Laerte Braga |
Não encontrei, pelo menos onde fui pesquisar, nada sobre “recalque descolado e infantil” na literatura específica (Psiquiatria, Psicanálise ou Psicologia). E olhe que procurei. Três ou quatro “vade mecum” pelo menos.
Em quatro de novembro de 1979 estudantes iranianos invadiram a embaixada dos EUA em Terra, fizeram cinqüenta e dois reféns e elegeram, em 1980, Ronald Reagan presidente. Vinte minutos após o discurso de posse de Reagan a embaixada foi desocupada e os reféns liberados. Num gesto de “bondade” Reagan pediu ao candidato derrotado e ex-presidente Jimmy Carter que fosse recebê-los, afinal, todo o processo fora negociado em seu governo.
É óbvio que os estudantes iranianos não tinham o desejo de influir no processo eleitoral nos Estados Unidos. A ocupação da embaixada foi em novembro 1979 e as eleições presidenciais em dezembro de 1980.
Terminado o período de sigilo que se impõe a documentos públicos nos EUA (vinte e cinco anos em alguns casos, cinqüenta em outros), comprovou-se que as negociações haviam chegado a termo satisfatório vinte dias antes das eleições presidenciais e a diplomacia/burocracia, basicamente republicana, segurou o desfecho para ajudar a eleger Reagan, logo derrotar Carter.
Como a fraude que colocou Bush no poder.
De novembro de 1979 a dezembro de 1980, Jimmy Carter viveu a cada dia o drama dos sucessivos fracassos para a desocupação da embaixada, inclusive patéticas operações de resgate a partir de mariners, mercenários, o de sempre, em se tratando de norte-americanos.
O primeiro presidente a detectar o caráter de conglomerado dos EUA foi um general. Dwight Eisenhower (eleito em 1952 e reeleito em 1956), comandante das forças aliadas na IIª Grande Guerra Mundial. Usou a expressão “complexo industrial e militar”, mais ou menos o que o escritor John dos Passos havia entendido décadas antes.
Imagino que “recalque descolado e infantil” sejam antolhos partidários, sinos que só ribombam quando você está passando pelo quinquagésimo andar e acredita que “até ali tudo bem”. A concepção que “tudo” é uma bandeira, quem sabe uma câmera e uma idéia na cabeça. Ou um computador e o que se supõe seja idéia, seja a realidade. No fim desse “tudo” há um chão. É ali que você vai se esborrachar. O clássico “morreu na contramão atrapalhando o trânsito”. Há um chão e mais que orelha de livros e palavras de ordem.
Os estudantes iranianos queriam a extradição de Reza Pahlevi, o último Xá do Irã, acusado de vários crimes contra seu país e seu povo. Estava exilado nos EUA. O Xá, um velho aliado dos norte-americanos, apoiou em 1953 um golpe que derrubou o governo eleito pelo voto de Mohammad Mossadegh (primeiro-ministro), por seu caráter nacionalista.
Uma das primeiras lembranças de Barack Obama ao tomar conhecimento da revolução em curso no Egito foi essa. O ano de 2011 marca o início da campanha eleitoral de 2012 e enfraquecido pelos maus resultados de seu governo (ariano com o ator principal engraxado com graxa preta), sabe que, neste momento, as chances de reeleição são mínimas. Sua sorte é a falta de lideranças republicanas e a direita nos EUA não gostaria de repetir a dose John McCain. Mas guarda um ás na manga, quem sabe?
Tornou-se necessário ouvir o clamor do povo egípcio, tentar acalmar o povo da Tunísia, evitar que o movimento atinja a Argélia, a Jordânia, o Iêmen e outros países árabes, mas de um jeito tal que tudo parecesse mudar, sem que nada de fato mudassse. Ou que tudo pareça mudar, mas permaneça como está. Novos atores em cena, novos cenários, a mesma peça.
São dois jogos jogados a um só tempo. O jogo para fora, que faz coro às manifestações em todo o mundo contra a ditadura no Egito, as revelações sobre a natureza perversa e brutal do regime. O jogo para dentro, em que republicanos apoiam o presidente (afinal não podem tocar fogo no Oriente Médio), mas torcem para que Obama falhe.
Não podem entrar em campo nem George pai, nem George Filho, mas Jeb Bush está tinindo e pronto para isso. Por enquanto é um ás de paus, de espadas, no máximo de copas, quem sabe em um ano um ás de ouros?
Há quem diga que George filho quando derrubou Saddam Hussein mostrou ao pai como se faz uma guerra.
O fato real não é percebido por nenhum dos lados nesse jogo para dentro, pois disputam o controle do conglomerado EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A. O dia seguinte é bomba e pronto.
A cada manhã no Egito, nasce um novo Egito. E se estende para além de suas fronteiras.
Seria interessante lembrar Napoleão. “Soldados, quarenta séculos vos contemplam”. Extasiado diante das pirâmides.
Napoleão entendia as pirâmides, os soldados não.
Como, para dar um exemplo em nosso País, Dilma não entende que toda essa trama em torno do “apagão” é parte de um processo que busca os velhos tempos de privatizações de FHC. Eliane Cantanhêde, mistura de jornalista tucana e pústula, deixou isso claro numa das agências norte-americanas que operam entre nós, a GLOBO.
Dilma quer uma transição “pacífica e democrática no Egito”. Igualzinho Obama. No fim a culpa é de empresas estatais “paquidérmicas” e sem a eficiência feérica dos “colados adultos”. Com certeza não é recalque. É viseira mesmo.
“Pelas ruas indecisos cordões que acreditam nas flores vencendo canhões...”
O que Jimmy Carter não entendeu e Obama entende, até porque seu nome completo é Barack Hussein Obama, é que o povo do Islã não quer a guerra, não carrega o ódio e traz consigo a misericórdia descrita com precisão pelo profeta Maomé.
O Egito transcende ao Egito.
Mas em Maomé não há a passividade burocrática/diplomática cristã, democrática e ocidental.
Se a montanha não vem a Maomé, como o dito popular, Maomé vai à montanha.
É por isso que o Egito transcende ao Egito. Deita ramas pelo Oriente Médio, pela Ásia, África e América Latina.
O discurso de David Cameron ressuscitando MEIN KAMPF e suas práticas odiosas estampa o medo que está além de eleições. Colado e adulto no preconceito.
Mubarak, um general que comandou a força aérea egípcia na guerra dos Seis Dias e teve seus aviões destroçados em terra não é só Hosni. É Suleiman, todo o modelo em quase todos os povos e países árabes.
Varrer com essa gente é só uma questão de tempo histórico.
Colado e adulto. Lá e aqui. Sem antolhos, sem viseiras, mas nas praças. Sem psicologia de botequim (e olhe que botequim é uma instituição respeitável).
Tanto faz que o faraó seja Hosni, ou Suleiman, aqui vamos acabar coroando Eike, ou Daniel.
Importante é entender os ventos que sopram do deserto.
Hosni saiu? Vai sair? Não é o bastante, toda a tralha norte-americana/sionista tem que sair também.
Que as bênçãos e os ventos soprados por Alah estejam com Tarso, o que começou a colocar os pingos nos is.
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