segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Líbia no grande jogo da nova partição da África

por Manlio Dinucci [*]

Manlio Dinucci
Fogem da Líbia não apenas famílias que temem pelas suas vidas e imigrantes pobres de outros países norte-africanos. Há dezenas de milhares de “refugiados” que estão a ser repatriados pelos seus governos por meio de navios e aviões: são principalmente engenheiros e executivos de grandes companhias de petróleo. Não só a ENI, a qual realiza cerca de 15 por cento das suas vendas a partir da Líbia, mas também outras multinacionais europeias – em particular, a BP, Royal Dutch Shell, Total, BASF, Statoil, Repsol. Centenas de empregados da Gazprom foram também forçados a deixar a Líbia e mais de 30 mil trabalhadores chineses da sua companhia de petróleo e de construção. Uma imagem simbólica de como a economia líbia está interconectada com a economia global, dominada pelas multinacionais.

Graças às suas ricas reservas de petróleo e gás natural, a Líbia tem uma balança comercial positiva de US$27 bilhões por ano e uma renda per capita média-alta de US$12 mil; seis vezes maior que o do Egito. Apesar de fortes diferenças entre rendimentos altos e baixos, o padrão de vida médio da população da Líbia (apenas 6,5 milhões de habitantes em comparação com os cerca de 85 milhões no Egito) é, portanto, mais elevado do que o do Egito e de outros países da África do Norte. Testemunho disso é o fato de que cerca de um milhão e meio de imigrantes, principalmente norte-africanos, trabalha na Líbia. Uns 85 por cento das exportações líbias de energia vêm para a Europa: a Itália em primeiro lugar com 37 por cento, seguida pela Alemanha, França e China. A Itália também está em primeiro lugar em exportações para a Líbia, seguida pela China, Turquia e Alemanha.
Esta estrutura agora explodiu devido ao que pode ser caracterizado, não como uma revolta das massas empobrecidas, tal como as rebeliões no Egito e na Tunísia, mas como umas guerra civil real, em consequência de uma divisão no grupo dominante. Quem quer que seja que tenha feito o primeiro movimento explorou o descontentamento contra o clã Kadafi, que prevalece especialmente entre as populações da Cirenaica e entre jovens nas cidades, num momento em que toda a África do Norte tomou o caminho da rebelião. Ao contrário do Egito e da Tunísia, contudo, o levantamento líbio foi planejado previamente e organizado.

As reações na arena internacional também são simbólicas. Pequim disse estar extremamente preocupada acerca dos desenvolvimentos na Líbia e apelou a “um rápido retorno à estabilidade e normalidade”. A razão é clara: o comércio sino-líbio experimentou crescimento forte (cerca de 30 por cento só em 2010), mas agora a China verifica que toda a estrutura das relações econômicas com a Líbia, da qual importa quantidades crescentes de petróleo, foram postas em causa. Moscou está numa posição semelhante.

O sinal de Washington é diametralmente oposto: o presidente Barack Obama, que quando confrontado com a crise egípcia minimizou a repressão desencadeada por Mubarak e apelou a uma “transição ordenada e pacífica”, condenou o governo líbio em termos inequívocos e anunciou que os EUA está preparando “o conjunto completo de opções que temos disponíveis para responder a esta crise”, incluindo “ações que possamos empreender por nós próprios e aquelas que possamos coordenar com os nossos aliados através de instituições multilaterais”. A mensagem é claro: há a possibilidade de um intervenção dos EUA/NATO na Líbia, formalmente para interromper o banho de sangue. As razões também são claras: se Kadafi for derrubado, os EUA seriam capazes de fazer ruir toda a estrutura das relações econômicas com a Líbia, abrindo o caminho para multinacionais com base nos EUA, até agora quase totalmente excluídas da exploração das reservas de energia na Líbia. Os Estados Unidos poderiam então controlar a torneira de fontes de energia sobre as quais a Europa depende amplamente e que também abastecem a China.

Trata-se de acontecimentos no grande jogo da divisão dos recursos africanos, pelos quais uma confrontação crescente, especialmente entre a China e os Estados Unidos, está a verificar-se. A potência asiática em ascensão – com a presença na África de cerca de 5 milhões de administradores, técnicos e trabalhadores – constrói indústrias e infraestrutura, em troca de petróleo e outras matérias-primas. Os Estados Unidos, que não podem competir a este nível, podem utilizar a sua influência sobre as forças armadas dos principais países africanos, as quais são treinadas através do Africa Command (AFRICOM), o seu principal instrumento para a penetração do continente. A NATO agora também está a entrar no jogo, pois está prestes a concluir um tratado de parceria militar com a União Africana, a qual inclui 53 países.

A sede da parceria da União Africana com a NATO já está em construção em Adis Abeba: uma estrutura moderna, financiada com 27 milhões de euros da Alemanha, batizada “Edifício paz e segurança”.

[*] Jornalista
O original encontra-se em Il Manifesto, 25/Fevereiro/2011, e a versão em inglês em: Libya in the Great Game - On the road to the new partition of Africa 
Este artigo encontra-se em: Resistir

Berberes da Líbia unem-se ao levante

Ghaith Abdul-Ahad

28/2/2011, Ghaith Abdul-Ahad  (de Zentan), Guardian, UK
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

“Tenha uma boa revolução”, disse o agente de imigração da Tunísia, devolvendo nossos passaportes. Atravessamos a faixa estreita da terra-de-ninguém em direção à Líbia e a um cartaz gigante de Muammar Gaddafi, queixo levantado, as mãos unidas, num gesto de vitória.

