quarta-feira, 31 de agosto de 2011

EUA e a bola de cristal defeituosa

Amin Shalabi, Al-Ahram Weekly, Cairo, 25-31/8/2011, n. 1.062
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu


“Não é a ironia definitiva o fato de, na tarde de 11/9/2001, antes de começar o bombardeio, Kabul já ser igual ao sul de Manhattan? A “guerra contra o terrorismo” funciona, pois como um ato cujo verdadeiro objetivo é nos acalmar, na falsamente segura convicção de que nada mudou realmente.
(Slavoj ZIZEK, Bem-vindos ao deserto do real, cap. 2, Reapropriações: a lição de Mulá Omar”,
[Epígrafe acrescentada pelos tradutores]


Logo depois dos ataques terroristas do 11/9 contra New York e o Pentágono, os centros de pesquisa e think tanks norte-americanos foram denunciados por terem fracassado, sem qualquer informação de que aqueles ataques estavam sendo preparados, e pela incapacidade para avaliar corretamente a situação nas sociedades árabes e islâmicas.

Os especialistas norte-americanos em Oriente Médio fracassaram por não ter sabido avaliar as dinâmicas sociopolíticas que fizeram despertar os grupos militantes da resistência islâmica; erraram completamente na avaliação de ataques terroristas que já haviam acontecido, por exemplo no Egito – que riscaram de seus mapas, como incidentes locais, que não cresceriam a ponto de se tornarem fenômeno global.

Hoje, outra vez os especialistas norte-americanos que estudam o mundo árabe/islâmico estão sob pressão, ou, no mínimo, deveriam encolher-se, envergonhados, dessa vez por não terem antevisto a onda de revoluções que sacudiu o mundo árabe, e pelas premissas e pressupostos errados que subjaziam a todas as avaliações das condições da região, até a véspera daqueles eventos.

O cientista político professor Gregory Gause é um dos especialistas que a Primavera Árabe empurrou para uma espécie de introspecção autoavaliativa das perspectivas daqueles especialistas sobre as forças sociopolíticas ativas no mundo árabe e as relações que mantêm com os regimes governantes. Em discussão na revista Foreign Affairs de julho-agosto 2001 [1] , sobre a transformação democrática e sua conexão com a luta contra o terrorismo, Gause reconhece que várias vozes na comunidade acadêmica norte-americana muito insistiram na direção de que Washington não encorajasse a democratização do mundo árabe, porque os regimes autoritários aliados dos EUA seriam aposta mais segura para o futuro. Muitos, sobretudo, alertaram para o risco de que, se surgissem regimes democráticos no mundo árabe, dificilmente cooperariam para que os EUA alcançassem seus objetivos na região.

Mas quais são os pressupostos nos quais tantos intelectuais norte-americanos basearam suas interpretações dos desenvolvimentos no mundo árabe e das relações existentes entre os regimes governantes e as respectivas sociedades?

O primeiro é que os regimes governantes teriam construído aparatos militares e de segurança suficientemente fortes para derrubar qualquer levante doméstico. Dada a íntima conexão entre os governos e os aparelhos de segurança, os especialistas presumiram que em nenhum caso levantes domésticos que surgissem ganhariam fôlego e teriam desenvolvimento independente. As revoluções árabes provaram que esse pressuposto estava errado.

Com as revoluções na Tunísia e, principalmente, no Egito, os especialistas em Oriente Médio nos EUA acordaram de repente para o fato de que não haviam avaliado corretamente o papel do exército na política árabe. Embora tivessem dedicado atenção considerável a essa questão nos anos 1950s e 1960s, por causa dos vários golpes militares na região, a estabilidade dos regimes árabes desde então levou os especialistas norte-americanos a supor que o exército já não seria fator político crucial.

Em segundo lugar, aqueles especialistas presumiram que os programas de reformas econômicas, combinados com a riqueza acumulada na venda do petróleo, teriam permitido que os governos oferecessem serviços sociais e econômicos que manteriam a estabilidade doméstica e esvaziariam quaisquer movimentos de protesto político.

Outra vez, as revoluções árabes, principalmente as que aconteceram em países que não são produtores de petróleo, como Tunísia e Egito, expuseram o vício da premissa. Apesar de os programas de reformas econômicas implantados nesses dois países terem conseguido gerar taxas de crescimento relativamente altas, só conseguiram criar, de fato, uma muito estreita e flagrantemente milionária classe de empresários, que rapidamente se interligaram intimamente com a classe política dirigente. Mas o efeito das reformas teve pequeno efeito sobre a população. As reformas econômicas, de fato, tiveram efeito oposto ao desejado: geraram desigualdade, indignação e frustração gerais, a tal ponto que os novos ricos imediatamente cuidaram de, na primeira oportunidade, contrabandear suas fortunas para locais onde ficassem protegidas de qualquer maré revolucionária.

Evidentemente, os especialistas norte-americanos erraram ao avaliar o impacto das políticas de reformas econômicas implantadas pelos regimes árabes, ou nunca viram o quanto aquelas políticas eram viciadas ou foram mal aplicadas.

Em terceiro lugar, as revoluções árabes impuseram aos especialistas norte-americanos em Oriente Médio uma questão que eles supunham que estivesse enterrada há muito tempo: o arabismo e o nacionalismo panárabe. Embora a onda de nacionalismo árabe que despertou e foi liderada por Gamal Abdel Nasser nos anos 1950s e 1960s tenha de fato se esvaziado depois da derrota militar dos árabes contra Israel em 1967, as revoluções árabes de 2011 mostraram considerável renascimento dessas ideias. Não é acaso que os maiores levantes que irromperam no mundo árabe em 2011 tenham acontecido ao mesmo tempo e com as mesmas demandas e os mesmos slogans.

As manifestações que houve no Irã em 2009 não ecoaram nos países vizinhos do Irã. Mas um mês depois da autoimolação de Bou Azizi na Tunísia, já brotavam movimentos populares revolucionários em todo o mundo árabe. É sinal de que há um sentido coletivo de identidade cultural e política entre os árabes, mesmo que, hoje, esteja espalhada por 20 estados diferentes. A Primavera Árabe acabou com qualquer dúvida que restasse quanto a isso e mostrou que eventos num país árabe podem ter impacto poderoso, que ninguém previu, sobre outros.

Sabe-se que nos EUA órgãos da sociedade civil e da comunidade acadêmica, sobretudo, têm ativa participação na modelagem do pensamento norte-americano na área da política externa. Dessa vez, com os especialistas norte-americanos em Oriente Médio trabalhando com uma bola de cristal defeituosa, praticamente sem nada ver e nada saber das sociedades árabes, não surpreende que a Secretária de Estado Hillary Clinton tenha ido à televisão, nas primeiras horas da revolução no Egito, para declarar que “o regime egípcio é estável e Mubarak é aliado confiável dos EUA”. Foi avaliação errada, que nada tinha a ver com a revolução egípcia. Pouco depois, Washington resolveu rebaixar Hosni Mubarak: de aliado confiável, tornou-se peso descartável.


Nota dos tradutores
[1] Gregory Gause, “Why Middle East Studies Missed Arab Spring”, Foreign Affairs, jul-ago. 2011 (em inglês).




