6/6/2013, Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
Os “Amigos da Síria” estão
em pânico.
Foi-se Qusayr , aquela sua muito divulgada fortaleza que estaria
“sob controle dos rebeldes”. Essa manchete da BBC diz tudo: “Conflito sírio: EUA
condenam o sítio de Qusayr”.
Para
Jay Carney, porta-voz da Casa Branca, “forças pró-governo”, para vencer,
precisaram da ajuda de seus “parceiros na tirania” – Hezbollah e Irã. OK. Quer
dizer que os “rebeldes” armados por Arábia Saudita, Qatar e CIA, para nem falar
dos jihadis tipo Frente al-Nusra, são parceiros em quê? “Liberdade e
democracia”?!
Sai
a futrica, entra o fato. O eixo CCGOTAN+I (Conselho de Cooperação do Golfo +
Organização do Tratado do Atlântico Norte + Israel) sofreu derrota estratégica
monstro. Acabaram-se as linhas de suprimento do Líbano até Homs, para as gangues
que constituem o Exército Nada-Livre Sírio e jihadistas extremistas.
Agora, o Exército Árabe-Sírio [orig. Syrian Arab Army (SAA)] avançará
para Homs, capital e província. Parada final, Aleppo, para expulsar as gangues
que ainda se seguram em dois ou três subúrbios da cidade.
Não
há como “noticiar”’ para o ocidente que Qusayr teria sido alguma espécie de
“retirada tática” decidida pelas gangues. Mas os “rebeldes” dizem que “se
retiraram”. Bobagem. Foram expulsos. Debandaram.
Eis,
em duas linhas, como aconteceu. Qusayr estava sob controle da brigada Farouk,
baseada em Homs e que integra o FSA, há nada menos que 18 meses. Há seis meses,
o Exército Árabe Sírio já havia desimpedido a estrada norte-sul, não distante da
cidade – essencial para os contatos entre Damasco e Aleppo.
Mapa e minifotos - BBC, UK |
Qusayr
era estrategicamente crucial, como local de depósito e guarda de armamento para
as gangues; sunitas no Líbano não paravam de embarcar armas para as gangues,
através do vale do Bekaa. Assim sendo, o Exército Árabe Sírio tratou de, para
começar, cercar Qusayr. Foi quando o Hezbollah entrou em cena – depois de a
população de Qusayr, cerca de 30 mil pessoas, já terem saído de lá, para o
Líbano ou para a Jordânia.
A
tática esperta do Exército Árabe Sírio foi deixar que a brigada al-Tawhid, com
base em Aleppo, entrasse também em Qusayr para reforçar a brigada al-Farouk. E
quando essas duas brigadas “top” das gangues do Exército Nada-Livre Sírio
estavam reunidas, o Exército Árabe-Sírio atacou. Já não havia civis na área,
exceto alguns agricultores fora da cidade. É guerra. Não houve qualquer
“genocídio”.
E
foi quando Paris meteu o pé na jaca química
Sheikh Nasrallah |
Quando
o eixo CCGOTAN começará a aprender? Sheikh Nasrallah, do Hezbollah, investira
toda a sua reputação: foi à televisão e prometeu a vitória. Nasrallah não falha:
se promete, ele faz. Mas, diferente do que “noticia” a mídia ocidental, o
Hezbollah não fez tudo sozinho: foi uma combinação de ações do Exército Árabe
Sírio, e de especialistas do Hezbollah e do Irã, reunidos para pôr em operação
uma sequência de táticas cuidadosamente pensadas e para um verdadeiro
show de sabedoria e talento nas artes de pôr fim a ações de guerrilha
urbana.
Não
se deve esquecer que um dos mais molhados sonhos molhados dos
Think-tankeiros na Think-Tankelândia nos EUA, já há meses,
era pôr o Hezbollah contra os jihadistas ligados à al-Qaeda dentro da Síria.
Aconteceu.
Mas
os combatentes do Hezbollah não precisam avançar além de Qusayr, dentro da Síria
(a cidade fica a apenas 10km da fronteira libanesa). Na prática, sua “missão”
continua a ser garantir a segurança no lado sírio da fronteira libanesa.
Laurent Fabius |
O
timing também foi obra-prima: a “queda” de Qusayr fez gorar completamente
um movimento monstro de propaganda sobre “armas químicas” orquestrado por Paris.
O Ministro de Relações Exteriores, Laurent Fabius ofega já, de tanto repetir que
“o exército de
Bashar” usou gás sarin contra “os rebeldes”. A imprensa
francesa, em
surto, clama por uma intervenção militar.
Só
que há um probleminha. Soterrado sob as matérias gigantes de puro
sensacionalismo em Le
Monde ou Liberation, há o fato de que as análises francesas
(baseadas em duas amostras, uma das quais recolhida por repórteres do Le
Monde) não informam quem usou o gás sarin: se o governo, se os
“rebeldes”. Nem os especialistas da ONU, no relatório oficial, confirmam o que
Fabius tanto repete.
Assim sendo e mais uma vez: melhor
ninguém se meter com o Hezbollah. Pode-se imaginar o nível rompe-tímpanos da ira
que toma conta de Washington, Londres, Paris, Telavive, Riad e Doha. A
“resposta” – ou a vingança – pode ser incendiar o Líbano. Os cortesãos habituais
do império tipo Brookings Institution
já fazem o luto da presa-Oriente-Médio perdida para um “agressivo
eixo russo-iraniano”. E nem uma palavra contra o
agressivo eixo CCGOTAN+Israel empenhado em destruir completamente a Síria, para
ali instalar um estado-fantoche islamista pró-Ocidente?!
O
show “Susan & Samantha”
Susan Rice |
E
agora, para integrar-se ao drama, chegam Susan Rice, como nova Conselheira
Nacional de Segurança dos EUA; e Samantha Power, como nova embaixadora dos EUA
no Conselho de Segurança da ONU. Vale lembrar que, com Hillary Clinton, essas
duas formavam o conjunto “As Três Graças” da “intervenção humanitária” e fizeram
o diabo, até conseguirem destruir a Líbia à bomba.
Seja qual for a estratégia
requentada que Susan e Samantha ressuscitem, Rússia e China vetarão tudo. Além
do mais, até o establishment em Washington já admite que as
alternativas são piores e ainda mais
deletérias.
E
afinal, como se ainda faltasse alguma coisa, a Turquia está mergulhada no
torvelinho “Praça Taksim/Occupy Gezi/Abaixo o Ditador” – e a última coisa a que
Erdogan dedicará os pensamentos de sua periclitante cabeça é continuar a armar
bandos de “rebeldes” fujões.
Quanto
às conversações Genebra 2 – co-patrocinadas por Washington e Moscou – a próxima
reunião preparatória só acontecerá em cerca de três semanas. Significa que se
Genebra acontecer – um grande “se”, considerando-se que os “rebeldes”,
completamente desmontados, provavelmente boicotarão a reunião – não acontecerá
antes do início de julho, talvez depois. Tempo de sobra, para que o Exército
Árabe Sírio continue a avançar. Mas tempo demais, também, para que o eixo
CCGOTAN continue a negar ao “povo sírio” o direito de decidir quem conduzirá os
sírios para fora do pântano dessa amaldiçoada guerra por
procuração.
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