Antes de chegarmos até ele, um carro com a bandeira da revolução líbia apareceu em alta velocidade, passou por nós, o motorista fazendo gestos de vitória, antes de desaparecer por trás do posto de fronteira, num grande círculo. Ainda vimos as expressões surpreendidas da polícia e dos agentes de segurança, enquanto o carro sumia na distância.

“Agora, tudo é livre”, disse o motorista do carro que nos levava, apontando montanhas e o deserto.

As estradas do oeste da Líbia estão cobertas de postos de controle improvisados. Barricadas feitas de pedras e restos de veículos, à volta das quais sempre há um colorido grupo de ativistas, que bloqueiam as entradas de cidades e vilas. Os combatentes oferecem rostos de todos os tipos, com os mais diferentes turbantes, amazigues ou berberes, homens das tribos de cada região, desertores ainda em uniformes do exército, voluntários em seus surrados trajes de combate.

Os cabeças desse levante também são grupo muito variado: um dos comandantes militares, Talibi, da tribo amazigue, é poeta na vida civil. Outros que encontramos são médicos, engenheiros, anciãos líderes de comunidades e até um jovem agarrado a um laptop, com boné de baseball, todos amazigues.

Já era noite, quando chegamos a Nalut, onde vários amazigues faziam guarda em torno de fogueiras e barracas, no ponto de controle da entrada, na noite gelada. Vários armados, com as armas que saquearam das bases do exército, vários com rifles, alguns com porretes. O amazigue com quem falamos mal conseguia esconder a euforia.

“São décadas de medo. Agora, acabou, depois do que aconteceu no Egito e na Tunísia” – disse SKhairy, oferecendo pequenas xícaras de chá verde. Os amazigues lutam há décadas para manter seus direitos culturais na Líbia de Gaddafi. “Já não tinha esperança de ver acontecer, antes de morrer” – disse. 

Nos arredores de Nalut, fomos levados para dentro de uma pequena tenda, onde havia quatro negros junto à uma das paredes, as armas longe deles, num canto. Os combatentes examinavam os rostos, com lanternas. “São mercenários”, disse um dos amazigues. Vasculharam as mochilas dos prisioneiros, para nos mostrar o que traziam: um álbum de fotografias, poucas peças de roupa, meias e um boné.

“Traziam facas”, disse-me um amazigue. Mas, para mim, os quatro, assustados, muito jovens, de jeans, tênis e camiseta, pareciam não passar de jovens migrantes africanos, a caminho para a Europa.

Na manhã seguinte, fomos com Talibi, o comandante-poeta, até uma pequena colina, de onde se avistava a estrada. Talibi planejava um ataque ao posto de fronteira entre Líbia e Tunísia, tentando abrir caminho pelo oeste para que médicos e líderes da oposição cheguem à Líbia.

Talibi gritou em amazigue nos dois telefones celulares. Sua pequena brigada guerrilheira de uma dúzia de homens altos e fortes, à volta dele, esperava instruções para o ataque. Contei ali quatro Kalashnikovs, alguns rifles de caça e um porrete.

Talibi passou um ano preso, condenado por organizar atividades de guerrilha com os amazigues contra o regime de Gaddafi. As cicatrizes nas pernas são restos de tortura. “Aqui, usaram uma furadeira” – disse, levantando a perna da calça e mostrando uma cicatriz de três círculos perfeitos. Na outra perna, uma longa cicatriz, marca de golpe de machado.

Quando receberam ordem, os amazigues correram para cinco jipes e partiram rumo à fronteira. Os guardas líbios abriram o portão e os deixaram entrar, sem que um tiro fosse disparado. Depois que os carros pararam, um soldado líbio apareceu atrás de uma porta, arrastando o rifle.

Os amazigues de Talibi espalharam-se, enquanto oficiais de inteligência e um policial eram encostados num canto, visivelmente apavorados. “É o pessoal do velho regime – um espião e um ex-oficial” – disse Talibi. “Mas não é hora de vingancismos. Precisamos de governo, lei e ordem. Depois, poderemos julgá-los.”

Havia informação de que o exército estaria mandando reforços para a fronteira, e Talibi e seus homens saíram. O resto do dia foi dedicado a organizar um ataque a uma coluna de caminhões do exército armados com metralhadoras. O comboio foi visto de longe, a partir de informações que chegaram de outras pessoas da tribo.

“Olhe para eles! Estão felizes, como se fosse feriado” – disse Talibi.

Cinco homens organizaram uma emboscada num desfiladeiro entre montanhas, e dois tomaram posição de tiro numa borda de pedra, mas o comboio não chegou até ali. Mais tarde chegaram informações de que o comboio parara num acampamento do exército, nos arredores.

No dia seguinte chegamos a Zentan, quase 80 quilômetros a leste de Nalut. A cidade orgulha-se de ser a primeira, no oeste da Líbia, a levantar-se contra o regime, embora ainda se ouçam tiros de metralhadora à distância. Aqui, como por todo o caminho, restos de carros e pedaços de metal indicam o caminho para a cidade, dividindo o fluxo de carros, para melhor controlar os pontos de entrada.

O centro da cidade é zona de guerra. Os principais prédios do regime – o quartel-general da polícia política e os ‘comitês populares’ – foram depredados e incendiados e estão agora decorados com graffiti anti-Gaddafi. Longas filas de carros nos postos de combustível e padarias. Já faltam itens básicos, como açúcar e arroz.

Guardas rebeldes, armados com pistolas e Kalashnikovs fazem guarda na entrada do hospital onde os rebeldes organizaram seu quartel general. Parecem tensos, nervosos. “Não se preocupe. Só temos de impedir que os mercenários entrem” – disse um homem, sacudindo a pistola no ar, enquanto fala.