Aviões britânicos bombardeiam a cidade de Sirte

27/8/2011, José Gil de Almeida em A Marcha Verde  e em Mathaba  
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu

Aviões britânicos bombardearam durante a noite diversas regiões da cidade de Sirte, a cidade natal de Muamar Kadafi. Esse é mais um episódio covarde e sangrento, entre tantos outros patrocinados pelos países que compõe a OTAN.

Atacar e bombardear a população civil durante a noite é uma prática dos militares norte-americanos iniciada na Guerra da Coréia, quando dezenas de cidades e vilarejos daquele país foram dizimados sob ataque cruel e sanguinário das forças estrangeiras.

“À meia-noite, uma formação de Tornados GR4s, que partiu da base da RAF (Royal Air Force) de Marham, em Norfolk, leste da Inglaterra, disparou uma salva de mísseis guiados de precisão Storm Shadow contra um bunker de um grande quartel-general na cidade natal de Kadafi, Sirte", afirma um comunicado.

A TV estatal líbia, Al Jamariya, anunciou nesta quinta-feira em sua página no Facebook que a OTAN estava bombardeando Sirte, atingindo alvos civis, entre os quais hospitais, escolas e rodovias.

Imaginem se a Líbia disparasse mísseis em direção à Europa? Seria um desastre sem proporções e a opinião pública mundial ficaria revoltada ao extremo, mas a mídia ocidental silencia quando aviões partem da Inglaterra para despejar bombas na Líbia e voltar ao país de origem cantando vitória. É uma verdadeira desgraça para o futuro da humanidade não reagir a mais esse crime de guerra praticado por britânicos.

Não consta que a ONU tenha autorizado que aviões da Inglaterra bombardeassem cidades líbias. Trata-se de crime de guerra, condenável por toda a legislação internacional. Entretanto, por tratar-se de terrorismo de Estado patrocinado por aliado dos EUA, é praticamente impossível que haja qualquer conseqüência em tribunais penais internacionais, na maioria controlados pelos governos das potências imperialistas que hoje atacam a Líbia para roubar petróleo.

A situação hoje é caótica na Líbia. Falta água, luz, gasolina e alimentos na maioria das cidades, ou seja, os invasores atingiram seus objetivos de enfraquecer o país para permitir o roubo de suas riquezas através da formação de um governo pró-ocidente, a exemplo do que fizeram no Iraque e Afeganistão.

O povo árabe líbio e os partidários de Muamar Kadafi lutam contra a maior potência militar do planeta, incluindo amais avançada tecnologia de guerra, os aviões não-tripulados utilizados pelo governo norte-americano. A população líbia foi colocada em regime de terror pelos bombardeios diários da OTAN que assassinou milhares e milhares de civis indefesos.

OTAN canta vitória antes da hora




30/8/2011, George Friedman, Stratfor Global Inteligence
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu


A guerra na Líbia acabou. Melhor dizendo, governos e imprensa-“mídia” resolveram que a guerra na Líbia teria acabado, apesar de os combates continuarem. A esperança não realizada sempre foi que Muammar Gaddafi capitularia ao ver as forças coordenadas contra ele, e que seus soldados desertariam quando vissem perdida a guerra. O que tantos festejaram semana passada – presidentes, primeiros-ministros e a imprensa-“mídia”, a proclamarem a derrota de Gaddafi – talvez até venha a ser fato, adiante; hoje, não é. O fato de não haver qualquer paz a comemorar, em nada diminuiu a euforia das autocongratulações. 

Por exemplo, o primeiro-ministro da Itália Franco Frattini informou que Gaddafi só controlaria 5% da Líbia. Parece pouco, por exemplo, para o jornal italiano La Stampa, que noticiou que “Trípoli está[ria] sendo varrida” bairro a bairro, rua a rua, casa a casa. E nenhuma notícia sobre as bombas que chovem sobre Sirte, onde, segundo os franceses, Gaddafi teria conseguido chegar, mas ninguém explica como. A cidade de Bali Walid, estrategicamente importante e uma das únicas duas vias de fuga para outra fortaleza gaddafista em Sabha – está cercada.

Melhor dizendo mais uma vez, as forças de Gaddafi ainda controlam militarmente áreas muito substanciais. Em Trípoli, a luta prossegue casa a casa. Muitas barricadas, com suficiente capacidade de defesa que os “rebeldes” não derrotaram e não derrotarão sem significativa preparação militar. Embora não se conheça seu paradeiro, Gaddafi só será preso se houver considerável preparação militar, inclusive com ataques aéreos pela OTAN em torno de Bali Walid, Sirte e Sabha. Quando Saddam Hussein foi capturado, estava escondido numa toca no chão, sozinho e sem exército. Gaddafi ainda tem meios para lutar e ainda é poderoso desafio. A guerra não acabou.

Pode-se argumentar que, embora Gaddafi ainda comande poder militar organizado e porção significativa de território, já não governa a Líbia. É verdade, mas mais só significará alguma coisa quando e se seus inimigos realmente puserem as mãos nas alavancas do governo. Não é razoável esperar que cheguem a essa posição nos próximos dias, com Trípoli ainda sacudida por combates. Há aí, sobretudo, uma questão criticamente importante: os “rebeldes” terão meios para formar um governo efetivo? Ou prosseguirão os combates entre os líbios, mesmo depois de Gaddafi ser (como ainda não foi) derrotado? Em termos mais simples: Gaddafi talvez venha a ser e muito provavelmente será derrotado. Mas ainda não está derrotado. E as competências de seus inimigos para governarem a Líbia são, no mínimo, muito duvidosas.

Imaculada Intervenção

Dado que a coisa está longe de poder ser dada por resolvida, vale a pena considerar as declarações de Barack Obama, Nicolas Sarkozy e David Cameron, os principais atores políticos dessa guerra. Todos declararam que Gaddafi teria sido derrubado, o que significaria o fim da guerra. E a imprensa também encerrou, por sua conta, a guerra na Líbia. Para entender tudo isso é preciso entender o quanto o curso dessa guerra surpreendeu todos esses líderes.

Desde o início, todos tinham certeza de que a intervenção da OTAN, primeiro para implantar uma zona aérea de exclusão, depois com ataques diretos contra posições de Gaddafi, seria guerra rapidíssima, que o governo de Gaddafi cairia imediatamente, e que seria facílimo substituí-lo por uma coalizão construída no leste do país.

Duas forças combinaram-se para levar a essa conclusão.

A primeira dessas forças foram os grupos não governamentais de direitos humanos e facções nos ministérios de Relações Exteriores e no Departamento de Estado, para os quais a intervenção seria necessária para impedir que os “rebeldes” em Benghazi fossem massacrados. Essa facção tinha, pelo menos, um grave problema: o meio mais efetivo para pôr fim rápido a um regime brutal teria de ser a intervenção militar. Mas, depois de condenar a invasão dos EUA ao Iraque (também apresentada, pelo menos em parte, como meio para derrubar regime brutal), essa facção não encontrou argumentos com os quais justificar, além dos ataques aéreos, também a invasão militar por terra, na Líbia. Argumentos morais também têm de ser racionais e consistentes.

