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sábado, 14 de setembro de 2019

domingo, 7 de abril de 2019

sexta-feira, 22 de março de 2019

Alexei Kudrin é o miJair Bolsonaro de Putin

Kudrin quer dar aos EUA metade da Crimeia, metade do Donbass, metade das Ilhas Kuril, metade da Síria e metade da Venezuela.

O general Gerasimov está pronto para resistir contra os EUA em todas essas frentes




18/3/2019, John Helmer, Dances with Bears, Moscou

Alexei Kudrin (ilustração de abertura) é o candidato do ‘regime change’ ao Kremlin que sobrevive há mais tempo, e que não mora nem na cadeia nem no exterior. “Precisamos de ambiente global fraterno” – 
disse ele a uma conferência de empresários em Moscou, semana passada. Atualmente presidente da Câmara de Cobrança e Prestação de Contas, de auditoria do Estado, Kudrin explicou que “atualmente não se consegue ambiente global totalmente fraterno devido, em parte, a desentendimentos geopolíticos e sanções globais. A Rússia deve tentar reduzir esse fator e mitigar os desentendimentos e as sanções mediante conversações e outros meios.”
O remédio, para Kudrin, ele explicou, é fazer Rússia e EUA encontrarem-se “no meio do caminho”. Pediram que Kudrin explicasse melhor a parte “meio do caminho”.

Kudrin serve-se de porta-vozes na Câmara de Contas do Estado e numa organização política que mantém, chamada “Comitê de Iniciativas Civis”. Essa última Kudrin fundou-a em 2012, depois de ser 
demitido do cargo de ministro das Finanças, e se autoapresenta como “união em torno da ideia de modernizar o país e fortalecer instituições democráticas.” Ano após ano, o Comitê faz pesquisas sobre condições regionais, monitora a imprensa e organiza conferências de organizações políticas que apoiam Kudrin. Para recrutar ativistas locais, o Comitê também distribui prêmios em dinheiro e uma estatueta, “O Broto de Ouro”. É a organização perpétua de campanha eleitoral de Kudrin. Ninguém sabe de onde vem o dinheiro, mas regularmente Kudrin divulga sua “especial gratidão” a Norilsk Nickel, controlada por Vladimir Potanin e Oleg Deripaska.


Pediram que Kudrin explicasse o que queria dizer com a referência a desentendimentos geopolíticos. Qual sua proposta a ser apresentada nas conversações com os EUA? O que quer dizer com “outros meios”? O que significa “meio do caminho” – entregar metade da Crimeia à Ucrânia? Metade da Síria, a Israel e Turquia? Metade das ilhas Kuril, entregues no Japão?

Os escritórios de Kudrin na Câmara e no Comitê informaram que ele não responde a telefonemas. Pediram que se enviassem perguntas por e-mail. As perguntas foram. Por telefone, os dois escritórios confirmaram que receberam os e-mails. Kudrin jamais respondeu.

Há um ano, quando Kudrin pressionava publicamente o presidente Putin para que lhe desse um posto no novo governo, com poderes especiais para negociar com os EUA, ele delineou um plano de ataque contra o Ministério de Defesa da Rússia e Forças Armadas – que cortava o orçamento militar da Rússia, a capacidade de defesa e toda a assistência à Crimeia e ao Donbass. O plano apareceu numa entrevista a um jornal de Londres, porque Kudrin negou-se a comentar o assunto pessoalmente, na Rússia. Detalhes, aqui.

Em maio, depois que sua campanha de autopromoção política fracassara, Kudrin desdisse, em discurso ao Parlamento estadual, tudo que dissera em Londres. Tentava tentar obter os votos necessários para ser confirmado no velho emprego na Câmara de Contas. Se quiser ler clique aqui. Kudrin obteve a votação mais alta jamais vista contra qualquer nome indicado pelo presidente para presidir a Câmara de Contas. Hoje, Kudrin aparece em primeiro lugar nas pesquisas que definem os dez políticos nos quais a população menos confia, em todo o país.

O principal alvo das campanhas de desconstrução de Kudrin ainda é, como sempre foi, a liderança militar russa. O general Valery Gerasimov, Comandante do Estado-maior das Forças Armadas da Federação Russa, respondeu com um quadro detalhado da estratégia russa contra os EUA. 

O discurso de Gerasimov, intitulado “Vetores do Desenvolvimento de Estratégia Militar”, foi apresentado à Academia de Ciências Militares. O texto pode ser lido na íntegra, aqui  em russo, e aqui em inglês.