Abdul Satar, comandante da unidade de combate mais organizada de Zentan, é homem baixo e intenso, dado a explosões de gritos. Está sentado numa das salas da administração do hospital, uma Kalashnikov com baioneta sobre os joelhos.

Zentan vive agora uma espécie de rotina, uma semana depois de ocupada pelos manifestantes, disse ele. O regime e os rebeldes estão fazendo guerra de atrito: o regime manda pequenas unidades para atirar sem alvo e retirar-se, e Abdul Satar e seus homens atacam postos de controle das vizinhanças, onde há notícia de que pessoas foram impedidas de entrar ou sair da cidade. Acaba de voltar de um desses ataques. Um soldado do exército foi morto e trouxeram três prisioneiros feridos.

“Saímos, atacamos os postos que resistem e voltamos e assim vamos” – disse Satar. Onde conseguem armas? Responde que “Todo o nosso armamento foi capturado nos acampamentos do exército”. 

Entre os cansado rebeldes que trabalham no hospital, está Othman Zantani, médico, elegante, de voz suave. “Para ser franco”, diz ele, “a revolução ainda não está muito bem coordenada.

“Tudo aconteceu espontaneamente, mas agora temos de nos auto-organizar. Estou organizando reuniões com várias outras cidades e os anciãos das tribos. Temos de organizar comitês para cuidar da rotina do hospital, de saúde e segurança, e também ajudar outras pessoas a criar comitês políticos que representem a parte oeste do país, exatamente como foi feito no leste. As reuniões são para coordenar essas ações”.

Outro membro do comitê de segurança contou sobre planos para mandar armas e munição para Trípoli e cidades sitiadas, como Zawiyah. Dois dias antes, um comboio com munição foi enviado para lá, mas foi interceptado pelo exército do regime ao chegar à capital.

“O plano em andamento é coordenar a ação com dois irmãos que estão no leste e marchar para Trípoli” – disse o agente de segurança. “Esse plano começou a ser posto em marcha ontem, mas foi adiado. A situação muda tão rapidamente, que não se pode, de fato, planejar nada, mas temos de mandar pessoal e armamento para Trípoli. Estão desarmados e estão sendo massacrados. Temos de ajudá-los.” 

Alguns prédios adiante do hospital, os revolucionários organizaram uma sala de comunicações. Numa mesa coberta de grossa camada de pó, operando dois telefones celulares e dois laptops, cercado por nove carregadores de celular e dois maços de Marlboro, está sentado Omar, fumando sem parar, os olhos pulando de uma para outra tela de seus vários aparelhos. Usa um boné de baseball puxado sobre a testa. Está copiando vídeos do YouTube, enviando mensagens pelo Facebook, atualizando seus contatos na rede Al-Jazeera.

Outros, noutras mesas, escrevem para blogs, monitoram noticiários de televisão e comunicam-se com outros ativistas. “Sem essa sala, a revolução já teria morrido”, diz Omar. “Nós mantivemos aceso o fogo”. Nem tirou os olhos da tela.

No “capitalismo de desastre”, a democracia já nasce acorrentada

Naomi Klein

13/2/2011, Naomi Klein - Democracy born in chains
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

A inspiradora revolta popular que derrubou Hosni Mubarak é apenas a primeira etapa da luta dos egípcios por liberdade. Como outros movimentos pró-democracia aprenderam pela via mais difícil, pode acontecer de o povo perder muito – e por muito tempo – nos meses e anos chaves da transição entre regimes. 
No livro “A doutrina do choque” [Doutrina do Choque. A ascensão do capitalismo de desastre. Orig. The Shock Doctrine, ed. brasileira, Rio de Janeiro: Nova Fronteira], investiguei o caso da África do Sul pós-apartheid, quando se sacrificaram demandas cruciais por justiça econômica, em nome de uma transição política suave.

Aqui, traduzidas, as duas epígrafes e trechos do capítulo “A liberdade controlada, na África do Sul”, desse livro.

Desmond Tutu
“Reconciliação significa que os que viveram muito tempo no lado avesso da história têm de poder ver que há alguma diferença entre repressão e liberdade. E, para esses, liberdade se traduz em água limpa para beber, eletricidade, casa decente e emprego, para poder mandar os filhos à escola e ter acesso a atendimento médio. Quero dizer: de que adiantou alguma transição suave, se a qualidade de vida daquelas pessoas não melhorou? Se a vida das pessoas não melhora, até o voto se torna inútil”.
(Arcebispo Desmond Tutu, presidente da Comissão Sul-Africana de Verdade e Reconciliação, 4/11/2001, “South Africa; Tutu Says Poverty, Aids Could Destabilise Nation,” AllAfrica.com). 

“Antes de transferir o poder, o Partido Nacionalista quer emascular o poder. Está tentando negociar uma transição na qual entregará o direito de o país conduzir a transição, em troca de impedir que os negros venham a controlá-la”. (Allister Sparks, jornalista sul-africano, em MURRAY, Martin, 1994, The Revolution Deferred, Londres: Verso, p. 12). 

