*José Flávio Abelha
James Monroe |
A Doutrina Monroe surgiu de uma mensagem do presidente norte-americano James Monroe, em 1823. Visando evitar quaisquer interferências de países europeus na América, ficou estabelecido como princípio de direito e regra de governo que:
“Os continentes americanos, pela posição livre e independente que tinham assumido e mantinham, não poderiam mais ser considerados como domínio próprio para futura colonização por nenhma nação europeia”.
A mensagem também aludia à possibilidade das potências européias estenderem seu sistema político à América, considerando tais atos como “... ameaçar a paz, segurança e integridade dos Estados Unidos da América”.
Surgiu dessa Doutrina a frase sintetizadora de todo o pensamento dos EUA, face qualquer problema que interfira nas suas relações com os demais países do continente americano...
A América para os americanos!
Ruy Barbosa |
O argentino PANTOJA citado por RUI BARBOSA (1) assim se refere à Doutrina Monroe:
“La América para los Americanos, quiere decir en romance: la América por los Yankees, que suponen ser destinados manifestamente a dominar todo el continente hasta Magallanes, puesto que South-América para ellos es algo semi-selvage”.
Mais adiante RUI compõe um rodapé que merece maior divulgação, pela sua importância:
“Mr. Evarts, publicista, jurisconsulto, senador federal nos EUA, onde era um dos homens de reputação nacional descobre, assim, as tendências americanas dissimuladas no “monroísmo”: A Doutrina de Monroe é, decerto, boa coisa; mas, como todas as boas coisas, quando envelhecem, necessita ser reformada. Essa doutrina resume-se nesta frase: A América para os americanos. Ora, eu proporia com prazer um aditamento: Para os americanos do norte. Comecemos pelo nosso caro vizinho, o México, de quem já comemos um bocado em 1848. Tomemo-lo. A América Central virá depois, abrindo-nos o apetite, para quando chegue a vez da América do Sul”.
O presidente Buchanan, na sua mensagem de 7 de janeiro de 1857, dizia ao Congresso:
“Está no destino da nossa raça o estender-se por toda a América do Norte; o que se verificará dentro em breve, se os acontecimentos seguirem o seu curso normal (...). A América Central, em pouco tempo, conterá uma população americana, que trabalhará para o bem dos indígenas”.
O senador G. Brocon tinha, em 1858, esta linguagem:
“Temos interesse em possuir Nicarágua. Temos manifesta necessidade de nos apossarmos da América Central e, se a tivermos, o melhor é entrarmos logo como donos daquelas terras. Se os seus habitantes quiserem um bom governo, tanto melhor. Se não, que se mudem. Digam-me embora que há Tratados. Que importam Tratados se precisamos da América Central! Apoderemo-nos dela; e, se a França e a Inglaterra quiserem intervir, avante ó Doutrina Monroe”. (Eduardo Prado: Ilusão Americana, pp. 61-8).
Como que seja, porém, há um esquecimento capital nos excessos da “monroelatria”; não sabem esses inimigos da influência européia que a própria doutrina de Monroe devemo-la à Europa absolutista (J.B. Alberdi: Intereses, peligros y garantias de los Estados del Pacífico em las regiones orientales da la America del Sur, XXVI, Obras Completas, vol. VI p.495).
A declaração de Monroe, como o Congresso do Panamá, foi inspiração da política de Canning, o célebre Ministro inglês, em defesa da independência americana contra a Santa Aliança.
Para completar, surge em 1904 o “Corolário de Roosevelt” (Theo) à Doutrina de Monroe:
“Se uma nação mostra saber como agir com razoável eficiência e decência em questões sociais e políticas, se mantêm a ordem e paga seus compromissos, não precisa temer interferência dos EUA. O mau procedimento crônico ou uma impotência que resulte na frouxidão geral dos vínculos próprios de uma sociedade civilizada, seja na América ou alhures, exigem, em última instância, a intervenção de alguma nação civilizada e, no hemisfério ocidental, a adesão dos EUA à Doutrina Monroe poderá forçar este país, ainda que com relutância, ao exercício dos poderes de política internacional, nos casos flagrantes de tal má conduta ou importância”. (2)
Esse “na América ou alhures” do Corolário Roosevelt, desde 1904 até agora vem se ampliando de forma avassaladora. Podemos deixar de lado as intervenções do passado recente ou não e olhar o presente. Quantas “intervenções” alhures os EUA têm feito atualmente? Em nome do quê?