Na Europa, dominava a doutrina do “poder soft” [lit. “poder macio” = poder diplomático e político, não militar]. No caso da Líbia, era difícil encontrar via pela qual o “poder soft” pudesse agir. Sanções e discursos dificilmente conseguiriam conter Gaddafi; mas ação militar e “poder soft” não andam juntos. Desse impasse, nasceu uma doutrina do “poder militar soft”. Instituir a zona aérea de exclusão foi o meio pelo qual a ação militar pôde ser imposta como se não fosse ação militar e não causasse mortos e feridos (excetos os pilotos militares líbios). Assim, criou-se alguma diferença entre o Iraque e a Líbia: a Líbia não seria nem invadida nem ocupada, mas se criaria forte pressão sobre Gaddafi.

Evidentemente, a zona aérea de exclusão deu em nada, foi inefetiva e irrelevante, e, logo no primeiro dia, os franceses começaram a bombardear as forças de Gaddafi. Em solo, morriam civis líbios, mas não morriam soldados britânicos, franceses ou norte-americanos.

Enquanto a zona aérea de exclusão era oficialmente anunciada, os bombardeios aéreos foram-se implantando, sem que se tenha podido ver o exato momento em que uma coisa converteu-se em outra. Graças a esse processo de transformação gradual, os ativistas dos direitos humanos conseguiram safar-se de ter de dizer que bombardeios aéreos frequentemente matam civis, porque nenhum ataque aéreo é tão cirurgicamente preciso quando se desejaria. Para os governos, o mesmo processo permitiu que se mostrassem ao mundo como agentes do que tenho chamado de uma “imaculada intervenção”.

A segunda força que muito trabalhou a favor dessa estratégia foram as várias forças aéreas nacionais e internacional envolvidas. A importância da força aérea na guerra moderna é indiscutível, mas há muita discussão sobre se o poder aéreo, ele só, basta para alcançar objetivos políticos, sem a ação da infantaria, com soldados, como se diz, no chão. Para a comunidade da aviação de guerra, a Líbia seria hora e local perfeitos para demonstrar que, sim, o poder aéreo é muito efetivo também para alcançar objetivos políticos.

Assim aconteceu que:

– os defensores de direitos humanos puderam concentrar-se só nos objetivos – proteger civis em Benghazi –, apagar todo o resto da questão e continuar fingindo que não haviam pregado o início de uma guerra que, vencesse quem vencesse, produziria muitos mortos.

– Os governos puderam apresentar-se como se não estivessem metendo seus respectivos exércitos, de corpo inteiro, num pântano infernal: estavam fazendo uma “intervenção limpa”. E

– as forças aéreas puderam apresentar-se ao público e aos mercados como úteis também para implantar objetivos políticos.

Por que e como?

É preciso encarar o problema da razão oculta da guerra da Líbia, porque circulam versões que tudo explicam a partir da ideia de que as grandes empresas de petróleo disputam vastas somas de dinheiro na Líbia. São versões perfeitamente razoáveis, dada a enorme dificuldade para entender os reais motivos dessa guerra, e sou solidário a todos que tentam encontrar algum movimento conspiracional profundo para explicar o que está acontecendo na Líbia. Pessoalmente, eu também adoraria descobrir um movimento desses.

O problema é que a teoria da “guerra do petróleo” nada explica. Por que fazer guerra à Líbia, se Gaddafi adorava vender petróleo? Se os mesmos governos que agora se unem para derrubar Gaddafi lhe tivessem dito, pelos discretos canais diplomáticos, que o arrancariam de lá se não houvesse condições especiais para eles ou se Gaddafi passasse a tentar abocanhar lucros maiores do que os previstos, Gaddafi entenderia e agiria adequadamente. Qualquer um entende que aceitar sócios no petróleo e ceder parte dos ganhos sempre será melhor negócio que ser derrubado ou enforcado. A teoria ‘do petróleo’ para explicar a guerra da Líbia nada explica, porque todos sabem que ninguém precisaria de guerra para obter as concessões que desejasse.

Por inverossímil que seja, a história de “proteger o pessoal de Benghazi” (que poderia ser massacrado) é a única explicação racional para o que aconteceu.

É preciso entender também que, dada a natureza da guerra aérea moderna, não há dúvida alguma de que comandos de forças especiais da OTAN foram infiltrados na Líbia desde os primeiros dias, em terra. Já se sabe que foi assim, com certeza, no mínimo, desde alguns dias antes do início da campanha aérea. Identificar alvos e atacá-los com precisão satisfatória envolve necessariamente a ação de equipes que orientam os tiros para os alvos em terra. Não há dúvida de que todos os procedimentos operacionais regulares foram seguidos.

Além desses comandos em terra, é provável também que operadores especiais também tenham sido treinados em terra. Seus instrutores, com certeza, também comandaram os “rebeldes” de Benghazi nos confrontos armados. Houve muitas notícias, nos primeiros dias da guerra, quando ainda se acreditava que seria guerra rápida, sobre equipes de operações especiais que lá estavam para treinar e organizar os “rebeldes” de Benghazi contra Gaddafi.

Essa abordagem, como logo se viu, enfrentou dois problemas não previstos.

Primeiro, Gaddafi não enrolou a tenda e rendeu-se. Mostrou-se, de fato, bem pouco intimidado ante os exércitos que se erguiam contra ele.

Segundo, logo se viu que seus soldados são altamente motivados e capazes, no mínimo, se comparados com as milícias ‘rebeldes’. Prova disso é que não houve rendição nem deserção em massa; as tropas da Gaddafi mostraram, isso sim, suficiente grau de unidade. E – a prova definitiva –, enfrentaram os ‘rebeldes’ e a OTAN durante seis meses. De fato, continuam a enfrentá-los ainda hoje.

A ideia dos grupos de direitos humanos, segundo a qual um ditador isolado fatalmente cairia ante exércitos da “comunidade internacional” “moral”; a ideia dos políticos ocidentais, de que um ditador isolado sempre será derrotado pelo extraordinário poder de fogo dos jatos da OTAN; e a ideia das forças aéreas, de que qualquer resistência política sempre será fatalmente destroçada por jatos e bombardeio aéreo cerrado – todas essas ideias, todas elas – comprovaram-se erradas.

Uma longa guerra

Parte do que estamos vendo acontecer na Líbia só se explica por o ocidente interpretar erradamente a natureza da política líbia. Gaddafi foi ditador, mas jamais esteve completamente isolado em seu país. Sempre teve oposição, mas também sempre teve inúmeros apoiadores, que se beneficiaram e, no mínimo, acreditavam também em suas ideias e doutrinas.

Também se difundiu a ideia entre os soldados de que, se se rendessem, seriam mortos; e, entre os governantes, que, se se rendessem seriam levados à Corte Internacional, o que os poderia levar à prisão. A ideia generalizada entre os grupos de direitos humanos, de que Gaddafi e seus próximos devam ser julgados pela Corte Internacional de Justiça da ONU, em Haia, não deixou saída a eles; e quem não tenha saída à retaguarda é condenado a avançar. Não há como negociar qualquer tipo de capitulação, a menos que o Conselho de Segurança da ONU aprove oficialmente o acordo. Os compromissos firmados sob palavra, “no fio de barba”, como antigamente, já nada valem nos dias de hoje. Todos os países que assinaram o Estatuto de Roma estão obrigados a levar Gaddafi à Corte de Justiça Internacional para que seja julgado.