Gerasimov identificou “os EUA e seus aliados” como engajados em guerras permanentes de todos os tipos, inclusive “preparação para ‘ataque global’, ‘batalha em multidomínios’ [e o] uso de tecnologias de ‘revoluções coloridas’ e ‘poder brando’ [ing. soft power].” 

“O objetivo dos EUA e aliados é eliminar o Estado de países indesejáveis, minar a soberania desses estados, trocar autoridades públicas legitimamente eleitas. Foi feito no Iraque, na Líbia e na Ucrânia. Atualmente ações similares podem ser observadas na Venezuela (…). O resultado que os EUA obtiveram na Síria permitiu-nos [aos russos] identificar e definir a direção atual das pesquisas para emprego da Forças Armadas no cumprimento de missões de proteção e promoção de interesses nacionais russos fora do território nacional.”

É a primeira vez que o Estado-maior da Rússia identifica a Venezuela, ao lado de Ucrânia e Síria, como alvo de guerra dos EUA contra a qual é do interesse estratégico da Rússia opor-se. Gerasimov reservou também uma palavrinha para Kudrin. 

Em sua fala, Kudrin ignorara os militares, em seu ‘projeto’ de governo russo coordenado: “Se os sistemas policiais trabalham com plano próprio, enquanto instituições internacionais e o Ministério de Relações Exteriores trabalham por outro plano, e o Ministério de Desenvolvimento Econômico tenta aumentar a taxa de crescimento da economia até os padrões globais médios, nesse caso acontece exatamente coisa alguma. É preciso haver equipe coesa, todos trabalhando para um mesmo objetivo. [Todas as agências do Estado devem] sincronizar as ações, inclusive no formato de diálogo e de conciliação de tarefas, para melhorar o clima de investimento.”

A resposta do general Gerasimov: “O Pentágono começou a desenvolver estratégia de guerra fundamentalmente nova, que foi apelidada “Cavalo de Troia”. A essência dessa estratégia depende do uso ativo do ‘potencial protesto da 5ª coluna’ com vistas a desestabilizar a situação com simultâneos ataques com armas teleguiadas de precisão contra os alvos mais importantes.”

A coordenação dos recursos de defesa da Rússia, como a entende o Estado-maior, exige que as medidas para defesa contra sanções econômicas e operações de mídia e ciberataques dos EUA contra a Rússia e seus aliados, inclusive a subversão doméstica, devem ser dirigidas pelo Comando do Estado-maior.

“Gostaria de registrar” – disse Gerasimov – “que a Federação Russa está pronta para fazer frente a todas e a cada uma dessas estratégias. Em anos recentes, cientistas militares, trabalhando com o Estado-maior, desenvolveram abordagens conceituais para neutralizar as ações agressivas de adversários potenciais. O campo de pesquisa da estratégia militar é a luta armada em seu nível estratégico. Com a emergência de novas áreas de confronto nos conflitos modernos, os métodos de luta cada vez mais se encaminham diretamente para a aplicação integrada de medidas políticas, econômicas, de informação e outras medidas não militares, implementadas com o apoio da força militar.”

Tradução original no blog O Empastelador




Fracassou a política dos EUA: Reabertas as fronteiras entre Iraque e Síria e a estrada Irã-Beirute




Imagem: Combatentes suspeitos de pertencer ao ‘Estado Islâmico’ (EI) esperam para serem revistados por membros das Forças Democráticas Sírias (curdos), depois de deixarem a última área ainda controlada pelo EI em Baghouz, na província de Deir Ezzor, norte da Síria, dia 22/2/2019 (BULENT KILIC/AFP/Getty Images)

21/3/2019, Original, em inglês em: Elijah J Magnier Blog

“Dinossauro com cabeça de periquito”. Assim o ex-presidente do Irã Hashemi Rafsanjani descreveu os EUA, evocando a grande força militar mas a completa falta de inteligência estratégica na política externa norte-americano. De fato, o encontro não frequente dos comandantes de estado-maior de Síria, Iraque e Irã em Damasco essa semana jamais seria possível sem a recente ação dos EUA na Síria.

establishment norte-americano fez grande favor aos três países alinhados com o “Eixo da Resistência”, ao eliminar o grupo do ‘Estado Islâmico” (EI) no último reduto a leste do Eufrates. O ataque dos norte-americanos a Baghuz (leste da Síria), realizado em conjunto com seus agentes locais curdos, levou os três comandantes militares a decidir reabrir a estrada entre Síria e Iraque, pavimentando assim uma via terrestre segura para Iraque e Síria. Significa que a estrada Teerã-Bagdá-Damasco-Beirute está reaberta. Não é a primeira vez que o establishment norte-americano, com seu planejamento sempre precário, presta ajuda estratégica realmente importante ao Irã.

