Traduzido e comentado pelo pessoal
da Vila Vudu
Entreouvido no
buteco do Zóio (Vila Vudu): Traduzimos essa
matéria exclusivamente para registrar que a imprensa-empresa brasileira
absolutamente não existe para informar coisa alguma sobre o mundo real. Existe,
como empresa, para acumular lucro da venda de espaço publicitário. E existe,
como aparelho ideológico, para reproduzir propaganda norte-americana, repetindo
bobagens selecionadas a dedo, dentre o que de pior as agências internacionais
distribuem.
Todas
as fontes de notícias, listadas nas notas, são perfeitamente acessíveis para as
editorias internacionais dos jornais e redes de televisão brasileiras e para os
“especialistas” brasileiros. Nenhuma delas é jamais citada no Brasil, como fonte
de informação, na imprensa-empresa.
As
empresas de imprensa, no Brasil, se forem fechadas, preencherão uma lacuna.
Visualização da situação estratégica da guerra na Síria |
O
exército sírio está expandindo com sucesso sua operação mais importante desde o
início da guerra civil, lançada dia 9/6 desse ano. Essa operação, “Tempestado no
Norte”, visa a libertar o principal ponto conquistado pela oposição – a cidade
de Aleppo, maior cidade do país e mais importante centro econômico, próxima da
fronteira turca. É possível que seja a batalha decisiva de toda a guerra; não
surpreende que o presidente Bashar al-Asad a chame de “a mãe de todas as
batalhas”. Depois de meses de erros e confusões, as decisões do líder político e
do comando militar chegam a espantar pela antevisão e pela elegância
estratégica.
Em
vez de correr pelo país, perdendo força, que foi o erro cometido nos primeiros
estágios, o exército começa a ocupar pontos chaves, cortando as mais importantes
linhas de comunicação e de suprimento do inimigo e, assim, determinando a
direção do ataque principal. E a liderança política vai, simultaneamente,
assegurando que forças aliadas protejam os flancos do exército.
Atividade "rebelde" na Síria até 8/3/2013. Antes da queda de al-Qusayr |
Por
exemplo, depois da vitória em al-Qusayr, todos esperavam que o governo começasse
a operação de longo prazo de expurgar os rebeldes dos arredores de Homs, a
terceira maior cidade do país (mais de 800 mil habitantes); mas limitaram-se a
cercar os rebeldes e andaram na direção da Turquia, de onde vem a maior ameaça?
Movimento arriscado? Sim, mas completamente justificado.
Não é difícil ver que, para que o
exército fizesse esse movimento, o flanco esquerdo do lado do Líbano já estava
militarmente protegido, e o flanco direito, do lado do Iraque estava
diplomaticamente protegido. Importantes pontos de defesa, próximos da Jordânia
já estavam sob controle desde o início do ano. O momento foi escolhido com
perfeição, também no que tenha
a ver com a situação na Turquia; com aquele país acossado por agitações
internas, dificilmente optariam por invadir a Síria. Na essência, em Ancara os
rebeldes sírios “perderam simultaneamente apoio militar e cobertura diplomática
do Estado mais próximo e seu mais íntimo aliado”.
Fahd Jassem al-Freij |
Em grande medida, o sucesso das
tropas muito deve ao talento militar do vice-comandante em chefe das Forças
Militares sírias desde julho de 2012, coronel-general Fahd Jassem
al-Freij (nascido em janeiro de 1950 em Hama, com formação militar no
Exército Sírio, incluído na “lista negra” do governo dos EUA), sunita, o que
basta para demonstrar a tolerância religiosa do regime de Damasco.
O objetivo do primeiro estágio da
operação “Tempestade no Norte” é “retomar o controle da estrada federal que liga
Aleppo e Azaz, na fronteira sírio-turca, que há um ano está sob controle da
oposição e é estrategicamente importante para o apoio logístico dos combatentes
em Aleppo” – disse uma fonte do comando militar à agência de notícias síria. No
domingo, os soldados atacaram posições rebeldes ao longo do eixo que passa pelas
cidades de Kafar-Hamra, Anadan, Hareytan e Atarib, com apoio de blindados. Prosseguem
os combates nos arredores da base militar de Minnigh, perto de Aleppo.
Bashar al-Assad |
As divisões do Hezbollah
ainda não estão participando da operação e foram dispostas como reserva
estratégica.
O
presidente Bashar al-Assad destacou outra razão pela qual a escalada pendeu a
favor do exército: uma mudança de atitude na
população da província.
Apoiaram os grupos rebeldes nem
tanto por falta de patriotismo, mas por que estavam decepcionados. Fizeram-nos
acreditar que estaria em curso uma revolução contra os erros do Estado. Agora,
mudaram de posição e muitos já se desligaram dos grupos terroristas e retomaram a vida
normal.