Portanto, a menos que o Conselho de Segurança da ONU firme um acordo com Gaddafi – ao qual se oporão as organizações de direitos humanos, e a briga pode ser muito feia – Gaddafi não cederá; como tampouco suas tropas cederão.

 Semana passada, houve notícias de soldados do exército líbio que teriam sido executados pelas milícias de Benghazi. Verdade ou mentira, não é notícia que leve algum soldado líbio a considerar a possibilidade de render-se.

A guerra contra a Líbia começou como missão para proteger os habitantes de Benghazi. Rapidamente se converteu em guerra-golpe para derrubar Gaddafi. Mas aconteceu que, entre os objetivos políticos e os objetivos militares, as forças da guerra foram insuficientes e não conseguiram fazer o que se esperava que fizessem. Não se sabe quantos morreram na Líbia, ao longo dos últimos seis meses. Mas prolongar essa guerra usando o “poder militar soft” que se inventou para a Líbia, só servirá para aumentar o número de mortos, civis e militares.

Passados seis meses de guerra, a OTAN estava exaurida. E veio o assalto à capital, Trípoli. Pelo que já se sabe, o assalto a Trípoli foi operação em três partes. Primeiro, a OTAN infiltrou agentes das forças e operações especiais (poucas centenas, não milhares) os quais, orientados por agentes de inteligência que já estavam em Trípoli, atacaram para desestabilizar as forças de Gaddafi que protegem a cidade. Em seguida, viu-se uma operação de “relações públicas”, pela qual a OTAN tentou mostrar ao mundo (e aos inimigos) que a batalha estaria vencida.

O incidente patético, de o filho de Gaddafi, Seif al-Islam, anunciado em todo o planeta como capturado pela OTAN e que logo apareceu “ressuscitado” e sorridente, foi evidência do fracasso da OTAN na guerra de “relações públicas”. A OTAN tentou fazer crer que Gaddafi e suas forças haviam sido gravemente atingidos, para convencer as mesmas forças de Gaddafi  a capitular. Seif al-Islam precisou só de dois dedos e um minuto para fazer um “V” de “Vitória” e dizer aos seus soldados que a batalha não estava perdida.

Antecedidos por agentes de operações especiais e de ações de propaganda planetária, os “rebeldes” de Benghazi entraram em Trípoli com grande estardalhaço, inclusive com tiros para o ar. A imprensa mundial noticiou o fim da guerra, enquanto as forças especiais escafediam-se e os ‘rebeldes’ assumiam o centro do palco. Demorou seis meses, mas, sim, acabou. Em seguida todos viram que não, que nada havia acabado.

5% da Líbia – e de onde, afinal, podem ter tirado esse número?! – continua como território não ocupado. Nas ruas de Trípoli, prosseguem os combates. Várias áreas do país permanecem sob comando de Gaddafi. E Gaddafi não estava onde os inimigos queriam vê-lo. A guerra teve de prosseguir.

Há muitas lições a extrair disso tudo.

Primeiro, é importante lembrar que, por menos que a Líbia interesse ou preocupe a “comunidade internacional” e “moral”, a Líbia interessa e preocupa muito os líbios que lá vivem.

Segundo, não é verdade que ditadores sejam sempre odiados. Gaddafi não teria permanecido no governo por 42 anos, sem apoio.

Terceiro, nunca acredite que qualquer força bélica que você encontre à mão seja sempre suficiente para vencer guerras políticas.

Quarto, fechar a possibilidade de um fim negociado para a guerra na Líbia, sob o pretexto de que o julgamento em cortes internacionais tudo resolverá, nem sempre dá certo. O julgamento em cortes internacionais pode ser moralmente satisfatório, mas nem sempre impede que as guerras prossigam e o número de mortos aumente. É preciso decidir o que realmente interessa – aliviar o sofrimento das pessoas ou punir culpados (e nada muda se são comprovadamente culpados ou só pressupostos culpados e pré-condenados). Muitas vezes é preciso escolher um caminho, ou o outro, sem terceira via.

Quinto, e mais importante: que ninguém nunca mais tente mentir ao mundo sobre guerras “vencidas”. Depois que George W. Bush meteu-se num porta-aviões e posou para fotografias sob uma faixa em que se lia “Missão cumprida”, a violência na guerra do Iraque redobrou e Bush foi julgado e condenado pela opinião pública. Movimentos de guerra de “relações públicas” podem ter alguma utilidade para persuadir exércitos inimigos a render-se, mas fazem sangrar em hemorragia incontrolável a credibilidade e a confiabilidade de quem minta que venceu guerras, enquanto prosseguem os combates.

É provável que Gaddafi seja derrubado do governo da Líbia. A OTAN é muito mais poderosa que Gaddafi e pode arregimentar outros exércitos para derrubá-lo.

Mas a questão importante é outra: haverá outro meio para tirar Gaddafi do governo da Líbia, menos custoso e que produza melhores resultados, que os ataques da OTAN? Deixando-se de lado a ideia de que seja guerra por petróleo, se o objetivo do ataque a Gaddafi foi, de fato, proteger Benghazi e derrubar Gaddafi, teria sido preciso empenhar lá poder bélico muito superior.

Sem isso, é indispensável construir acordo negociado para que Gaddafi deixe o governo, com garantias de que não será julgado em cortes internacionais. Os resultados seriam melhores, mais rápidos e com menos mortes, do que o que se vê, com aplicação desse incompreensível “poder militar soft” inventado para a Líbia.

Agora, que o mundo tem os olhos postos na Síria, esses são temas que se deve ter em mente.

Por que Gaddafi recebeu cartão vermelho

1/9/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu


Observando a Líbia devastada, num gabinete aconchegante recheado de televisões de plasma mais fininhas que panqueca, num palácio em Pyongyang, o Amado Líder da República Popular Democrática da Coreia, Kim Jong-il, balançava a cabeça, pensando no suplício do coronel Muammar Gaddafi.

“Grande tolo”, murmura o Amado Líder. Claro. Ele sabe que o Grande Gaddafi assinou virtualmente a própria sentença de morte, num dia em 2003, quando aceitou a sugestão daquela sua lamentável prole – arrogantemente europeizados –, para que cancelasse seu programa de armas de destruição em massa e quando, no mesmo ato, pôs o futuro de seu governo nas mãos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Sim. Saif al-Islam, Mutassim, Khamis e o resto do clã Gaddafi ainda não conheciam a diferença entre detonar em farra barra-pesadíssima em St. Tropez e ser detonado por Mirages e Rafales. O Grande Gaddafi, esteja onde estiver, em Sirte, no deserto central ou numa silenciosa caravana para a Argélia, com certeza os está amaldiçoando para toda a eternidade.

Gaddafi supunha que fosse parceiro da OTAN. Agora, a OTAN quer arrancar-lhe a cabeça. Que parceria é essa?

