Raul Longo |
Raul Longo
Não imagino como, mas chegou às mãos de amiga minha da França um texto do Augusto Nunes. Que a Fundação Padre Anchieta do Geraldo Alckmin pague para Augusto Nunes falar, vá lá! Mas que ainda se o pague para escrever, é mesmo um espanto.
No entanto, a amiga francesa nem se deu ao trabalho de comentar o Nunes que naquele texto estabeleceu insólito paralelo entre a camareira do hotel onde se hospedou o Strauss-Khan e o caseiro Francenildo do caso Palocci de alguns anos atrás.
Analisando as acusações contra o presidente do FMI, a amiga lembrou que ele vinha acusando duramente o mascaramento da real situação da economia norte-americana e do dólar, ao qual apontava como moeda sem nenhum lastro a justificar-lhe qualquer valor, nem mesmo as baixas cotações que vem atingindo no Brasil e no mundo.
Tudo isso afora a evidência de que derrotaria Sarkozy nas próximas eleições ao governo da França.
A partir daí a francesa faz uma digressão freudiana sobre eventuais fixações em fase anal do desenvolvimento psicossexual de Dominique e, sem deixar de render homenagem a um expoente patrício, estende-se pelas teorias de Sartre sobre as secretas atrações dos brancos pelos negros. Mas arremata tudo com um simplismo encantador, lembrando que o presidente do Fundo Monetário Internacional, sem precisar recorrer à instituição alguma, pessoalmente teria dinheiro mais do que suficiente para satisfazer todos seus fetiches no próprio Parque Nacional do Serengueti.
No entanto, mesmo que a amiga não tenha considerado possíveis implicações entre o Id do bom Freud, o existencialismo do velho Sartre e o centro do poder do capitalismo mundial, acorreram-lhe outras cismas dignas de acareação como as declarações da “violentada” à polícia de Nova Iorque, onde teria afirmado que o “tarado” a obrigara a tirar o sutiã.
- “Qu’est que c’est?” – pergunta a francesa, admirando-se de uma camareira adentrando o quarto de um hóspede já em sutiã. Tem lógica, pois o ato de romper o jaleco, antecipando-se à ordem de retirar o sutiã, melhor justificaria a própria ordem e, sem dúvida, seria a mais contundente confirmação do caráter violento de Dominique.
Aliás, para essa característica do ex futuro Presidente da França já se arrumou a confirmação de uma cafetina e de duas ou três jornalistas, embora a mais íntima amiga de Dominique e viúva do escritor italiano Alberto Morávia, além das três esposas do acusado, neguem que seja violento. Inclusive a atual esposa que, junto da filha do casal, acompanhou e apoiou o marido em todos os depoimentos.
Maledicências à parte, corre a suspeita de que a viúva de Morávia e Strauss-Khan já se ligaram por relacionamentos mais íntimos do que amizade, mas isso de defender ex-marido, de per si, já coloca em dúvida a honestidade da declaração da cafetina. Das jornalistas não digo porque, afinal, como jornalistas, não seria mesmo de esperar honestidade alguma. O Código de Ética do Jornalista é conhecido em todo mundo: dizer “apenas a verdade e somente a verdade quando não houver quem pague pela mentira”.
Mas vamos aqui ao nosso bom e assertivo raciocínio próprio: Você aí, cara e eventual leitora! Imagine-se em minha frente apenas de porta-seios. Em tal intimidade não lhe pareceria natural que lhe pedir plena e ampla exposição de seus dotes? Uma evidência, pois não? No entanto, perceba: se sem mais aquela, num repelão lhe arranco a vestimenta e então a mando retirar o sutiã; em que momento lhe serei mais ofensivo ou parecerei mais violento?
Se ao me deparar com sua pessoa, apenas mando: - “Tire o sutiã!”, o que pensará a meu respeito? De que me denunciará? Mas e se antes de mandar alguma coisa, agarro-lhe pela gola e arrebento-lhe os botões do jaleco, blusa, uniforme, o que for! Qual será o primeiro tema de sua denúncia? O rompimento da roupa ou a ordem para que tire o sutiã? Se arrebentei a roupa de cima, por que também não o sutiã? O que me move a acreditar que você obedecerá a minha ordem de tirar o sutiã? Obedecerá?