Em janeiro de 1990, Nelson Mandela, aos 71 anos, sentou em sua cela de prisão para escrever uma nota aos seus apoiadores. A nota visava a encerrar o debate que se arrastava pelos 27 anos de sua prisão, a maior parte dos quais na prisão de Robben Island, ao largo da costa de Cape Town, e que haviam distanciado muito o líder e as transformações econômicas pelas quais passara o estado de apartheid da África do Sul. A nota, de duas linhas, encerrou o debate e pouco ajudou: “A nacionalização das minas, dos bancos e das indústrias monopolistas sempre foi a política do Congresso Nacional Africano. Nenhuma mudança ou alteração nas nossas políticas nesse campo são admissíveis. Apoiamos completamente e encorajamos o empoderamento da economia dos negros, mas é inegável que, em nossa situação, não podemos ceder o controle de alguns setores da economia pelo estado” (“ANC Leader Affirms Support for State Control of Industry”, 26/1/1990, Times(Londres). 
Allister Sparks

A história não havia acabado, como Fukuyama dissera. Na África do Sul, a maior economia do continente africano, muitos ainda acreditavam que a liberdade incluía necessariamente o direito de exigir e redistribuir os ganhos mal havidos dos opressores.

Essa crença sempre formara a base da política do Congresso Sul-Africano (CSA) ao longo de 35 anos, desde que foi explicitada na “Carta da Liberdade” [orig. Freedom Charter], de declaração de princípios do CSA. A história da redação desse documento é folclore na África do Sul, e não sem razão. O processo começou em 1955, quando o partido despachou 50 mil voluntários pelas cidades e vilas do país. 

A tarefa desses voluntários era recolher “demandas de liberdade” da população, descobrir como viam um mundo pós-apartheid, no qual todos os sul-africanos tivessem direitos iguais. As demandas foram recolhidas, escritas em pedaços de papel: “Dar terra a todos os que não têm terra”. “Salários suficientes para viver e menores jornadas de trabalho”. “Educação gratuita e obrigatória, independente de cor, raça ou nacionalidade”. “Direito de morar e andar livremente” e muitas mais. 

Quando as demandas voltaram aos organizadores, o CNA sintetizou-as num documento final, oficialmente aprovado dia 26/5/1955, no Congresso do Povo, realizado em Kliptown, numa “buffer zone”, construída para proteger os moradores brancos de Johannesburg, dos ataques das massas de Soweto. Apenas 300 delegados – negros, indianos, “coloured” e poucos brancos – reuniram-se num descampado, para votar os conteúdos do documento. Segundo o relato de Nelson Mandela dessa reunião histórica em Kliptown, “o documento foi lido em voz alta, item a item, para os presentes, em inglês, sesotho e xhosa. A cada item lido, a multidão aprovava aos gritos de “Afrika!’” e “Mayibuye!” (MANDELA, Nelson, A Long Walk to Freedom: The Autobiography of Nelson Mandela, 1994, New York: Little, Brown and Company, p. 150). A primeira, desafiadora demanda, da “Carta da Liberdade” dizia: “O povo governará!”

Em meados dos anos 50, esse sonho estava décadas longe de ser realizado. No segundo dia do Congresso, a reunião foi violentamente atacada pela polícia, que acusou os delegados de “conspirar para a traição”. 

Nelson Mandela
Mandela confirmou, depois de 27 anos de prisão, na nota de duas linhas escrita de sua cela: ele ainda acreditava que, sem redistribuição não haveria liberdade. Com vários países então “em transição”, a declaração tinha implicações enormes. Se Mandela liderasse o CNA ao poder e nacionalizasse os bancos e as minas, estaria criado um precedente que tornaria ainda mais difícil para os economistas de Chicago impedir que o mesmo acontecesse em outros países (classificados como “relíquias do passado”) seriam capazes de sanar as mais profundas desigualdades. (...)

Dia 11/2/1990, duas semanas depois de redigir aquela nota, Mandela deixou a prisão, livre, recebido como santo ressurreto, se algum dia houve algum, em todo o mundo. As cidades sul-africanas explodiram em festa. E renovou-se a convicção de que nada deteria a luta pela libertação. 

Diferente do movimento na Europa Oriental, o da África do Sul não foi derrotado: foi colhido de roldão. Mandela, por sua vez, foi vítima de caso épico de choque de cultura, e tomou os microfones e câmeras como se fossem “novo tipo de armamento desenvolvido enquanto estive preso.” [1]

O mundo era definitivamente diferente do que Mandela deixara, 27 anos antes. Quando Mandela foi preso, em 1962, uma onda do nacionalismo de Terceiro Mundo varria o continente africano; agora, o continente estava destroçado pela guerra. Enquanto permaneceu preso, revoluções socialistas nasceram e morreram: Che Guevara foi morto na Bolívia em 1967; Salvador Allende, no golpe de estado de 1973; Samora Machel, herói da libertação e presidente de Moçambique, morreu num misterioso desastre aéreo em 1986. O final dos anos 80s e o início dos 90s conheceram a queda do Muro de Berlim, a repressão na Praça Tiananmen e o colapso do comunismo. Entre todas essas mudanças, havia pouco tempo para entendê-las: imediatamente depois de sair da prisão, Mandela tinha um povo a conduzir rumo à liberdade, ao mesmo tempo em que evitava uma guerra civil e um colapso econômico – dois casos que pareciam indicar diferentes possibilidades. 
Naomi Klein na TV

(...) Se havia terceira via entre o comunismo e o capitalismo – um modo de democratizar o país e redistribuir riqueza ao mesmo tempo – a África do Sul, sob a orientação do CNA parecia estar excepcionalmente bem localizada para converter em realidade esse sonho sempre buscado. Não só pela avalanche de admiração e de apoio a Mandela, mas também pelos traços específicos que a luta anti-apartheid assumira nos anos anteriores. 

Nos anos 80s, a luta anti-apartheid convertera-se em movimento de massas verdadeiramente global, e a arma que os ativistas mais utilizaram foi o boicote de empresas – tanto contra produtos produzidos na África do Sul, quanto contra produtos e empresas internacionais que comerciavam com o estado de apartheid. (...) Mas a campanha tinha também um componente moral: muitos consumidores criam firmemente que empresas que se beneficiassem da legislação racista mereciam ser castigadas também no plano financeiro. 