O monarca sunita ditador permanece no Bahrain; nada de bombas “humanitárias” sobre Manama, nada de recompensa por sua cabeça. O clube de ditadores da Casa de Saud permanece; nada de bombas “humanitárias” sobre Riad, Dubai ou Doha – nada de recompensa por aquelas cabeças coroadas apaixonadas pelo ocidente. Estão pegando bem leve até com o ditador sírio – pelo menos por enquanto.

Portanto, a pergunta, levantada por vários leitores de Asia Times Online, é inevitável: qual a linha vermelha crucial que Gaddafi transgrediu, transgressão que lhe valeu o cartão vermelho?

“ Revolução’ made in France

Há tantas linhas vermelhas transgredidas pelo Grande Gaddafi – e tantos cartões vermelhos – que a tela do computador acabaria tingida de vermelho sangue.

Comecemos pelo básico. É coisa dos franceses. Vale a pena repetir: a guerra na Líbia é guerra francesa. Os americanos nem chamam a guerra na Líbia, de guerra: é só “ação cinética”, ou coisa que o valha. O Conselho Nacional de Transição ‘rebelde’ é invenção francesa.

E, sim, sim – sobretudo é guerra do neonapoleônico presidente Nicolas Sarkozy. Sarkozy é o George Clooney do filme (coitado do Clooney). Todos os demais, de David das Arábias Cameron, ao ganhador do Prêmio Nobel da Paz e inventador emérito de guerras Barack Obama, são coadjuvantes.

Como o Asia Times Online noticiou, a guerra da Líbia começou em outubro de 2010, quando o chefe de protocolo de Gaddafi, Nuri Mesmari, desertou e voou para Paris. Ali foi contatado pela inteligência francesa e, para todas as finalidades práticas, construíram um coup d'état militar, envolvendo desertores na Cyrenaica.

Sarkô tem uma mala de motivos para desejar vingar-se do Grande Gaddafi.

Bancos franceses contaram-lhe que Gaddafi preparava-se para transferir seus bilhões de euros para bancos chineses. E Gaddafi não podia, de modo algum, servir de exemplo para outras nações ou fundos soberanos árabes.

Empresas francesas contaram a Sarkô que Gaddafi decidira não comprar aviões Rafale e não contratar franceses para construírem uma usina nuclear; preferia investir em serviços sociais.

A gigante francesa de energia Total queria fatia maior do bolo energético líbio – que estava sendo devorado, do lado europeu, pela italiana ENI, sobretudo porque o premiê Silvio “bunga bunga” Berlusconi, fã de carteirinha do Grande Gaddafi, já tinha acertado negócio complexo com  Gaddafi.

Assim, o golpe militar foi aperfeiçoado em Paris, até dezembro; as primeiras manifestações populares na Cyrenaica em fevereiro – instigadas em larga medida pelos golpistas – foram capturadas. O filósofo da autopromoção Bernard Henri-Levy meteu num avião para Benghazi a sua camisa branca aberta no peito e foi encontrar-se com os “rebeldes”, de onde telefonou para Sarkozy e virtualmente ordenou que reconhecesse os tais “rebeldes”, já no início de março, como ‘governo legítimo’ (como se Sarkô carecesse de estímulos).

O Conselho Nacional de Transição foi inventado em Paris, mas a ONU também providenciou para inflá-lo como “legítimo” governo da Líbia. E a OTAN, que não tinha mandado da ONU para converter uma zona aérea de exclusão em bombardeio “humanitário” indiscriminado. Tudo isso culmina hoje no cerco da cidade de Sirte.

Os franceses e os britânicos redigiram o que viria a ser a Resolução 1.973 da ONU. Washington uniu-se alegremente ao convescote. O Departamento de Estado dos EUA combinou um negócio com a Casa de Saud, pelo qual os sauditas assegurariam um voto da Liga Árabe, como prelúdio à resolução da ONU; em troca, os sauditas seriam deixados em paz para reprimir qualquer protesto pró-democracia no Golfo Persa – o que os sauditas fizeram, com selvageria, no Bahrain.

O Conselho de Cooperação do Golfo (então convertido em Clube Contrarrevolucionário do Golfo) também tinha toneladas de razões para querer livrar-se de Gaddafi. Os sauditas adorarão acomodar um emirado amigo no norte da África, sobretudo se, simultaneamente, se livrarem da furiosa animosidade que separa Gaddafi e o rei Abdullah. Os Emirados querem novo local para investir e “desenvolver”. O Qatar, muito íntimo de Sarkô, queria fazer dinheiro – gerindo os novos negócios de venda de petróleo dos “legítimos” “rebeldes”.

A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton pode até ser muito amiga da Casa de Saud ou dos al-Khalifas assassinos no Bahrain. Mas o Departamento de Estado também vergastou Gaddafi pesadamente por suas “políticas cada vez mais nacionalistas no setor energético”; e, também, por estar “libianizando” a economia.

O Grande Gaddafi, jogador esperto, deveria ter visto o escrito no muro. Desde que o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh foi deposto essencialmente pela CIA no Irã em 1953, a regra é que ninguém se mete a antagonizar o Big Oil globalizado. Para nem falar de antagonizar o sistema financeiro/banqueiro internacional – promovendo ideias subversivas como usar a economia nacional em benefício da população local.

Quem seja pró-o-próprio-país é automaticamente inimigo dos que mandam – bancos ocidentais, megacorporações, “investidores” nebulosos à caça de lucrar com qualquer coisa que cada país produza.

Gaddafi não só atropelou todos esses limites como também tentou escapar do petrodólar: tentou vender à África a ideia de uma moeda unificada, o dinar de ouro (foi apoiado por muitos países africanos); investiu num projeto multibilionário – o Grande Rio Feito pelo Homem, uma rede de dutos que bombeiam água potável do deserto para a costa mediterrânea – sem, para isso, ter de ajoelhar ante o altar do Banco Mundial; investiu em programas sociais nos países subsaharianos mais pobres; financiou o Banco da África, com o que tornou possível, para muitos países, também escapar das garras do Banco Mundial e, principalmente, do Fundo Monetário Internacional; financiou um sistema de telecomunicações para todo o continente africano, graças ao qual escapou das redes ocidentais de telecomunicações; e ofereceu aos líbios excelente padrão de vida. A lista dos pecados de Gaddafi é infinita.

Por que não telefono para Pyongyang

E há ainda o ângulo militar crucialmente importante do Pentágono/ Africom/ OTAN. Nenhum país africano quis receber uma base do Comando Africano (Africom) do Pentágono. O Africom foi inventado no governo George W Bush, como meio para controlar de perto a África e para combater, escondido, os avanços comerciais da China.

Dado que ninguém quis acolher o Africom na África, o Africom escolheu local super africano: Stuttgart, na Alemanha.

A tinta em que se escreveu a Resolução 1.973 ainda nem secara, e o Africom, de fato, já estava bombardeando a Líbia com mais de 150 Tomahawks – antes de o comando das operações ser transferido para a OTAN. Foi a primeira guerra africana do Africom, e prelúdio do que virá. Fixar uma base permanente na Líbia é negócio já praticamente resolvido – parte da militarização neocolonial, não só do norte da África mas de todo o continente.

A agenda da OTAN para dominar todo o Mediterrâneo e convertê-lo em lago da OTAN, é tão definida quando a agenda do Africom para converter-se em Robocop da África. Os únicos pontos difíceis eram a Líbia, a Síria e o Líbano – três países que não são membros da OTAN nem ligados à OTAN por qualquer tipo de “parceria”.

