segundo o documento. Aparecem listadas num rol com os respectivos logos na ordem em que entraram no programa: “Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL, Skype, YouTube, Apple.” PalTalk, embora muito menor, hospedou tráfego de interesse substancial para a inteligência durante a Primavera Árabe e a atual guerra civil na Síria.]

Salvei uma cópia da matéria original e usei a ferramenta “comparar documentos” no Microsoft Word, para mostrar as duas versões, antes e depois da modificação. Veem-se facilmente as diferenças, com as alterações visíveis.

Declan McCullagh
Declan McCullagh da rede CNET examinou a matéria publicada pelo Washington Post e concluiu que “a primeira matéria do Post estava errada”. Lê-se em: No evidence of NSA’s “direct Access” to tech companies. [a seguir, traduzido].

“A matéria está errada e parece baseada em leitura errada de um documento em Powerpoint que vazou”, segundo um ex-funcionário do governo muito familiarizado com o processo de aquisição de dados, e que falou hoje, pedindo para não ser identificado.

“Nada é como o Washington Post e o Guardian publicaram, nessa versão histriônica” – disse a fonte.

“Nada daquilo é verdade. Há um processo legal muito formalizado, que as empresas são obrigadas a seguir”.

A história real parece ser muito menos complexa do que as primeiras acusações alarmantes faziam crer. Todas as empresas envolvidas têm de responder a procedimentos legais estabelecidos e são obrigadas a obedecer ordens e mandados judiciais. Nenhuma delas parece estar participando de ações ilegais generalizadas de vigilância sobre os cidadãos.

Assim sendo... o que deu tão errado, no Washington Post?

O principal problema foi que o Post trabalhou sobre uma apresentação em PowerPoint vazada de uma única fonte anônima e rapidamente “concluiu” o que bem entendeu, sem procurar qualquer tipo de confirmação. McCullagh cita uma de suas fontes bem identificadas, o ex-conselheiro geral da NSA, Stewart Baker, que lhe disse que os slides pareciam “batizados” [orig. flaked]:

O PowerPoint parece ter sido “inchado” com um tipo de “conversa” que o faz parecer mais uma apresentação de “marketeiros” que um briefing – ninguém sabe de onde vem e ninguém sabe em que contexto foi produzido” – disse Baker. E concluiu, falando da cobertura do Washington Post: “Serviço feito na correria. Mal feito. Tudo errado”.

“Serviço mal feito, na correria” é o melhor modo de explicar por que o Washington Post mudou tão dramaticamente a própria matéria, em 24 horas. Normalmente, matéria desse tipo tem de ser bem investigada, antes de ser publicada. O que parece é que o Post apressou-se, temeroso de perder “o furo”, porque a mesma apresentação em PowerPoint poderia ter sido vazada para outro jornal, que poderia publicar antes.

Praticamente ninguém, dos que reagiram inicialmente à história, manifestou qualquer ceticismo quanto às fontes ou as conclusões do Washington Post. De fato, traço comum às negativas que as empresas de tecnologia estão divulgando é que todas elas se parecem e todas deixam sem comentar as “acusações”, em declarações cuidadosamente redigidas. Todas dizem praticamente a mesma coisa, porque cada companhia responde, não a algum fato, mas, exclusivamente, à específica linguagem espetaculosa da matéria do Post.

A correria para publicar acionou a câmara de eco da Internet e as redes de notícia da televisão a cabo, numa mesma onda a plenos pulmões. A matéria e seus argumentos – já, ao que parece, completamente desacreditados – disseminaram-se pelo mundo.

O Washington Post tentou remendar o erro modificando, clandestinamente, a própria matéria, sem qualquer sinal de explicação ou de retratação e sem reconhecer que errara. De fato, a versão “corrigida” continua a repetir que a NSA e o FBI “grampearam diretamente os servidores centrais” daquelas empresas – quando já se sabe que isso não foi confirmado e não parece ser verdade.

Em resumo, uma das maiores instituições jornalísticas do século 20, já vive hoje de publicar futricas e boatos, acompanhando a “tendência” de “publique primeiro e investigue depois (ou nunca)”, exatamente como faz qualquer dos seus “concorrentes” impressos ou online.

Algo me diz que a Comissão Pulitzer, ano que vem, não incluirá o Post na relação dos “melhores do ano”. 


3 comentários:

  1. A democracia está indo pelos ares! Pouco a pouco as liberdades civis estão se avaporando em nome da "segurança". Aliás, o correto é dizer estão evaporando com elas. Isto em nome de interesses corporativos em detrimento da sociedade. Isto é inversão de valores.

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    1. Está indo pelos ares desde o início da MENTIRA chamada "Guerra ao Terror" inventada pelo complexo industrial-militar e verbalizada pelo capacho GWBush

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  2. (Comentário enviado por e-mail e postado por Castor)

    Não é preciso "confirmar" coisa alguma na NSA ou nos servidores. O Patriot Act, de 2001, permite a invasão da vida privada dos cidadãos estadunidenses.
    BSA

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