Só por isso, o CNA teve a excepcional oportunidade de rejeitar a ortodoxia do livre-mercado daqueles dias. Dado que já se criara o consenso segundo o qual as empresas eram também responsáveis pelos crimes do apartheid, o cenário estava preparado para que Mandela explicasse por que setores chaves da economia sul-africana tinham de ser nacionalizados, exatamente como a Carta da Liberdade exigia.

Poderia ter usado o mesmo argumento para explicar por que a dívida interna acumulada durante o apartheid era peso ilegítimo, pelo qual nenhum novo governo, democraticamente eleito, deveria ser obrigado a pagar. Haveria ultraje e ranger de dentes do FMI, do Tesouro dos EUA e da União Europeia ante comportamento tão indisciplinado, mas Mandela, por sua vez era santo ressurreto – e contaria com enorme apoio popular mundial. 

Jamais saberemos quais daquelas duas forças teriam prevalecido. Nos anos que passaram entre a nota que Mandela escreveu ainda da prisão e as eleições do CNA de 1994, quando foi eleito presidente, algo aconteceu que convenceu a hierarquia do partido de que não poderia usar o prestígio dos movimentos de base para exigir e redistribuir a riqueza que o apartheid roubara ao país.

E, em vez de buscar um ponto médio entre a Califórnia (para os brancos) e o Congo (para os negros), o CNA adotou políticas que fizeram aumentar tanto as desigualdades e os crimes, que a África do Sul é, hoje, alguma coisa semelhante ao ponto médio entre Beverly Hills e Bagdá. Hoje, o país é como um testamento vivo do que acontece quando a reforma econômica é impedida pela transformação política. Politicamente, os sul-africanos têm direito de votar, há liberdades civis e a maioria governa. Mas, economicamente, a África do Sul já ultrapassou o Brasil e é hoje a sociedade mais desigual do mundo

Aconteceu que, quando o novo governo tentava tornar realidade os sonhos da Carta da Liberdade, descobriu que o poder não vivia na África do Sul. (...)

Redistribuir a terra? Impossível – no último minuto, os negociadores concordaram em acrescentar um artigo, na nova Constituição, que protege a propriedade privada, tornando virtualmente impossível qualquer reforma agrária. Criar empregos para milhões de desempregados? Impossível – centenas de fábricas estavam a ponto de fechar, porque o CNA já era membro do GATT, precursor da Organização Internacional de Comércio, que impede subsídios a fábricas de automóveis e à indústria têxtil. Distribuir gratuitamente drogas anti-AIDS nas vilas e cidades, onde a doença se alastra com aterrorizante velocidade? Impossível – a distribuição gratuita viola direitos de propriedade intelectual da Organização Mundial de Comércio, da qual o CNA tornou-se membro, sem qualquer discussão pública, como continuação natural dos compromisso com o GATT. Dinheiro para construir mais casas e melhores casas para os pobres e levar luz elétrica às favelas? Desculpe, mas o orçamento está sendo devorado pelo serviço da dívida massiva, reconhecida silenciosamente pelo governo do apartheid. Imprimir moeda? Contem essa ao Banco Central da era do apartheid. Água gratuita para todos? Pouco provável. O Banco Mundial, com seu vasto contingente de economistas, pesquisadores e especialistas já instalados no país (um autoproclamado “banco de conhecimento”) já construiu parcerias com o setor privado; as parcerias, de fato, já, são norma. Querem controlar a moeda, protegê-la contra a especulação? Impossível. Violaria o acordo para empréstimo de $850 milhões, com o FMI, convenientemente firmado pouco antes das eleições. Querem aumentar o salário mínimo, para diminuir o fosso criado pelos salários do apartheid? Nem pensar: o acordo com o FMI torna obrigatório o arrocho salarial (HORTON, Mark, “Role of Fiscal Policy in Stabilization and Poverty Alleviation,” in Post-Apartheid South Africa: The First Ten Years, ed. Michael Nowak and Luca Antonio Ricci, Washington DC: International Monetary Fund, 2005, p. 84). 

E que ninguém nem pense em ignorar esses compromissos – qualquer mudança será tomada como evidência de que o país é perigosamente pouco confiável, de que não está comprometido com “reformas”, de que não é sistema “baseado em regras confiáveis”. E atitudes diferentes levarão a crises monetárias, cortes nos programas de ajuda e fuga de capitais. Em resumo, a África do Sul estava livre, mas simultaneamente fora capturada; cada sigla de que os jornais não paravam de falar era como um fio da rede que prendera e paralisara todos os braços do novo governo. (...)

Ativista há décadas, da luta anti-apartheid, Rassool Snyman, descreveu a armadilha em termos bem claros. “Jamais nos concederam qualquer liberdade. Aconteceu apenas que tiraram a corrente do nosso pescoço e a prenderam nos nossos pés”. Yasmin Sooka, importante ativista sul-africana de direitos humanos, contou-me que, na transição “só o business falava. ‘Ficamos com a propriedade e vocês [o CNA] governa. Vocês terão poder político, vocês farão a fachada do governo, mas o poder estará noutro lugar”.

Foi um processo de infantilização – em que a mídia-empresa tem papel decisivo –, comum nos países ditos “em transição”. Há novos governos e até recebem as chaves da casa, mas não recebem a combinação do cofre.” (...)