Quando o presidente Donald Trump dos EUA decidiu retirar-se da Síria, falando do país como “terra de areia e morte”, até que falava sério sobre o tal plano. Mas os EUA não podia sair sem, antes, eliminar o bolsão do ISIS na área controlada pelos EUA no leste da Síria, porque significaria deixar lá o único pretexto que os norte-americanos encontraram para ocupar aquela área. Por isso, Trump foi aconselhado a eliminar o ISIS (afinal!) antes de retirar seus soldados. Assim, depois de longos meses de paralisia, Trump afinal ordenou que seus soldados fizessem o que haviam dito que fariam, depois de os EUA, por meses, só terem protegido o grupo terrorista e permitido que dezenas de milhares de terroristas do ISIS se movimentassem com toda a liberdade para atacar o Exército Árabe Sírio e aliados ao longo do eixo Deir-ezzour al-Bukamal.

Difícil superestimar a importância da decisão de Trump de, finalmente, agir contra os terroristas do ISIS. Desde 2014 os EUA fingem que combatem contra os terroristas do ISIS, quando, na verdade, só fizeram facilitar o processo pelo qual o grupo expandiu-se e assassinou soldados do Exército Árabe Sírio os quais, esses sim, combatiam contra – não a favor – dos terroristas. Durante todo esse tempo, os EUA usaram o ISIS como pretexto para a presença militar dos EUA na Síria.
 
Os EUA agora, finalmente, realmente bombardearam e destruíram Raqqah, ocupada pelo ISIS; na sequência, conseguiram um acordo para deportar muitos milhares de combatentes do ISIS. Mas a Batalha de Baghuz, ainda em curso, é a primeira vez que os EUA realmente lutaram contra o ‘Estado Islâmico’. Diga-se a favor do presidente Trump que seu governo está, afinal, fazendo, mesmo, o que os EUA até agora só fingiram que faziam, ao longo de cinco anos: Trump afinal está realmente combatendo contra os terroristas do ISIS

Essa campanha espetacular e real, não ficcional, garante ao governo Trump os méritos por ter derrotado o ‘Estado Islâmico’ – embora todos saibam que, por meia década, quem realmente combateu contra os terroristas foram o Exército Árabe Sírio, a Rússia, os iraquianos do grupo Hashed al-Shaabi, o Exército do Iraque, o Hezbollah libanês e o Irã.

Em Baghuz, forças dos EUA (e aliados europeus) bombardearam o ISIS até confinar o grupo numa cidade bem pequena. Conseguiram abrir uma via segura para retirada de mulheres, crianças, idosos, terroristas feridos e os muitos que preferiram render-se. Mais de 35 mil terroristas do ‘Estado Islâmico’ e famílias saíram daquele lugar exíguo. 9.000 militantes foras feridos ou mortos. As forças dos EUA e seus agentes locais curdos conseguiram encurralar o que resta do grupo terrorista numa área de menos de 1kme nos próximos dias lançarão o assalto final. É questão de tempo, e o ISIS entregará seu último bastião a leste do Eufrates.

O fim próximo da ameaça que foi o ‘Estado Islâmico’ criou a oportunidade para um encontro raro. O comandante do Estado-maior do Irã, major-general Mohammad Baqeri; o ministro da Defesa da Síria, Ali Abdullah Ayyoub; e o comandante do Estado-maior do Iraque tenente-general Othman al-Ghanmi reuniram-se em Damasco, capital da Síria e decidiram reabrir as fronteiras entre Iraque e Síria.

Ao, finalmente, remover os terroristas do ‘Estado Islâmico daquela área, o governo dos EUA, sob a presidência de Trump afinal reconheceu o erro que os norte-americanos cometeram na Síria. Enquanto o ISIS foi mantido ali, tornou-se impossível o trânsito seguro de mercadorias necessárias para a sobrevivência dos cidadãos iranianos e iraquianos. Agora afinal, depois de reconhecer isso, os EUA tomaram a decisão correta de sair de lá, deixando apenas algumas centenas de soldados norte-americanos, para efetivamente proteger, não atacar, os locais.