Temos agora a ONU & OTAN fazendo coro aos ditames da super potência e decidindo acatar de joelhos o que determinam a “Doutrina” e o seu Corolário.
É certo, todas as ocasiões em que o Tio Sam, “ainda que com relutância”, força um país a comportar-se de acordo com a sua filosofia, sua cultura, sua religião, seus costumes... e seu comércio internacional, faz uma tremenda lambança e sai com o rabo entre as pernas, mas sempre há uma outra nação ou seu mandatário que, sob a ótica da “Doutrina”, não está “se comportando bem”. Em casos assim, para os EUA, o amigo de ontem passa, hoje, a ser o inimigo nº 1 e, tentando não se expor em demasia, manda a ONU & OTAN agir com a sua força, física ou não, determinando embargos, sabotagens, assassinatos, bombardeios, saques de depósitos em bancos internacionais, tudo em nome da correção de rumo, da “democracia e dos bons costumes”. Os civis que se protejam porque as bombas com baixo de urânio empobrecido são detonadas visando tão somente destruir as forças armadas do governo que não está se comportando... bem como, corolariamente, envenenando e deformando a população civil.
Tudo, em nome da democracia.
Nesse vale tudo, vale financiar mercenários, destruir “sem querer” residências, colégios e hospitais, bombardeando tudo e todos, não importando se crianças, velhos e mulheres que nada têm com uma guerra não declarada. O fogo amigo é justificado pelo “descuido de programação”, ou “erro de cálculo” ou mesmo “dano colateral” visto que os aviões não são tripulados (drones) e sim dirigidos por satélites, e computadores não tem qualquer sensibilidade, nada enxerga. Cumpre o programado. Depois, uma desculpa e uma declaração hipócrita de algum militar que promete enviar “ajuda humanitária”.
É preciso ter-se em mente que a “Doutrina Monroe” foi elaborada para ser aplicada na nossa América, depois, visando “alhures”, e esse “alhures” já rompeu as fronteiras européias e se localiza, hoje, no Oriente Médio, Asia Central... e alhures!.
E nós não estamos isentos dessa praga.
Será que teremos de consultar os gringos se explorar o pré-sal é um comportamento que se adequa aos ditames “da matriz?” E o etanol? E mais tudo que estamos produzindo agora em escala mundial?
Simples hipótese? Ledo engano!
Um diretor da VALE , segundo um “cable” vazado por WikiLeaks, queixou-se ao embaixador dos EUA em Brasília, sobre a implicância de Lula com a empresa, visto o então Presidente desejar que ela produzisse bens que agregassem valor e não exportar matéria prima bruta para, no futuro, importarmos aço e outros produtos acabados. Foi o noticiário de 28/6/11, através da publicação de um informe da agência “Pública” que traduziu e comentou este e outros documentos obtidos pelo Wikileaks sobre essa verdadeira obediência ao país governado pelo Obama.
Diante da maligna Doutrina e seu Corolário, resta alertar:
Te cuida, Zé Brasil!
Notas de rodapé:
[1]. BARBOSA, Rui, Cartas de Inglaterra, Livraria Editora Ipanema, São Paulo, SP.2a.ed. 1966
[2]. LEUCHTENBURG, William E., O Século Inacabado - A América Desde 1900 (organizador) Trad. De Álvaro Cabral, Zahar Editora, RJ, vol.1, p. 158.
*Mineiro, Inspector of Ecology da empresa Soares Marinho Ltda.. Quando o serviço permite o autor fica na janela vendo a banda passar . Agora, agitante do blog JANELA DO ABELHA. Correspondência e colaboração favor enviar para: jfabelha@terra.com.br
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