8/6/2013, Ed Bott, The Ed Bott Report
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido
no quiosque do Frege na Vila Vudu:
1. O
jornalismo de esgoto – o único que se faz no Brasil – não está sozinho!
2. Evidentemente,
a Comissão Pulitzer também NUNCA cogitou de dar prêmio algum à FSP ou à
Renata Loprete, pela “operação” jornalística que INVENTOU o Mentirão, depois de
ouvir, como única fonte, exclusivamente o doido do Roberto Jefferson (já
condenado) e publicar aquela loucurada, sem investigar absolutamente coisa
alguma.
3. Esse
jornalismo LIXO da Folha de SP é caro, até se for distribuído grátis, pelas
esquinas.
4. Pago,
esse jornalismo LIXO é crime contra a economia popular. É assalto.
Ed Bott |
Na 5ª-feira, 6/6/, o jornal Washington
Post publicou notícia bomba, segundo
a qual nove gigantes da indústria de tecnologia estariam participando
“deliberadamente” num vasto programa da Agência de Segurança Nacional dos EUA
[orig. NSA].
No
dia seguinte, sem nada noticiar e sem qualquer alerta aos leitores, o mesmo
Washington Post publicou versão diferente da mesma matéria,
purgada de todas as frases bombásticas e sensacionalistas que se liam no
original. Mas o dano estava feito.
O
jornalista que assina a primeira matéria, Barton Gellman, é “Prêmio Pulitzer”.
O
Washington Post tem história no jornalismo investigativo que começa
antes, até, de Watergate e All the President’s Men. Mas na lista dos mais
escandalosos fracassos do jornalismo, o que agora se viu passa, de pleno
direito, a encabeçar a lista.
Selo da NSA, Agência Nacional de Segurança dos EUA |
O que o
Post noticiou era de estarrecer:
A
Agência de Segurança Nacional e o FBI estão gravando diretamente dos servidores
centrais de nove das principais empresas de Internet dos EUA, extraindo áudio,
vídeo, imagens, e-mails,
documentos e conexões que permitem que analistas tracem movimentos e contatos de
qualquer pessoa, todo o tempo.
Barton Gellman |
A
matéria diz que a Agência Nacional de Segurança:
(...) entrou profundamente nas máquinas das
empresas norte-americanas que hospedam centenas de milhões de contas de
norte-americanos em solo dos EUA.
Cita
especificamente nove empresas: Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL,
Skype, YouTube, Apple. E a matéria prossegue:
(...)
operando dentro do fluxo de dados de
qualquer dessas empresas, a NSA consegue extrair qualquer dado que deseje.
Em
apenas algumas horas, a matéria já fora amplificada e repercutida por outras
agências de notícias e tech websites, o que gerou manifestações de
indignação e fúria pela invasão de privacidade. E sete das nove empresas
publicaram declarações em que negam categoricamente que algum dia tenham
participado de qualquer programa desse tipo.
E
então, na manhã seguinte, aconteceu algo estranhíssimo. Se se segue o
link para a matéria do Washington Post, encontra-se ali um texto
completamente diferente, com quase o dobro da extensão e manchete ligeiramente
modificada. A nova matéria não foi apenas aumentada: extraíram-se de lá detalhes
chaves, sem qualquer notícia ou alerta sobre as alterações. A versão
“atualizada”, datada das 8h51 de 7 de junho, apagou e “desdiz” vários detalhes
chaves da matéria original.
Detalhe
crucialmente importante: o Washington Post apagou a expressão adverbial
“deliberadamente”, ao falar da participação das empresas. Também apagou a
expressão “altamente secreto” que usara, antes, para falar do programa. E, além
disso, o jornal mudou um detalhe no nariz da matéria: onde se lia, na versão
original, que a NSA pode “rastrear os movimentos e contatos de qualquer pessoa
todo o tempo”, apareceu informação completamente diferente: a NSA pode “rastrear
alvos estrangeiros”.
Aqui
está (imagem; texto traduzido, abaixo) um parágrafo chave da matéria publicada
originalmente, em print-screen da janela do
browser:
[Tradução: As empresas de tecnologia, que participam deliberadamente [eq. a “sabendo que
participam”] nas operações PRISM, incluem os atores globais dominantes do Vale
do Silício. Estão listadas num rol com os respectivos logos, na ordem em que
aderiram ao programa: “Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL, Skype,
YouTube, Apple”. PalTalk, embora muito menor, hospedou tráfego significativo
durante a Primavera Árabe e na atual guerra civil na Síria.]
E
aqui, o mesmo parágrafo, como apareceu na matéria pesadamente editada, publicada
no dia seguinte. Observe-se que os editores do Post acrescentaram tanta
coisa na matéria, que esse parágrafo acabou empurrado para a segunda página das
quatro da versão online:
[Tradução: As empresas de tecnologia, cuja cooperação é essencial para as operações
PRISM, incluem muitos dos atores globais dominantes do Vale do Silício,
segundo o documento. Aparecem listadas num rol com os respectivos logos na ordem
em que entraram no programa: “Microsoft, Yahoo, Google, Facebook, PalTalk, AOL,
Skype, YouTube, Apple.” PalTalk, embora muito menor, hospedou tráfego de
interesse substancial para a inteligência durante a Primavera Árabe e a atual
guerra civil na Síria.]