Para compreender o papel de Robocop global que a OTAN aspira a desempenhar – legitimado pela ONU – basta prestar atenção à boca dura do secretário-geral da OTAN general Anders Fogh Rasmussen. Trípoli ainda estava sendo bombardeada, quando ele disse que “Quem não consiga manter tropas além das próprias fronteiras não terá influência internacional, e o vácuo será ocupado por potências emergentes que não necessariamente partilham nosso pensamento e nossos valores”. [1]

Portanto aí está, tudo dito. A OTAN é uma milícia high-tech ocidental para defender interesses dos EUA e de países europeus e isolar os BRICS emergentes e outros, e para manter curvados os “nativos”, sejam africanos ou asiáticos. O negócio fica mais fácil, porque a coisa está fantasiada de R2P – “responsabilidade de proteger”, não os civis, mas o saque subsequente.

Jogando contra todas essas forças, não surpreende que o Grande Gaddafi tenha recebido cartão vermelho, expulso do jogo para sempre.

Poucas horas antes de o Grande Gaddafi ter de começar a lutar pela própria vida, o Amado Líder bebericava champanhe russa com o presidente Dmitry Medvedev, trocando ideias sobre o gambito em curso no Oleodutostão. Lembrou, por acaso, que gostaria de conversar sobre seu arsenal nuclear ainda ativo.

Aí está o motivo pelo qual o Amado Líder sobe, enquanto o Grande Gaddafi despenca.


Nota dos tradutores

[1] Wall Street Journal, 24/8/2011

Mulá Mohammad Omar, dos Talibã: “Mensagem do fim do Ramadã, 2011” [1]


28/8/2011, Mullah Omar’s Eid ul-Fitr Message, Uruknet.info
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Mulá Mohammad Omar Mujahid

Alá é o Maior. Alá é o único Deus e o Maior. Todas as preces são por Alá, o Generoso, o Magnânimo.

Minhas preces vão para Alá que ajudou Seu Servo, o Santo Profeta; que honrou Seu Exército e derrotou a Confederação. Que a paz esteja com o Profeta, depois do qual não houve outro Profeta. Isso dito, eis minha mensagem.

Estendo minhas felicitações, de coração, ao povo afegão mujahid  [2] e à Ummah  [3] Islâmica por ocasião do Eid-ul-Fitr  [4] e congratulo-me com todos pelas repetidas vitórias no Afeganistão. Que Alá, o Generoso, aceite sob seu abraço o jejum de vocês, a Jihad  [5] e seus sofrimentos na luta pela causa da verdade.

Aproveitando a oportunidade, quero partilhar com vocês meus pensamentos sobre algumas questões vitais, como segue:

Sobre a atual situação da Jihad:

Os inimigos do Islã e do Afeganistão pensaram que esse ano seria crucial para derrotar os Mujahideen e para alcançar os objetivos perversos do inimigo. Fizeram crescer as esperanças entre o povo deles e em todo o mundo, de que haveria mudança fundamental no status quo.

Graças a Alá, o Misericordioso, todos os planos deles levaram a resultado contrário ao que previam suas avaliações e cálculos.

O inimigo sofreu mais baixas em almas e em equipamento, em comparação com anos passados. A cada dia que passa, mais os Mujahideen familiarizam-se com as táticas do inimigo. Estão tendo acesso a máquinas, instrumentos pelos quais causam mais baixas entre os inimigos.

Todos vêem hoje o imenso número de baixas no contingente inimigo, e seus aviões abatidos. Além disso, a cooperação cada vez maior do povo; a infiltração de Mujahideen nas fileiras do inimigo; a expansão da área da Jihad a todos os cantos do país; a escalada constante das operações diárias e a disponibilidade de táticas acumuladas; o extermínio de oficiais de alta patente no norte e no sul do país, todas essas são boas novas e fazem pensar em vitória iminente e brilhante futuro.

Se se comparam as realizações das operações do ano em curso, batizadas “Badre” e as de anos anteriores; se se consideram as repetidas derrotas e a posição moribunda do inimigo, como jamais antes, temos quadro claro que explica a elevada moral dos Mujahideen e a queda, sob todos os aspectos, do inimigo.

No plano mundial, o status quo já não favorece os EUA, como no passado. A economia dos EUA enfrenta problemas terríveis, mais do que jamais antes. A cada dia que passa os povos dos países membros da OTAN mais informações recebem sobre a realidade da guerra do Afeganistão. Começa a lançar raízes profundas em suas mentes, na opinião pública daqueles países, uma atitude de oposição a essa guerra sem sentido. Os países que participam da coalizão invasora retiram suas tropas [do Afeganistão], um após o outro.

Os povos e governos regionais estão fartos de viver sob a mira das armas da política armada dos EUA. Em resumo, tudo isso indica a vitória de nossa Jihad sagrada.

Sobre a retirada parcial das forças dos EUA, do Afeganistão:

Primeiro, quero dizer que nenhuma retirada parcial das forças invasoras poderá, de modo algum, resolver a questão do Afeganistão. A Jihad prosseguirá, porque medidas superficiais só tornarão ainda mais difícil resolver a questão do Afeganistão e podem gerar consequências desastrosas. As forças invasoras devem buscar solução duradoura e convincente. Para tanto, devem retirar imediatamente todos os seus exércitos.

Sobre bases militares permanentes dos EUA no Afeganistão:

A nação afegã não está disposta a aceitar aqui bases militares permanentes dos EUA. Os afegãos entendem que a presença militar de invasores, seja maior seja menor, continua a ser ocupação estrangeira.

Se os EUA insistem em agir com arrogância nessa questão, sem dar atenção ao que exigem a resistência jihadista e o povo do Afeganistão, enfrentarão as mesmas consequências que enfrentam hoje, passada já uma década de ocupação, sem poder consolar-se e sentir-se em segurança nem em Kabul, apesar dos bilhões de dólares e da vida de milhares de soldados que a aventura já lhes custou.

Todos, principalmente os intelectuais, os professores, figuras políticas influentes no país, devem procurar construir posição nacional, em acordo com o Emirado Islâmico [os Talibã], contra o estabelecimento no país de bases militares dos invasores. Assim mostrariam aos EUA que toda a nação, em uníssono, é contrária à instalação de bases militares estrangeiras permanentes em nosso país. Qualquer outra opinião, apresente-se sob a égide da Jirga ou do Parlamento, só fará identificar os traidores e os realmente comprometidos com a terra e a religião.

Sobre o futuro do Afeganistão:

Nosso manifesto diz que o Afeganistão deve ter um real governo islâmico que seja aceitável para todos os povos do país. Todas as etnias terão participação nesse governo e os cargos serão distribuídos por mérito.

Esse governo manterá boas relações com todos os países da região e do mundo, à base do respeito mútuo e de interesses islâmicos e nacionais.

Esse governo focar-se-á inteiramente em condutas e práticas que visem a recuperar as perdas espirituais e materiais que o Afeganistão sofre, causadas por guerras que já duram 30 anos.