Essa
tendência se confirmou, depois que grupos islamistas em Aleppo executaram um
rapaz de 15 anos, por ter feito uma declaração não aprovada.
Elemento
radicalmente novo e do qual praticamente não se fala nos desenvolvimentos na
Síria, que torna ainda mais precária a situação dos rebeldes, é o ativo
envolvimento do Iraque, no conflito.
Nouri al-Maliki |
Fontes israelenses, por exemplo
observam que, enquanto os especialistas concentram-se nas ações do Hezbollah
libanês no oeste da Síria, a
entrada na guerra do Primeiro-Ministro do Iraque, Nouri al-Maliki, ao lado de
Assad, é evento muito mais significativo. Diferente do Irã, que está sob
sanções, os fundos ocidentais fluem livremente para o Iraque em troca de
petróleo, e “estão sendo passados em quantidades crescentes de Bagdá para
Damasco”. O governo do Iraque até já fez aprovar lei especial que estipula que
armas e munições compradas nos mercados internacionais, assim como o petróleo e
lubrificantes para o exército, serão repassadas para a Síria, em condições
especiais.
No
passado, nem sempre as relações entre Síria e Iraque foram tranquilas, porque os
dois países competiam pela liderança regional. Mas, agora, o governo xiita do
Iraque percebeu que a ascensão de sunitas ao poder na Síria tem potencial para
desestabilizar significativamente a situação também no Iraque. A nova onda de
ataques terroristas por iraquianos aliados aos rebeldes sírios (e aliados
portanto, embora indiretamente, das potências ocidentais) sugere o mesmo. Só em
maio deste ano, mais de mil iraquianos foram mortos nesse tipo de ataques
terroristas.
Além disso, por ordem de
al-Maliki, cerca de 20 mil soldados iraquianos foram deslocados para a fronteira
síria, para cortar as linhas de suprimento para a oposição síria que partiam do
Iraque. Relatórios
da DEBKAfile de 9/6/2013 dão
notícia dos primeiros grandes confrontos entres forças do governo iraquiano e
rebeldes sírios, em dois pontos de passagem da fronteira. Os iraquianos sofreram
baixas, mas o rebeldes tiveram de recuar. Fontes israelenses dizem que parte
dessas forças especiais preparam-se atualmente para raids em território
sírio, para dar combate aos rebeldes.
Na reunião do Conselho de
Ministros do Iraque, que aconteceu no mesmo dia na cidade de Erbil na
porção norte do país, o Primeiro-Ministro, Nouri al-Maliki, alertou que a região
estava sendo tomada por um onda de extremismo provocada por organizações
terroristas, como al-Qaeda e Jabhat al-Nusra; e conclamou os ministros
iraquianos a resistir contra essa invasão.
Telavive também enfrenta
dificuldades cada vez maiores em relação ao seu envolvimento no conflito sírio.
Nos círculos militares em Israel ouvem-se reclamações contra seus próprios
comandantes, que não se ouviam desde a fracassada 2ª Guerra do Líbano em 2006.
As reclamações aparecem em vários sites e blogs. Forças militares
especiais e da inteligência militar israelenses mostram-se incomodadas,
principalmente, com a aliança de-facto entre Israel e “barbudos
fundamentalistas” na Síria, dos quais “só se pode esperar ser esfaqueado pelas
costas” a qualquer momento, porque estão a poucos quilômetros de bases
israelenses; e, também, porque os sucessos da oposição têm sido descabidamente
exagerados.[Sobre isso, as publicações da
agência mignews.com, russa, dizem
muito].
Moshe Ya'alon |
Esses
especialistas israelenses temem que avaliações falsas da real situação no teatro
de operações “levem a decisões erradas”. Por exemplo, o site DEBKAfile,
próximo da inteligência militar israelense, criticou abertamente o discurso do
Ministro da Defesa, Moshe Ya'alon, no Parlamento quando, dia 3/6/2013, afirmou
que al-Assad controla apenas 40% do território sírio, com os rebeldes no
controle de parte significativa de Damasco. Na realidade, a inteligência
israelense tem informação confiável de que a oposição foi quase completamente
expulsa da capital; e que ali só restam bolsões isolados da oposição. O quadro é
semelhante em outros fronts, onde o
exército, “graças a suprimentos russos e iranianos” pressiona os rebeldes por
todos os lados, em vários pontos.
Vários interlocutores, nesses
círculos, admitem que a interferência
de Israel no conflito sírio, inclusive o bombardeio de arsenais, só faz
reacender o espírito combativo do Exército sírio e enfraquece a oposição, porque
a faz perder legitimidade aos olhos da população.