Graças ao movimento dos EUA, o Irã pode agora enviar todos os suprimentos necessários e retomar o comércio regular com a Síria, num momento em que Israel já começa a bombardear o aeroporto de Damasco e tenta impedir ou, no mínimo, retardar, o fornecimento, ao Exército Árabe Sírio, de mísseis de precisão e outros equipamentos militares necessários para reconstruir as forças de defesa sírias. Com a abertura de uma nova passagem de fronteira entre Iraque e Síria, perde importância a ocupação, pelos norte-americanos, da passagem de al-Tanf. Se os EUA tentarem pressionar o Iraque para que suspenda o comércio com Irã ou Síria, Bagdá exigirá que Trump retire suas forças de toda a Mesopotâmia.

A decisão de Trump também implica que a economia síria volta a poder acumular alguma energia, tão logo a estrada por terra, até o Iraque, volte a operar normalmente. Os três comandantes acabaram dando boas risadas da política e dos movimentos dos EUA na Síria. Todos colheram importantes benefícios dos repetidos erros de estratégia que Washington comete, desde que ocupou o Iraque em 2003 e ‘mudou o regime’ de Saddam Hussein – eterno e feroz inimigo do Irã.
O ‘Estado Islâmico’, EI ou ISIS ainda é risco de segurança, mas deixou de ser ameaça militar. Remanescentes do grupo ainda podem atacar comboios ou alvos leves, mesmo depois do acordo conjunto dos três países para patrulhar as fronteiras e contribuir, com tecnologia, inteligência e soldados para proteger a passagem de fronteira de al-Bu e somar esforços reais na luta contra o terrorismo naquela área. 

EUA quase sempre consideram o grande cenário, quando seus estrategistas e planejadores tentam redesenhar fronteiras, mudar regimes e produzir estados falhados. Mas muitas vezes deixam passar sem ver detalhes que podem virar a guerra a favor dos supostos inimigos que os EUA produzem, nesse caso, a favor do Irã. Como Rafsanjani comentou certa vez, EUA são “um dinossauro com cabeça de periquito”.

Rafsanjani não foi o único a fazer comentários cáusticos. Em evento recente em homenagem aos sucessos no Iraque e na Síria, do comandante e da brigada Qods do Corpo de Guardas Revolucionários do Irã, major-general Qassem Soleimani, o líder da Revolução Islâmica Said Ali Khamenei disse, falando de EUA (e Arábia Saudita): “agradecemos a Alá, que nos deu inimigos imbecis”.


Tradução original no blog O Empastelador

quarta-feira, 20 de março de 2019

A Arte da Guerra - "Partido EUA" ativo nas instituições da União Europeia




18/3/2019, Manlio Dinucci, Il Manifesto 
Original: blog O Empastelador

“A Rússia já não pode ser considerada parceira estratégica, e a União Europeia deve estar pronta para lhe impor novas sanções, se o país continuar a violar o Direito Internacional”: esta é a resolução aprovada pelo Parlamento Europeu, em 12 de Março, por 402 votos a favor, 163 contra e 89 abstenções.

A resolução, apresentada pela deputada letã, Sandra Kalniete, nega principalmente a legitimidade das eleições presidenciais na Rússia, definindo-as como “não democráticas”, apresentando assim o Presidente Putin como um usurpador.
·        Acusa a Rússia não só de “violar a integridade territorial da Ucrânia e da Geórgia”, mas de “intervir na Síria e interferir em países como a Líbia” e, na Europa, de “interferir com o objectivo de influenciar as eleições e aumentar as tensões”.
·        Acusa a Rússia de “violar acordos de controle de armas”, atribuindo-lhe a responsabilidade de ter prejudicado o Tratado INF.
·        Acusa a Rússia, também, de “extensas violações dos Direitos Humanos dentro do país, incluindo tortura e execuções extrajudiciais”, e de “assassinatos cometidos pelos seus agentes, com armas químicas, em solo europeu”.

No final destas e de outras acusações, o Parlamento Europeu declara que o Nord Stream 2, gasoduto destinado a duplicar o fornecimento de gás russo à Alemanha pelo Mar Báltico, “deve ser interrompido, porque aumenta a dependência da UE do fornecimento de gás russo, ameaçando o seu mercado interno e os seus interesses estratégicos”.

A resolução do Parlamento Europeu repete fielmente, não apenas no conteúdo, mas usando as mesmas palavras, as acusações que EUA e OTAN fazem à Rússia. E, o mais importante, repete fielmente o pedido para bloquear o Nord Stream 2: objetivo da estratégia de Washington visando a reduzir o fornecimento de energia da Rússia à União Europeia e substituí-lo por energia proveniente dos Estados Unidos ou mesmo, de empresas americanas.

