15/6/2011, M K Bhadrakumar, Indian Punchline –
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Irrompeu uma guerra entre a CIA e o ISI, serviço secreto do Paquistão. A CIA disparou o primeiro tiro, ao plantar ontem no New York Times uma matéria “exclusiva” (14/6/2011, em , segundo a qual o ISI identificou e capturou os informantes que deram à CIA a localização da casa de Osama bin Laden em Abbottabad. Mas, à maneira clássica de agências de espionagem que plantam notícias nos jornais, a CIA acrescentou um grão de sal à mistura: um dos informantes presos no Paquistão seria um major do exército do Paquistão.
Rawalpindi foi tomada de fúria. O comando militar paquistanês leu claramente a mensagem da CIA, enviada pelo NYT: “Vejam aí, seus panacas: já estamos infiltrados nos cantos mais secretos de seu exército. Nem os mais santos dos santos resistiram”. Fácil imaginar a confusão que essa notícia pode gerar no exército do Paquistão; como geraria terrível confusão em qualquer exército do mundo. A CIA, de fato, sacudiu um ninho de vespas.
A resposta dos militares paquistaneses foi imediata e furiosa: “Rawalpindi. 15/6. O porta-voz do ISPR do Paquistão desmentiu veementemente notícia falsa publicada na imprensa, segundo a qual haveria um major do exército paquistanês entre os detidos por participação no incidente em Abbotabad. Não há qualquer oficial detido, a notícia é mentirosa, sem qualquer fundamento, concluiu o porta-voz”.
Mas o dano estava feito – como na peça Otelo, de Shakespeare, Iago já plantara a semente da suspeita, e ela germinará, exatamente como a CIA desejava que acontecesse.
Tudo isso mostra a que ponto de deterioração chegaram as relações entre os espiões da CIA-EUA e do ISI-Paquistão. A desconfiança aparece inscrita em cada linha da matéria plantada no New York Times. A visita de Leon Panetta da CIA, a Rawalpindi, na 6ª-feira passada, foi completo desastre. A impressão geral que se extrai do que foi publicado pelo New York Times é que os norte-americanos tentam atacar antes, como que se preparando para grave congelamento nas relações entre a CIA e o ISI.
Em termos imediatos, é possível que o Paquistão esteja realmente exigindo o completo fim das operações com aviões-robôs tripulados à distância (os drones) ou, pelo menos, pribindo que sejam operados a partir de bases paquistanesas.
É bem evidente que a ideia dos EUA de remover alguns nomes selecionados de Talibãs da lista de “terroristas procurados” da ONU ganha agora urgência extra.
Os EUA terão de correr para, seja como for, chegar à Quetta Shura [assembleia] por canais diretos, de modo a não serem impedidos pelos espiões dos ISI. É movimento extremamente arriscado, porque pressupõe que o ISI paquistanês já não gozaria da plena confiança da Quetta Shura. Além disso, na pressa para firmar qualquer acordo, os EUA ficarão com pouco tempo para definir quem seja “Talibã do bem” ou “Talibã do mal”.
Para a Índia, a sexta-feira trará situação de alto suspense, quando o plano dos EUA de remover 20 nomes de Talibãs importantes da lista de procurados será levado ao Conselho de Segurança para ser aprovado. Delhi apresentará graves objeções, caso a lista inclua alguns nomes dos mais controversos. A Rússia e a China também se opõem a todo o plano dos EUA. É bastante provável que Índia, Rússia e China adotem posição coordenada, contra os EUA.
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