Publicado
em 20/06/2013 por Urariano
Motta [*]
Recife
(PE) - No
momento em que esta coluna entra no ar, o trânsito no centro do Recife está
parado. Os jovens nas ruas em manifestações de protesto viraram o maior carnaval
fora de época em Pernambuco. A parada geral recebeu a providencial força de uma
greve de motoristas de ônibus em toda região metropolitana. Natural e coerente,
pois o protesto é contra o aumento das passagens, não? Não. É contra tudo. E,
justiça seja feita, o mundo todo, tudo da terra aos céus precisa de mudanças, do
campo à cidade, das mulheres aos homens, das crianças aos jovens, do povo ao
povo. Tudo precisa de mudanças reais, radicais e na maior urgência. Pelas
trombetas de toda a imprensa, tudo tem que ser agora, a hora é esta. “Vem para a
rua” virou um grito de oprimidos sob o patrocínio do capitalismo.
Isso
longe está de ser um fenômeno do acaso, uma aparição marginal à lógica do tempo.
Se só víssemos a realidade com os olhos de hoje, seria inexplicável notar que
toda a mídia esteja unida na divulgação e no apoio aos jovens nas ruas. No
rádio, jornais, revistas e televisão, os caras são a juventude revoltada.
Projeta-se até mesmo uma telenovela com os novos heróis, numa assimilação rápida
do instante presente, numa criação inédita, pois nenhuma arte fez isso até hoje.
O sistema é esperto e multiforme. Há até quem diga que a depredação de bancas de
revista e lojas será um ótimo negócio para os bancos: os pequenos empresários,
falidos, procurarão empréstimos a qualquer taxa de juros.
O
protesto virou um happening. É a
maior festa do Face. Um evento de
sucesso. Mas a “juventude indignada” é mais que um movimento nascido no Facebook. Além de ser o que dele falam
alguns sociólogos, quando o veem como resultado das condições sociais e
econômicas do Brasil, os protestos nas ruas parecem ser, de imediato, um acúmulo
da doutrinação da mídia que, à semelhança de música do hit parade, martelou denúncias diárias e
frequentes do mensalão, na fúria contra os governos Lula e Dilma. Ele, o
espantalho Lula/Dilma, com as suas bolsas-família, perdão, bolsa-esmola e prounis, ameaçou diminuir o poder
secular da elite brasileira. Mas como pode um protesto de jovens ser
conservador, pois tudo que é jovem é novo e belo, pois não? Como poderia um
protesto contra o mundo se voltar contra governos à
esquerda?
Pois
sim. Em São Paulo, militantes de partidos políticos foram expulsos do ato na
Praça da Sé. Mais, em maioria, os jovens nas ruas negam a existência de partidos
políticos, quero dizer, negam o direito à existência dessas legítimas expressões
da democracia. Em seu lugar, nas ruas levantam bandeiras e lemas velhos, desde a
Itália e Alemanha dos anos 30: falam em “nação”, em “pátria”, quando mais
próprio deveriam falar no fascínio do fascismo sobre as suas cabecinhas. O
movimento, aqui e ali, tem se transformado em algo sujo e excludente, que todos
conhecemos como a direita. Em página do Facebook , as múmias da
ditadura aproveitam e criam um Golpe Militar 2014, com quase 5.000 pessoas. É
essa a primavera brasileira?
Alegam,
os velhinhos à moda paizão, que isso é a minoria, que tais ocorrências não
refletem o caráter dessa coisa nova, linda e inexplicável de um movimento de
massa independente. Então, como assimilar jovens universitários com bandeiras do
gênero “Foda-se
o Brasil”? Seria isso a revolta justa de alguém excluído dos
benefícios dos últimos governos? Um programa de construção para a identidade
nacional? Ou será algo mais próximo de velhíssimos fascistas que sobrevivem em
peles de pouca idade, malhadas, dos grupos neonazistas ou alienados em geral que
se referem a nordestinos como os mendigos do Bolsa Família? Mas isso é um
fenômeno marginal, fala-se, em um movimento de mais de 100 mil em passeata,
em multidões de
Galo da Madrugada em pacífica reivindicação.
Sim,
com tais extremos, é minoritária a expressão do fascio. Mas há uma imensa massa
despolitizada onde tais apelos impressionam. Numa pesquisa empírica, que os
órgãos de melhor método poderão confirmar, perguntem aos revoltados da hora
quais os problemas do Brasil. A maioria vai declarar que o maior deles é a
corrupção. Em cartazes, todos vemos nas passeatas “Cadê a Dilma da guerrilha?”.
Vídeos no YouTube com falas de
carinhas moças chamam para as ruas com “Vamos parar a roubalheira do governo...
Vamos parar com essa palhaçada do governo do Brasil... O Inimigo é o
Governo”.
A
terra é fértil para a pregação de coisas antigas em rostinhos e corpos jovens.
Esse é o dado novo, que se desconfiávamos não adivinhávamos. O gigante acordou,
o gigante de nossas consciências acordou. Chega de afagos demagógicos.
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Enviado por Direto da
Redação
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