No mesmo âmbito, enquadra-se a comunicação da Comissão Europeia aos países membros, dentre os quais, a Itália, sobre a intenção de aderir à iniciativa chinesa da Nova Rota da Seda:
·        A Comissão adverte que a China é parceira, mas também concorrente econômico e, mais importante, “rival metódico que promove modelos alternativos de governança” – em outras palavras, que promove modelos alternativos à governança dominada até agora pelas potências ocidentais.
·        A Comissão adverte que é necessário antes de tudo “salvaguardar as infraestruturas digitais críticas, de ameaças potencialmente perigosas para a segurança”, derivadas das redes 5G fornecidas por empresas chinesas como a Huawei, banida nos EUA.
·        A Comissão Europeia repete fielmente o aviso de EUA aos Aliados.

O Comandante Supremo Aliado na Europa, o General americano Scaparrotti, alertou que as redes móveis ultra rápidas da quinta geração desempenharão um papel cada vez mais importante nas capacidades bélicas da OTAN, de modo que não se admitem “descuidos” da parte dos aliados. Tudo isto confirma qual é a influência que o “partido americano” exerce – forçar um poderoso alinhamento transversal que orienta as políticas da União, em simultâneo, pelas mesmas linhas estratégicas EUA/OTAN.

Ao construir a imagem falsa de Rússia e China ameaçadoras, as instituições da UE preparam a opinião pública para aceitar o que os EUA estejam em preparativos para “defender” a Europa:

"Os EUA" – declarou à CNN um porta-voz do Pentágono – "preparam-se para testar mísseis balísticos com base em terra" (proibidos pelo Tratado INF destruído por Washington), isto é, novos mísseis europeus que novamente converterão a Europa em base e ao mesmo tempo em alvo de uma guerra nuclear.

Pepe Escobar explica o Brasil Colônia - IMPERDÍVEL - COMPARTILHE MUITO


Postado originalmente por Grupo Beatrice as 15:00 h aprox. de 20/03/2019

Sanções ocidentais afetam a economia libanesa - EUA empurram o Líbano para os braços de Irã e Rússia




O Líbano espera essa semana a visita do secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo, num momento em que o mapa político econômico do Líbano está sendo redesenhado, e o Líbano sofre o mais grave revés econômico de sua história recente.

Entre as razões da deterioração da economia local, está não só a corrupção da liderança política e do 'baixo clero' do governo libanês, mas também as recentes sanções, as mais duras jamais impostas. E afetarão dramaticamente o Líbano enquanto o presidente Donald Trump permanecer no poder, se o Líbano não seguir a política e as ordens dos EUA.

Se como foi previsto, Washington declara guerra econômica ao país, as sanções deixarão poucas alternativas ao Líbano. Podem forçar o Líbano a voltar-se para a indústria civil iraniana, para sobreviver à pressão econômica dos EUA, e a depender da indústria militar russa para equipar as forças de segurança do Líbano. Acontecerá precisamente isso, se Pompeo insistir nas ameaças a funcionários libaneses, como assessores dele têm feito em visitas anteriores ao país. A insistente mensagem de funcionários dos EUA tem sido: ou você está conosco, ou contra nós.

Politicamente, o Líbano está dividido entre duas correntes, uma pró-EUA (e Arábia Saudita) e outra fora da órbita dos EUA. A situação econômica pode bem aprofundar a divisão interna, a ponto de a população reagir com fúria, para que se excluam do Líbano os EUA e aliados.


ImagemSaid Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, reunido 
com seu mais próximo aliado, presidente libanês Michel Aoun

Esse cenário pode também ser evitado, se Arábia Saudita injetar suficiente investimento que consiga religar a agonizante economia local. Mas a Arábia Saudita teme que todos os não alinhados às suas políticas e às políticas dos EUA possam extrair benefícios do apoio dos sauditas. Até aqui, Riad ainda não compreendeu completamente a dinâmica interna libanesa e o que é possível ou impossível alcançar no Líbano. O sequestro do primeiro-ministro Saad Hariri foi a mais flagrante indicação da ignorância saudita quanto à política libanesa. O mais provável é que a nenhuma visão estratégica dos sauditas para o Líbano venha a impedir qualquer apoio à periclitante situação econômica libanesa e pode levar o país a instabilidade grave.

Antes de 1982, 1 EUA-dólar equivalia a 3 libras libanesas. Aconteceu em parte porque a Organização de Libertação da Palestina (OLP) estava gastando dezenas de milhões de dólares no país, em benefício preferencial das famílias palestinas que viviam no Líbano. Além disso, organizações da ONU (UNRWA) e outras ONGs também distribuíam apoio financeiro a refugiados palestinos cujos lares foram tomadas por Israel, o que forçou muitas famílias a deixar o próprio país.