Há no Afeganistão muita terra agricultável, minas ricas e muitos recursos naturais de energia. Podemos, portanto, investir nesses setores em condições de paz e estabilidade – para arrancar-nos, nós mesmos, dos tentáculos da miséria, do desemprego, da ignorância e do atraso, de onde nascem outros problemas sociais e econômicos.

Ao contrário do que diz a propaganda dos inimigos, o Emirado Islâmico não tem qualquer interesse em monopolizar o poder. Uma vez que o Afeganistão é lar comum de todos os afegãos, os afegãos têm direito de assumir plena responsabilidade sobre o próprio destino, no campo da proteção e da administração do país.

As transformações e desenvolvimentos futuros não serão semelhantes aos que se viram depois do colapso do comunismo, quando tudo no país foi saqueado, e o aparelho do Estado, inteiramente destruído.

Tomaremos medidas estritas para preservar todas as instalações nacionais, departamentos do governo e progressos que tenham sido obtidos no setor privado. Profissionais, técnicos, empresários serão encorajados, sem qualquer discriminação, a servir sua religião e o país.

Sobre negociações:

O Emirado Islâmico considera a presença de tropas invasoras no país; os bombardeios indiscriminados; os ataques noturnos de bombardeiros-robôs; as brutalidades; as torturas; e a tirania, como causa principal do imbróglio em que o Afeganistão está envolvido.

As dificuldades acabarão, quando acabarem as brutalidades. Do mesmo modo, o Emirado Islâmico do Afeganistão considera que o estabelecimento de um regime islâmico independente é meio que pode garantir a sustentabilidade de interesses religiosos e mundanos para o país e seus cidadãos. Para esse objetivo, devem-se considerar todas as alternativas legítimas.

Contatos feitos para a libertação de prisioneiros não podem ser definidos como negociação ampla com vistas a resolver o atual imbróglio em que vive o país. Mas o Emirado Islâmico, como entidade política e militar ativa, tem agenda específica e independente relacionada àquela questão, que tem sido repetidamente divulgada e explicada.

Sobre a próxima Conferência em Bonn:

Essa conferência não será diferente da que houve há dez anos, porque nenhum dos verdadeiros representantes do povo afegão participa dela, nem se dará qualquer atenção à procura por solução efetiva e ampla para os problemas do Afeganistão.

Como em outras conferências e Jirgas, essa conferência é superficial e orientada por mentiras e boatos. Querem distrair por algum tempo a atenção do público mundial e afastá-la de qualquer solução verdadeira para o Afeganistão. Só aparecerão lá discursos e declarações já previamente aprovadas pela Casa Branca e pelo Pentágono.

Aconselhamos todos os atores globais envolvidos na questão do Afeganistão a buscar solução real e pragmaticamente orientada para a questão afegã, em vez de focarem-se em ideias fictícias e superficiais. Devem perceber a realidade em campo, no Afeganistão.

Os afegãos têm magnífica tradição, suficiente para compreender, eles mesmos, os problemas e as soluções. Mas, isso, em condição na qual não exista a intervenção estrangeira. Considerando seu direito legítimo, o Emirado Islâmico move guerra legal em defesa de sua religião, sua terra e seu território.

A única razão para essa guerra é a presença dos invasores estrangeiros no Afeganistão. Se a coalizão global invasora puser fim à ocupação de nossa terra, o Emirado Islâmico, como regime amante da paz e responsável, manterá relações positivas com países da região e do mundo.

Alertamos todos os países, inclusive os vizinhos, para que não se tornem parte do jogo colonialista, no que tenha a ver com o futuro do Afeganistão, porque isso não interessa a ninguém.

O Emirado Islâmico do Afeganistão, herdeiro de dois milhões de mártires afegãos, está decidido a tomar decisões independentes sobre o futuro do Afeganistão, sem considerar o que deseje ou ambicione a intervenção estrangeira. Essas decisões serão corporificação das aspirações dos mártires e de nossos interesses nacionais e islâmicos, da dignidade e da honra dos afegãos.

Gostaríamos de deixar claro para todos que nem os afegãos aceitam governos impostos, nem esses governos conseguirão permanecer aqui.

Sobre os administradores do governo de Kabul:

Mais uma vez conclamamos os afegãos que trabalham para o governo de Kabul, a que desistam do apoio dos invasores.

Que se alinhem ao lado dos Mujahideen, ombro a ombro, contra os inimigos do Islã e do Afeganistão.

Se vocês se unirem aos Mujahideen, as forças de ocupação terão de deixar o Afeganistão. Assim, os sacrifícios de nosso pobre povo afegão chegarão ao fim, e nosso país será embelezado com os ornamentos da independência, da prosperidade e do regime islâmico, e florescerá. Esse é o interesse de todos.

Às vanguardas da Fortaleza da Verdade:

  1. Dado que as condições hoje dominantes são sensíveis, é essencial que vocês se concentrem nas suas obrigações da Jihad, ainda mais que antes. Muitas partes do país estão livres da presença do inimigo infiel, graças à luta de vocês. Dediquem-se a limpar da presença do inimigo também as outras partes do país. Jamais descuidem dos assuntos da Jihad. Mostrem firme determinação e planejem eficiente e meticulosamente. Façam do prazer de Alá (que a paz esteja com Ele) a meta de vocês.

  1. Considerem a Jihad o seu princípio fundamental. Obedeçam ao Amir e respeitem os códigos de conduta dos Mujahideen que lhes foram ensinados. Os chefes Jihadistas nomeados por nós em todo o país são seus comandantes; essa relação baseia-se na Xaria. Obedeçam seus comandantes.

  1. Todos devem observar estritamente as medidas de segurança que lhes sejam comandadas. Se forem negligentes quanto a isso e não tomarem cuidados que estão preparados para tomar, serão feridos pelo inimigo nesse mundo e serão responsáveis por isso aos olhos de Alá (que a paz esteja com Ele).

  1. É indispensável ser extremamente cuidadoso nos contatos com as pessoas comuns. Conquistem o coração do povo pela boa conduta e pelo comportamento adequado. Nossa nação é nação muçulmana e Mujahid. Os afegãos fizeram sacrifícios colossais na defesa do Islã, mais que qualquer outro povo, e sofreram dificuldades e dores. É absolutamente necessário respeitar todos os cidadãos comuns, seja velho, jovem, criança ou mulher. Se receberem informes sobre alguém, antes de qualquer movimento investiguem meticulosamente. Em nenhum caso perturbem alguém por efeito de relatórios viciados ou falsos. Ouçam atentamente os bons conselhos e saberes das pessoas comuns. Ante qualquer homem comum, ponham-se no lugar dele. Imaginem-se desarmados. Ajam com as pessoas comuns como desejam que elas ajam com vocês (desarmados), como se fosse seu pai, seu irmão, qualquer parente próximo. Como você agiria com essas pessoas? Os Mujahideen devem conduzir-se com gentileza e cordialidade em todos os contatos com as pessoas comuns. Em nenhum caso devem considerar-se superiores às pessoas comuns.Em nenhum caso imponham ordens ou comandos que não tenham sido instruídos a impor por seus comandantes e sem que tenham sido autorizados especificamente para a tarefa.  

