Laerte Braga
Ano passado, na abertura da Conferência Nacional do Partido Comunista Brasileiro, Rio de Janeiro, auditório da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), o secretário geral do Partido, Ivan Pinheiro, disse mais ou menos o seguinte.
“O PCB tem história e noção de suas responsabilidades”. “Não será o responsável pelo retrocesso político no País, mas não será conivente com alianças espúrias e caminhos meramente eleitoreiros”.
O líder nacional do MST, João Pedro Stédile, costuma dizer que eleições são um instrumento, até aí nada demais, muitos percebem e sabem disso, dizem isso, mas acrescenta que o desafio é a organização e avanço dos movimentos populares.
A propósito, a CPI do MST concluiu que não houve um centavo sequer de desvio de verbas públicas destinadas a projetos executados pelo MST. Que tal uma CPI do agronegócio?
Qualquer um que tenha o mínimo de informações sobre a realidade política, econômica e social do Brasil sabe que José Arruda Serra é um retrocesso sem tamanho.
É só voltar os olhos aos oito anos de governo de FHC e compreender instantaneamente essa realidade.
Não significa que seja, por isso, digerível o ex-presidente Collor de Mello fazer campanha em Alagoas trombeteando o apoio de Lula e Dilma. Collor é candidato a governador.
Determinado tipo de aliança pode até levar à vitória, mas significa que um preço alto será pago por isso. Ganhar sem levar, por exemplo.
São sapos e lagartos que um dos principais erros do governo Lula vai acabar impondo aos brasileiros por conta da necessidade de evitar um retrocesso estúpido. O de não ter buscado ampliar os canais de participação popular e mergulhado no jogo institucional. Foi o que levou um deputado desqualificado como Roberto Jéferson a denunciar um processo de corrupção e ali arrastar figuras como o ex-ministro José Dirceu.
Não se tratava de preocupação com desmandos e desvios, mas com a necessidade de afastar Dirceu do centro das decisões.
De apequenar o governo e torná-lo refém desse jogo do clube de amigos e inimigos cordiais que circula pelos três poderes em Brasília.
Transformar o PT e agregados em partidos que se assentam à mesa com figuras como Collor.
Dilma Roussef é uma candidata séria. Íntegra. Com passado e presente de coragem, determinação e indiscutível capacidade para presidir o Brasil.
Não há como você fazer acordo com o escorpião para atravessar o rio. Vai picá-lo mesmo que isso possa arrastá-lo à morte. Questão de caráter. E nesse caso nem tanto arrastá-lo à morte, pelo contrário.
Os escorpiões como Sarney, Collor e outros mais são dissidências por razões pessoais ou de “negócios” do esquema podre e corrupto dos tucanos. Não diferem em nada do que representam José Arruda Serra, Fernando Henrique Cardoso.
É uma espécie de opção que Lula fez. Juntou os êxitos indiscutíveis de seu governo (dentro do que se propôs), chamou a si a responsabilidade pelo jogo e aposta na perspectiva futura de avanços que possam permitir desvencilhar-se (ou não, difícil afirmar em cima do subjetivo) de figuras assim.
FHC deixou uma bomba armada e prestes a explodir nas mãos de Lula. Um País quebrado, falido, que Lula foi capaz de desarmar e evitar que explodisse. Lula deixa a Dilma outra forma de bomba.
Alianças espúrias e incompreensíveis.
O que o secretário geral do PCB quis dizer com “o PCB não será responsável pelo retrocesso” passa por todos esses ingredientes.
O próprio Ivan é candidato a presidente da República. Tem a convicção que é necessário dizer ao Brasil e aos brasileiros, na medida do possível, dada a correlação de forças desigual, que o processo de mudanças não passa por gente como Sarney e Collor.
Que as tarefas e desafios são bem maiores, transcendem aos limites de lideranças pessoais, coronéis políticos e por isso não podem ficar presas ou confinadas a outro limite, o de um institucional podre.
E ao mesmo tempo em que, no momento correto, o seu partido e seus camaradas não serão responsáveis por uma eventual eleição de José Arruda Serra.
Sem que isso signifique concordância com o que o próprio Ivan Pinheiro de maneira correta e precisa chama de “capitalismo a brasileira”.
É como se fosse um mar aparentemente tranqüilo e que numa curva se transformasse numa tempestade que engole o que se supõe conquistado.
Há uma força maior que devora esse tipo de luta e esse tipo de luta não se cinge a uma liderança, mas a avanços efetivos pela organização do movimento popular como um todo.
Esse é risco que se corre. Se consciente ou não é outra história. Duvido que seja inconsciente. Mas é também uma irresponsabilidade diante do processo maior, o da História.