Depois da invasão israelense ao Líbano em 1982, a OLP foi forçada a deixar o país. Não muito depois, o EUA-dólar alcançou taxa de câmbio de 3.000 liras libanesas, depois desvalorizada, para estabilizar na taxa atual de 1 EUA-dólar por 1.500 liras libanesas. O Irã entrou em cena para apoiar os combatentes libaneses (a Resistência Islâmica no Líbano, i.e. o Hezbollah) a recuperar o próprio território então ocupado por Israel. No ano 2000, o Irã começou a investir pesadamente no Hezbollah, e o grupo conseguiu expulsar os israelenses de praticamente todo o território libanês. O investimento financeiro iraniano alcançou nível muito alto na época da guerra de 2006, quando Israel tentou e não conseguiu desarmar o Hezbollah, que manteve seus foguetes e mísseis fora do alcance de Israel.


Imagem: Said Nasrallah, líder do Hezbollah, com seu mais 


Em 2013, o governo sírio convocou o Hezbollah para apoiar o Exército Sírio que combatia para impedir a desintegração do país e impedir que os militantes takfiri ganhassem o controle do país. O Irã bombeou bilhões de dólares para derrotar ISIS e al-Qaeda e impedir que esses grupos se impusessem na Síria e Iraque, sabendo sempre que o alvo seguinte seria o Irã. O orçamento para as tropas do Hezbollah subiu à estratosfera. Apoio à movimentação de tropas, logística e pagamentos diários aos próprios combatentes, contribuíram para 'animar' a economia libanesa. O orçamento do Hezbollah subiu bem acima de $100 milhões por mês.

Mas depois da chegada de Donald Trump ao poder, e de os EUA terem desertado do acordo nuclear com o Irã, o governo dos EUA impôs àquele país as sanções mais severas de todos os tempos, e cortou as doações às organizações da ONU que apoiam os refugiados palestinos (UNRWA). As sanções contra o Irã forçaram o Hezbollah a viver sob novo orçamento: um plano de austeridade de cinco anos. As forças foram reduzidas a um mínimo na Síria, o movimento das tropas foram reduzidos conforme a verba mais curta, e todos os pagamentos adicionais foram suspensos. O Hezbollah reduziu o próprio orçamento a ¼ do que havia sido, sem suspender salários mensais e assistência médica a militantes e fornecedores, por ordem pessoal de Said Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah.

Essa nova situação financeira, de fluxo de dinheiro reduzido e sem moeda estrangeira, afetará a economia do Líbano. Prevê-se que as consequências sejam mais visíveis nos próximos meses, o que pode levar a possível reação doméstica, quando a população sentir o peso da dificuldade econômica.

EUA e Europa estão impondo controle estrito sobre ativos que entrem e saiam do Líbano. O país está numa lista negra financeira e todas as transações são fiscalizadas em detalhe. Doações religiosas de outros países estão proibidas, na prática, posto que expõem os doadores a acusações graves, por países ocidentais, de apoio ao terrorismo.

Enquanto Trump permanecer no poder, Hezbollah e Irã avaliam que a situação permanecerá crítica; estimam que, muito provavelmente, o presidente dos EUA será reeleito para um segundo mandato. Os próximos cinco anos serão muito provavelmente difíceis para a economia libanesa, especialmente se a visita de Pompeo trouxer mensagens e ordens às quais o Líbano não pode atender.





Pompeo quer que o Líbano desista da demanda de redefinir suas disputadas fronteiras líquidas com Israel, cedendo à entidade sionista os blocos 8, 9 e 10. A demanda não será atendida, e funcionários libaneses disseram em várias ocasiões que contam com os mísseis de precisão do Hezbollah para impedir que Israel continue a roubar água do Líbano.

Pompeo também quer que o Líbano exclua o Hezbollah do governo. Outra vez, o establishment norte-americano ignora que o Hezbollah é quase 1/3 da população do Líbano, apoiado por mais da metade dos xiitas, cristãos, sunitas e drusos libaneses, com cargos noExecutivo e no Legislativo do país.

Qual, então, a alternativa? Se Arábia Saudita entrar no jogo, o Líbano não precisa de um ou dois ou cinco bilhões, mas de dezenas de bilhões de dólares para ressuscitar a economia. E também precisa que de uma política de 'tirem as mãos daqui' para o establishment dos EUA, para que o país consiga se autogovernar.