Bem... Provável que a amiga francesa não tenha considerado a atrapalhação própria do nervoso da suposta vítima, provavelmente ainda pouco familiarizada com o idioma inglês. Mas, sem se influir pelo paternalismo que nestas ocasiões comove até os mais racistas como Boris Casoy que lamentou a humildade do caseiro Francenildo para depois classificar como merda os votos de bom ano-novo dos garis de São Paulo; a amiga prosseguiu em seus questionamentos me fazendo lembrar dos tempos em que viajava a trabalho para órgãos de governo e grandes empresas.
Não lembro de alguma vez ter me hospedado em estabelecimento da rede Sofitel, no entanto nos mais simples hotéis dos que visitei e inclusive na pequena e modesta pousada onde trabalho, é de praxe não se adentrar aposentos quando ocupados pelos hóspedes. E sob nenhuma hipótese. Talvez, se um dia alguém berrar que a vida se lhe esvai, me obrigue a usar uma chave mestra rompendo com esta regra universal da hospedagem comercial. Mas, em outro caso, inimaginável!
De toda forma, relacionando o caso do Presidente do FMI com o Antônio Palocci como Ministro da Economia, Augusto Nunes me faz lembrar de quando, como assessor da Secretaria de Comunicação do Mato Grosso do Sul no último governo da ditadura militar, tinha de me hospedar nos hotéis de Brasília.
Não bastasse o desconforto de estar “em plena capital do país sem ter sequer uma arma na mão”, como já cantou Ferreira Gullar, ainda havia lá um representante do estado que me aconselhava a manter o crachá indicando meu nome e cargo. O retirava ao final de cada uma daquelas horríveis reuniões, e o idiota garantia que cada recepcionista, balconista, garçonete, camareira, o que fosse, atenderia ao meu primeiro assovio por ali se conhecer quão pródigos costumavam ser os “aspones” com as verbas de representação que financiavam o grande puteiro em que a ditadura transformou o Distrito Federal.
O escritório administrado por aquele representante era muito pequeno e o preferia ausente de uma reunião que necessitei fazer com integrantes do CIMI – Conselho Indigenista Missionário, de comunidades indígenas, da FUNAI e da UnB. O próprio Ministério do Interior, do Andreazza que posteriormente ordenou minha demissão por telefone, recomendou um certo estabelecimento não oficial, próprio para reuniões informais como deveria ser a que pretendia. Preocupado com relatos de convenções subitamente transformadas em orgias, indaguei ao representante do Mato Grosso do Sul se não seria mais um lupanar disfarçado.
A resposta foi sintomática: - “Não necessariamente, mas os serviços podem ser disponibilizados assim que os desejar”.
Não tenho como afirmar que o Francenildo das ilações do Augusto Nunes foi plantado numa armação ao Palocci, nem vou imitar o “profissional” de informações públicas considerando que isso de seios à mostra possa ser costume das origens africanas da camareira do Sofitel de Nova Iorque, conforme documentado pela National Geographic. Até porque, sem dúvida, foi uma tremenda besteira aquilo de violar o sigilo bancário do rapaz para comprovar a contratação de seu falso testemunho.
Apesar de que o risco assumido pela violação do extrato bancário ratifique a certeza da inocência de Palocci, era para ter imaginado que a sentença da mídia não se revogaria por tais evidências, pois a estes ditos “profissionais” de informação pública não cabe o exercício do raciocínio simples e natural como o da minha amiga francesa. Afinal, a mídia não é feita para quem raciocina e sequer se relaciona através desse tipo de comportamento.
A mídia explora os tais paternalismos e outras hipocrisias como a acima exemplificada em Boris Casoy, mas no meu caso que durante os anos 70 percorri capitais e interiores da Bahia ao Maranhão, passando pelo Piauí de onde se depositava na poupança do Francenildo pelo alegado sigilo quanto a paternidade em virtude de fortuito relacionamento de quase 40 anos atrás; fica impossível acreditar no receio de tão tardia condenação familiar ao alívio das solitárias machezas de um então motorista de caminhão perdido por estes brasis, nada sendo tão natural e mais comezinho entre as tradições comportamentais e culturais do universo sertanejo. Inclusive com a benção de Padre Cícero Romão!