Salvei
uma cópia da matéria original e usei a ferramenta “comparar documentos” no
Microsoft Word, para mostrar as duas versões, antes e depois da modificação.
Veem-se facilmente as diferenças,
com as alterações visíveis.
Declan McCullagh |
Declan McCullagh da rede CNET examinou a matéria publicada pelo Washington Post
e concluiu que “a primeira matéria do Post estava errada”. Lê-se em: No evidence of NSA’s “direct Access” to tech
companies. [a
seguir, traduzido].
“A
matéria está errada e parece baseada em leitura errada de um documento em
Powerpoint que vazou”, segundo um ex-funcionário do governo muito familiarizado
com o processo de aquisição de dados, e que falou hoje, pedindo para não ser
identificado.
“Nada
é como o Washington
Post e o Guardian publicaram,
nessa versão histriônica” – disse a fonte.
“Nada
daquilo é verdade. Há um processo legal muito formalizado, que as empresas são
obrigadas a seguir”.
A
história real parece ser muito menos complexa do que as primeiras acusações
alarmantes faziam crer. Todas as empresas envolvidas têm de responder a
procedimentos legais estabelecidos e são obrigadas a obedecer ordens e mandados
judiciais. Nenhuma delas parece estar participando de ações ilegais
generalizadas de vigilância sobre os cidadãos.
Assim
sendo... o que deu tão errado, no Washington Post?
O
principal problema foi que o Post trabalhou sobre uma apresentação em
PowerPoint vazada de uma única fonte anônima e rapidamente “concluiu” o que bem
entendeu, sem procurar qualquer tipo de confirmação. McCullagh cita uma de suas
fontes bem identificadas, o ex-conselheiro geral da NSA, Stewart Baker, que lhe
disse que os slides pareciam “batizados”
[orig. flaked]:
O
PowerPoint parece ter sido “inchado” com um tipo de “conversa” que o faz parecer
mais uma apresentação de “marketeiros” que um briefing – ninguém
sabe de onde vem e ninguém sabe em que contexto foi produzido” – disse Baker. E
concluiu, falando da cobertura do Washington Post:
“Serviço feito na correria. Mal feito. Tudo errado”.
“Serviço
mal feito, na correria” é o melhor modo de explicar por que o Washington
Post mudou tão dramaticamente a própria matéria, em 24 horas. Normalmente,
matéria desse tipo tem de ser bem investigada, antes de ser publicada. O que
parece é que o Post apressou-se, temeroso de perder “o furo”, porque a
mesma apresentação em PowerPoint poderia ter sido vazada para outro jornal, que
poderia publicar antes.
Praticamente
ninguém, dos que reagiram inicialmente à história, manifestou qualquer ceticismo
quanto às fontes ou as conclusões do Washington Post. De fato, traço
comum às negativas que as empresas de tecnologia estão divulgando é que todas
elas se parecem e todas deixam sem comentar as “acusações”, em declarações
cuidadosamente redigidas. Todas dizem praticamente a mesma coisa, porque cada
companhia responde, não a algum fato, mas, exclusivamente, à específica
linguagem espetaculosa da matéria do Post.
A
correria para publicar acionou a câmara de eco da Internet e as redes de notícia
da televisão a cabo, numa mesma onda a plenos pulmões. A matéria e seus
argumentos – já, ao que parece, completamente desacreditados – disseminaram-se
pelo mundo.
O
Washington Post tentou remendar o erro modificando, clandestinamente, a
própria matéria, sem qualquer sinal de explicação ou de retratação e sem
reconhecer que errara. De fato, a versão “corrigida” continua a repetir que a
NSA e o FBI “grampearam diretamente os servidores centrais” daquelas empresas –
quando já se sabe que isso não foi confirmado e não parece ser verdade.
Em
resumo, uma das maiores instituições jornalísticas do século 20, já vive hoje de
publicar futricas e boatos, acompanhando a “tendência” de “publique primeiro e
investigue depois (ou nunca)”, exatamente como faz qualquer dos seus
“concorrentes” impressos ou online.
Algo
me diz que a Comissão Pulitzer, ano que vem, não incluirá o Post na
relação dos “melhores do ano”.
A democracia está indo pelos ares! Pouco a pouco as liberdades civis estão se avaporando em nome da "segurança". Aliás, o correto é dizer estão evaporando com elas. Isto em nome de interesses corporativos em detrimento da sociedade. Isto é inversão de valores.
ResponderExcluirEstá indo pelos ares desde o início da MENTIRA chamada "Guerra ao Terror" inventada pelo complexo industrial-militar e verbalizada pelo capacho GWBush
Excluir(Comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirNão é preciso "confirmar" coisa alguma na NSA ou nos servidores. O Patriot Act, de 2001, permite a invasão da vida privada dos cidadãos estadunidenses.
BSA