Os sauditas já estão sofrendo com os abusos de Trump, e o dinheiro saudita está desaparecendo. E se os sauditas decidirem investir no Líbano, tentarão impor termos não muito diferentes do que os EUA exigem. A Arábia Saudita delira, se conta com bloquear, no Líbano, a influência do Irã e a ação dos apoiadores do Hezbollah: é objetivo completamente inatingível.

Quanto ao Líbano restam-lhe poucas escolhas. O Líbano pode aproximar-se ainda mais do Irã pensando em reduzir gastos e o preço de bens de consumo; e pode pedir à Rússia que apoie o exército libanês, se o ocidente não o fizer. A China prepara-se para entrar no país e, sim, pode ser alternativa positiva para o Líbano, usando o país como plataforma para chegar à Síria e, dali, ao Iraque e à Jordânia. Sem isso, o Líbano terá de preparar-se para juntar-se à lista dos países mais pobres da região e do mundo.

Um sombra paira sobre a terra dos cedros, que já teve de lutar pela própria sobrevivência no século 21. O Hezbollah, agora sujeito às sanções de EUA e Reino Unido, é a mesma força que já protegeu o país contra combatentes takfiri do ISIS e outros, que ameaçavam expulsar do país os cristãos. Esse foi o conselho que o presidente Sarkozy da França deu ao patriarca libanês, que os cristãos libaneses deixassem as suas casas. Os jihadistas takfiri e a OTAN têm precisamente os mesmos planos para o Líbano. 

O fracasso do plano do establishment dos EUA, de dividir o Iraque e criar um estado falhado na Síria, como parte de um "novo Oriente Médio" despertou o urso russo de sua longa hibernação. Hoje, a Rússia compete com os EUA pela hegemonia no Oriente Médio, obrigando Trump a tentar absolutamente tudo, sem limite, para quebrar a frente anti-EUA.

É batalha sem regras, vale-tudo no qual se permitem todos os golpes. Os EUA estão empurrando o Líbano para um beco, onde não lhe restará alternativa que não seja firmar uma íntima parceria com Irã e Rússia.


Postado há 17 hours ago por  O Empastelador

terça-feira, 19 de março de 2019




12/3/2019, 
Elijah Magnier Blog

Ver também
EUA&Brasil vergonha do mundo (enquanto o mundo se reorganiza sem EUA&Brasil): Rouhani & Sistani, Irã & Iraque: visita histórica
13/3/2019, 
Al-Monitor (do correspondente) [dica de Pepe Escobar, pelo Facebook], em O Empastelador

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"Não importa o que decidir agora, Trump perdeu: o establishment norte-americano fracassou no projeto de causar dano ao Irã e não conseguiu nem derrubar o governo do Irã, nem pôr o país de joelhos."

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O presidente do Irã Hassan Rouhani está em visita de três dias ao Iraque, chefiando grande delegação de políticos e empresários para aprofundar o relacionamento entre os dois países. Rouhani reuniu-se com o presidente, o primeiro-ministro e o presidente do Parlamento do Iraque. Rouhani visitou Karbala hoje à tarde, passa a noite em Najaf e na 4ª-feira visitará as mais altas autoridades religiosas (Marjaiya) na cidade, o Grande Aiatolá Said Ali al-Sistani,Said Mohamad Saeed al-Hakeem, Xeique Ishaq al-Fayyad e Xeique Bashir al-Najafi. 

A visita pública de Rouhani faz contraste impressionante com a recente visita clandestina de Trump ao Iraque. Mais que isso, a projetada cooperação econômica e comercial entre Iraque e Irã não só mitigará efeitos das sanções unilaterais que os EUA impuseram, mas provavelmente contribuirá para acelera o fracasso daquelas sanções. É onde surge a questão chave: e Trump? Aceitará que foi derrotado pelo Irã, ou optará por perder também o Iraque e imporá sanções à Mesopotâmia?

Durante a última semana de 2018, o avião do presidente Trump apagou todas as luzes para conseguir pousar com alguma segurança na parte norte-americana da base Ayn al-Assad na província Anbar. A visita de Trump foi mantida em segredo, e o primeiro-ministro do Iraque foi informado na mesma manhã. Trump recusou-se a pousar na parte iraquiana da mesma base (Iraque e EUA partilham a mesma base militar, com forças militares dos EUA tendo plena soberania sobre toda a área). Por isso, o primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, o presidente do Congresso Mohamad al-Halbousi e o presidente Barham Saleh recusaram-se a encontrar-se com Trump, que manteve a própria agenda e pousou à noite, no escuro.