  1. Qualquer outro tipo de atitude difamará os Mujahideen e a Jihad. E dará razão para que o inimigo insista em sua propaganda negativa, para criar um fosso entre o povo e os Mujahideen. Do mesmo modo, trabalhem conforme as instruções que recebam ou de acordo com os moradores da região e os professores religiosos.

  1. É expressamente proibido, para todos os afiliados do movimento do Emirado Islâmico extorquir dinheiro por chantagem ou pela força. Mujahid ou qualquer outro que seja apanhado extorquindo dinheiro de empresário ou comerciante, de donos de terra ou de qualquer rico, à força de arma, ou que se deixe envolver em sequestros e cobrança de resgate, deve ser impedido de prosseguir nessa ação proibida. Se o Mujahid conseguir prendê-lo, que ele seja castigado pela lei da Xaria. Não esqueçam que a preservação da vida e da propriedade das pessoas é uma das principais metas da Jihad.

  1. Para terminar, quero dizer que todos devem reservar tempo para ler e aprender e aumentar seus conhecimentos. Todos devem estar sempre empenhados em aprender alguma coisa; participem de atividades para atrair as pessoas para a religião; repitam sempre as orações e os cânticos Mathura. Não descuidem do esporte, do exercício físico e do treinamento Jihádico. Cuidem do corpo e do espírito, como ensinam as regras da sagrada Xaria e, na sociedade, vivam vida de homem religioso e temente a Deus, bom e caridoso.

  1. Há livros com o código de conduta dos Mujahideen em todas as bases em todas as províncias. Todos os comandantes provinciais devem cuidar para que todos os Mujahideen sob seu comando conheçam os conteúdos daqueles códigos de conduta e para que vivam conforme aqueles códigos.

Aos professores, acadêmicos, universitários, estudantes e escritores, no Afeganistão e em todo o mundo:

Cavalheiros! Nosso futuro depende de nossa completa independência. Se não tivermos país independente, teremos futuro de escravos. Nenhum senhor dá ao escravo o que prefere para si. Os senhores usam o escravo como ferramenta e moeda de troca.

Por isso, na última década, os agressores não completaram nenhum dos grandes projetos estratégicos que prometem ao nosso país: nenhuma grande barragem, nenhuma rede nacional de eletricidade, nenhuma instalação de indústria pesada. Esses projetos são vitais para nossa economia. Nada fizeram, no Afeganistão, além de aberta e clandestinamente estimular e aprofundar os conflitos geográficos e raciais, e ensinaram os jovens a envolver-se em disputas por questões geográficas ou de idiomas. Assim, tentam destruir o futuro do Afeganistão.

É nosso dever islâmico e nacional salvar os mais jovens do efeito da propaganda do inimigo, orientada para nos dividir.

Nosso povo Mujahid optou pela resistência, graças à sagrada Jihad, contra a ocupação política e militar do Afeganistão pelos ocidentais.

Assim também, é indispensável impedir a propagação, pela via da propaganda, da cultura ocidental depravada, com seus impactos ideológicos daninhos nesse país muçulmano e orgulhoso.

Temos de lutar devotadamente, honestamente e com a firme determinação que á característica dos afegãos, para garantir que as futuras gerações vivam sob o abraço protetor da sagrada cultura do Islã.

Deus não permita, mas, se negligenciarmos essa tarefa, nosso povo afastar-se-á do luminoso passado do Islã, por efeito do impacto nocivo da propaganda ocidental.

Professores, alunos, escritores, e toda a inteligência que há entre nós devem insistir individualmente e coletivamente, na prática de uma luta que nos leve à completa independência; para proteger os valores nacionais e os valores islâmicos e pela solidariedade dos afegãos.

Temos de permanecer unidos em nome de nosso objetivo comum e escapar de todas as divisões inventadas e superficiais.

Só os valores islâmicos podem nos levar a superar todas as divisões de geografia e de idiomas no Afeganistão. Mas fazer isso exige sacrifícios.

Ao povo afegão e ao mundo:

Em primeiro lugar, agradeço os muitos, em todas as classes da sociedade afegã, que consideram a Jihad islâmica em curso como obrigação religiosa e têm sofrido fadigas e privações no caminho da Jihad ao longo dos últimos dez anos.

Estenderam sua cooperação ampla e incansável aos Mujahideen e assim cumpriram sua obrigação Jihádica. Mas, para que não se percam os sacrifícios feitos nos últimos dez anos, é preciso continuar a cooperar. Quem se possa empenhar fisicamente na Jihad e saiba usar armas, essa é sua obrigação.

Os homens de letras devem pôr sua pena a serviço da defesa de sua religião. Os ricos devem usar a riqueza para prover as necessidades dos combatentes da Jihad.

Todos os muçulmanos do mundo devem apoiar os Mujahideen com apoio material ou espiritual. 

Assim também convocamos todos os povos e personalidades independentes do mundo a apoiar a legítima luta defensiva e de resistência dos afegãos; a não permitir que os tiranos arrogantes humilhem e oprimam povos do mundo; e a impedir que os povos do mundo sejam expostos à razão pervertida e tirânica dos arrogantes, apenas porque, além de perversos e arrogantes, são violentos e armados.

Para terminar, mais uma vez congratulo-me com todos os muçulmanos do mundo na ocasião desse Eid, com todos os afegãos pobres e sofridos, com todos os combatentes que combatem nesse momento, com todos os Mujahideen prisioneiros, com todas as famílias dos mártires, com todos os órfãos da causa da Jihad, com todas as mães e todas as viúvas.

Conclamo os ricos do mundo a não esquecer os indigentes e mais necessitados.

E peço que Alá, o Misericordioso, nos conceda comemorarmos juntos outros Eids – em melhores tempos, sob a proteção de regime islâmico pacífico, independente, à luz da Xaria. Amén. Que a paz esteja com todos vocês. 

Servo do Islã, Amir-ul-Momineen [6]
Mulá Mohammad Omar Mujahid



Notas dos tradutores

[1] Há matéria sobre essa mensagem em 29/8/2011, “O que querem os Talibã”, Ahmed Rashid, New York Review of Books (Blog), vol. 58, n.13 (em inglês).
[2] Mujahid, “combatente da Jihad”. Plural: mujahideen, mujahidin.
[3] Ummah, “comunidade muçulmana universal”.
[4] Eid-ul-Fitr, cerimônia religiosa que marca o fim do mês do jejum santificado, Ramadan.
[5] Jihad, “é um conceito essencial da religião islâmica. Pode ser entendida como uma luta, mediante vontade pessoal, de se buscar e conquistar a fé perfeita. Ao contrário do que muitos pensam, jihad não significa "Guerra Santa", nome dado pelos Europeus às lutas religiosas na Idade Média (por exemplo: Cruzadas). A explicação quanto as duas formas de Jihad não está presente no Alcorão, mas nos ditos do Profeta Muhammad: Uma, a “Jihad Maior”, é descrita como uma luta do indivíduo consigo mesmo, pelo domínio da alma; e a outra: a “Jihad Menor”, é descrita como um esforço que os muçulmanos fazem para levar a mensagem do Islã aos que não a conhecem a religião da paz”.  
[6]  Amir-ul-Momineen, “Comandante dos Fiéis”.