Ayman al-Zawahiri |
Não só o ocidente, mas também o
atual líder da al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, tem tido problemas com as seguidas
derrotas da oposição na Síria. Em junho, gravou uma mensagem em vídeo na qual
pede apoio aos seus seguidores em todo o mundo para que aumentem os reforços aos
jihadistas na Síria, e que os diferentes grupos unam-se sob uma só
orientação unificada. A alta prioridade da al-Qaeda
na mensagem de al-Zawahiri não é atualmente o Afeganistão, nem o Iraque, mas a
Síria.
O centro norte-americano de
consultoria Flashpoint Global
Partners divulgou que a maioria dos combatentes estrangeiros mortos na
Síria, entre julho de 2012 e maio de 2013 eram ligados à al-Qaeda. O relatório
desse centro enfatiza, por exemplo, que, no mesmo período, foram mortos pelo menos 280
combatentes estrangeiros, dos EUA, Chechênia, Kosovo, Egito, Jordânia,
Tunísia, Líbia e Arábia Saudita. A baixa mais recente é um
mercenário belga, morto há alguns dias.
Michael Young, conhecido
especialista em Oriente Médio, crê que, considerando os avanços do presidente
al-Assad na guerra civil, a exigência feita pela oposição, de que não seja
admitido na Conferência de Genebra 2, “não é realista”; e que a recusa dos
líderes da oposição que não querem, eles também, participar daquela conferência,
é “erro”, porque, nesse caso, toda a responsabilidade pelo fracasso de qualquer
tentativa de fazer a paz recairá sobre a oposição. Para a oposição síria, esse
erro “pode ser fatal”. Não faz muito, eram poucos os que acreditavam que Bashar al-Assad
permaneceria na presidência da Síria. “Parece que erramos” – lamenta
Young.
Infelizmente,
os principais políticos ocidentais não dão sinais de ver as coisas com a mesma
clareza.
Tropas dos EUA na Jordânia |
É
o que se vê, por exemplo, nas manobras dos EUA e aliados, e no deslocamento de
4.500 soldados para a Jordânia, no auge da “Tempestade no Norte”. Ao encenar
falsos preparativos para invadir a Síria pelo sul, tentam, apenas, conter o
avanço do exército sírio. De fato, os sírios já têm forças suficientes alocadas
para impedir ataque que provenha daí, sem precisar abandonar o avanço
em direção a
Aleppo.
Como fontes oficiais na Casa
Branca já relataram à Associated
Press, o presidente Barack Obama também tomará essa semana a decisão sobre
fornecer armas aos rebeldes sírios. Obama muito provavelmente aprovará a
decisão, “dado que, nos últimos dias, a situação da oposição tornou-se
absolutamente precária”. Segundo a AP, o secretário de Estado John Kerry adiou
sua viagem pelo Oriente Médio por vários dias, uma vez que deve participar de reuniões
do Conselho de Segurança Nacional nas quais se discutirá o fornecimento
de armas.
Seja
como for, qualquer tentativa de alterar o rumo dos acontecimentos bombeando
dinheiro e armas para a oposição dificilmente conseguirá salvá-la, e só causará
novas e terríveis calamidades para o povo sírio.
Se
a Europa e os EUA “progressistas” não querem defender o Oriente Médio de
mergulhar em nova era medieval de perfil al-Qaedista, deveriam, no mínimo,
tentar defender-se contra destino semelhante.
ATUALIZAÇÃO:
18/6/2013: A rede
Al-Jazeera noticia o início de “conversações
de paz diretas” entre os EUA e os Talibã, que se realizarão no Qatar:
“onde os Talibã acabam de inaugurar um escritório de representação
‘diplomática’”. Diz a matéria:
Sohail Shaheen |
Porta-voz
dos Talibã, Mohammad Sohail Shaheen, membro do gabinete político do grupo disse
à rede Al
Jazeera que o grupo continuará armado e continuará a atacar alvos dos EUA
no Afeganistão, mas, simultaneamente, iniciará conversações em busca de solução
pacífica para o conflito.
Shaheen insistiu
que não há qualquer tipo de acordo de cessar-fogo com os EUA e seus aliados, e
que os Talibã trabalharão simultaneamente com opções políticas e
militares.
Não há qualquer
tipo de cessar-fogo com os EUA. Eles nos atacam e nós os
atacamos – disse Shaheen.
O presidente Obama
disse que a abertura do escritório dos Talibã é importante primeiro passo rumo à
reconciliação entre os Talibã e o governo afegão. Mas alertou que o processo
será longo. E insistiu que os Talibã devem romper quaisquer laços com a al-Qaeda
e desistir de métodos violentos.
Obama,
como se vê, já está dizendo e fazendo absolutamente qualquer coisa...
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