Trump concluiu a visita em três horas e partiu como chegou, na calada da noite. Consta que Trump teria resmungado que não estava certo o presidente dos EUA, por razões de segurança, ter de pousar em segredo, no meio da noite, num país em cuja estabilidade os EUA investiram centenas de bilhões de dólares.

Diferente disso, Rouhani informou sobre sua visita com uma semana de antecedência, à presidência do Iraque; a visita foi anunciada publicamente no mesmo momento. Funcionários iraquianos coordenaram a agenda da visita de Rouhani e comitiva, com as respectivas agendas dos contrapartes. Rouhani permanecerá por três dias no Iraque, para assinar importantes acordos econômico-comerciais, cujo objetivo é elevar para 20 bilhões de dólares o nível do comércio entre os dois países.

Conclusão:

1.      O Irã passou à frente dos EUA, porque os funcionários iraquianos rejeitaram todas as sanções unilaterais contra o Irã e mantiveram as trocas comerciais, inclusive compra e venda de energia.
2.     O major-general Qassem Soleimani alcançou o objetivo do Irã, de desenvolver relação amistosa com o Iraque, onde os funcionários estão prontos a suspender relações com os EUA, caso Trump insista em impor sanções a qualquer país que negocie com Teerã. Esse feito (dentre outros) valeu a Soleimani a mais importante medalha de honra do Irã, a "Ordem de Zulfiqar" entregue a ele por Said Ali Khamenei. O ministro de Relações Exteriores Jawad Zarif foi o primeiro a congratular-se com Soleimani, que apresentou como "o homem que tornou o Oriente Médio um local mais seguro". É a segunda medalha de alta honraria que Soleimani recebe; a primeira foi a "Ordem de Fath", que o mesmo Khamenei lhe outorgou em 1989.
3.     O Irã venderá eletricidade ao Iraque e usará dólares e a moeda local na transação. A República Islâmica encontrou novos modo de contornar as sanções norte-americanas, construindo infraestrutura industrial e ferrovias, e construindo grandes trocas comerciais com o Iraque. Assim virão mais dólares para o Irã, e o país, simultaneamente, poderá depender menos de EUA-dólares, se negociar nas moedas locais.

A política exterior de Trump e as sanções em todo o mundo estão forçando países a encontrar alternativas ao sistema monetário e ao comércio dos EUA. Embora ainda com fraco impacto, a Europa está introduzindo um special purpose vehicle (SPV) para apoiar o comércio com o Irã, alternativo ao sistema de compensações bancárias globais EUA-Swift. China, Rússia, Índia e muitos outros países que negociam com o Irã aceitaram manter relações comerciais, principalmente, mas não exclusivamente nas moedas locais, para escapar às sanções dos norte-americanos.

O Iraque está hoje dividido entre uma grande facção de políticos que exigem a retirada total do país, de todos os militares norte-americanos; e outra facção que quer conservar uma força reduzida de norte-americanos no país, encarregada do treinamento e intercâmbio de inteligência. Os dois grupos querem que a maior parte dos militares norte-americanos deixem o Iraque, e buscam algum acordo em torno de aceitarem a permanência de uma pequena força especializada. O governo iraquiano gostaria de chegar a um equilíbrio e manter simultaneamente relacionamento justo com os EUA e excelentes relações com o Irã.

Trump tem duas escolhas. Pode escolher cortar relações com o Iraque, o que significaria atirar no próprio pé. A presença de forças dos EUA no Iraque é essencial aos objetivos de manter a hegemonia dos EUA no Oriente Médio. Mais que isso, não se sabe por quanto tempo forças dos EUA conseguirão manter-se na Síria. A alternativa seria Trump aceitar o fato de que suas sanções contra o Irã falharam, dado que os negócios de energia e outros entre Irã e Iraque continuam a prosperar. Nesse caso o presidente dos EUA estaria aceitando o fracasso de suas sanções e do seu plano de 'mudar o regime' no Irã "nuns poucos meses".

Não importa o que decidir, Trump perdeu: o establishment norte-americano fracassou no projeto de causar dano ao Irã e não pôde, nem mudar o regime governante no Irã, nem pôr o país de joelhos. Trump só conseguiu agravar a situação da economia iraniana, causar sofrimento ao povo, ao mesmo tempo em que forçou as autoridades iranianas a buscar novas soluções, com a ajuda da nova liderança iraquiana. O fracasso dos EUA, que não conseguiu impor agentes seus no governo do Iraque, ajudou Soleimani a conquistar sua medalha de honra.