Aliás... O inverso é que seria estranho, pois se assim fosse, meio Brasil ‘tava em romaria atanazando a velhice dos nordestinos por paternidades de homens barbados se querendo de dependentes e pensionistas por simples atestados de DNA!
Talvez por similares experiências também em minha amiga da França essas conversas de adormecer boiada ao invés de efeito sonífero, estimulam e despertam a desconfiança e a fez lembrar de outro detalhe que também pude confirmar nos hotéis em que me hospedei, mesmo que não da rede Sofitel nem em Nova Iorque. Onde for, em qualquer hotel de nível a hospedar altos funcionários de instituições como o FMI, jamais as camareiras trabalham sozinhas.
Chego a visualizar-me seguindo pelos corredores atapetados em busca do elevador para o salão do “breakfast”, assustando as duplas de moças com meu “bom dia” tão pouco usual entre hóspedes e os considerados subalternos ou diferenciados, no jargão da paulistana Higienópolis.
Mais profissionais do que um Boris Casoy ou Augusto Nunes, seus colegas da Quatro Rodas certamente podem informar exatamente quantas estrelas serão perdidas por um desses estabelecimentos onde a mesma funcionária designada para manipulação de produtos de limpeza e recolhimento de roupas usadas, seja a encarregada de estender lençóis e dispor toalhas perfumadas na lavanderia.
Na verdade nunca antes questionei a razão de atuarem aos pares, mas a francesa me fez imaginar a má impressão causada pela camareira do Sofitel se depois de limpar o banheiro, proceder a reposição do frigobar. E como essa coisa de raciocínio é um círculo vicioso e quando se usa não há meio de dispensá-lo, acabei me perguntando por que diabos voltam à carga contra o Palocci?
No governo Lula, a razão ficou evidente pela saída do Dirceu não ter afetado a evolução sócio/econômica do país, como imaginaram. Daí, acreditando que se repetiria o mesmo de governos passados quando a cada novo ministro se mudavam estratégias através de novos e ineficientes planos para tentar agradar os especuladores; mas sem resultados que atendessem as reais necessidades sociais e empresariais, concluíram que o único jeito de inviabilizar o sucesso da gestão e cavar alguma possibilidade ao almejado impeachment, seria eliminar o promotor do avanço econômico.
Imaginaram errado e conforme a declaração do Presidente dos Estados Unidos ao Parlamento Britânico há poucas semanas, ao lado da China o Brasil já é considerado uma potência econômica que quebrou a hegemonia daquelas nações.
Não estou especulando como fazem os “profissionais” de informação. Não escrevo para o gado. Afirmo aqui o que ouvi e vi pela tela da TV. Só se o Barack Obama é quem esteja especulando e bancando o vaqueiro.
Se o Obama, contrariamente ao que fazem os “profissionais” de informações com os que não raciocinam, se fundamenta para o que declara a um público como o da Corte Britânica, a quem se deve a atual situação do Brasil perante a comunidade das nações?
Ao apedeuta? Ao chefe de quadrilha? À terrorista comedora de criancinha?
Sim, a todos eles, claro! Mas não podemos esquecer de que Palocci foi o responsável pelo Ministério da economia mais falida do mundo no início do governo Lula.
Naqueles idos éramos as maiores dívidas externas e o mais alto risco para investimentos entre as nações do planeta. E se devemos a toda a equipe do governo Lula muito do que foi conquistado por este país nos últimos 8 anos, sem dúvida é ao médico Antônio Palocci que devemos a possibilidade do início disso tudo com a reversão do recorde negativo em reservas do Tesouro Nacional para um histórico recorde positivo que nos protege contra a maior crise financeira mundial desde 1929, na qual se envolvem, até hoje, todas as nações a exceção, segundo o Presidente dos Estados Unidos, do Brasil e da China.
Será por isso que retornam a carga contra o Palocci? Ou apenas mera inveja porque empresas de consultoria do Malan, Andre Lara Rezende e outros que ao se afastar do governo do país se dedicaram às mesmas atividades, não conseguiram auferir os mesmos rendimentos?