Conversei sobre a transição com William Gumede, ativista de terceira geração do CNA, que, como líder do movimento estudantil durante a transição, esteve nas ruas, naqueles anos de tumultos. “Todos ficaram de olho nas negociações políticas – ele recorda, sobre as conversações Klerk–Mandela. “E sempre que o povo achava que as coisas não iam bem, havia protestos de massa. Mas quando os negociadores econômicos falavam, as pessoas entendiam que fossem relatórios técnicos; ninguém entendia e ninguém se interessava”. Essa percepção, disse ele, era estimulada por Mbeki [que comandou o governo de transição, antes de Mandela ser eleito], que apresentava as reuniões como “administrativas”, de pouco interesse para as massas (como também se fez no Chile, quando se construía uma “democracia tecnificada”). Resultado disso, disse-me ele, entre frustrado e furioso, “Não vimos! Não vimos a verdadeira transição!”

Gumede diz que a maioria das pessoas “comuns” simplesmente assumiu que, fossem quais fossem os compromissos necessários para chegar ao poder, para governar, seria fácil, depois, desfazê-los, depois, quando o partido CNA estivesse de fato governando. “Íamos ser governo. Depois, acertaríamos tudo” – disse ele.

O que os ativistas do CNA não entenderam naquele momento foi que aquelas reuniões “de transição” estavam alterando a própria natureza da democracia; que, ao final da transição, a democracia estaria tão alterada – as malhas da teia se apertariam de tal modo sobre a África do Sul – que, de fato, nem haveria ‘depois da transição’, nem, de fato, qualquer transição.

Gumede continua: “Eu estava focado na política – na ação de massas, passava os dias em Bisho [local onde houve confronto massivo entre manifestantes e a polícia], gritava “Fora! Fora!”. Mas a luta real não estava ali – a luta real estava sendo conduzida pelos economistas. Até hoje me sinto mal, quando penso naquela ingenuidade. Eu era politicamente maduro, o suficiente para saber que nada se decide na praça. Como pode ter acontecido de eu não ter visto?” (...)

A “terapia de choque”, nas transições políticas

A terapia de choque sempre é manobra do mercado – parte de uma teoria subjacente. A terapia de choque adora os momentos de emoção, quando o preço das ações dispara, quase sempre depois de oferta pública de ações, do anúncio de alguma grande fusão ou contratação de algum novo executivo-celebridade. Quando os economistas exigem que um país aplique algum pacote de terapia de choque, o conselho baseia-se, pelo menos em parte, na tentativa de imitar esse tipo de grande evento ‘de mercado’ e disparar o estouro da manada –, com a diferença que, nas transições políticas, não se trata de vender ações de algum patrimônio individual, mas de vender um país. O resultado almejado é “Comprem papéis da Argentina!” “Comprem papéis da Bolívia!”. Abordagem mais cuidadosa, mais lenta, pode ser menos brutal, mas priva o mercado dessas emoções radicais e das ‘bolhas’, durante as quais o mercado faz dinheiro e ganha posições.

A terapia de choque sempre é uma aposta, e na África do Sul não funcionou: Mbeki não conseguiu atrair investimentos de longo prazo para o país. Só obteve dinheiro de especulação, que acelerou ainda mais a desvalorização da moeda. (...)

A Comissão de Reconciliação e Verdade da África do Sul é frequentemente citada como modelo de “processo de paz” bem sucedido, exportada para outras zonas de conflito como do Sri Lanka ao Afeganistão. Mas muitos dos diretamente envolvidos no processo ainda carregam dúvidas profundas. 

Ao divulgar o relatório final em março de 2003, o presidente da Comissão, bispo Desmond Tutu, mostrou aos jornalistas, de fato, um processo de paz ainda inconcluso. 

“Alguém pode explicar” – disse ele – “que um negro sul-africano acorde hoje, quase dez anos depois da igualdade e da liberdade, ainda num gueto miserável? Vai trabalhar muito longe de casa, quase sempre numa mansão, num palácio, onde só vivem brancos e ele trabalha para brancos. E ao final do dia, volta para o gueto, onde muitas vezes não tem água nem comida? Não entendo por que essas pessoas não saem às ruas para protestar: “A paz que se dane! Tutu que vá p’rô inferno! A Comissão da Verdade que vá p’rô inferno!” [continua, no livro, em português, e na página de Naomi Klein, em inglês]


NOTA DOS TRADUTORES: A íntegra do capítulo pode ser lido, em inglês, em Democracy born in chains, republicado pela autora, em sua página na internet, semana passada. 

O livro Doutrina do Choque. A ascensão do capitalismo de desastre, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, pode ser comprado pela página Buscapé. 

Há matéria sobre o livro, em português, em Carta Maior, 14/5/2010, em: O capitalismo de desastre é uma resposta à crise. Como sempre acontece, os analistas brasileiros leem Naomi Klein, sempre, como militante do altermundismo, sempre ativa nos Fóruns Sociais Mundiais e nas causas do ambientalismo, o que ela é também, mas não só. 

A professora entrevistada em Carta Maior e seus entrevistadores não fogem a essa escrita. Na entrevista sobre o livro, exemplarmente, a analista só é perguntada e só analisa os casos em que o “capitalismo de desastre” atuou em desastres, literalmente naturais (em New Orleans & Katrina, por exemplo). 

Todo o capítulo sobre o desastre da transição política na África do Sul, e a operação ativíssima, ali, do “capitalismo de desastre”, do qual aqui se leem excertos, não é sequer lembrado.

Pelo visto, as massas árabes nas ruas ainda terão de arrastar os jornalistas e especialistas ocidentais para fora de suas tradicionais zonas de conforto, antes que se leiam análises realmente fortes e estimulantes sobre a Grande Revolta Árabe de 2011.



Nota de tradução
[1] A maioria simples, nas eleições já havia sido de fato adiada, desde 1999. Até então, o poder executivo era partilhado entre os partidos políticos que recebessem mais de 5% dos votos. Entrevista não publicada com Nelson Mandela, feita pelo cineasta Ben Cashdan, 2001. In MARAIS, Hein, 2001, South Africa: Limits to Change: The Political Economy of Transition, Cape Town: University of Cape Town Press, pp. 91–92.


EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A PREPARAM ATAQUE A LÍBIA

Laerte Braga

Laerte Braga

O principal executivo do grupo EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A na Europa, David Cameron, responsável pelo extinto Reino Unido a mais importante filial do conglomerado naquele continente declarou que tropas das bases da OTAN ali localizadas podem atacar a Líbia para garantir a “democracia”.

Petróleo mudou de nome.

A secretária Hillary Clinton, integrante do conselho diretor executivo do conglomerado repetiu as declarações de Cameron. É o mesmo jogo jogado por George Bush para anunciar o ataque ao Iraque a partir da mentira das armas químicas e biológicas. Mandou o comunicado ser lido por Tony Blair (Bush’s Poodle), então gerente geral do antigo Reino Unido.

Tropas do conglomerado já se reposicionam na região próxima à Líbia para invadir e ocupar o país. O temor é que a revolução popular naquele país ponha fim ao acordo entre o ditador Muammar Gaddafi e os norte-americanos sobre petróleo, políticas do Banco Mundial e do FMI.

Aliado desde 2003, Gaddafi vai ser jogado no lixo como foi Mubarak, mas nada vai mudar é o que decidiu o conglomerado.

Como no Egito, onde os generais já reprimem a população para manter intocados os privilégios das elites políticas e econômicas construídos em 30 anos de ditadura.

Em meio a toda essa movimentação e enquanto aguardam a ordem de ataque, bandeiras com a suástica já começam a ser distribuídas ás hordas de mercenários que formam as forças de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Sobre se o povo líbio deseja esse tipo de intervenção, nenhuma pergunta foi feita. As perguntas são dirigidas aos que comandam os interesses políticos e econômicos da empresa (extinto EUA) sediada em Washington.

Vale dizer que uma intervenção desse porte para garantir o petróleo, agora chamado de democracia vai custar, no mínimo, um milhão de líbios mortos, mas Wall Street sobrevive intacta.

As manifestações populares no Iêmen, na Jordânia, no Barein, na Argélia e em Madison, capital do estado de Wisconsin, essas, por enquanto, não interessam. O petróleo está garantido na repressão de generais/cãezinhos subordinados ao conglomerado. MILICANALHAS iguaizinhos os do Brasil. (Castor)

Uma invasão à Líbia será um ato de terrorismo sem tamanho e confirma os reais “propósitos” democráticos, cristãos e ocidentais de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

A decisão não é repentina vem sendo estudada desde o início das manifestações de protesto do povo líbio e só está sendo anunciada diante da perspectiva de perda do controle dos negócios do petróleo.

A democracia para o conglomerado significa tanques abarrotados de petróleo e cofres estourando de dinheiro. É para isso que dispõe de um arsenal capaz de destruir o mundo cem vezes.

Obama é um criminoso, deveria ser levado ao Tribunal Criminal Internacional, fora o fato de ser um mero funcionário de EUA/TERRORISMO S/A, já que, além dos negócios, quer manter o emprego nas eleições do ano que vem.

Quer ganhar mais quatro anos para tentar emplacar uma cantada em Angelina Jolie. Só levou não até agora. 

David Cameron é o executivo de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A que decretou o fim do multiculturalismo num discurso feito em Berlim no início desse mês de fevereiro, retirando do baú a bíblia do conglomerado. MEIN KAMPF.

Segundo seu pronunciamento diante de executivos do conglomerado na antiga Comunidade Européia a convivência entre diferentes é impossível e por isso deveriam ser tomadas providências para eliminar os diferentes. Não difere nada do que fizeram à América inteira desde Colombo. Os massacres de Maias, Astecas e Incas.

Ou a destruição que em nome de Cristo impuseram aos povos árabes.  

Sílvio Berlusconi, amigo de Gaddafi, com quem firmou vários acordos petrolíferos, já anunciou que vai à guerra num cavalo alazão cercado de amazonas e pronto a intervir no Marrocos para assegurar o direito a marroquinas menores de dezoito anos. Garantiu que leva a bênção do enclave que chamam Vaticano. Herr Bento XVI vai ungir os “libertadores”.

Todo o noticiário da mídia privada e subsidiária do conglomerado (no caso do Brasil as redes nacionais de tevê, os grandes jornais e revistas) já está disseminando o maior número possível de notícias falsas e alarmantes, preparando a população para que dê apoio à ação terrorista de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Somos a Líbia de amanhã. O Brasil e toda a América Latina.

Na bagagem do “libertador” Barack Obama e seus generais cerveja em forma de veneno a ser servida aos líbios.

Tudo isso é pura barbárie. Violência e genocídio contra um povo que deseja apenas escolher o seu caminho sem que patas e garras nazi/sionistas interfiram e roubem suas riquezas. Aquelas que vão garantir – deveriam – a construção de um país livre e justo com os seus, segundo a vontade dos seus.

O fato de Gaddafi ser um tirano não justifica as ações terroristas de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A sob o pretexto de garantir democracia e direitos humanos. Pelo contrário, é o pretexto esfarrapado para repetir todas as cenas de boçalidade acontecidas no Iraque. Milhares de iraquianos, aliás, estão nas ruas protestando contra o governo títere do país e exigindo a saída dos mercenários do conglomerado terrorista.