A lógica de mercado sempre foi valorizar mais aos profissionais de sucesso. Apenas nos veículos de informação se continua pagando para fracassados como Augusto Nunes, Boris Casoy, Reinaldo Azevedo e outros que passaram 8 anos tentando impedir a capacidade de raciocínio da população, e o mais que conseguiram foi manter alguns poucos ainda embotados e idiotizados a mugir a mesma lenga-lenga de adormecer boiada.
Não me espantará quando um desses, a exemplo do que já se fez com o Zé Dirceu, tentar que eu atenda ao berrante de acusações de que Palocci presta consultoria a um Eike Batista, por exemplo. Evidente!
Eike não seria o homem mais rico do Brasil se pagasse consulta para assessor de governo que faliu o país!
Não me espantaria, sequer, se um Malan contratasse a consultoria do Palocci.
Não é preciso comungar ideológica ou politicamente, nem ser muito inteligente.
Basta ter algum senso de responsabilidade pelos próprios interesses.
Como a oposição não tem nenhuma responsabilidade para com o país, optou pelo que pouco que lhe resta e “na falta de tu, vai tu mesmo”, repetindo as mesmas coisas com o mesmo Palocci, na tentativa de remontar o velho palanque para sua nova bancada.
Estão certos! Têm mesmo de inventar algum meio de projeção, pois afora o Álvaro Dias e um ou outro, se existir, mais nenhum correligionário tem a projeção nacional angariada nas CPIs de fim de mundo. E se mesmo com aquelas velhas CPIs a maioria de seus candidatos se desgastaram em sucessivas derrotas, o que não será nas próximas eleições se não cavam uma nova CPI?
De que adianta pagar o jabá de um Augusto Nunes, se não lhe arrumam uma pauta. O pessoal já é fraquinho de argumento, não convencem quase ninguém, se ainda não lhe fornecerem algum assunto para especular, na próxima eleição não comparecerão nem as vacas de presépio!
Só que ao comparar a armadilha, lá acionada por uma camareira e aqui por um caseiro, ainda que entusiasme alguns velhos e persistentes quadrúpedes, o encantador de bovinos conhecido como Augusto Nunes sem perceber acaba desmascarando, ao invés de reafirmar acusações. Mas não vou reproduzir a nota do Nunes que despertou a percepção da minha amiga francesa. Como disse, não escrevo para o gado anêmico desses “profissionais” da mídia brasileira. Escrevo para inteligências de maior sustância e conteúdo, como a da bela amiga da França para quem exponho, e aos demais capazes de raciocínio próprio, duas recentes declarações do Dominique Strauss-Khan:
“Ainda só fizemos metade do caminho” – referindo-se ao fim da crise internacional – “Temos que reforçar o controle dos mercados pelos Estados, as políticas globais devem produzir uma melhor distribuição dos rendimentos, os bancos centrais devem limitar a expansão demasiado rápida dos créditos e dos preços imobiliários Progressivamente deve existir um regresso dos mercados ao estado”.
Por muito menos do que isso, chéri, aqui no Brasil deram inicio a instauração das sangrentas ditaduras militares da América Latina. Mas, para piorar, às vésperas da armação no Sofitel, na George Washington University, Strauss-Khan foi ainda mais longe:
- A mundialização (globalização) conseguiu muitos resultados… Mas ela tem também um lado sombrio: o fosso cavado entre os ricos e os pobres. Parece evidente que temos de criar uma nova forma de mundialização para impedir que a “mão invisível” dos mercados se torne num “punho invisível”.
Já imaginou alguém com esse pensamento como Presidente de uma das maiores economias da Europa? Inadmissível! E se não tinham como arrumar uma CPI ou um caseiro, o jeito foi apelar para o sutiã da camareira obrigada à prática de sexo oral. ‘Tá aí outra coisa difícil de se imaginar como se possa obrigar sem uma arma para coação. Mas vamos evitar especulações sórdidas como a dos “profissionais” de informações para boi dormir.
Oi Raul! Que bom encontrá-lo ao ler esse artigo. Fantástico. Tenho uma imensa gratidão ,se é assim que posso chamar o " acorda Ana",que me foi proporcionado por vocês. Eu tinha uma formação totalmente contrária a tudo que estabelecia raciocínio e discernimento político.
ResponderExcluirPensar dava trabalho.
Obrigada Raul