Ao Brasil, frente a esse tipo de terror, cabe condenar de forma incisiva a possível invasão – como o fez Lula em relação ao Iraque. Não há colaboração possível com os Estados Unidos.

Os objetivos do complexo terrorista estão claros e em momentos como esses somem as Nações Unidas.  

Pouco importa o que pensam.

Importa o petróleo. Importam os negócios.

Não há diferença alguma entre as antigas batalhas que são mostradas em filmes sobre supostos bárbaros e as de hoje. Mudaram apenas as armas e o centro do terrorismo mundial está em Washington.  

Doutrina do Choque, Estados Unidos da América

Paul Krugman
By PAUL KRUGMAN, no New York Times – Shock Doctrine, U.S.A.
Published: February 24, 2011
Traduzido por Viomundo em: 28 de fevereiro de 2011 às 13:29

Aqui vai uma reflexão: talvez Madison, Wisconsin, não seja mesmo o Cairo. Talvez seja Bagdá — especificamente, Bagdá em 2003, quando o governo Bush colocou o Iraque sob o controle de autoridades escolhidas mais pela lealdade e confiabilidade políticas do que pela experiência ou competência.

Como muitos leitores vão lembrar, os resultados foram espetaculares — no mau sentido. Em vez de focar nos problemas urgentes de uma economia e sociedade destroçadas, que em breve mergulhariam em uma guerra civil assassina, os nomeados por Bush estavam obcecados com a imposição de sua visão ideológica conservadora. De fato, com saqueadores ainda soltos pelas ruas de Bagdá, L. Paul Bremer, o vice-rei americano, disse a um repórter do Washington Post que uma de suas maiores prioridades era “corporificar e privatizar as entidades estatais [iraquianas]“– palavras do sr. Bremer, não do repórter — e “afastar das pessoas a ideia de que o estado está presente em tudo”.

A história da obsessão privatista da Autoridade Provisória de Coalizão é central no best seller de Naomi Klein, “A Doutrina do Choque”, que argumentou que o Iraque fazia parte de uma tendência mais ampla. Desde o Chile nos anos 70, ela sugeriu, ideólogos da direita exploram crises para empurrar sua agenda, que não em nada a ver com a resolução das crises, mas tudo a ver com a imposição de uma sociedade mais dura, mais desigual, menos democrática.

O que nos leva a Wisconsin 2011, onde a doutrina do choque está sendo demonstrada em seu conjunto.

Em semanas recentes, Madison é o cenário de grandes demonstrações contra o orçamento do governador, que negaria o direito de barganha coletiva aos trabalhadores do setor público. O governador Scott Walker alega que precisa aprovar a lei para lidar com os problemas fiscais do estado. Mas seu ataque aos sindicatos não tem nada a ver com o orçamento. Na verdade, os sindicatos já deixaram clara sua posição de fazer substanciais concessões financeiras — uma oferta que o governador rejeitou.

O que está acontecendo em Wisconsin é, na verdade, uma jogada de poder — uma tentativa de explorar a crise fiscal para destruir o último contrapeso ao poder político das corporações e dos ricos. E a jogada de poder vai além de destruir os sindicatos. A lei em questão tem 144 páginas e há algumas coisas extraordinárias encondidas nela.

Por exemplo, a lei inclui linguagem que permitiria a autoridades nomeadas pelo governador fazer grandes cortes no seguro de saúde de famílias de baixa renda sem passar pelo processo legislativo normal.

E então há isso: “Sem considerar ss. 13.48 (14)(am) e 16.705 (1), o departamento pode vender qualquer usina de aquecimento, esfriamento ou hidrelétrica ou pode contratar entidade privada para a operação de tal usina, com ou sem concorrência pública, por qualquer valor que o departamento determinar ser o melhor para os interesses do estado. Apesar da ss. 196.49 e 196.80, nenhum aprovação ou certificação de uma comissão de serviço público é necessária para que uma empresa pública compre ou contrate para a operação de tal usina, e qualquer compra é considerada de interesse público desde que considere os critérios de certificação do projeto sob s. 196.49 (3)(b)”.

O que significa isso? O estado de Wisconsin é dono de um certo número de usinas que fornecem aquecimento, refrigeração e eletricidade a entidades estatais (como a Universidade de Wisconsin). A linguagem na lei do orçamento permite, na verdade, que o governador privatize qualquer uma delas. Não apenas isso, ele poderia vendê-las, sem concorrência, a quem ele escolher. E note que qualquer venda destas, por definição, seria “considerada de interesse público”.

Se parece a você a perfeita armação para compadrio e lucro — lembram-se daqueles bilhões sumidos no Iraque? — você não está só. Na verdade, existem tantas cabeças suspeitando da Koch Industries, de propriedade dos irmãos bilionários que jogam um papel decisivo na ofensiva do sr. Walker contra os sindicatos, que a empresa se sentiu forçada a emitir uma nota dizendo que não está interessada na compra das usinas. Você se sente seguro disso?

A boa nova de Wisconsin é que o ultraje público — ajudado pelas manobras dos democratas no Senado estadual, que se ausentaram para negar quorum aos republicanos — reduziu a marcha dos lerdos. Se o plano do sr. Walker era aprovar a lei antes que as pessoas tivessem noção de seus reais objetivos, aquele plano fracassou. E os eventos em Wisconsin podem ter impactado outros governadores republicanos, que pareciam a caminho de apoiar jogadas parecidas.

Mas não esperem que o sr. Walker ou o resto de seu partido mudem seus objetivos. Destruir os sindicatos e privatizar continua sendo prioridades e os republicanos vão continuar a esconder estas prioridades sob o discurso de “equilibrar o orçamento”.